• Nenhum resultado encontrado

SAPEENA DOS SÊNECAS

No documento extraterrestres (páginas 167-169)

DOY, UMA MULHER DE MALDEC

SAPEENA DOS SÊNECAS

Contarei a breve vida que passei na Terra como Sapeena dos Sêneca (tribo de índios norte-americana). Falo dessa vida porque foi a última que experienciei em seu planeta e a última vez que vivi sob a influência da antinatural Barreira de Freqüência.

Eu tinha aproximadamente sete anos de idade quando meu pai, Tartaruga Negra, foi para a guerra em companhia de nossos aliados casacas vermelhas, os britânicos. Isso aconteceu no inverno de 1775, durante a Revolução Americana. Meu pai nunca retornou daquela guerra e, em 1777, com idade de nove ou dez anos, morri numa saraivada de balas de mosquete ianques.

Éramos membros de uma divisão da tribo indígena norte-americana chamada Sêneca. Os sênecas eram uma das cinco nações integrantes da Liga lroquesa — formada pelas seguintes nações: oneida, cayuga, onondaga, mohawk e Sêneca. Essas nações tinham em comum culturas semelhantes e o mesmo idioma (iroquês). Nosso grupo de sênecas morava próximo às margens do rio Genesee, localizado no atual estado de Nova York.

Em criança, passei muito tempo deitada de costas, às vezes com outras crianças, esquadrinhando milharais ou outra plantação, à procura de minha mãe, atarefada a trabalhar ali por perto com outras mulheres de nossa tribo. Meus primeiros anos daquela vida foram repletos de perplexidade. Mesmo depois de aprender a andar e falar, eu existia num estado de completa confusão. Meu estado alienado da realidade era bastante óbvio a todos a meu redor. Meu comportamento estranho fazia com que curandeiros curiosos vindos de toda parte me seguissem e observassem todos os meus movimentos. Todos eles concluíram que eu fora tocado pelo Grande Espírito — concluíram que eu era louco.

Embora eu fosse bem-alimentado e cuidado, não conseguia resistir a pegar comida ou coisas dos outros. Se qualquer coisa desaparecia, a pessoa a quem pertencia o objeto simplesmente vinha à minha casa para reavê-la. Eu nunca escondia nada do que pegava. Colocava, para quem quisesse ver qualquer objeto que tivesse “emprestado” numa pilha ao lado de nossa casa. Não era castigado por meus atos, pois acreditavam que se eu fosse punido o Grande Espírito ficaria muito bravo com quem ministrasse o castigo. As pessoas que me viam vindo corriam para mim e me davam algo na esperança de que eu me fosse embora antes de queimar completamente sua casa.

Eu contava cerca de cinco anos de idade quando duas canoas cheias de homens brancos vindos do norte foram ter às margens do Genesee. Um dos homens brancos que vieram à nossa aldeia vestia um traje negro. Era conhecido pelo nome de padre Pierre. Sua missão em nossa aldeia era tentar o que outros colegas seus tinham já tentado muitas vezes: converter-nos, aos sênecas, à religião cristã.

Quando o padre Pierre ouviu falar de Sapeena, o louco, fez-me uma visita. Falou em iroquês muito bom quando nos sentamos com minha mãe próximo a meu monte de objetos empilhados. Perguntei-lhe se me trouxera um presente. Depois de pensar um momento, tirou de uma bolsinha uma medalha com a imagem de um santo e a deu para mim. Segurei-a na mão durante todo o encontro. Pouco depois fiquei sabendo que ele informou a nosso chefe que eu não fora tocado pelo Grande Espírito, estava sim, em vez disso, possuído pelo demônio. Ofereceu-se para expulsar de mim o espírito mau, e o chefe lhe deu permissão para tentar. [Sharmarie: “O chefe era provavelmente uma velha alma marciana e pensou: Que diabos, o que custa tentar?”]

Meu exorcismo foi um grande acontecimento em minha aldeia. Centenas de membros de meu povo se reuniram ao redor minha casa e começaram a bater em tambores. Quando padre Pierre chegou, disse-lhes que parassem de tocar. O padre trouxe consigo uma estatueta de metal da Virgem Maria, um crucifixo de madeira, velas e o que parecia ser um estoque inesgotável de água benta. Depois de purificar nossa casa com fumaça e água benta, passou a rezar em latim. Logo dei por mim rezando com ele na mesma língua. Quando percebeu que eu estava rezando com ele em latim fluente, entrou em estado de choque e começou a rezar pedindo a proteção dos anjos em seu idioma materno, o francês. Pensei em ajudá-lo um pouco, então repeti tudo o que ele disse em francês. O pobre homem primeiro pensou que eu tinha jeito para a imitação, então me testou, fazendo várias perguntas em francês, latim, celta e alemão. Ficou mais admirado ao descobrir que meu conhecimento desses idiomas era até mesmo mais extenso que o seu. Desistiu de tentar expulsar o diabo de mim, resignando-se a escutar-me falar em francês o que eu sabia sobre a vida e morte de Jesus Cristo. Depois de mais de duas horas, perguntou-me se eu já encontrara Satanás (o diabo). Respondi que tinha certeza que sim, sob muitas formas — uma vez como Marduk e uma vez como Calígula.

