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TRÊS ANOS EM MALDEK

No documento extraterrestres (páginas 74-76)

JAFFER BEN-ROB DA TERRA

TRÊS ANOS EM MALDEK

Como me informaram anteriormente, a espaçonave graciana não aterrissou em Maldek. O grupo de Sou-Dalf, que incluía Alfora e a mim, foi transportado por um ônibus espacial maldequiano para a atmosfera do planeta, a seguir para um complexo de edifícios e palácios magníficos. Aterrissamos numa grande plataforma de pedra localizada na frente de um dos mais belos edifícios que eu já vira. Tinha colunas de alabastro com mais de 240 metros de altura. Partes do edifício pareciam suspensas no ar. O aroma do lugar era maravilhoso, embora indescritível. Árvores e jardins floridos circundavam o lugar. (Seriam necessárias muitas páginas para descrever o lindo planeta de Maldek e sua magnífica arquitetura.) O planeta e suas construções eram deslumbrantes para qualquer pessoa de outro mundo, mas os maldequianos tratavam essas maravilhas de uma forma indiferente e insensível. Todas as edificações haviam sido construídas no passado remoto de acordo com algum plano mestre. Nunca vi nada ser construído; era como se tudo o que quisessem ou viessem a querer já estivesse lá, construído por seus laboriosos ancestrais.

Ao aterrissarmos fomos conduzidos ao palácio. Os assoalhos do primeiro salão nobre em que entramos parecia um profundo oceano verde-amarelado claro com tetos da cor do céu de mais de 2,40 metros de altura. Era silencioso e vazio. Andamos até chegar a uma esteira rolante na qual subimos. A esteira rolante tinha cerca de 5,5 metros de largura e nos deslocou silenciosamente por panoramas esculpidos coloridos com tintas que continham pedras preciosas em pó fundidas a altas temperaturas nas esculturas. Nossa excursão durou cerca de dez minutos e fomos recepcionados por um krate aparentemente desarmado vestindo túnica branca e sandálias de ouro. Ao redor de cada um dos braços, ele trazia enroladas peças na forma de cobras douradas. As cabeças dessas cobras se ligavam aos dedos indicadores. Descobri depois que essas cobras eram, na verdade, armas da guarda do palácio. Podiam ser ativadas com a contração de um dedo, injetando um veneno de ação rápida no corpo de uma pessoa de outro mundo, matando-a instantaneamente. O veneno não tinha efeito sobre os maldequianos.

Fomos escoltados pelo krate ao longo de outro corredor grandioso até uma sala repleta de diferentes tipos de pessoas de outros mundos e de vários maldequianos com ar muito preocupado. Embora a sala estivesse lotada, estava muito silenciosa; todos falavam sussurrando. Havia música suave vindo de uma fonte desconhecida.

Disseram a Alfora e a mim para esperar nessa sala e Sou-Dalf foi para outro lugar com o krate. Descobrimos que as pessoas que esperavam nessa sala estavam ali ou porque houvessem sido convocadas ou porque tinham uma razão pessoal para entrar em contato com o órgão governante maldequiano. Os maldequianos de aspecto preocupado eram alguns dos que haviam sido convocados. Simms andavam pela sala carregando bandejas de bebidas refrescantes de frutas.

Depois de esperar cerca de quatro horas, uma simm elegantemente vestida .se aproximou de nós chamando-me pelo nome e me pediu para ir com ela. Alfora e eu a seguimos até um elevador que nos levou para cima a uma daquelas partes do palácio que pareciam suspensas no ar. Nessa plataforma aberta, havia um pequeno carro aéreo com um simm no controle.

A simm, chamada Orbeleen, entrou no carro conosco. Logo nos aproximamos de um complexo de edifícios que se estendia por quilômetros. Os edifícios tinhatn vários andares e sua arquitetura poderia somente ter sido copiada da memória de alguém que já visitara um lugar construído pelos deuses (elohim). Não consegui compreender como esses lugares poderiam ter sido construídos ou projetados por seres humanos. Então entendi porque um orna nialdequiano dizia a um toibe esperar que o toibe visitasse Maldek logo.

