• Nenhum resultado encontrado

S ERVIÇO S OCIAL

R EVISITAR A PROFISSÃO

Se tomarmos como referência a abertura da primeira escola com o Curso de Serviço Social em Portugal (1935, em Lisboa), podemos afirmar que existe

124 uma história da profissão com quase 80 anos. Ao longo destes anos, foi feito um caminho de qualificação técnica e académica, de intervenção nas organizações e junto das populações, de conquista de ‘campo’ e de reconhecimento social, mas também de reflexividade e de investigação na procura de conhecimentos próprios como tentativa de consolidar a profissão e fazer reconhecer a disciplina.

Contudo, é o questionamento como «profissão», sobretudo por autores externos ao campo profissional, que aqui pretendo equacionar. E na perspectiva aqui utilizada o debate sobre se, efectivamente, será ou não, uma profissão não pode ser dissociado da controvérsia sobre a sua legitimidade. A emergência desta profissão num dado tempo histórico pode ser justificada, segundo Helena Mouro,

“… no quadro de vários raciocínios como uma profissão que resulta de uma dinâmica histórica do aperfeiçoamento da ‘arte de bem-fazer’; como uma profissão de ‘obreiras’ sociais que se servem de uma ‘química social’ para relativizar o corte epistemológico que a sociedade capitalista fez com o modelo clássico de práticas herméticas de regulação social; ou ainda, como uma sub-profissão ligada ao desenvolvimento das necessidades sentidas pelas ciências sociais em reutilizar as práticas de ajuda social para sufragar as exigências decorrentes do progresso do mercado científico e das mudanças do modelo de gestão política dos problemas sociais” (2001:31).

No entendimento utilizado nesta investigação caracteriza-se o Serviço Social como uma profissão pós-industrial que ocupa um lugar na divisão sócio-técnica do trabalho com um mandato que intervém na «questão social» e que ganhou relevância nas sociedades industrializadas, na sequência de fenómenos sociais em massa e da assumpção pelo estado de respostas sociais, com enquadramentos políticos e ideológicos precisos. Esta consideração fundamenta-se na medida em que:

 Se refere a uma prática que exige uma formação especializada e específica de nível superior, que corresponde a um trabalho reconhecido e que se distingue dos outros;

 Se integra no movimento societário geral de criação de grupos ocupacionais que têm um papel atribuído e reconhecido publicamente;  Lhe é imputado um sistema de valores aceite e com responsabilidade

moral, que corresponde às expectativas atribuídas e que é genericamente olhado como competente e eficaz (Payne, 1997).

125 Enquanto profissão, a trajectória de vida do Serviço Social não pode ser desligada das diferentes perspectivas que equacionam a sua existência sócio histórica. Neste suposto, a questão da legitimidade formal da profissão passa por uma análise sobre a institucionalização, desde as formas de profissionalismo aos seus jogos político-simbólicos, centrados nas questões do estatuto social e do mercado, mas também da análise do «uso social da ciência» e, mais particularmente, do trabalho dos grupos profissionais que garantem o uso social dos sistemas periciais de conhecimento (Giddens, 1992).

De facto, ao longo da história da profissão verifica-se a influência (mais do que a capacidade de influenciar) de todas as alterações e mudanças societárias e de correntes de pensamento, a nível económico, político e social. Ou, como diria Yolanda Guerra (2001) numa perspectiva mais determinista, a profissão é «o produto de um arranjo teórico-político-doutrinário».

Na sociedade industrial, a profissionalização tornou-se assim um processo central pela especialização de funções e também pelo processo de «assalariazação»; neste entendimento e a título de exemplo, Michel Autés refere-se às profissões sociais assalariadas como «semi-profissões», com um estatuto híbrido de não serem nem totalmente assalariadas, nem totalmente autónomas. Este autor refere que a verdadeira essência do trabalho social joga-se na dimensão simbólica e caracteriza o trabalho social como um trabalho da norma e sobre a norma, em que:

«…o seu fazer, o seu gesto, o seu dizer» inscrevem-se nesse espaço onde as técnicas são apenas pretextos e onde o que está verdadeiramente em questão «são as margens do social e, por vezes, a fronteira do humano» (Autés, 2004:233).

