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Oficina 09 Discussão sobre o

3.3.3. Questionário

Por abordarmos, no capítulo de análise, alguns aspectos que consideramos relevantes e que foram acessados a partir de questionário, comentamos, acerca desse instrumento e de suas finalidades para essa pesquisa, nesta seção.

Gil (1989) define o questionário como “a técnica de investigação composta por número mais ou menos elevado de questões apresentadas por escrito às pessoas, tendo, por objetivo, o conhecimento de opiniões, crenças, sentimentos, interesses, expectativas, situações vivenciadas, etc.” (p. 124). Em nosso trabalho, especificadamente, o questionário funcionou como um instrumento de diagnóstico, pois, a partir dele, conseguimos acessar informações dos membros da turma com a qual iríamos trabalhar: desde idade dos alunos até a sua relação com o objeto investigado e as metodologias com as quais estavam familiarizados.

Utilizamos o referido instrumento em duas etapas de nossa inserção em sala de aula. O primeiro questionário, o qual denominamos de questionário diagnóstico (QD), foi respondido no dia 03 de agosto de 2016, na etapa Diagnóstico da SD. O QD era constituído de 15 perguntas objetivas, sendo que duas apresentavam desdobramentos para que os alunos justificassem a resposta assinalada.

Compreendemos a importância desse instrumento para a realização das etapas seguintes do trabalho em sala de aula, na medida em que as respostas dos estudantes nos auxiliaram a investigar e a identificar não apenas os interesses dos sujeitos de pesquisa, mas também seus entendimentos quanto à produção textual oral. O modelo do QD está disponível no Apêndice C, p. 137.

Por sua vez, o segundo instrumento, intitulado de questionário final (QF), foi respondido no dia 07 de dezembro de 2016, último encontro com os alunos. Tal instrumento

era constituído por 13 perguntas objetivas, das quais três apresentavam desdobramentos para que os alunos justificassem a resposta assinalada, e uma questão dissertativa. Algumas perguntas eram idênticas ou semelhantes a perguntas apresentadas no QD, o que permite que comparemos as respostas apresentadas pelo mesmo sujeito em momentos diferentes.

O objetivo do QF foi termos um feedback dos participantes da pesquisa a fim de percebemos suas avaliações em relação ao trabalho desenvolvido em sala de aula e também seus entendimentos, naquele momento, quanto à produção textual oral. O modelo está disponível no Apêndice D, p. 141.

3.3.4. Transcrição

Encontramos, no texto transcrito, uma maneira de trabalharmos com a materialidade linguística de forma mais eficaz, tanto em termos didáticos quanto em termos científicos. Em primeiro lugar, a transcrição nos auxiliou na organização das oficinas, uma vez que, em função de o registro dos encontros ter sido feito por gravador de áudio e por dispormos de apenas, no máximo, dois períodos semanais em sala de aula, julgamos ser pouco profícuo, além de cansativo para os alunos, escutar todo o áudio dos debates para que as análises das produções textuais fossem realizadas. Em segundo lugar, a transcrição foi importante na compreensão e na análise do texto oral, além de facilitar a publicação do material (PRETI, 2009).

Consideramos a transcrição conforme Marcuschi (2001) e Preti (2009), ou seja, como uma passagem de um texto cuja realização é sonora para uma forma gráfica, que se baseia em determinadas convenções. Diferencia-se, portanto, da retextualização, pois se trata de uma transcodificação, e não de uma adaptação:

[...] podemos imaginar o que é que fazemos quando transcrevemos um texto falado. Basicamente, passamos as palavras pronunciadas para uma formatação escrita num sistema gráfico que segue, no normal dos casos, a grafia padrão, variando apenas em casos especiais quando queremos evidenciar certas questões específicas de um ou outro falante. Transcrever não é uma atividade de metalinguagem nem é uma atividade de simples interpretação gráfica do significado sonoro. A transcrição representa uma passagem, uma transcodificação (do sonoro para o grafemático) já que é uma primeira transformação, mas não é ainda uma retextualização. (MARCUSCHI, 2001, p. 51, grifos do autor).

