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Recorte espaço-temporal: Brasil – Senac-RS – USA – Community College

Mapa 4 Localização do Estado do Texas no Mapa

2.1 APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA

2.1.2 Recorte espaço-temporal: Brasil – Senac-RS – USA – Community College

O recorte nesta investigação faz-se em relação à educação tecnológica, no “Sistema S”, a pesquisa foi realizada no Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac-RS). A educação profissional, tanto no Brasil quanto nos demais países do mundo, historicamente foi relegada a um segundo plano. No Brasil10, desde suas origens, teve como objetivo fornecer às classes menos favorecidas a possibilidade de ingresso no mercado de trabalho. Porém, ao longo da história, configura-se uma formação excludente, possibilitando aos seus egressos apenas a ocupação de postos de trabalho subservientes, [...] estabelecendo-se uma nítida distinção entre aqueles que detinham o saber (ensino secundário, normal e superior) e os que executavam tarefas manuais (ensino profissional) (PARECER CNE/CEB n°16/99; LIMA FILHO, 2005; KUNZER, 1998a). A educação profissional servia, então, para manter a dicotomia de classes e formar trabalhadores que executassem o trabalho de forma rotineira e

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No Brasil, por muitos anos, o trabalho braçal era realizado pelos escravos. Essa cultura colonial escravista deixou marcas na visão da sociedade a respeito do mundo do trabalho. Foram valorizadas as formações intelectuais, acadêmicas, e desvalorizadas as funções operacionais, que exigiam trabalho braçal.

descontextualizada, fornecendo ao mercado de trabalho a “mão-de-obra” necessária para atender às demandas da classe dominante (KUNZER, 1998b; KUNZER; DELUIZ, 2005).

Em decorrência das “Leis Orgânicas da Educação Nacional” e dos Decretos-Leis de 1942 (governo Vargas), quando foi estabelecido o conceito de menor-aprendiz para os efeitos da legislação trabalhista e definida a Organização da Rede Federal de Estabelecimentos de Ensino Industrial sendo que: [...] o ensino profissional consolidou-se no Brasil, embora ainda fosse considerado como uma educação de segunda categoria (PARECER CNE/CEB nº 16/99), destinada a oferecer formação àqueles que necessitavam ingressar precocemente na força de trabalho e para os filhos dos operários, desvalidos da sorte e menos afortunados (MANFREDI, 2002).

Nas décadas subsequentes, com a “Lei Federal 1.076/50, e a promulgação da Lei Federal n° 4.024/61 e a primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e a Lei Federal n° 5.692/71 que reformulou a Lei Federal n° 4.024/61” (MANFREDI, 2002, p. 69); alguns avanços foram obtidos em relação ao ensino profissionalizante, tais como a plena equivalência entre todos os cursos do mesmo nível, possibilitando aos egressos de cursos técnicos a continuidade dos estudos em nível superior. No entanto, o ensino profissionalizante, de modo geral, mantinha seu caráter puramente técnico, negando o caráter formador da educação. “[...] Transformar a experiência educativa em puro treinamento técnico é amesquinhar o que há de fundamentalmente humano no exercício educativo: o seu caráter formador.” (FREIRE, 2000, p. 37).

Com a Lei Federal n° 9.394/96, atual LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, a educação e o trabalho são reconhecidos como direitos do cidadão, o que representa a “[...] superação do enfoque assistencialista e do preconceito social que desvalorizava a educação profissional.” (PARECER CNE/CEB nº 16/99)11. Essa mesma Lei (LDB) viabilizou a expansão da educação superior na iniciativa privada.

Nesse contexto histórico, o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial, “criado em 1946 a partir da Lei Orgânica do Ensino Comercial (Decreto-Lei n° 6.141/43), teve como linha de ação, durante muito tempo” o [...] treinamento das técnicas para preenchimento dos postos de trabalho bem definidos, “com ênfase na preparação para o fazer, sem preocupação especial com o questionar, propor, criar, avaliar.” (SERVIÇO NACIONAL DE APRENDIZAGEM COMERCIAL-DN, 2002, p. 19-20), descontextualizando a prática e a teoria. Cabe aqui salientar que a forma como o trabalhador percebe a relação entre o saber

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Mais informações sobre a legislação – podem ser encontradas em - BRASIL: 1937, 1997, 1946, 2004ª, 2004B 1988,1968,1996, 2005ª, 2005B, 2002ª, 1999ª, 1981, 1999B, 2002B, 1963, 2001, 1976.

teórico e prático “[...] contribui para definir seu comportamento político, aceitando com maior ou menor grau a sua condição subalterna, os critérios de valorização de seu trabalho, os critérios de salário e promoções, submetendo-se e/ou discutindo, negociando, reivindicando.” (KUENZER, 1995, p. 132, 1989, 1998, 1995).

