SOCIEDADE BRASILEIRA DE ORTOPEDIA E TRAUMATOLOGIA
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Artigo
Original
Interac¸ão
dos
dados
demográficos
com
os
resultados
da
cirurgia
da
doenc¸a
degenerativa
da
coluna
cervical:
uma
avaliac¸ão
retrospectiva
夽
Celso
Garreta
Prats
Dias,
Bruno
Braga
Roberto,
Lucas
Basaglia,
Mario
Lenza,
Rodrigo
Junqueira
Nicolau
e
Mario
Ferretti
∗HospitalIsraelitaAlbertEinstein,DepartamentodeOrtopediaeTraumatologia,SãoPaulo,SP,Brasil
informações
sobre
o
artigo
Históricodoartigo:
Recebidoem30dejunhode2016 Aceitoem15deagostode2016 On-lineem20dejaneirode2017
Palavras-chave:
Vértebrascervicais/cirurgia Qualidadedevida
Doenc¸asdegenerativas Prognóstico
Estudocoorte
r
e
s
u
m
o
Objetivo:Adoenc¸adegenerativadacolunacervicaléumafontefrequentededorcervical intermitente,naqualossintomaspredominantessãodoraxialcervical.Asindicac¸õespara cirurgiasãoreservadasparaoscasosdefalhadotratamentoconservadoroucomsintomas neurológicosprogressivos.Oobjetivodesteestudofoiavaliarosfatoresprognósticosdos pacientessubmetidosaotratamentocirúrgicodacolunacervical.
Métodos:Oestudoavaliouospacientessubmetidosàcirurgiadacolunacervicalentrejulho de2011enovembrode2015(n=58).Asvariáveisdecomparac¸ãoavaliadasforamtabagismo, hipertensão,diabete,sobrepeso,técnicacirúrgicaaplicadaenúmerodeníveisdeartrodese. Odesfechoprimáriofoidefinidocomodoreosdesfechossecundáriosforamqualidadede vidaedisfunc¸ão.
Resultados: Encontramosdiferenc¸aestatisticamentesignificativaentreosescoresdedorde baseeaos12mesesapósacirurgia,favorávelaospacientessemhipertensãoarterial sis-têmica(p=0,009)eaossubmetidosàdiscectomiacominstrumentac¸ão(p=0,004).Também houvediferenc¸aestatisticamentesignificativanaavaliac¸ãodadisfunc¸ãodacoluna cervi-cal:oresultadofoimaisfavorávelparaospacientessemdiagnósticopréviodehipertensão (p=0,028)eparaospacientescomIMCmenordoque25kg/m2(p=0,005).Nãoseobservou evidênciadeinterac¸ãosignificativaentreosdadosavaliadoseosresultadosdoquestionário dequalidadedevida.
Conclusões:Ospacientesnãohipertensos,comíndicedemassacorpóreamenor doque 25kg/cm2 esubmetidosà artrodesecombinadaàdiscectomia,sãoosmaisbeneficiados comoprocedimentocirúrgicodadoenc¸adegenerativadacolunacervical.
©2016PublicadoporElsevierEditoraLtda.emnomedeSociedadeBrasileirade OrtopediaeTraumatologia.Este ´eumartigoOpenAccesssobumalicenc¸aCCBY-NC-ND (http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/).
夽
TrabalhodesenvolvidonoHospitalIsraelitaAlbertEinstein,DepartamentodeOrtopediaeTraumatologia,SãoPaulo,SP,Brasil. ∗ Autorparacorrespondência.
