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3.6.2-O Turismo Gastronómico como Instrumento do Desenvolvimento Económico dos Destinos

O turismo gastronómico sob o ponto de vista económico revela-se como um potencial elemento para desenvolver a economia local, porque gera impacto na cadeia de alimentação local, onde estão envolvidos produtores, fornecedores, canais de comercialização (como os restaurantes tradicionais), dentre outros (Hall, 2012).

O turismo gastronómico atua como um motor de desenvolvimento económico dos destinos, quando transforma a característica de recurso básico da gastronomia em experiências que incentivem os turistas a gastarem mais e a permanecerem mais tempo no destino. De acordo com os dados apresentados pela World Food Travel Association, cerca de 36% dos gastos dos turistas são efetuados em alimentação. Sublinhe-se ainda que dentre todas as áreas possíveis de gastos, durante uma viagem, os turistas são menos propensos a fazer cortes no seu orçamento com alimentação (APTECE, 2015, p. 10).

Shenoy (2005) destaca que, do ponto de vista econômico, quase 100% dos turistas gastam dinheiro com alimentação nos destinos. Comer está entre as principais atividades realizadas pelos visitantes(Hall, 2012). E isso justifica o fato de os gastos com a gastronomia terem uma parcela representativa nas despesas realizadas no destino(C. Hall & Sharples, 2003). Comumente dentre todas as áreas possíveis de gastos durante a viagem, os visitantes são menos propensos a fazer cortes em seu orçamento alimentar(PyoUysal& McLellan, 1991).

Neste contexto, para o local, a produção de alimentos tradicionais apresenta-se como uma alternativa para que os pequenos produtores rurais tenham melhores condições de vida, de forma a contribuir para o desenvolvimento local e regional (Zuin et al., 2007, p. 125).

De acordo com Hall & Mitchell, (2002, p. 84) já têm sido criadas muitas estratégias para o desenvolvimento económico dos destinos, relacionadas com o produto turístico gastronómico. Os autores destacam especialmente aquelas já desenvolvidas para as áreas rurais:

 reduzir o vazamento económico, utilizando recursos renováveis locais, em vez de outras fontes, por exemplo, usar materiais para embalagem do local, ou seja, comprà-los às empresas locais ;

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 reciclar recursos financeiros dentro do sistema através da compra de bens e serviços locais, por exemplo, hoteleiros precisam comprar e promover os alimentos e vinhos locais, utilizar bancos locais para crédito e recorrer às cooperativas para compras.

 agregar valor aos produtos locais, antes de ser exportado, por exemplo, garrafa e embalagem de alimentos, localmente use comida local como uma atração para os turistas reforçando a locais economia;

 conectar as partes interessadas locais (pessoas e instituições) para criar confiança, novas ligações e trocas mais eficientes, por exemplo, criar uma campanha de compra entre agricultores e produtores através de cooperativas locais;

 atrair recursos externos, especialmente finanças, habilidades e tecnologia, onde apropriado, por exemplo usar a internet para se conectar com os clientes fora da região;

 enfatizar a identidade local e autenticidade em termos da marca e de estratégias promocionais, por exemplo, listar o local de origem no rótulo dos produtos;

 vender direto para o consumidor via lojas de fazenda. Agricultores podem produzir eventos de comida e vinho, e criam uma relação direta com o consumidor, bem como através de adegas de vinho em seu próprio local de trabalho.

