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2 AS RELAÇÕES EN TRE LOCAL E GLOBAL N O COM ÉRCI O VAREJI STA

Pelas estratégias do Wal Mart e da Sonae, percebe- se o fort e rit m o im post o por est as em presas em seus prim eiros anos de operação no país, atuando de m aneira decisiva com a abertura de novas lojas ou aquisição de redes m enores nos m ercados que garant am os m elhores ret ornos, com o é o caso das m etrópoles e das grandes cidades do interior dos estados da região Sudeste e Sul. O m esm o ocorreu com as redes Pão de Açúcar e Carrefour, que investiram sobrem aneira na região Sudeste, fundam entalm ente em São Paulo.

Milt on Sant os ( 2000) diz que “ os at ores m ais poderosos se reservam os m elhores pedaços do t errit ório e deixam o rest o para os out ros” , no int uit o de expressar a força que as em presas hoj e possuem no processo de globalização, configurando- se com o at ores hegem ônicos, adapt ando o lugar de sua operação às suas características e estratégias. Essas em presas escolhem , à sua m aneira, os m elhores locais para instalarem - se, introduzindo novos elem entos na sim biose do lugar. Nesta m esm a dir eção, Milt on Sant os ( 2000, p.85) analisa as relações entre as em presas hegem ônicas e o papel do lugar da seguinte form a:

Cada em presa, porém , utiliza o território em função dos seus fins próprios e exclusivam ente em função de seus fins. As em presas t em olhos para os seus próprios obj et ivos e são cegas para t udo o m ais. Desse m odo quanto m ais racionais forem as regras de sua ação individual t ant o m enos t ais regras serão respeit osas ao ent orno econôm ico, social, polít ico, cult ural, m oral ou geográfico, fu n cionando, as m ais das vezes, com o um elem ento de perturbação e m esm o de desordem . Nesse m ovim ento, tudo que exist e ant eriorm ent e à inst alação dessas em presas hegem ônicas é convidado a adapt ar- se às suas form as de ser e de agir, m esm o que provoque, no ent orno preexist ent e, grandes dist orções, inclusive a quebra de solidariedade social.

No caso particular das redes superm ercadista este efeito que Milton Santos diz fica bem evidente. Nas relações global- local, as forças

hegem ônicas advindas do capital global atuam de m aneira a hom ogeneizar o espaço e adapt á- lo às estratégias territoriais e econôm icas das em presas, deixando as características do lugar com o pano de fundo para sua atuação. No entanto, conform e nos alerta Ana Fani A. Carlos ( 1996, p.29)

O lugar é produto das relações hum anas, entre hom em e natureza, t ecido por relações sociais que se realizam no plano do vivido, o que garant e a const rução de um a rede de significados e sent idos que são t ecidos pela hist ória e cult ura civilizadora produzindo a ident idade, post o que é aí que o hom em se reconhece porque é o lugar da vida.

Por estas palavras acim a tem os um quadro que se produz pela dialética nas relações entre o global, que se anuncia com o discurso hegem ônico e que tende a abarcar todos os níveis da vida, e o local, com seu ritm o, sua cultura, sua identidade. No plano do com ércio essa problem ática surge em variados m om ent os o qual j á apont am os nest a pesquisa. Com o por exem plo das m odificações ocorridas com a introdução dos superm ercados no Brasil na década de 1950, conform e expom os, ou dos hiperm ercados nos anos set ent a. O m odelo de distribuição vigente no m undo naquele período entrou no Brasil e foi m inando a solidariedade local existente entre consum idores e o com ércio tradicional, o m esm o ocorrendo co m os hiperm ercados e a introdução do m odelo da grande distribuição com localização periférica. No entanto, é no lugar que a m at erialização desses novos cont eúdos e m odelos globalizant es vão se concretizar. Se não tivesse havido um a adaptação a essas características por m eio de cam panhas publicitárias em m assa sobre os consum idores contendo o discurso das grandes em presas, o sucesso dos superm ercados e hiperm ercados poderia ter percorrido outro cam inho. Nesta direção é oportuno estar de acordo com Ana Fani A. Carlos ( 1996, p.29) quando analisa esta questão dizendo que

O processo de reprodução das relações sociais que vem ocorrendo, hoj e, não invalida o fato de que o lugar aparece com o um fragm ento do espaço onde se pode apreender o m undo m oderno, um a vez que o m undial não suprim e o local. O lugar se produz na art iculação cont radit ória ent re o m undial que se anuncia e a especificidade hist órica do part icular. Desse m odo o lugar se

apresentaria com o o ponto de articulação entre a m undialidade em const it uição e o local enquant o especificidade concret a, enquant o m om ento. É no lugar que se m anifestam os desequilíbrios, as sit uações de conflit o e as t endências da sociedade que se volt a para o m undial. Mas se a ordem próxim a não se anula com a enunciação do m undial, recoloca o problem a num a outra dim ensão; nest e caso, o lugar, enquant o const rução social, abre a perspect iva para se pensar o viver e o habit ar, o uso e o consum o, os processos de apropriação do espaço.

