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2.2 ABORDAGEM METODOLÓGICA

2.2.6 Técnica de análise de dados

Uma vez capturados e gravados o conteúdo das entrevistas, realizou-se, então, a interpretação dos dados, com vista a realizar preposições que atendessem aos objetivos deste trabalho. Para tanto se utilizou um caminho de análise formulado por Moraes (2001, 2001a, 2000b, 2001c, 2002, 2003, 2007), Barndin (2004), Puglisi; Franco (2005) e Minayo (2003). A escolha de Moraes deveu-se à clareza de seus procedimentos, à versatilidade com que dialoga entre as variadas referências da pesquisa (primárias e secundárias), bem como a familiaridade que a autora da pesquisa possui com tal ferramenta.

A análise de conteúdo trabalha tradicionalmente com materiais textuais escritos. Há dois tipos de textos: textos que são construídos no processo de pesquisa, tais como transcrições de entrevista e protocolos de observação; e textos que já foram produzidos para outra finalidade quaisquer, como jornais ou memorandos de corporações, etc. Na análise de conteúdo, “o ponto de partida é a mensagem, mas precisa ser considerada a condição contextual de seus produtores e assenta-se na concepção crítica e dinâmica da linguagem.” (PUGLISI; FRANCO, 2005, p. 13).

É conveniente que seja considerado não apenas a semântica da língua, mas também a interpretação do sentido que um indivíduo atribui às mensagens. A análise do conteúdo, hoje, “é cada vez mais empregada para análise de material qualitativo obtido através de entrevistas de pesquisa.” (MACHADO, M. N. M., 2002, p. 53).

Minayo (2003, p. 74) enfatiza que a análise de conteúdo visa verificar hipóteses e/ou descobrir o que está por trás de cada conteúdo manifesto. “[...] o que está escrito, falado, mapeado, figurativamente desenhado e/ou simbolicamente explicitado sempre será o ponto de partida para a identificação do conteúdo manifesto (seja ele explícito e/ou latente).” A análise e a interpretação dos conteúdos obtidos enquadram-se na condição dos passos (ou processos) a serem seguidos. Reiterando, pode-se dizer que para o efetivo caminhar neste processo, a contextualização deve ser considerada como um dos principais requisitos, e, mesmo, “o pano de fundo no sentido de garantir a relevância dos resultados a serem divulgados e, de preferência, socializados.” (PUGLISI; FRANCO, 2005, p. 24).

A análise de conteúdo é considerada uma “técnica para o tratamento de dados que visa identificar o que está sendo dito a respeito de determinado tema.” (VERGARA, 2005, p. 15). Bardin (2004) conceitua a análise de conteúdo como um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do

conteúdo das mensagens (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) dessas mensagens. A finalidade da análise de conteúdo “é produzir inferência, trabalhando com vestígios e índices postos em evidência por procedimentos mais ou menos complexos.” (PUGLISI; FRANCO, 2005, p. 25).

Para Moares (2007, p. 143), “a análise de conteúdo investe tanto em descrições como em interpretações.” A descrição, nessa perspectiva de análise, é uma etapa importante e necessária, mesmo que não se possa permanecer nela. As categorias construídas no processo da análise de algum modo envolvem tanto descrição como interpretação.

A análise textual, conforme o relato daqueles que com ela se envolvem, é tarefa árdua e, dada a sua subjetividade, apresenta enormes dificuldades ao longo de seu processo. Contudo, parece ser na redação do relatório de pesquisa, ou meta-texto, o ponto onde residem os maiores desafios aos pesquisadores. Vencer a folha em branco é tarefa que deixa muitos perplexos. Em Silva (2006), a síndrome da folha em branca, espécie de medo que busca se impor ao desafio da escrita apresenta-se como evento bastante frequente entre os pesquisadores. Neste sentido, o método de análise textual auxilia o pesquisador a superar a inércia inicial da produção do meta-texto, agregando qualidade e validade ao mesmo, o que será fundamental a superação dos desafios impostos no caminho da concretização dos objetivos que esta tese busca construir.