Referindo-se à sua posição estatutária (e destacando que os assistentes sociais são maioritariamente assalariados) Chopart defende que o Serviço Social é uma «quase profissão», na medida em que não lhes é conferida a autonomia à qual pode aspirar um verdadeiro grupo profissional, embora reconheça que:

“…são actividades «nobres» fundamentadas numa ética da ajuda e da compaixão para com o outro; e elas podem reivindicar algumas das características que definem a autonomia dos grupos profissionais: o fechamento através de ‘numerus clausus’, a existência de um código deontológico comum, um certo domínio do aparelho de formação, etc. “ (Chopart, 2003:97).

126 Por um lado, o Serviço Social materializa-se em narrativas de compromisso com os direitos humanos, com a justiça social e com a auto-determinação das pessoas em situação de vulnerabilidade social mas, por outro, a sua legitimidade continua a advir das instituições onde os profissionais exercem para operacionalizar medidas, de assistência ou de políticas sociais, redistribuir recursos e/ou exercer controlo social, ou realizar projectos de desenvolvimento social ou educacional.

Nesta análise e, já que os conceitos nunca são neutros e ficam ligados à ancoragem teórica que se faz, parece importante a mobilização dos conceitos de «profissão» e «campo profissional» para situar historicamente a profissão de assistente social e compreender as dinâmicas de recomposição do grupo actualmente designado de «trabalhadores sociais» no qual se inscreve e no qual se incluem diversas actividades profissionais, diferentes formações e diferentes qualificações (Ion e Tricart, 1985).

O termo «profissão» começa por ser utilizado nos tempos da Revolução Industrial, para contrapor à designação de «artesão». Até então, um determinado trabalho era concebido e realizado por alguém que dominava todo o processo, o que caracterizava o processo artesanal de produção. Com a divisão social do trabalho, assiste-se a uma crescente fragmentação e especialização do trabalho que multiplicou as profissões e as organizações. Verifica-se que tanto na linguagem científica como na linguagem comum sobre os grupos profissionais, o conceito de profissão opõe-se à ideia de amadorismo. E nos processos de afirmação de uma ocupação por oposição aos modos amadores de desenvolvimento da respectiva actividade, tiveram influência, designadamente, as mudanças tecnológicas, organizacionais e as novas técnicas, o aumento dos níveis de qualificação de muitas ocupações, as mudanças na organização do trabalho das profissões estabelecidas e mais antigas (como a integração progressiva em organizações) e o aumento de ocupações que aspiravam ao estatuto de profissão.

No âmbito da Sociologia, a Sociologia das Profissões e a Sociologia das Organizações, com histórias e enfoques diferentes, têm produzido ampla evidência científica. Sem pretender fazer uma análise das diferentes teorias

127 destes campos, situava apenas estes ramos da Sociologia como herdeiros dos estudos de Durkheim, Weber e Marx, tidos como seus precursores.

O «ramo» da Sociologia das Profissões surge com identidade própria nos anos 30, nos E.U.A. no âmbito das teorias funcionalistas, sendo T. Parsons e, mais tarde, nos anos 50, Merton, os autores mais identificados. No princípio do século XX, o corte no mundo do trabalho nos Estados Unidos entre as «profissões» (médicos, advogados, …) e as «ocupações» era muito vincado e as teorias funcionalistas, distinguindo profissão de ocupação, defendem o conceito de profissão quando existe organização de uma comunidade reconhecida, ocupando uma posição social e/ou organizacional elevada e com uma formação longa.

Nessa mesma época, também nos E.U.A. emerge uma nova corrente, ligada à Escola de Chicago, designada de sociologia interaccionista, com E. Hughes entre os seus principais pensadores. Os defensores das teorias interaccionistas colocam a socialização no centro da análise das realidades de trabalho e distinguem-se por caracterizarem as profissões pela valorização das interacções dinâmicas. Ao considerarem a biografia e a interacção como elementos importantes, consideram também que as actividades de trabalho são processos, ao mesmo tempo, de relações dinâmicas com os outros e subjectivamente significativos.