E-mails:ferretti@einstein.br,marioferretti@uol.com.br(M.Ferretti). http://dx.doi.org/10.1016/j.rbo.2016.08.013
Interaction
of
demographic
factors
with
the
results
of
the
surgery
for
degenerative
disease
of
the
cervical
spine:
a
retrospective
evaluation
Keywords:
Cervicalvertebrae/surgery Qualityoflife
Degenerativediseases Prognosis
Cohortstudy
a
b
s
t
r
a
c
t
Objective: Degenerativediseaseofthecervicalspineisafrequentsourceofintermittent neckpain,wherethepredominantsymptomisaxialneckpain.Theindicationsforsurgical treatmentarereservedforthecaseswheretheconservativetreatmenthasnotrelievedthe symptomsorthepatientpresentsprogressiveneurologicalimpairment.Theobjectiveof thisstudywastoevaluatetheprognosticfactorsinvolvedinpatientssubmittedtosurgical treatmentofthecervicalspine.
Methods:Thestudyanalyzeddatafrompatientssubmittedtocervicalspinesurgerybetween July2011andNovember2015(n=58).Theevaluateddataincludedsmokinghabits, hyperten-sion,diabetes,overweight,surgicaltechnique,andnumberoflevelsoffusion.Theprimary outcomewasdefinedaspainandthesecondaryoutcomeswerequalityoflifeanddisability. Results: Astatisticallysignificantdifferencewasfoundbetweenbaselineandthe12-month post-operativeresultsregardingpaininfavorofnon-hypertensivepatients(p=0.009)and discectomyplusinstrumentation(p=0.004).Therewasalsosignificantdifferencebetween theresultsofneckdisabilityinfavorofnon-hypertensivepatients(p=0.028)andpatients withbodymassindexlowerthan25kg/m2(p=0.005).Therewasnosignificantinteraction betweenanyanalyzeddataandthequalityoflifescoreresults.
Conclusions: Non-hypertensivepatients,thosewithbodymassindexlowerthan25kg/m2, andthosesubmittedtodiscectomycombinedwitharthrodesisofthecervicalspinearethe mostbenefitedbycervicaldegenerativediseasesurgery.
©2016PublishedbyElsevierEditoraLtda.onbehalfofSociedadeBrasileirade OrtopediaeTraumatologia.ThisisanopenaccessarticleundertheCCBY-NC-NDlicense (http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/).
Introduc¸ão
Asalterac¸õesdegenerativasdacolunasãoadaptac¸ões anatô-micasaoestressecontínuodecompressãoedistrac¸ãosobreas estruturasdacoluna.1–3Duranteesseprocessodeadaptac¸ão, algumasalterac¸õesteciduaissãonotáveis,comocalcificac¸ão deligamentoseformac¸ãodeosteófitos.Nacolunacervical, osteófitosformadosnasplacasterminaisefacesarticulares representamos elementosósseosquecausamcompressão, enquantoaprotrusãodiscal,oligamentoamareloou cápsu-lasarticulareshipertróficaspodemagravarouiniciaroquadro compressivoportecidosmoles.3Aprevalênciadepacientes comdoenc¸adegenerativadiscaléincerta,vistoqueemuma populac¸ãoassintomáticaapresenc¸adesinaisradiográficosde degenerac¸ãodacolunacervicalpodechegara80%.4–6Quando ossintomasestãopresentes,suaprogressãoparacasosmais graveséaltamentevariávelepoucodefinida.7
Doenc¸asdegenerativasdacolunacervicalsãocausas fre-quentesdedorcervicalintermitenteempacientesadultose idosos,osintomapredominanteéadorcervicalaxial,quese originadadegenerac¸ãodosdiscos,dosplatôsvertebrais,das articulac¸õesfacetárias oudo crescimentodososteófitos.1–3 Frequentementeexisteassociac¸ãocomsintomas neurológi-cos,paraessespacientesestáindicadaainvestigac¸ãocom res-sonânciamagnética.2,8 Amaioriadoscasosdedoenc¸a dege-nerativadacolunacervicalouradiculopatiacervicalresponde aotratamentoconservador,queconsisteemorientac¸ões pos-turais,modificac¸õesnasatividadesdiárias,imobilizac¸ões cer-vicais,exercíciosisométricosemedicac¸ão.1,2,8Asindicac¸ões
