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Entre os terminais aqui apresentados os considerados para esta pesquisa serão o

3. Os Transportes Turísticos nas Perspectivas das Redes e Clusters 1 Introdução

3.2. As redes e clusters

A palavra rede deriva do latim retis, que significa entrelaçamento, não é uma união, mas uma trama, ou seja, as linhas se sobrepõem uma as outras formando o tecido. Todavia, a partir desta noção, a palavra vem ganhando novos contornos, sendo emprega em diferentes situações. A conceituação de Rede, enquanto sistema, possui sua origem na Biologia, quando ecologistas, nas décadas de 20 e 30 do século passado, estudavam teias alimentares e os ciclos de vida de diversos animais, propuseram, então, o conceito.

A estrutura das redes por ser percebida também no destaque dado por Poon (1993) no capítulo anterior, além de Martinez (2002), na qual frisam os diversos tipos de integração da oferta turística de forma a atender as necessidades do setor. A integração vertical, diagonal, horizontal e complementar podem ser entendidas na forma dos Clusters, ou APL9 – Arranjo Produtivo Local.

Segundo Petrocchi (2001), baseando em Porter (1999), os clusters ou APLs “são fenômenos há muito existentes: reunião de empresas em uma mesma região, voltadas para a produção competitiva de determinadas linhas de produtos”. Com base também nesta premissa, ocorre a mudança estratégica do Plano Nacional de Turismo (2003), deixou-se o posicionamento individual de cada município, na chamada Municipalização do Turismo, para adotar a Regionalização do Turismo, ou seja, regiões com características similares integradas para o desenvolvimento conjunto da atividade turística.

A face mais recente desta política nacional consolidou-se na escolha, em 2007, dos 65 destinos “indutores de desenvolvimento regional (turístico)”, no qual instituições como SEBRAE e FGV (Função Getúlio Vargas) realizaram diagnósticos de competitividade que, posteriormente, em 2008, se transformarão em propostas de ações e investimentos nestas regiões, pois são consideradas portões de entrada para os seus respectivos pólos. Na Amazônia, as cidades escolhidas foram: Rio Branco, no Acre; Barcelos, Manaus e Parintins, no Amazonas; Macapá, no Amapá; Belém e Santarém, no Pará; Porto Velho, em Rondônia; Boa Vista, em Roraima; e Mateiros (Jalapão) e Palmas, no Tocantins. Totalizando 11 cidades- pólos, com destaque (em negrito) para as contidas nesta pesquisa.

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APL – Arranjo Produtivo Local, é uma terminologia usada no Brasil, sobretudo pela SEBRAE – Serviço Brasileiro de Aprendizagem Empresarial, para designar a forma como os diversos setores de uma região se unem para organizar a produção de um bem ou serviço. Alguns autores, como Petrocchi (2001), traduzem o termo como Pólo. Tradução para o português do termo “Cluster”.

Estes diagnósticos visam nortear as políticas públicas a serem realizadas pelo Ministério do Turismo, outros ministérios, governos estaduais, prefeituras e diversas entidades de apoio, como o SEBRAE e o SENAC.

Certamente, uma das questões levantadas por estas pesquisas será a acessibilidade a estes pólos (clusters) e a configuração das redes de transporte disponíveis. Hoje, o acesso para a região é muito concentrado nas chamadas metrópoles regionais10, Belém e Manaus, que recebem praticamente todo o tráfego aéreo vindo de outras cidades do Brasil e do exterior.

Há em discussão uma proposta de mudança e reestruturação dos hubs de aviação internacional e regional no Brasil, elaborada pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) visando à integração da malha aérea sul-americana. Entre as sugestões apresentadas, a de maior relevância é a de criação de novos hubs internacionais, o que já vem acontecendo, no caso da Amazônia, Manaus tem se consolidado nesta posição. A medida visa criar novos portões de acesso para turistas internacionais de acordo com a Política Nacional de Turismo (2007).

Antes de continuarmos, cabe ressaltar as implicações dos dois conceitos: redes e clusters. Rosenfeld (1997) apresenta as principais diferenças (Quadro 1) entres ambos:

Quadro 1: Redes e Clusters, principais diferenças

Redes Clusters (Arranjo Produtivo Local)

Rede permite a empresas o acesso a serviços especializados a baixo custo

Cluster atrai para uma região serviços especializados necessários

Rede possui número limitado de membros Cluster possui abertuda para novos membros Rede é baseada em preceitos contratuais Cluster é baseado em valores sociais, como

confiança e encorajamento mútuo Rede torna fácil o engajamento em negócios

complexos

Cluster gera demanda para mais empresas com capacidades similares e relacionadas Rede é baseada em cooperação Cluster é baseado em cooperação e

competição

Rede possui objetivos de negócios comuns Clusters possui visões coletivas

Fonte: Rosenfeld, 1997, traduzido pelo autor

A aplicação conceitual das redes se direciona mais a uma visão empresarial, como resume Rosenfeld “cooperação entre empresas”, enquanto a de cluster a visão territorial. Desta forma, conceitualmente temos:

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O IBGE (2007) utiliza a seguinte classificação nacional para as cidades de maior importância econômica no Brasil, em seguida a esta se cita alguns exemplos: Metrópoles Mundiais: Rio de Janeiro e São Paulo; Metrópoles Nacionais: Fortaleza e Salvador; Metrópoles Regionais: Belém e Manaus; Centros Regionais: São Luis; Sub- regional 1: Macapá; Sub-regional 2: Santarém.