Os estudos consultados, na perspectiva do interaccionismo simbólico, centram- se nos processos de profissionalização, da emergência, da consolidação e do desenvolvimento de cada grupo profissional. Nesta perspectiva são analisadas as práticas profissionais dos membros desse grupo e as estratégias que desenvolvem no sentido de construírem uma identidade colectiva, de obterem o reconhecimento social das suas competências específicas, de conseguirem o monopólio de um certo domínio do saber e do trabalho, e de terem acesso a níveis elevados de estatuto social. Assim, os conceitos de profissionalismo e profissionalização encontram-se em estreita relação e particularmente articulados com o conceito de profissão defendido pelo interaccionismo simbólico:

 o profissionalismo apela para os processos e estratégias de defesa e promoção de um grupo profissional (melhoria de capacidades e

128 racionalização de saberes; estratégias de reivindicação para ascensão na hierarquia das actividades; adesão às normas do grupo);

 a profissionalização diz respeito ao processo a empreender para ascender ao estatuto de profissão (Araújo, 1985).

No fim dos anos 60 e na década de 70, as teorias funcionalistas e interaccionistas cedem lugar às teorias «neo» marxistas e «neo» weberianas.

Estas correntes integram os processos subjacentes ao movimento capitalista - nomeadamente a passagem do capitalismo concorrencial ao capitalismo monopolista que traz como consequências, entre outras, a concentração do capital, a burocratização das empresas e o aumento de trabalho qualificado face à evolução tecnológica e à especialização das funções de gestão.

Estes processos incluem aspectos relativos ao saber, com a institucionalização do saber formal, e ao poder, através de formas de controlo do/no trabalho. Apesar de existirem especificidades tipológicas na caracterização do conceito de profissão, pode identificar-se, segundo Dubar (1997a), como pontos comuns a existência: i) de princípios éticos e deontológicos para a regulação da actividade profissional; ii) de saber científico, como garantia da competência e da especialização de um grupo profissional.

Estes princípios e estes saberes serviriam, em simultâneo, para proteger o campo, fazendo de barreira à entrada indiscriminada de indivíduos para a profissão. Nesta abordagem sociológica são utilizados três elementos fundamentais: a exclusividade profissional, a utilização do conhecimento abstracto e a autonomia face aos clientes e face ao Estado.

No sentido de construir e fazer reconhecer uma profissão, podem identificar-se duas vias históricas de relação entre poder e saber, quer através da iniciativa do Estado que cria os “títulos escolares” e regula o acesso a estatutos sociais de grupos profissionais em situação de monopólio; quer através da acção colectiva de elites sociais, que fazem reconhecer uma disciplina dotando-a de dispositivos cognitivos e práticos e obtendo dos poderes políticos o monopólio de um mercado para a profissão (Dubar, 1997a)

Para que uma ocupação possa chegar ao estatuto de profissão, existem várias dimensões a ter em conta designadamente:

129

“…a sua história, o seu conhecimento teórico e prático transmitido longitudinalmente, a formação de base e especializada ao longo da vida, a sua legitimidade em termos da regulamentação da actividade e aceitação pela sociedade” (Carvalho: 2003: 39).

Claramente, na história da profissão de Serviço Social, se percebe que estas vias não se excluem mutuamente, quanto muito desencontram-se no tempo. No caso, e dada a particularidade da situação portuguesa é difícil dizer onde acaba a acção das elites e começa a do Estado.

Se do ponto de vista histórico, se pode referir que a construção e o reconhecimento da profissão de Assistente Social processou-se numa primeira fase pela pressão das elites e só mais tarde o Estado regulou a titulação, também se verifica (aliás, o que não é um exclusivo do Serviço Social) a grande importância do Estado como actor preponderante no seu processo de nascimento e desenvolvimento, designadamente nos aspectos ligados à sua emergência, reconhecimento, legalidade, mercado de trabalho, poder, prestígio e às orientações políticas que a podem favorecer ou desqualificar (Negreiros, 1993: 9 – 11).

Por sua vez o conceito de «campo profissional» ainda parece mais difícil de definir, conforme justifica Chopart (2003) numa publicação que nos dá conta de um programa de investigação centrado em «Observar os empregos e as qualificações das profissões de intervenção social». Partindo da constatação de que neste campo profissional «mais ninguém sabe quem é e quem faz o quê», o autor identifica alguns factores que contribuíram para esta situação como:

“…a multiplicação de parceiros de intervenção, as estratégias diferenciadas dos empregadores, as evoluções das práticas e das modalidades da acção social e a rápida obsolescência das categorias tradicionalmente utilizadas para descrever o campo profissional…» (Chopart, 2003:15).