paratratamentocirúrgicosãoreservadasparaoscasosemque adornãoseresolvecomotratamentoconservadorouemque existaprogressãodosdéficitsneurológicos.1,2,8,9
A depender da doenc¸a apresentada pelo paciente, dois princípios são buscados pormeio dotratamento cirúrgico: descompressão eartrodese (tambémchamada fusão).1,2,7,10 Adescompressãoestáindicadaemcasosemqueasalterac¸ões degenerativascausamcompressãoneuraldireta.Afusão,por outrolado,estáindicadaemcasosqueapresentem instabi-lidadeouperdadaintegridademecânicadacolunacervical. Esse procedimento pode ainda ter efeitos benéficos sobre os sintomas compressivos, através da distrac¸ãoapropriada aplicada no segmento,principalmente noscasos emquea estenoseéforaminal.1,10
Existem questionários e escalas para avaliac¸ão de dor, disfunc¸ãoequalidadedevida,específicosenãoespecíficos, quepodemserusadosparaavaliac¸ãodaefetividadedo trata-mento.Umestudoavaliouaescalavisualanalógicaparador (EVA),oNeckDisabilityIndex(NDI),o12-ItemShort-FormHealth Survey(SF-12)eoEuroQolHealthSurvey(EQ-5D)paraavaliac¸ão de61pacientescomradiculopatiacervicalsubmetidosa dis-cectomiaeatrodeseporviaanterior.11Nesseestudo,Parker etal.definiramasvariac¸õesmínimasnecessáriasparahaja diferenc¸aclínicaimportanteentreasavaliac¸ões.11
osfatoresdemaiorrelevânciaclínicapararesultadosruins foramousodeanalgésicosfracospré-operatórioseo recebi-mentodealgumtipodeajudafinanceirapelopacientedevido àincapacidadecausadapeladoenc¸acervical.Omesmoestudo mostrouqueosfatoresrelacionadosabonsresultadosforam idadeavanc¸ada,NDIpré-operatórioelevadoeocupac¸ãoem empregosrentáveis.13
Oobjetivodesteestudofoiavaliarosfatoresprognósticos dospacientessubmetidosaotratamentocirúrgicodacoluna cervical.
Material
e
métodos
Desenhodoestudoesetting
Estudotransversalqueavaliouobancodedadosentrejulhode 2011enovembrode2015dospacientessubmetidosàcirurgia paratratamentodedoenc¸asdegenerativasdacoluna cervi-calemumhospitalquaternárioprivadoemSãoPaulo,Brasil. Nesseperíodoforamfeitas90cirurgiasparaotratamentode doenc¸a degenerativada colunacervical.O estudofoi envi-ado ao e aceito pelo Comitê de Ética e Pesquisa (número 49217515.6.0000.0071).
Critériosdeinclusãoeexclusão
Critériosdeinclusão:1)adultoscom 18anosoumais,com indicac¸ãodecirurgiadecolunacervicalparaestenose,com ousemmielopatiaouhérniacervical;2)submetidosao tra-tamentocirúrgico;3)semcontraindicac¸ãoàanestesiageral; 4)comentendimentodalínguaportuguesaeapósaceitac¸ãode umtermodeconsentimentoporescritoparaopreenchimento dosquestionários.
Critériosdeexclusão:pacientescom1)fraturasdecoluna; 2)escoliose;3)deformidadescongênitasdacoluna;4)tumores decoluna;5)infecc¸ãodecoluna;6)cirurgiaprévianacoluna cervical;7)incapacidadedeparticipardoseguimento(por ina-bilidadedeleroucompletarosformuláriosrequeridos).
Dadosdemográficosdospacientes
Apartirdoprontuáriodecadapaciente,foramcoletadosos seguintesdados:
- Idade(emanos).
- Gênero(femininooumasculino).
- Peso,alturaeIMC(emkg,mekg/m2,respectivamente).
- Terapias adjuvantes prévias (fisioterapia, acupuntura, hidroterapiaouRPG).
- Diagnósticopréviodehipertensão. - Diagnósticopréviodediabete. - Diagnósticopréviodefibromialgia. - Tabagismoouhábitodefumar.