Padre Pierre pediu que eu fosse com ele a um lugar chamado Montreal, mas o chefe negou-lhe o pedido. Quando o chefe lhe perguntou se eu estava tocado pelo Grande Espírito ou possuído pelo diabo, o padre Pierre respondeu-lhe francamente, dizendo ainda não saber qual era o caso. Meu povo considerou a rápida partida de padre Pierre de nossa aldeia um tipo de vitória — uma vitória pela qual eu, Sapeena, era responsável. Os presentes que eu recebia agora eram acompanhados de pedidos de orientação e ajuda espiritual de toda sorte. Cada um dos

chefes das cinco nações vinham a mim em busca de “poderes de batalha” que, presumiam eles, eu poderia lhes conferir.

Uma das condições que nossos chefes acabaram impondo aos comandantes britânicos em troca de sua ajuda militar era que os comandantes viessem me visitar ou me mandassem um presente valioso. Em breve reuni uma coleção bem grande de cachimbos de barro, colheres, cobertores e a imagem do rei Jorge III pintada em praticamente tudo que se possa imaginar.

O único comandante britânico a me visitar pessoalmente foi o coronel St. Leger que passou por nossa aldeia em busca de mais de nossos guerreiros para completar suas fileiras. Falamo-nos em inglês. Observou que algumas das palavras inglesas que eu falei eram arcaicas, não fazendo parte do idioma inglês há várias centenas de anos. Coronel St. Leger tinha o hábito de olhar desgostoso para seu relógio de bolso quebrado a cada cinco minutos, mais ou menos. Eu já tinha visto um relógio, mas nenhum tão bonito. Pedi-lhe que me deixasse segurá-lo. A caixa era de ouro maciço. Quando lhe devolvi o relógio, estava funcionando perfeitamente. Colocou-o no ouvido, sorriu e disse: “Obrigado, Sapeena. Pensei que o único lugar onde poderia mandar consertar este relógio fosse Londres. Como você se sai com cavalos rebeldes?”

Antes de o coronel St. Leger ir-se embora de nossa aldeia, deu-me uma caixa de música quebrada com um navio pintado na tampa. Quando a deu para mim, disse: “Não a dou a você porque está quebrada. Não sei consertá-la, nem consigo encontrar quem saiba. Talvez sua magia a recupere. O coronel montou seu cavalo e eu abri a caixa, que imediatamente passou a tocar a melodia de um tipo de cantiga de marujos. Ele riu alegremente e repetiu várias vezes: “Veja só, Sapeena, veja só, sua bruxinha.”

Tanto minha mãe como eu sentíamos falta de meu pai. Não o víamos há mais de um ano e um meio. Certa manhã, despertamos e encontramos seus mocassins cheios de penas do lado de fora da entrada de nossa casa. Tinham sido colocados ali por um de seus camaradas para nos informar que ele estava morto.

Como a maioria de nossos homens estava longe lutando contra os ianques, decidiu-se que nosso bando se dividiria em vários grupos para viajar a outras aldeias sênecas localizadas mais ao norte e oeste, pois mais gente significava mais segurança. Minha mãe e eu fazíamos parte de um grupo de cerca de 20 pessoas que partiu rumo ao Canadá sob a liderança de um velho mestiço chamado Louis. No quarto dia de nossa jornada, fomos localizados por uma tropa de cerca de 15 ianques armados. Abriram fogo contra nós. Encontrávamo-nos numa clareira sem nenhum lugar onde pudéssemos nos esconder. Minha mãe e eu fomos atingidas e caímos mortas quando tentávamos correr para a floresta. Isto pôs fim à minha vida como Sapeena dos sênecas.

Segundo meus cálculos, no ano terrestre de 1827, passei novamente a viver no plano tridimensional do campo vital universal. Nasci então de pais maldequianos darmins no planeta Nodia. Tenho atualmente aproximadamente 170 anos terrestres de idade.

Desejo profundamente que minhas narrativas de algumas de minhas vidas passadas na Terra serão valiosas a quem as ler. Agradeço a Sanza-Bix de Gracyea e a você, um integrante de Cre’ ator, por me ajudar a registrar minhas recordações.

Sou Doy de Maldec.

*Grande parte da tecnologia empregada atualmente na propulsão de espaçonaves interestelares e intergalácticas foi desenvolvida a partir de estudos de fatores de campo vital universal que teriam harmoniosamente feito parte da função de elos de portão estelares gerados por pirâmides.

No documento extraterrestres (páginas 167-169)