No estudo citado são identificadas duas teses distintas para abordar o «campo profissional»:

 A «tese do núcleo duro e da periferia» em que é defendida uma visão próxima dos modelos profissionais anglo-saxónicos e onde sobressai a hipótese de um «mercado interno» regido por lógicas de fechamento (com um núcleo duro onde os empregos sociais são ocupados na sua maioria por assistentes sociais diplomados ou reconhecidos pelas autoridades da

130 tutela) sendo a mudança, com o surgimento de novas especialidades, entendida como periférica e situada nas margens;

 A tese de que «é o conjunto do campo profissional que está em mutação» em que se coloca a hipótese de que:

“…as categorias utilizadas para descrever este campo profissional (os sectores de intervenção, a denominação dos cargos, a suposta adequação entre os títulos possuídos e as actividades de trabalho) são, talvez dentro de uma certa medida, obsoletas, convindo, portanto, desconfiar de um possível artifício” (Chopart, 2003:16).

Situados os pólos deste debate, esta equipa de investigação adoptou uma definição muito vasta que me esclarece pouco: o campo profissional é constituído por “um conjunto de lugares onde exercem funções «trabalhadores sociais». Em bom rigor, as definições do objecto e do método, respectivamente como:

“…todas as actividades remuneradas por financiamentos com fins sociais, exercendo-se num quadro organizado, seja público seja privado, e visando pessoas ou públicos com dificuldades de integração social ou profissional numa perspectiva de ajuda, de assistência ou de controlo, de mediação ou de acções de animação ou de coordenação” e o método como “ estritamente indutivo, partindo da recolha de observações empíricas relativas às práticas e aos pontos de vista dos actores” (Chopart, 2003:17)

também não parecem avançar muito para além de uma tentativa de explicitação. No entanto, esta investigação propõe uma interessante tipologia de práticas de intervenção social, por referência aos conteúdos da actividade e desligada das denominações profissionais (Chopart, 2003:41- 49). A saber:  Os trabalhos de «presença social» (trabalhos de acolhimento e trabalhos de

rua);

 Os trabalhos de organização social (os quadros gestores de serviços, os quadros intermédios que combinam a lógica de direcção e a lógica de intervenção e os coordenadores de programas);

 Os trabalhos de intervenção directa (o modelo de intermediação, o modelo do acompanhamento de base processual, o modelo de acompanhamento socializante).

Qualquer destas práticas pode, ou não, ser exercida por Assistentes Sociais sendo que na década em análise (1986-1996) de entre as profissões consideradas (Assistente Social, Educador Social, Monitor-educador, Educador de crianças pequenas e Auxiliar Médico-psicológico), apesar de ser a profissão

131 com maior número de elementos, foi aquela que revelou menor taxa de crescimento (Chopart, 2003:30).

Se os anos de crescimento económico permitiram às profissões sociais (nomeadamente aos assistentes sociais) adquirir a sua legitimidade, estender o seu campo de intervenção e ver o seu número de efectivos crescer consideravelmente, a partir dos anos 80 nos países da Europa dita desenvolvida e dos anos 90 em Portugal, assiste-se a uma fase de estabilização.

Esta tendência que entrará em curva decrescente, associa-se ao crescimento do número e diversidade de diplomados com formação e apetência para trabalhar no campo profissional e vai conjugar-se com as restrições orçamentais que começam a favorecer a opção por contratar pessoal menos qualificado. Ao conjunto destes factores externos soma-se um movimento de especialização das profissões sociais, em que aparecem novas funções e se transformam as próprias profissões instaladas do Trabalho Social, permitindo o desenvolvimento de outros empregos mais especializados (como por exemplo, coordenadores de projecto, agente de desenvolvimento, etc.).