- Etilismoouhábitodeingerirbebidasalcoólicas.
- Técnicacirúrgicaaplicada(discectomiasimplesou discec-tomiacomartrodese).
Osdadosusadosparaanáliseecomparac¸ãodosresultados foramtabagismo,hipertensão,diabetes,sobrepeso(IMC>25),
agrupamento(técnicacirúrgicaaplicada)enúmerodeníveis deartrodese.
Aamostraanalisadaécompostapor58pacientes subme-tidosàcirurgiaparatratamentodedoenc¸asdegenerativasda coluna.Osdadosdosprontuáriosdosoutros32pacienteseram insuficientesparaanáliseestatísticaounãoforam encontra-dos.Umdospacientesnãorespondeuaosquestionáriosde EVAeNDI,portantoessasduasvariáveistiveramumNtotalde 57pacientes.Ascirurgiasocorreramdejulhode2011a novem-bro de2015.Oíndicedemassacorporal(IMC)variouentre 20,7e42,0kg/m2,com médiade27,3kg/m2 (DP=4,6kg/m2).
Amaiorpartedospacientes(89,7%)foisubmetidaàcirurgia artrodesecervical.Essascirurgias,queenvolveramartrodese anterior,usaramnomínimoumaplaca,quatroparafusose umcage,somaram-sedoisparafusoseumcageparacadanível adicionaldeartrodese.Orestantedosprocedimentos(10,3%) foi discectomiasimplesporvia posterior,semnecessidade deimplantes.Quantoàscomorbidadesedadossociais,41,4% eramhipertenso,12,1%diabéticos,13,8%tabagistas,nenhum casodeetilismoenenhumpacientecomfibromialgia.
Desfechosavaliados
O desfechoprimário escolhidofoi dor,avaliado pelaescala visualanalógica(EVA),quevariaentrezeroe10(zeroausência dedore10dormáxima).14,15Osdesfechossecundáriosforam: 1) avaliou-seumaescaladequalidade devidamedidapelo questionário EQ-5D16 validado para a língua portuguesa;17 2)oNeckDisabilityIndex18validadoparaalínguaportuguesa.19 Aescalavisualanalógicausadafoianumérica,quevaria dezeroa10,zeroaausênciadedore10adormaisintensa. Dessaforma,1a3sãoconsideradosdorleve,de4a6,dor moderadaede7a10,dorforte.15
O EQ-5D usado foi o EQ-5D-3L, que consiste em duas colunas, uma delas descreve as cinco dimensões avalia-das: (1) mobilidade; (2) autocuidado; (3) atividades usuais; (4)dor/desconforto;(5)ansiedade/depressão.Asegunda apre-sentaaescalaanalógica,consistentedetrêsníveisparacada dimensão,variade“semproblemasparafazer”a “incapaci-dade”,associadosaumanotade1a3,respectivamente.16O resultadofinaléumasequênciadecincodígitos,com alga-rismos de1 a3, quedeve seranalisadoem conjuntocom umatabelaqueapresentaosrespectivosresultadosdoescore, quepodemvariarde-0,594a+1(valorunitário),aopontoque osresultadosmenoresouiguaisazeroindicamincapacidade importante.
divi-didopelonúmerototaldequestõesrespondidase,então,esse valorémultiplicadopor100.19
Asnotasobtidasduranteasconsultasdeseguimento pós--operatório foram comparadas com as notas coletadas no pré-operatórioeforamconsideradas clinicamente significa-tivasasvariac¸õesdepelomenos2,6pontosparaoescoreEVA, 0,24pontosparaoEQ-5De17,3%paraoNDI,conforme suge-ridopeloestudodeParkeretal.11
Todos os desfechos citados acima foram avaliados no pré-operatórioeaseguircom1,2,3,6e12mesesde acompa-nhamento,adependerdaassiduidadeedocompromissode cadapaciente,oquetambémestádescritoeanalisado.