Durante várias vidas desde então, visitei outros mundos, até o planeta Nodia, cujo povo posteriormente se tornou o mais implacável adversário dos maldequianos e que já tinham ultrapassado os maldequianos em todas as formas de tecnologia na época de minha primeira vida. Os dois mundos não poderiam ser mais diferentes. As construções nodianas eram grandiosas, mas até hoje são continuamente modificadas, pois os nodianos estão sempre alertas a melhoramentos. Os primeiros nodianos eram uma gente arrogante, mas sua cultura se abrandou com o passar dos anos. Eles possuem senso de humor, mas podem ficar instantaneamente sérios. Atualmente, os nodianos e alguns maldequianos "reformados" se dão bem uns com os outros.

Depois de descermos numa plataforma de aterrissagem rodeada por lindas árvores e plantas em flor, fomos levados a uma casa cujo telhado pontiagudo ficava ao nível do chão e era constantemente banhado por duas cachoeiras iguais. Entramos na casa por uma porta tipo alçapão de cristal vermelho localizada no telhado entre as cachoeiras, a seguir descemos um lance de escada. Era uma casa de diferentes níveis, contendo oito dormitórios espaçosos. O maior dos quartos dava para um despenhadeiro com uma queda de cerca de 180 metros. A única saída dessa mansão era por onde entráramos. Fiquei muitas horas sentado diante de uma janela na grande sala de estar, olhando as belas construções e panorama de Maldek abaixo. Enquanto estava sentado lá contemplei meu futuro e o de Alfora. Fiquei imaginando o que minha família acharia de minha mulher, que nunca haviam visto.

Orbeleen apresentou-nos à nossa equipe de três criados simms, duas jovens e um homem bem mais velho. Levou algum tempo para Alfora entender o que um criado realmente era. Foi uma revelação para uma menina que, há menos de duas semanas, vivia num casebre às margens de um rio a cozinhar peixe numa fogueira.

Os armários estavam repletos de todos os tipos de roupas guardadas em envoltórios transparentes. Algumas eram chamadas de roupas formais por Orbeleen, que disse que nos avisaria quando nos vestir com esses trajes. Antes de nos deixar naquele dia, disse-nos que qualquer pedido que tivéssemos deveria ser transmitido a ela por intermédio do velho simm, Tarnbero.

As outras casas e apartamentos dessa área especial estavam ocupados exclusivamente por pessoas de outros mundos. Gradualmente, conhecemos muitos dos habitantes do complexo. Nós os visitávamos em suas casas e descobrimos que também eram servidos por simms que respondiam diretamente a Orbeleen. O local em que residiam, como o nosso, tinha apenas uma saída e entrada comuns.

Durante os três anos terrestres que passamos em Maldek, nunca saímos do complexo. Nossa vida social girava em torno de reuniões com grupos de outros mundos nas quais partilhávamos informações sobre nossas culturas de origem. Ficamos sabendo da existência de rádio, televisão, fotografia, procedimentos médicos avançados e práticas religiosas. Eu ficava pensando porque os maldequianos não tinham, ou não utilizavam, o conhecimento desses sábios de outros mundos. De fato, nenhum maldequiano jamais compareceu a qualquer desses encontros. Para nós, era como se não existissem maldequianos vivendo em Maldek.

Minha interação com os vários tipos de pessoas de outros mundos no complexo proporcionou-me uma cultura em línguas que eu não poderia ter adquirido em outra parte. A necessidade de saber sobre o que nós, dos diferentes mundos, falávamos tornava necessário aprender rapidamente a linguagem uns dos outros. Minhas habilidades adquiridas em línguas acabaram por ser utilizadas na fase seguinte de minha vida, que se iniciou quando voltei à Terra.

Durante nossa permanência em Maldek, vi apenas três maldequianos. Escoltavam pelo complexo o novo embaixador nodiano designado para Maldek e Terra - Opatel Cre'ator. Naquele dia, ele estava acompanhado por seis homens de sua raça vestidos de uniformes pretos e por seu criado gigante, Corbalslate. O maldequiano conhecido apenas pelo nome simples de Sant foi designado seu intérprete.

Descobri que naquele dia estavam mostrando as acomodações a Opatel e sua equipe. Descobri também que ele recusara o mais opulento palácio do complexo destinado a pessoas de outros mundos. Recusou também vários outros palácios grandiosos fora do complexo. (Sei agora que ele não era o tipo de homem que gostava de entrar e sair por uma única porta.)