Com base nessa citação, destacamos que não há transcrição neutra, já que “há uma atividade onipresente na atividade de transcrição, que é a compreensão. Sempre transcrevemos uma dada compreensão que temos do texto oral.” (MARCUSCHI, 2001, p. 51).

Quanto às convenções que seguimos neste projeto de Mestrado, optamos pelas normas do Projeto da Norma Urbana Oral Culta de São Paulo, NURC/SP (Quadro 7).

Quadro 7 - Normas do NURC/SP para transcrição de textos orais

OCORRÊNCIA SINAIS EXEMPLIFICAÇÃO

Incompreensão de palavras

ou segmentos ( )

...do nível de renda... ( ) nível de renda nominal...

Hipótese do que se ouviu

(hipótese) (estou) meio preocupado (com o gravador)

Truncamento / e comé/ e reinicia

Entoação enfática maiúsculas porque as pessoas retêm moeda Alongamento de vogal ou das

consoantes [r], [s] :: ou ::: ao emprestarem os... éh:: o dinheiro

Silabação - por motivo de tran-sa-ção

Interrogação ? o Banco Central.... certo?

Qualquer pausa ... são três motivos... ou três razões Comentários descritivos ((minúsculas)) ((tossiu))

Comentários do locutor que quebram a sequência temática

- -

a demanda da moeda – vamos dar essa conotação – demanda de moeda por motivo

Superposição, simultaneidade

de vozes [

ligando linhas

A. na casa da sua irmã [

sexta-feira? Citações literais, reprodução

de discurso direto ou leitura de textos

“ ”

Pedro Lima... ah escreve na ocasião... “O cinema falado em língua estrangeira não precisa de nenhuma barreira entre nós”... Fonte: Castilho; Preti (orgs., 1987, p. 9-10).

Preti (2009) destaca que os pesquisadores do NURC/SP não defendem nem a transcrição rigorosamente dentro das normas ortográficas nem a transcrição fonética. Isso porque, enquanto a primeira eliminaria elementos típicos da oralidade, a segunda tornaria “o texto ilegível ou, pelo menos, difícil ou desagradável de ler” (PRETI, 2009, p. 309). Por isso,

ao estabelecerem as normas, optaram por indicar fenômenos característicos da oralidade, tais como hesitações e prolongamentos de vogais, além dos marcadores conversacionais.

O autor indica, ainda, seis pontos que devem ser observados quando se opta por trabalhar com transcrições, os quais, por considerarmos relevantes, serão reproduzidos a seguir:

1. Toda transcrição é boa, desde que atenda a nossos objetivos de pesquisa;

2. Nenhuma transcrição é perfeita, pois sempre permanecerão ausentes algumas marcas típicas da oralidade (hesitações, alongamentos, variações fonéticas do falante, entonação, ênfase, truncamentos etc.) mesmo que criemos sinais para precariamente representá-las;

3. Na transcrição deve-se deixar de lado, sempre que necessário, as regras ortográficas, para que haja maior aproximação da língua oral;

4. O transcritor não pode ter ou revelar preconceitos linguísticos, em relação a seu informante, que o faça condenar ao transcrever variações naturais de linguagem. Não deve haver avaliação no processo de transcrição: as variantes devem ser respeitadas;

5. Devem ser considerados na transcrição os fáticos da linguagem falada e indicados, sempre que possível, os elementos supra-segmentais da fala;

6. A transcrição favorece o processo de análise do texto gravado e, sem ser indispensável, é uma estratégia eficiente para o pesquisador da oralidade. (PRETI, 2009, p. 315).

Essa lista sintetiza as orientações que buscamos seguir na transcodificação do material em áudio que tínhamos. Para este estudo, o último item é bastante relevante, pois acreditamos que a transcrição assume um papel maior que o de mero registro, uma vez que, nas análises em que os alunos-produtores avaliaram seus textos, ela balizou a ação. Além disso, conforme já mencionado no início deste tópico, a transcrição facilita a publicação das produções textuais e contribui na análise dos dados, ao revelar, de maneira visual, por exemplo, fenômenos como repetição.