Para Moraes (2003, 2007) não é somente na redação do meta-texto que residem os desafios da análise textual. Mas é neste momento em que a forma como o trajeto de análise foi trilhado acabará por revelar a sua eficácia. Para Moraes (2007), é importante considerar que um mesmo texto permite a retirada de diferentes sentidos, dependendo das percepções do pesquisador, suas intenções, bem como das referências teóricas que estão sendo empregadas na análise. Destaca o autor em estudo que é fundamental que exista envolvimento do autor com a pesquisa. Em estudos deste tipo, o pesquisador necessita estar impregnado pelo conteúdo pesquisado. Estas leituras, fundamentais ao posterior processo de análise, são basicamente baseadas em teorias e capazes de promover os “flashes de compreensão”, uma das metáforas utilizadas pelo autor para descrever a “tempestade de luz” capaz de fazer emergir as idéias dentre o caótico e o desordenado caos do “corpus” da pesquisa (MORAES, 2003). Para Moraes (2003, p.4), o “corpus” constitui em “produções linguísticas, referentes a determinados fenômenos e originadas em um determinado tempo.”

Moraes17 divide o processo de análise de conteúdo em cinco etapas. Na etapa de

Preparação, verificou-se a representatividade e pertinência do material coletado e das

entrevistas em relação aos objetivos propostos e a codificação dos materiais.

Na etapa de Unitarização, foi feita a releitura cuidadosa do material coletado e das entrevistas e foi definida as unidades de análise, no caso, palavras e termos repetidos ou de mesmo sentido que remetiam a uma mesma idéia; as unidades foram codificadas e posteriormente isoladas, tendo sido reelaboradas para que tivessem um significado completo em si mesmas; e agrupadas em unidades de conteúdo.

A Categorização/Codificação foi feita em três fases, inicial, intermediária e final, mantendo-se um critério semântico analógico. Nos três níveis de categorização foram observadas e cumpridas as características fundamentais nos critérios de categorização, quais sejam a validade – pertinência em relação aos objetivos da análise; a exaustividade – classificação de todos os dados significativos; a homogeneidade – manutenção de uma única dimensão de análise; a exclusividade – classificação de cada elemento em uma única categoria; e a objetividade ou consistência – classificação clara ao longo de toda a análise.

O trabalho de Descrição se produziu “textos-síntese” em que se buscou expressar o conjunto de significados presentes nas diversas unidades de análise.

Finalmente, na etapa de Interpretação, foram retomadas as categorias finais, procedeu-se a um trabalho de inferência e interpretação à luz das teorias existentes sobre o tema em estudo e buscou-se apoio de outros autores.

Em textos mais atuais, Moraes em seus diversos artigos (MORAES, 2001a, 2001b, 2001c, 2003 e MORAES; GALIAZZI, 2001), divide, as cinco etapas mostradas a cima em três etapas principais: a unitarização, a categorização e a elaboração do meta-texto. A unitarização é o procedimento de divisão de um texto em unidades de significado menores. Esta fragmentação pode resultar em unidades de análise maiores ou menores, dependendo da determinação do pesquisador.

Para Moraes (2006, p.6) a busca por categorias a partir de dois movimentos simultâneos de unitarização, a partir de classes estabelecidas “à priori”, bem como de um processo emergente (categorias emergentes), é reconhecido como válido pelo autor. Neste texto optamos pela combinação das duas alternativas, ou seja, as categorias à priori, evidenciadas a partir da revisão bibliográfica foram garantia de qualidade – acreditação, avaliação e auditoria. As categorias emergentes encontradas foram as seguintes: padronização

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Material, oral, coletado pela autora na Disciplina Oferecida na PUC-RS – sobre análise textual discursiva – de março a julho/07.

da educação superior tecnológica e normatização em dois níveis: ou seja, padronização na educação superior tecnológica por adoção de normais internacionais como, por exemplo, a ISO 9001:2000 e normatização em nível nacional imposta pelo governo federal o SINAES.