Análiseestatística
Asvariáveisqualitativasforamdescritasporfrequências abso-lutas eporcentagens eas numéricas por medidas resumo comomédia,desviopadrão,mediana,intervalointerquartil, valoresmínimoemáximo.20
Ainfluênciadosfatoresdeinteressenavariac¸ãodos esco-resdasescalasaolongodoacompanhamentofoiavaliadapor modelosdeequac¸õesde estimac¸ãogeneralizadas, conside-randoacorrelac¸ãoentreasmedidasdeummesmopaciente nosdiferentesmomentosdeavaliac¸ão(pré-operatórioecom 1,3,6e12mesesdeacompanhamento).
Osmodelos para asescalas EVA eNDIforam ajustados comdistribuic¸ãobinomialnegativaeparaaescalaEQ-5Dfoi usadaadistribuic¸ãonormal.Ascomparac¸õesmúltiplasforam corrigidaspelométododeBonferroni.
Osresultadosdosmodelosforamapresentadosem tabe-lasegráficos porvalores médiosajustados eintervalosde confianc¸ade95%.
AsanálisesforamfeitascomoauxíliodoprogramaSPSS (SPSSInc.Released2008.SPSSStatisticsforWindows,Version 17.0.Chicago:SPSSInc.)econsideradoníveldesignificância de5%.21,22
Resultados
Foiajustadoummodelodeequac¸õesdeestimac¸ão generali-zadas(EEG),considerandoasavaliac¸õesdaEVA,NDIeEQ-5D aolongodoacompanhamentoeosdiferentesestados demo-gráficosdospacientes.
Desfechoprincipal–Escorevisualanalógico(EVA)dedor
Houvediferenc¸aestatisticamentesignificativaentreos esco-respréepós-operatórioscom3,6e12mesesnaavaliac¸ãoda presenc¸aounãodeHAS,foimaisfavorávelparaospacientes semdiagnósticopréviodeHAS(p=0,009),conformedescrito natabela1.
Além disso, a média dos valores finais do EVA para os pacientes não hipertensos (4,4 pontos) comparada com a médiadosvalores pré-operatórios (7,3 pontos)foi também clinicamentesignificativa,deacordocomoestudodeParker etal.,11queconsiderouavariac¸ãomínimade2,6pontosno EVA.Jáospacienteshipertensosvariaramemmédiaapenas 1,1pontoentreopré-cirúrgicoeaavaliac¸ãode12meses pós--operatórios,de6,1para5pontos.
Tabela1–Médiasestimadaseintervalosdeconfianc¸a de95%paraosescoresdaescalaEVAnasavaliac¸õespré epós-operatóriassegundoodiagnósticodehipertensão
Avaliac¸ão Hipertensão
Não(n=33) Sim(n=24)
Pré 7,3[6,4;8,1] 6,1[4,8;7,3]
1mês 2,7[1,5;4,0] 4,8[3,5;6,2]
3meses 2,3[1,2;3,5] 4,4[3,3;5,4]
6meses 4,8[3,6;5,9] 3,5[2,1;4,9]
12meses 4,4[3,0;5,8] 5,0[3,7;6,3]
Efeitodeinterac¸ão 0,009
Houve diferenc¸a estatisticamente significativa entre os escores pré e pós-operatórios com 3, 6 e 12 meses na comparac¸ãoentreosprocedimentosdediscectomiasimples ediscectomiacominstrumentac¸ão, foimaisfavorávelpara os pacientes que foram submetidos adiscectomia somada à artrodese instrumentada (p=0,004), conforme descrito na tabela 2. Essa avaliac¸ão, porém, não foi clinicamente significante,secomparadasasmédiaspréepós-operatórias, deacordocomavariac¸ãomínimaconsiderada.
Nãoseobservouevidênciadeinterac¸ãosignificativaentre osseguintesdadoseasavaliac¸õesdaEVAaolongodo acom-panhamento,ouseja,nãohá evidênciasdequea variac¸ão nosescoresdaEVAdependadohábito defumar(p=0,569), diagnósticodediabete(p=0,076),sobrepesocomIMCmaior doque25kg/m2(p=0,381)ounúmerodeníveisdeartrodese
(p=0,151).