Providenciaram para ele uma clareira na montanha próxima ao complexo. Na montanha, ele estacionou uma grande espaçonave circular negra. Em sua fuselagem havia a insígnia da casa de comércio de Cre'ator, um triângulo prateado com um duplo lado esquerdo. Opatel e seus nodianos se abrigaram dentro da nave, a partir da qual também conduziam seus assuntos diplomáticos. Quando as obrigações diplomáticas de Opatel o levavam para a Terra, lá se ia ele com armas e bagagens, por assim dizer.

próxima. Nunca pus os olhos em Opatel outra vez enquanto permaneci em Maldek. Cerca de três anos e meio depois, vi-o novamente duas vezes, uma vez em suas funções oficiais na colocação do cume de astrastone na Grande Pirâmide de Mir e outra vez quando conversamos em particular certa noite às margens do Nilo.

No período em que permaneci em Maldek, desfrutamos encontros, conversas e o compartilhamento de conhecimentos com várias pessoas de outros mundos no complexo. Cheguei mesmo a gostar e a admirar os cryberantes, grupo de pessoas que, a princípio, era muito reservado, tentando impressionar todos com o fato de saberem as respostas aos maiores segredos do universo. Por alguma razão que ainda tenho de descobrir,

os maldequianos tinham um pouco mais de respeito pelos cryberantes (que eram ótimos telepatas) do que por qualquer outra raça do universo.

Os cryberiantes eram de um planeta que orbitava um sistema solar/estelar localizado na constelação de Lira. Com o passar do tempo, um número considerável de cryberantes foram levados à Terra e empregados pelos maldequianos para esculpir a estátua atualmente chamada Esfinge, sob a qual havia várias câmaras secretas. Sei agora que quando as câmaras foram concluídas, os cryberantes que as construíram foram mortos para impedir que revelassem as localizações das câmaras e suas vias de acesso. Havia outras câmaras não-ocultas sob a Esfinge, e foi em algumas delas que Ruke de Parn e sua família se esconderam quando os krates massacraram todos os envolvidos na construção das pirâmides. (Como sabem, os krates culparam os construtores das pirâmides pela destruição de seu planeta natal, Maldek.)

Alfora passava grande parte de seu tempo cuidando do jardim, e suas flores eram abundantes e belíssimas. Durante nossa permanência em Maldek, Alfora ficou grávida. Descobri depois que sua condição apressou nossa partida do planeta, pois os maldequianos não desejavam o nascimento de nenhum filho de pessoas de outros mundos em seu mundo natal, se pudessem evitá-lo. Na verdade, durante minha primeira vida, nunca vi uma criança maldequiana com menos de cerca de 12 anos.

O planeta Maldek tinha quatro estações como a Terra. mas cada estação era mais longa pelo fato de Maldek descrever órbita maior ao redor do Sol. Mesmo assim, as atividades de jardinagem de Alfora se estendiam pelo ano todo, pois o clima do complexo era controlado. Durante o inverno, toda a área do complexo era coberta por um campo de força de projeto graciano. Eu gostava dos invernos maldequianos, pois eram uma experiência visual muito bonita. Quando a neve branca que caia entrava em contato com o campo de força, tornava-se num azul luminoso, e então verde. Os fios verdes d'água desciam pela superfície externa do campo em forma de domo, aquecendo-se no percurso. Depois de atingir certa temperatura perto da parte inferior do campo, a água se evaporava formando um jorro de luz amarela e vermelha.

Fomos avisados com dois dias de antecedência por Orbeleen que sairíamos de Maldek para a Terra. Chegamos a nosso ponto de partida à noite e encontramos esperando uma grande espaçonave triângular que não era um veículo graciano, e sim de modelo maldequiano. Os operadores da nave e passageiros eram maldequianos, exceto por Alfora e eu.

A bordo, encontramo-nos novamente com Sou-Dalf que não víamos há três anos. Ele agora vestia o uniforme dos oficiais krates. Sou-Dalf deu pouca atenção a Alfora e a mim, sendo visto na maioria das vezes em companhia de outro oficial krate de posto igual ao seu, cujo nome era Serp-Ponder. (Sou forçado a dizer que, se já houve um maldequiano que passei a admirar, foi Serp-Ponder. Se não fosse por ele, teria sido morto naquela primeira vida e meu corpo jogado na montanha de corpos dos cryberantes mortos para guardar os segredos da Esfinge.)

Quando saímos de Maldek, a única coisa que levamos foi o que trouxéramos e cerca de cem pacotes de sementes de flores. Essas sementes se perderam durante o vôo e nunca mais foram encontradas.

No documento extraterrestres (páginas 74-76)