Seguindo o processo de unitarização, para Moraes (2003) as unidades obtidas devem ser classificadas com códigos, para que não se percam os seus textos de origem, nem a ordem em que estavam alocadas dentro dos mesmos. Então, são buscadas e destacadas palavras- chaves que, posteriormente, servem para agrupar unidades, conforme os seus significados. Desta forma, torna-se possível reconstruir novos significados, a partir da superação da compreensão que poderia ser obtida por meio de uma leitura superficial, em prol da possibilidade da emergência de novas e mais profundas compreensões, o que é possível através de um processo de desconstrução, que conduza a totalidade do texto ao caos, resgatando-o novamente.

A segunda etapa, no processo da análise textual, é a categorização, Moraes (2007), refere-se ao agrupamento de diferentes unidades com significados semelhantes em uma mesma categoria. Para ele em um primeiro movimento, são criadas categorias iniciais, orientadas, principalmente, pelas categorias formadas “à priori.” Sendo assim, com base no aprofundamento das vozes empíricas à luz das vozes teóricas, busca-se responder aos objetivos da pesquisa, a partir da produção de categorias emergentes (MORAES, 2003). Ao contrário de estudos quantitativos, a análise textual exige uma postura dialética (DEMO, 2002). Isso significa dizer que se deve considerar o constante ir e vir entre o “corpus” e as categorias produzidas. Desta maneira, em pesquisas que trabalham com categoria “mistas” ou “emergentes”, é bem provável que o aprofundamento no tema leve o pesquisador ao aperfeiçoamento de suas proposições e ao desenvolvimento de categorias intermediárias e categorias finais, tal como proposto por Moraes (2003) e ocorrido na construção desta tese.

Para Moraes (2002), no movimento de criar e aperfeiçoar categorias, é fundamental que o pesquisador tenha sempre em mente o objetivo de seu trabalho, visto que, ao final do mesmo, deverá apresentar um relatório, neste caso, uma tese é esperada. Sendo necessária esta ser sustentada por um sistema lógico, o autor em estudo, propõe que cada categoria atue como pilar lógico de sustentação, devendo cada qual conter um “argumento aglutinador”, ou seja, “teses parciais” que exercitam e constroem a “tese geral.”

Moraes (2001b) apresenta alguns atributos como necessários na produção de categorias. O primeiro e mais importante deles é validade ou pertinência. Apesar de diferentes aspectos conferirem validade a uma pesquisa, o autor destaca o papel fundamental da realização de uma revisão bibliográfica com amplitude suficiente para cobrir os assuntos

relativos ao objetivo da pesquisa. O segundo quesito é homogeneidade, que consiste nos padrões utilizados para a determinação de categorias. Ainda que algumas sejam mais gerais e outras mais específicas, isso necessita ser resultado de um certo critério claro e único de escolha. Outro quesito relevante é a sua amplitude e precisão. A categorização deve ser feita em movimentos e não de uma só vez. Moraes (2001b) sugere que no processo de categorização à priori, o pesquisador disponha as categorias das mais amplas às mais restritas, realizando exatamente o oposto no processo de categorização emergente.

Um quarto atributo proposto por Moraes (2001b) diz respeito à profundidade e ao envolvimento do pesquisador com os materiais pertinentes à pesquisa. Em outras palavras, exige-se que o conjunto de categorias formado seja exaustivo. Por fim, o último quesito apontado pelo autor trata do princípio da exclusão mútua, que regra a questão da possibilidade de classificação de unidades de conteúdo em diferentes categorias no meta-texto. Neste ponto, o autor defende a viabilidade da inclusão de uma unidade em mais de uma categoria, resguardando, assim o texto de uma eventual abordagem fragmentada acerca dos fenômenos estudados.

Para Moraes (2003, p.12) a análise textual é um processo de autoria. “A pretensão não é o retorno aos textos originais, mas a construção de um novo texto.” Assim sendo, é importante destacar que esta tese também buscou criar novos significados.