Temos assim um quadro em que a regulação dos sistemas de emprego não parece privilegiar as certificações profissionais,

“…mas antes uma combinação variável de um conjunto de factores: o peso das profissões qualificadas combinado com a abertura do mercado de trabalho à retórica das competências, ao reforço de todos os níveis das exigências de qualificação geral, ao desenvolvimento predominante de profissões com mais fraca qualificação nas situações mais em contacto com o público, à transformação das organizações segundo lógicas gestionárias e, finalmente, segundo a importância dos contextos locais na construção de sistemas de emprego complexos, flexíveis e abertos” (Chopart, 2003: 59,60).

O mercado aberto das competências, neste ponto de vista, remete para um modelo de profissionalidade gestionária que utiliza as noções de projecto, rede, território, flexibilidade e avaliação (Demailly, 1998), reinscrevendo as profissões sociais na Sociologia das Organizações e fazendo-as sair das figuras norte- americanas da Sociologia das Profissões.

Os modelos de formação contínua de Lise Demailly são tomados como modelos teóricos de análise das formas de socialização responsável pela produção da identidade desejada pelas instituições formadoras.

132 Nóvoa a propósito da formação da profissão docente, observa que a forma «interactiva-reflexiva» é a melhor forma de conceber uma “formação contínua

que contribua para a mudança educacional e para a redefinição da profissão

(2002:55). Embora refira que as formações por competências ou os modelos escolares ou universitários sejam mais eficientes a curto prazo, também destaca que estes modelos tendem a reproduzir as realidades educacionais existentes, dificultando o trabalho de invenção (e de produção) de «novos» profissionais.

Estas mudanças de concepção não são homogéneas, totalitárias nem consensuais, permanecendo uma auto-representação do Serviço Social como «profissão» especialmente dotada para algum do trabalho social e continuando as suas estruturas colectivas (nomeadamente a Associação de Profissionais) a reivindicar uma protecção de campo e vias de acesso restritas aos seus diplomados. A reinterpretação destes conceitos e perspectivas fora das lógicas lineares e sequenciais, ganha proximidade com a análise das práticas profissionais reais (e não das prescritas) e com as estratégias desenvolvidas pelos profissionais nas diferentes interacções onde são actores, em posição claramente divergente com perspectivas como a de Carvalho:

“A profissionalização tende para um sentido sequencial de eventos ou etapas seguidas pelos grupos ocupacionais até ao estádio do profissionalismo, como seja, a passagem da actividade amadora à ocupação a tempo inteiro; a criação de associação profissional; a protecção legal e a definição de um código de ética” (Carvalho: 2003:33 - 34).

A análise e produção de conhecimento sobre os processos de profissionalização apesar da sua quantidade, diversidade e qualidade, estão longe de se esgotar, subsistindo as possibilidades de novos entendimentos das actividades de trabalho. Dubar (2006) neste âmbito, lembra ainda que:

 Não existe profissão separada, do sistema profissional ao qual pertence;  Não existe profissão unificada, mas segmentos profissionais variavelmente

identificáveis, organizados ou concorrenciais;

 Não existe profissão estabelecida, mas processos de reestruturação e desestruturação profissionais;

 Não existe profissão objectiva, mas relações dinâmicas entre instituições de formação, de gestão, de trabalho e trajectórias biográficas no âmago das quais se constroem identidades profissionais.

133 Na literatura de Serviço Social existe um discurso recorrente sobre a identidade profissional, sobre a especificidade (ou a falta dela) e/ou sobre as interrogações sobre o seu futuro que por serem tão constantes, arriscaria a dizer que já fazem parte integrante da definição da profissão. Veja-se a este propósito a posição de Lecomte (citado por Amaro, 2009:230) que refere ser o

“permanente debate que existe no Serviço Social a propósito dos seus fundamentos, missão, limites e especificidades que conferem dinamismo e força à profissão”.

O Serviço Social possui como já referi, uma história e uma formação específica, que se veio a qualificar, nomeadamente com a sua graduação académica. Coloco a hipótese de que este reconhecimento recente de grau académico esteja ligado a uma certa necessidade de afirmação e conquista de paridade científica e profissional, agravada na actualidade por uma enorme disputa de «terreno» entre trabalhadores sociais, de diferentes formações. Das condições mais problemáticas para o reconhecimento da profissão são a questão dos seus saberes específicos e da legitimidade do Serviço Social que continuam longe de consensos, dentro e fora do corpo profissional. Neste âmbito, é fundamental a detenção de um corpus teórico-conceptual próprio,