As grandes redes varej istas, a exem plo do Carrefour, Sonae e Wal Mart, atuaram diferentem ente frente as relações existentes entre o global e o local. Na década de setenta quando o Carrefour inicia suas atividades no Brasil, conform e a em presa, não foi um a decisão tom ada sem planej am ento da central em Paris. Após investir na Espanha e estar conseguindo o retorno esperado j á no seu segundo ano de operações por lá, o Carrefour iniciou um grande processo de m undialização de suas atividades, investindo ao m esm o tem po em m ercados europeus, com o ocorreu na Bélgica e no Reino Unido. No entanto, as loj as da I nglaterra não se adaptaram ao m odelo de distribuição inglês já em operação e após cinco anos o Carrefour encerrou suas atividades no Reino Unido, alegando não ter obtido o retorno esperado no prim eiro qüinqüênio. O m esm o ocorreu com outra em presa francesa, caso da Auchan no Estados Unidos. As em presas norte- am ericanas fizeram cam panhas fortes em suas loj as e j unto aos seus clientes para que desse valor e realizassem suas com pras apenas em em presas norte- am ericanas e deste m odo, as em presas estrangeiras retiravam - se após algum período de prej uízo.

No Brasil, o Carrefour adotou um a estratégia que j á estava em consolidação através dos Hiperm ercados Jum bo, e com a aj uda do poder público, firm ou- se em solo brasileiro lu t ando diret am ent e com o Pão de Açúcar nesse setor desde então. A estratégia em seus 25 prim eiros anos de operação foi construir novas loj as em m ercados selecionados, m esm a estratégia da norte- am ericana Wal Mart. No entanto, o sucesso dessa, foi dificultado pela im posição de um novo m odelo de venda que não se adaptou de m aneira im ediata no Brasil e por esta razão esta em presa ainda não conseguiu alcançar o sucesso que esperava quando entrou no Brasil.

Outra estratégia utilizada pelas em presas m undiais para enfrentar as relações que se produzem entre o local e o global foi a em pregada pela portuguesa Sonae durante a década de noventa. De m aneira lenta, esta em presa assinou cont rat o de joint venture com um a em presa de porte m édio localizada no Rio Grande do Sul e aos poucos foi firm ando- se em solo brasileiro, conhecendo e adaptando- se às nossas características e quando decidiu investir m aciçam ente no país, j á tinha pleno saber de nossas necessidades e m odelos de realizar com pras e, por esta razão, j á investiu diret am ent e em dois form at os de venda: superm ercado e hiperm ercado, m antendo equilíbrio entre am bas.

Outro ponto que deve ser destacado dentro das relações entre em presa- território e global- local, centra- se no poder público. As em presas quando decidem invest ir num novo m ercado ent ram em cont at o com as Prefeituras, sondam as im obiliárias e procuram conseguir um terreno bem localizado, ou quando não, obrigam os prefeitos a desenvolverem linhas de transporte público, asfaltarem ruas, colocar ilum inação, saneam ent o básico nas redondezas das loj as para garant irem o bom funcionam ent o e sucesso do em preendim ento. Na m aioria dos casos essas reivindicações são aceitas pois a im plantação de um hiperm ercado, por exem plo, im plica em m ais de 400 em pregos diretos para o m unicípio, além de revitalizar toda a atividade com ercial com a entrada de um a nova em presa e a instalação da concorrência. Entretanto, alguns casos, são vistos pela população, com o desrespeito ao lugar.

O Carrefour, j á operava com um hiperm ercado desde 1992 em Sorocaba no interior do Estado, m as decidiu construir um a nova loja no final de

2000. Após t er com prado um t erreno de m ais de 15.000 m2 na área urbana do

m unicípio, com eçou enfrentar problem as pois, a área escolhida envolvia um terreno de um a antiga fazenda da cidade com árvores centenárias que faziam parte da história do m unicípio. O Carrefour não pode derrubá- las e foi obrigado a retira- las do local sem m ata- las e replanta- las, o que foi aceito pelos habitantes.

Est a m esm a em presa t eve problem as t am bém no m unicípio de Porto Alegre no final dos anos noventa, quando decidiu construir um novo hiperm ercado. A prefeitura não aprovava a obra, pois considerava que a entrada de um novo hiperm ercado na cidade traria problem as para os pequenos com erciant es locais além de ter que gastar dinheiro público para m elhorar a infra- estrutura da região de sua instalação. Após 5 anos de negociações, o Carrefour conseguiu abrir seu novo hiperm ercado, com a condição de abrir e

m anter em funcionam ento um a creche com capacidade para abrigar 40 crianças além de um a galeria de quarenta lojas para os com erciantes locais.

Os grandes grupos varej istas, com o vim os, utilizaram - se de diferentes estratégias ao longo dos últim os anos, sendo que a principal foi a concentração territorial por m eio de aquisições de redes m enores nos m ercados da região centro- sul do país, aum entando a concorrência nestes lugares, e com isso, a im posição de novos cont eúdos para a população local com o para os pequenos com erciantes e o com ércio tradicional, refletindo nos preços e nos serviços oferecidos. No entanto, cada lugar posicionou- se diferentem ente para abrigar essas em presas. Se na m aior parte dos casos houve fácil adaptação ao m odo de consum o int roduzido por elas, em out ros, não foi t ão fácil assim , o que garante a reprodução de certas características do lugar frente a im posição hegem ônica dessas em presas.

É pelo diálogo existente no m ovim ento de inserção de novos lugares no processo de m undialização que se pode enxergar as transform ações que estão oco rrendo hoj e no espaço geográfico, onde t em po e espaço t ornam - se os dois elem ent os fundam ent ais para a reprodução do sist em a e que hoj e est ão com post os por novos conteúdos, principalm ente influenciados pela hegem onia da inform ação e das técnicas, que se tornam os elos principais no m ovim ento de reprodução das relações sociais de produção.

3 – O COMÉRCI O E O CON SUMO N O RI TMO DA