O meta-texto mostra a interação entre o autor e outras vozes. Para Marques (2001) este processo necessita da convocação de uma comunidade argumentativa para que se faça ciência, visto que é somente no seio da sociedade que pode ocorrer o legítimo debate acerca das verdades postas (MARCONI; LAKATOS, 1991, 2002). Marques (2001) considera como interlocutores ou “testemunhas” nesta relação os pesquisadores, os membros do campo empírico e os teóricos. Cita como exemplo, a realização de citações, tanto no caso dos sujeitos empíricos, como de teóricos, trata de contribuir no sentido de demonstrar a efetiva presença e participação dos membros no processo científico. Fragmentos daquilo que foi escrito por outros autores ganham nova roupagem quando costurados pelo autor. Portanto, a realização de inferências, fruto de reflexão e abstração, é algo normal e que transfere autoridade ao texto (MORAES, 2007). A produção textual exige reflexão profunda, para que exista produtivo diálogo entre os textos dos discursos e os textos teóricos. Assim sendo é da comunicação entre teoria e a prática que nasce o argumento interpretativo consistente, devendo esta união efetivar-se de fato para que se atinja validade nos resultados da análise. Em outras palavras, o texto tem que se revelar ao leitor.

A análise textual trata do desabrochar de novos significados e entendimentos acerca de um determinado problema de pesquisa, a partir de um processo de autoria. O desafio não se constitui em identificar a verdade contida nos discursos, mas sim construir uma tese, conforme a compreensão particular de um pesquisador-autor, a partir de argumentos que tiveram como referência os diálogos realizados entre as vozes “testemunhas” empíricas e teóricas (MORAES, 2001a, 2001b, 2001c, 2002, 2003 e 2007). Interpretar um texto exige resignificá-lo e isso é tarefa de quem lê e não daquele que o escreveu, ou discursou.

Moraes (2003), destaca a importância de um compromisso com as vozes dos sujeitos empíricos e os fundamentos teóricos, ou seja, o autor reforça a necessidade do rigor com que o estudo precisa ser conduzido ao longo de todas as suas etapas, como condições para a sua validade e confiabilidade. Para o autor, respeitadas estas condições, as ressignificações e conclusões do pesquisador-autor terão maior chances de serem aceitas pelos demais cientistas.

Se por um lado Moraes (2007) propõe um conjunto de técnicas e direcionamentos ao processo de análise e produção textual, por outro não imprime amarras no que se refere ao estilo do pesquisador, permitindo-lhe grande liberdade para exercitar a sua criatividade.

A proposta de análise dos dados apresentada por Moraes é fundamental nesta tese dado que nossa intenção na construção de indicadores de qualidade, para a educação tecnológica, segue um modelo de análise de gestão integrada/ integrativa (processo) e o conceito de gestão da qualidade é sistêmico.

Acreditamos que a postura de um pesquisador tem que ser dialética, entre outras coisas, contemplar a possibilidade da existência de mais de uma verdade e, principalmente, o fato de que a verdade se encontra em constante processo de evolução. Isso significa dizer que para o pesquisador dialético, o conhecimento é algo inacabado em sua essência. Tal noção acredita-se, é fundamental para a tese que se propõe.

3 EDUCAÇÃO SUPERIOR TECNOLÓGICA: APORTES DO BRASIL E DOS ESTADOS UNIDOS

Este capítulo foi organizado em duas grandes partes, sendo que a primeira parte, do capítulo tem como objetivo descrever e analisar, de forma sucinta, o percurso histórico da educação profissional no Brasil, desde suas origens até a criação, desenvolvimento e implantação dos cursos superiores de tecnologia no Senac-RS, de modo especial priorizando o recorte desta investigação, que é o Curso Superior de Tecnologia em Análise e Desenvolvimento de Sistemas – (Fatec-POA) e se analisa o percurso histórico pelo viés da qualidade. Já a segunda parte, deste capítulo, objetiva propiciar uma visão geral do sistema educacional norte-americano, do nível elementar ao universitário, salientando os múltiplos papéis desempenhados pelos Community Colleges18, dentro desse sistema. No texto fazemos uma discussão do sistema educacional americano, de forma sintética e descrevemos com mais detalhes o percurso histórico dos Community Colleges desde seu nascimento até a atualidade; se descreve, também, o impacto dos Community Colleges no Estado do Texas e de modo particular se descreve os Community Colleges em Austin.

3.1 EDUCAÇÃO PROFISSIONAL: UM PERCURSO HISTÓRICO ATÉ A CRIAÇÃO,