Devido à reorganização econômica, política e internacional associada ao uso intensivo de alta tecnologia nas empresas, os processos de produção passam a exigir dos trabalhadores alto grau de abstração, capacidade para gerir a variabilidade e os imprevistos, desenvolvimento da competência para o trabalho em equipe, entre outros. Nesse contexto, o Senac-RS reformulou sua missão, visão, princípios e público de atendimento e, a partir de 2003, iniciou uma mudança estrutural em todos os aspectos. Implantou a política de qualidade total, entre elas, a gestão por processos fundamentado nas normas da ISO 9000:2000, por exemplo, a ISO 9001:2000 (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, ISO 9001:2000), PGQP, BSC, entre outros. Para adaptar-se a esse novo contexto, o Senac-RS “ingressou no mercado da Educação Superior'', confiante que seria um bom negócio para a empresa.

No plano de ação do Senac-RS ao referir ao mercado externo, há a afirmação: “ao analisar o mundo do trabalho, constata-se a valorização do conhecimento como fator primordial de ganhos de qualidade e produtividade nas organizações, o que faz com que o Senac-RS assuma uma postura estratégica de reposicionamento no mercado educacional, com ações de consolidação do nível técnico e ampliação do nível superior.” (SERVIÇO NACIONAL DE APRENDIZAGEM COMERCIAL, 2006, p.6). E, até 2007, o Senac-RS “quer consolidar-se como instituição de Educação Profissional, com qualidade reconhecida da Formação Inicial ao nível Superior.” Conforme dados do Documento Técnico (SERVIÇO NACIONAL DE APRENDIZAGEM COMERCIAL-DN, 2005, p.13), “a primeira inserção do Senac/Nacional na Educação Superior foi em 1989”, e no Senac-RS, foco desta investigação – a inserção na educação superior, tecnológica –, deu-se a partir de janeiro de 2004.

O Senac-RS, Instituição Mantenedora, iniciou suas atividades em 1946, destinado a suprir a mão-de-obra qualificada ao setor terciário da economia, notadamente comércio de bens e serviços. Possui, atualmente, 41 Unidades Educacionais em 31 municípios do interior do Estado, além de Porto Alegre. Na Capital, situam-se seis unidades, das quais duas constituem-se em IES (SILVA, L., 2008).

Dentre as Escolas do Senac-RS no Estado, 19 constituem-se em Unidades Educacionais que se dedicam à Formação Inicial e Continuada de trabalhadores; 16 estão

credenciadas pelo Conselho Estadual de Educação (CEEd) como Escolas de Educação Profissional (EEP), oferecendo Educação Profissional Técnica de Nível Médio e Formação Inicial e Continuada de Trabalhadores; e quatro são IES credenciadas pelo MEC, as quais desenvolvem sete Cursos de Graduação, sendo um Bacharelado e seis Graduações Tecnológicas (SILVA, L., 2008).

A IES (Unidade Mantida) Faculdade de Tecnologia Senac-RS - Porto Alegre-RS (Fatec-POA), foco da presente investigação, é uma instituição privada sem fins lucrativos e está localizada à Rua Coronel Genuíno, 130, no Centro. A sua atuação na Educação Superior passou a ocorrer a partir de seu credenciamento via Portaria Ministerial/ME nº. 269, de 20 de janeiro de 2004. Atualmente, oferta os seguintes Cursos de Graduação tecnológica: Curso Superior de Tecnologia em Análise e Desenvolvimento de Sistemas; Curso Superior de Tecnologia em Marketing de Varejo; Curso Superior de Tecnologia em Hotelaria.

O Estudo de Caso será realizado na Faculdade de Tecnologia Senac-RS de Porto Alegre, no Curso Superior de Tecnologia em Análise e Desenvolvimento de Sistemas, autorizado em 20/01/2004 e reconhecido em 07 de março de 2007. Critérios para o recorte, o Curso Superior de Tecnologia em Análise e Desenvolvimento de Sistemas foi o primeiro a ser reconhecido pelo MEC no Senac-RS, pela Portaria Ministerial nº 249, de 07/03/2007. Esse oferece o maior número de vagas, possui o maior número de alunos, bem como tem uma grande demanda e expansão.

O que é um Community College?

O Community College é uma invenção americana, é uma instituição pública com cursos de dois anos que atende às necessidades educacionais e de carreira, de uma grande variedade de alunos, em todas as faixas etárias e experiências. Ou ainda podemos definir os Community Colleges, como instituições norte-americanas de ensino superior focadas na prática profissional. Com mais de um centenário os Community Colleges, Americanos, têm crescido em números de estabelecimentos e transformaram-se, para acompanhar as mudanças ocorridas no mundo do trabalho. A Associação Americana dos Community Colleges afirma que “nenhum outro segmento, do ensino superior, da resposta mais eficaz às necessidades da comunidade e aos trabalhadores do que os ACC.” (AMERICAN ASSOCIATION OF COMMUNITY COLLEGES, 2008, p.5; 2007).