Estas ações que já vêm sendo desenvolvidas em alguns destinos, nomeadamente aqueles que desenvolvem o segmento gastronómico nas áreas rurais, permitem cada vez mais agregar valor aos produtos locais, destacando a sua marca, e nesse sublinhar contribuem para preservar a cultura local. Na dimensão económica, estas estratégias contribuem para que permaneça mais dinheiro nestas zonas, porque ao aproximar, criar esta relação mais direta entre turistas e produtores, evita-se que o produto tenha que ser vendido a um custo menor, para que os interlocutores que irão comercializá-lo possam também ter lucro. Os produtores também, nesta posição direta com o consumidor, não ficam dependentes somente de um mercado (criado pelas operadoras), podem abrir um leque para se promover em outras regiões e aumentar mais ainda o seu fluxo de clientes. Deve-se destacar que o turismo gastronómico não cria essa dinâmica económica apenas em áreas rurais, embora seja nelas onde grande parte das atividades se desenvolvem. Em muitos destinos encontram-se festivais, feiras, rotas, dentre outras experiências no contexto urbano. Martins, Gurgel e Martins (2016), apresentaram em seu estudo o desenvolvimento de roteiros gastronómicos na cidade do Recife, na região Nordeste do Brasil. Nesta experiência, são integradas visitas a restaurantes (onde os turistas podem participar em parte da produção de pratos/bebidas típicas), mercados e outros pontos de interesse da cidade, que estão relacionados com o tema do roteiro, nesse caso “Saboreando Recife”.

É claro que, nesse contexto, o impacto será maior para os atores envolvidos no ambiente urbano, mas não deixa de contribuir também para o desenvolvimento das áreas rurais. Quanto maior for o consumo de alimentos, maior será o volume de venda e de

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rendimento das áreas rurais, mesmo que com uma proporção diferente das atividades realizadas face a face com o consumidor.

Em ambas as áreas, o desenvolvimento do turismo gastronómico constitui um fator que impulsiona o crescimento e fortalecimento das economias locais porque:

Dinamiza as produções locais – contribui para a manutenção e sustentabilidade

dos produtos locais(Hall, 2006; Jones & Jenkins, 2002; Martins, U., e Gurgel, L. e Martins, 2016; Schlüter, 2003b)

 Gera renda e empregos no setor do turismo e da alimentação – o aumento da produção local, bem como a criação de novos ambientes para o desenvolvimento do turismo gastronómico, como lojas de souvenirs, gera uma demanda automática de postos de trabalho, para que se possa atender às necessidades da procura turística (Briedenhann & Wickens, 2004; Poulain, 2008; Richards, 2002)

 Contribui pra reter os gastos dos visitantes – a comercialização de alimentos locais, quer através de restaurantes, diretamente de produtores ou de outras experiências com a gastronomia, contribui para reduzir a importação de outros alimentos, e permite que o capital gerado por essa atividade favoreça o mercado interno(Hall, 2012).

 Cria um relacionamento mais direto com o consumidor – as atividades turísticas desenvolvidas com a alimentação local permitem muitas vezes que os visitantes façam compras diretas aos produtores locais (visita a caves de vinhos,

agrotours). Essa oportunidade de venda direta pode favorecer o aumento do lucro

a estes sujeitos, uma vez que não existe a presença de outros intermediários nesse negócio(CTC, 2003; M. Hall & Mitchell, 2002; Poulain, 2008));

Cria outras oportunidades para o negócio com os alimentos – o turismo

gastronómico cria uma visibilidade dos produtos locais ou regionais, que são associados a uma marca ou uma identidade gastronómica. Isso pode atrair outros tipos de negócio para o local, como, por exemplo, a importação desses produtos para os países emissores, a criação de souvenirs, dentre outros fatores(CTC, 2003; M. Hall & Mitchell, 2002));

 Revitaliza os destinos turísticos – o segmento gastronómico pode contribuir para revitalizar a economia de destinos que estão numa fase de declínio de outros produtos(Londoño, 2011);

 Atua Como motor de diversificação dos destinos – o desenvolvimento desta atividade pode agregar valor aos destinos, contribuindo para aumentar o seu nível

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de competitividade, bem como para a entrada de novas divisas (especialmente quando os locais já têm outros segmentos ou atrativos-chaves)(Londoño, 2011).

De modo geral, todos esses aspetos que envolvem quer a dimensão sociocultural quer a dimensão económica do turismo gastronómico são fatores essenciais para promover o desenvolvimento local. E colocam a comunidade como um elemento forte e essencial nessa relação.

3.6.3 - A Participação da Comunidade como Inovação Social no