• Nenhum resultado encontrado

RARLA DE ROMA

No documento extraterrestres (páginas 165-167)

DOY, UMA MULHER DE MALDEC

RARLA DE ROMA

Nasci no ano li para Vadius Gromius e sua mulher Aprela na cidade de Roma. Deram-me o nome de Rarla. Meu pai era armeiro da Guarda Pretoriana de elite do imperador Tibério. Também exercia as funções de agente do correio da guarda, providenciando a entrega de cartas pessoais dos soldados a suas famílias e amigos. As cartas endereçadas a qualquer soldado eram primeiro entregues em nossa casa antes de serem levadas ao palácio imperial três vezes por semana por meu pai.

Éramos considerados uma família rica porque possuíamos cerca de 18 escravos. Apenas seis eram homens que trabalharam para meu pai em sua oficina de fabricação de armaduras e armas. Os outros seis escravos eram meninas que trabalhavam dentro de nossa casa. Aprendi ler com minha mãe, que aprendera com sua mãe antes dela. Eu adorava observar o preparo de comida, mas eu mesma nunca tentei cozinhar. Era sinal de aristocracia a mulher recitar receitas de pratos que haviam provado e a cujo preparo tinham assistido. Eu desejava tanto ser uma dama aristocrática e percorrer Roma numa liteira, observando o que se passava nos vários mercados.

Como presente de décimo quinto aniversário, meu pai providenciou a realização de meu sonho. Arranjou para que minha mãe, ele e eu fossemos carregados numa liteira de um extremo a outro de Roma num giro completo. Foram necessários todos os escravos que ele possuía ou conseguiu emprestar para executar tarefa tão hercúlea. Guardas montados e cavalo, que tanto conduziam os carregadores da liteira como tiravam de nosso caminho os pedestres, mandavam escravos que seguiam correndo substituir os que estavam a ponto de desmaiar. Fiquei sabendo depois que esta excursão de liteira através da cidade era objeto de uma grande aposta feita por meu pai com alguns de seus amigos. Também descobri depois que, semanas antes da “grande corrida de liteira,” todo homem livre e todo escravo de Roma que tinha meios estava apostando se a liteira alcançaria ou não seu pretendido destino a tempo.

Meu pai ganhou a aposta, e para comemorar levou-me (minha mãe não quis ir) no dia seguinte a uma luta privada de gladiadores. Logo descobri por que mamãe não quis assistir tal competição. Novamente foram apostadas grandes somas de dinheiro no resultado das contendas. Três pares de homens lutaram uns com os outros até a morte. Até mesmo os três vencedores ficaram muito feridos. Como recompensa por sua vitória, foram mortos por setas vindas da platéia. Naquela noite bebi vinho até desmaiar.

O imperador Tibério tornara-se recluso, residindo na ilha de Capri. No ano 28 eu contava 17 anos quando, subitamente, foram convocadas novas tropas da Guarda Pretoriana para substituir seus colegas que protegiam o

imperador em Capri. A ordem repentina deixou fez com que grande volume de correspondência e armadura não fosse entregue. Esse fato tornou necessário que meu pai fosse a Capri para entregar a correspondência e toneladas de objetos pessoais deixados para trás pelos soldados substitutos.

Todo o pessoal de nossa casa, inclusive os escravos, saíram de Roma e foram a Capri. Meu pai notou que, no trajeto de nossa viagem, nunca encontramos nenhum dos pretorianos substituídos marchando de volta a Roma. Quanto mais nos aproximávamos de Capri, mais encontrávamos grandes grupos de legionários (soldado de linha romano). Nossos carregamentos de correspondência e armaduras foram revistados muitas vezes antes de recebermos permissão para prosseguir.

Este mistério foi solucionado quando o capitão do navio que nos levaria à ilha de Capri contou a meu pai que uma grande força militar liderada por um nobre romano realizara um atentado contra a vida do imperador. A maior parte da Guarda Pretoriana do imperador foi morta defendendo-o. Os assassinos invasores foram derrotados quando uma guarnição de legionários de linha baseada no continente veio para socorrer o imperador. A princípio ordenou-se que o atentado contra sua vida fosse mantido em segredo, mas a notícia acabou vazando. -

Em Capri apenas uns poucos integrantes da guarnição pretoriana original ainda estavam vivos, e sua coragem fez com que o imperador os promovesse oficiais. Entre esses oficiais recém-promovidos havia um jovem chamado Geonius. Pouco mais de um ano depois (em 30) ele se tornaria meu marido.