Rede: conjunto de atividades comerciais colaborativas, de grupos de empresas com o objetivo

de geração de vendas e benefícios comuns, como exportação, produção, desenvolvimento de produto e resolução de problemas. Estes benefícios, especificamente para o setor de turismo podem ser resumidos em:

Flexibilidade: a união entre as empresas, por exemplo, de operadores turísticos para a

comercialização de um destino ou na recepção de visitantes, traz flexibilidade operacional e ganhos comuns de produtividade.

Satisfação de uma oportunidade de negócio: o esforço mercadológico e financeiro

necessários para a venda de um novo destino ou para operação de receptivo em grande escala, em uma pequena empresa sozinha, custaria a oportunidade de negócio, mas a cooperação entre várias delas viabiliza o negócio. Como destaca Schimitz (1996), em um conceito denominado “eficiência coletiva”, no qual para “competir em mercados globalizados exige-se cooperação, o que pode ocorrer através da estratégia da Eficiência Coletiva, que nada mais é que empresas organizadas sob a forma de cooperação, e conseguem obter ganhos que num nível individual não seriam passíveis de alcançar”.

Incremento da capacidade produtiva e entrada em novos mercados: a capacidade

produtiva fica bem clara no processo de satisfação de uma oportunidade de negócio, quando operadores somam seus esforços para aumentar sua capacidade de atendimento/produção. Tal fato propicia a um destino, por exemplo, garantir eficiência operacional, o que ocorreu recentemente na Amazônia, quando operadores de receptivo das cidades de Belém e Macapá se uniram para a recepção de um cruzeiro nesta última. Certamente, se não tivesse ocorrido a “soma de esforços”, o cruzeiro não teria aportado na cidade.

Redução dos custos de produção e aceleração na introdução de novos produtos: a

competitiva entre destinos aumenta a partir do alcance global dos produtos e serviços oferecidos, desta forma os custos individuais de introdução e manutenção de novos destes se tornam bastante elevados. A rede de empresas formada em um destino, além de reduzir os custos operacionais e melhorar sensivelmente a introdução de novos produtos e novos mercados, também divide e reduz os riscos.

Sobre as redes de transporte, Palhares (2003) afirma que “são o conjunto de ligações (rodovias, ferrovias, rotas aéreas, etc.) e terminais (rodoviárias, estações ferroviárias, aeroportos, portos, etc.) de um determinado modo de transporte ou de vários modos de transporte”. Ressalta-se toda a envolvente que integra este conjunto de ligações, sobretudo os usuários, nomeadamente passageiros e operadores que influenciam na configuração das mesmas.

Cluster: são sistemas nos quais os membros inseridos baseiam-se na interdependência e

fazem da contribuição mútua a força de funcionamento sistêmico. Segundo Porter (1999) “clusters (ou Pólos) são concentrações geográficas de organizações e instituições de certo setor, abrangendo uma rede de empresas inter-relacionadas e outras atividades importantes para a competitividade”.

O entendimento revela-se na forma como as empresas, instituições se organizam em um determinado local, território ou região, essa interdependia produtiva determina seu desenvolvimento, grau de atração de investimentos, elaboração de políticas conjuntas, entre outras. Inclusive em alguns estados nordestinos, como no Ceará, a orientação territorial é muito presente na definição metodológica dada pela Secretaria de Turismo, que utiliza a seguinte definição:

“... agrupamento de empresas líderes que comercializam produtos e/ou serviços competitivos em mercados estratégicos e que são abastecidas por uma rede de fornecedores de insumos e serviços, apoiados em instituições que oferecem recursos humanos capacitados, recursos financeiros, tecnologia e infra-estrutura física”.

Algumas abordagens são inerentes ao cluster:

Aglomeração: concentração territorial dos participantes, embora esta aglomeração em

dado momento possa ser não física, por meio das TICs – Tecnologias da Informação e Comunicação.

Afinidade: empresas e instituições que possuem ligação com o mesmo setor de atividade

econômica, no caso do turismo, envolvem o trade turístico local e as instituições públicas de fomento, como bancos e órgãos de turismo.

Articulação: referente ao relacionamento entre os participantes, a transformação das

forças individuais em resultados coletivos, efetivos e palpáveis (tangíveis).

Assim como na rede, o cluster possui um universo amplo de interlocutores: beneficiários, parceiros, financiadores, voluntários, colaboradores, entre outros, de acordo com a referência adotada, o número de componentes e a configuração do mesmo. Para isso, precisam contar com meios adequados para o desenvolvimento de fluxos de informação, gerenciamento organizacional e comunicação institucional, baseados nas TICs (Rita, 2001).

Cabe ressaltar que na visão de Gutiérrez e Bordas (Apud Beni, 2001), os clusters são “aglomerados de vários atrativos turísticos, infra-estruturas compatíveis, equipamentos, e serviços de receptivo, bem como organização turística concentrada em âmbito geográfico delimitado”. Beni (2001) afirma que o cluster é “um conjunto de atrativos, com destacado diferencial turístico, dotado de equipamentos e serviços de qualidade, com excelência gerencial e concentrado em espaço geográfico delimitado”.

Ambos os autores dão destaque para uma questão importante no âmbito do destino enquanto pólo (cluster), o da oferta de infra-estrutura compatível e de qualidade, o que nos remete a questão do transporte e, em particular, dos pontos de acesso para estes. As problemáticas relacionadas ao setor de transporte podem travar o funcionamento de uma rede que necessite das infra-estruturas de acesso ou inviabilizar o funcionamento de um pólo turístico, uma vez que sem acesso não há destino, enquanto produto turístico.