Em 1901 nascia, em Ilinois, o Joliet Junior College que é a mais antiga faculdade pública de dois anos existente nos Estados Unidos. Nos primeiros anos, o ensino estava

centrado nos estudos, em geral e nas artes liberais. Mas, durante a depressão, dos anos 1930, os ACC criaram programas especiais de formação (prática) para qualificar o trabalhador, dado que o desemprego era generalizado.

Após a II Guerra Mundial, com a reconversão das indústrias militares e dos bens de consumo, surgiram novas qualificações e foram criados novos empregos; esta transformação social e econômica juntamente com o Ato G.I. Bill criou unidades de ensino superior com mais opções para as qualificações profissionais (VAUGHAN, 2006a).

Em 1948, a Comissão Truman, sugeriu a criação de uma rede de estabelecimentos públicos, fundamentados nos ACC, “para servir as necessidades das comunidades locais.” (VAUGHAN, 1989, p.15).

Na década de 1960 (VAUGHAN, 1985), os ACC, tornaram-se uma rede nacional de ensino superior, com a abertura de aproximadamente de 457 estabelecimentos no País. Ou seja, mais do que o dobro do que existia antes desta década. O crescimento, gigantesco, das construções e instalações, dos ACC, foi financiado por uma economia robusta e apoiado no ativismo social da época. O número de ACC tem crescido continuamente desde a década de 60. Atualmente, existem mais de 1.200 ACC, nos Estados Unidos, que atendem na graduação, mais da metade da população nacional de estudantes.

Na década de 80 (VAUGHAN, 2006b) os participantes, da comissão sobre o futuro do ACC, preocupados com a fragmentação da sociedade, chamam os ACC para uma maior aproximação com as comunidades. Em resposta a este desafio nasceram as parcerias com grupos cívicos, que possuem instalações, até hoje, nos ACC. Nesta década, também, foi incentivada a educação básica, para as comunidades, e para isto se implantou, nos ACC, cursos de computação, composição, leitura, entre outros, de acordo com a necessidade em cada comunidade local. Esta aproximação às comunidades locais foi refletida no aumento do número de matriculas, “no ano letivo de 1996-97, se constata que 9,3 milhões de pessoas participavam, em cursos de dois anos, nas faculdades nos ACC. Outros cinco milhões participavam em cursos de menor duração.” (AMERICAN ASSOCIATION OF COMMUNITY COLLEGES, 2008, p. 2). Conforme, dados da AACC, “desde 1901, pelo menos mais de 100 milhões de pessoas já participaram em cursos nos ACC.” (AMERICAN ASSOCIATION OF COMMUNITY COLLEGES, 2008, p.6).

Entretanto, no século XX, os ACC, não só sobreviveram, como prosperaram, demonstrando notável resiliência e tornaram-se centros de ensino e oportunidade para todos os que buscavam formação, independente da idade, raça e ou poder aquisitivo. “Marcamos um século em que os ACC têm ajudado milhões de pessoas a aprender e avançar em direção a

metas pessoais, ao mesmo tempo em que ajudamos comunidades inteiras a enfrentar seus desafios.” (AMERICAN ASSOCIATION OF COMMUNITY COLLEGES, 2008, p.1).

A competência, atual, dos ACC vem de uma longa data com muito estudo, pesquisa, investimento do poder público, por exemplo, desde 1944, foi fundado o Community College Leadership Program (CCLP) no Departamento de Administração Educacional na Universidade do Texas em Austin, onde há o mais antigo programa de doutorado do país, com foco principal na preparação de líderes, centrais, dos ACC. Mais de 600 alunos se formaram desde o seu início, com mais de 508 nos últimos 40 anos. Mais de 64 estudantes de doutorado estão atualmente matriculados. É o programa, de doutorado, que possui melhor nota no ranking nacional.

Atualmente, os ACC atendem a metade dos estudantes do ensino superior no País, mantendo a tradição de cursos práticos que preparam para o mercado de trabalho, com mensalidades baixas, participação na vida da comunidade e formação permanente.

Austin Community College (foco desta investigação) é uma faculdade pública de dois anos na comunidade, e é autorizada a operar no estado do Texas, sob a jurisdição do Texas Higher Education Coordinating Board. Tem uma localização central em Austin, Texas, a capital, e sua área de serviço incluem oito municípios na Central Texas. O ACC, atualmente, mantém sete campi: Rio Grande (1975), Riverside (1984), Northridge (1989), Pinnacle (1990), Cypress Creek (1991), Eastview (1999) e o South Austin Campus (2006). ACC também opera em três unidades adicionais: o Highland Business Center (1988), Downtown Centro de Educação (2000), o Centro de Assistência Técnica (2001). As observações centram-se com mais intensidade no Campus Rio Grande.