Minha vida em Capri começou quando o imperador encarregou meu pai que era o mestre dos escribas que copiassem à mão centenas de proclamações imperiais a serem despachadas e cuidassem de todas as mensagens que chegassem. Meu pai conseguiu esse trabalho porque o homem que o realizava antes dele fora morto na recente invasão malfadada.

No ano 32, eu tinha uma filha de um ano de idade a quem dei o nome de minha mãe. Foi nesse ano que Caio Júlio César Germânico, de 20 anos de idade, veio morar como imperador Tibério. Esse sujeito também era chamado Calígula. [O nome Calígula foi um apelido dado a ele pelos soldados de seu pai, Germânico César. Significa “coturno militar.” - W.B.] Embora Tibério tivesse ordenado a morte da mãe de Calígula, Agripina 1, e de seus dois irmãos mais velhos durante um expurgo, Calígula caiu nas graças do velho imperador, que ainda tinha sentimentos de gratidão pelo apoio militar dado pelo pai de Calígula durante várias tentativas de golpe. Como Calígula se parecia fisicamente com o pai e tinha seu nome, creio que esse fato o salvou do mesmo destino de sua mãe e irmãos. Quando Tibério morreu, Calígula proclamou-se imperador e começou a matar todos os parentes de Tibério que poderiam algum dia reivindicar o trono imperial. Alguns acreditavam que Calígula ficou mentalmente desequilibrado devido a uma enfermidade por ele sofrida em 37, mas garanto-lhes, esse sujeito sempre foi louco. Não há necessidade de recontar aqui as loucas, cruéis e horríveis torturas por ele ordenadas.

De fato, naquela vida meu pai era carinhoso com a família, mas exultava ao assistir a homens matarem-se uns aos outros em combates de gladiadores. Em 40, Calígula mandou decapitar meu pai, porque suspeitava que ele fazia parte de uma conspiração para derrubá-lo. Falsamente acusou meu pai de alterar o conteúdo de despachos militares por ele enviados a seus comandantes que estavam lutando no que é hoje a Alemanha. Como os alemão tinham derrotado os soldados romanos, que estavam seguindo as divinas instruções militares de Calígula (emitidas de boa distância), na cabeça de Calígula, a única razão possível para sua derrota era a alteração de suas ordens feita por alguém antes de elas serem despachadas. Desse modo, meu pai estava bem no topo da lista dos bodes expiatórios de Calígula.

Em 41 fiz trinta anos. Calígula tinha 29 quando meu marido, Geonius, juntamente com vários outros oficiais da Guarda Pretoriana, mataram-no a golpes de espada. A Guarda Pretoriana então proclamou o tio de Calígula, Cláudio 1, imperador do Império Romano. Cláudio não foi um governante tão ruim, mas o sucessor que escolheu era praticamente Calígula reencarnado. Seu nome era Nero. Nero era filho adotivo de Cláudio e filho de sangue de Agripina II (irmã de Calígula), a segunda de duas esposas de Cláudio. É verdade que quando Agripina teve certeza de que Nero sucederia a Cláudio, envenenou seu marido para apressar a coroação de Nero.

Nero tornou-se imperador aos 17 anos de idade, eu tinha quarenta e três. Minha filha de 23 anos de idade também casou-se com um soldado pretoriano e teve dois filhos. Nero, seguindo o conselho de sua mãe Agripina e do companheiro dela, Burrus, o prefeito (comandante supremo) da Guarda Pretoriana, ordenou que todos os soldados pretorianos que participaram do assassinato de Calígula fossem passados à espada juntamente com suas famílias. Agripina e Burrus não queriam que nenhum desses soldados tivessem a idéia de fazer a mesma coisa a seu fantoche, Nero.

Quando chegou minha vez de ser executada, olhei o rosto do jovem pretoriano pronto para me golpear com sua espada. Durante vários segundos, ele hesitou. Nesse intervalo seus trajes mudaram diante de meus olhos. Transformou-se num belo jovem loiro que levava nos dedos indicadores as cobras douradas dos krates maldequianos reais. Lágrimas lhe corriam pela face. Quando eu recuperei os sentidos meu carrasco pretoriano também estava derramando lágrimas. Quando sua espada atingiu-me, não senti nenhuma dor.

No documento extraterrestres (páginas 165-167)