Desfechosecundário–NeckDisabilityIndex(NDI) dedisfunc¸ão
Houve diferenc¸a estatisticamente significativa para o NDI entreosescorespréepós-operatórioscom 3,6e12meses naavaliac¸ãodapresenc¸aounãodeHAS,foimaisfavorável paraospacientessemdiagnósticopréviodeHAS(p=0,028), conformedescritonatabela3.
Houve também diferenc¸a estatisticamente significativa para o NDI entre os escores pré e pós-operatórios com 3, 6e12mesesnaavaliac¸ãodapresenc¸aounãodesobrepeso, foimaisfavorávelparaospacientescomIMCmenordoque 25kg/m2(p=0,005),conformedescritonatabela4.
Tabela2–Médiaestimadaeintervalosdeconfianc¸a de95%paraosescoresdaescalaEVAnasavaliac¸õespré epós-operatóriassegundootipodecirurgia
Avaliac¸ão Agrupamento
Descompressão (n=6)
Artrodese (n=51)
Pré 5,0[2,4;7,6] 6,9[6,2;7,7]
1mês 5,1[3,5;6,8] 3,6[2,5;4,7]
3meses 2,3[0,3;4,2] 3,6[2,7;4,5]
6meses 2,5[1,2;3,7] 4,6[3,5;5,6]
12meses 5,2[3,6;6,8] 4,5[3,4;5,6]
Tabela3–Médiasestimadaseintervalosdeconfianc¸a de95%paraosescoresdaescalaNDInasavaliac¸õespré epós-operatóriassegundoodiagnósticodehipertensão
Avaliac¸ão Hipertensão
Não(n=33) Sim(n=24)
Pré 21,2[17,7;24,7] 21,7[18,0;25,5]
1mês 15,6[12,1;19,1] 15,3[10,4;20,2]
3meses 11,5[8,0;14,9] 17,2[12,9;21,6]
6meses 14,6[10,8;18,5] 13,0[9,0;17,1]
12meses 11,2[6,7;15,8] 15,5[11,5;19,5]
Efeitodeinterac¸ão 0,028
Tabela4–Médiasestimadaseintervalosdeconfianc¸a de95%paraosescoresdaescalaNDInasavaliac¸õespré epós-operatóriassegundooníveldeIMC
Avaliac¸ão IMC
<25kg/m2(n=21) ≥25kg/m2(n=36)
Pré 19,0[15,3;22,7] 22,8[19,4;26,2]
1mês 17,4[14,2;20,7] 14,1[10,0;18,2]
3meses 13,9[9,9;18,0] 14,6[10,8;18,3]
6meses 15,1[10,2;20,0] 13,2[9,8;16,7]
12meses 9,8[5,2;14,4] 15,1[10,9;19,3]
Efeitodeinterac¸ão 0,005
Osdesfechosdescritosacimanãoatingiramvariac¸ão clini-camentesignificativadoNDIdeacordocomoestudodeParker
etal.,11quedeveriaserde,pelomenos,17,3%.
Nãoseobservouevidênciadeinterac¸ãosignificativaentre osseguintesdadoseasavaliac¸õesdoNDIaolongodo acom-panhamento,ouseja,nãoháevidênciasde queavariac¸ão nosescoresdoNDIdependadohábito defumar(p=0,791), diagnósticodediabete(p=0,918),agrupamento(p=0,374)ou númerodeníveisdeartrodese(p=0,388).
Desfechosecundário–QuestionárioEuroQol(EQ-5D) dequalidadedevida
Nãoseobservouevidênciadeinterac¸ãosignificativaentreos dadosavaliadoseosresultadosdoquestionáriodequalidade devidaEuroQolaolongodetodooacompanhamento,ouseja, nãoháevidênciasdequeavariac¸ãonosescoresdoEuroQol dependadohábito defumar (p=0,115),diagnóstico de dia-bete(p=0,721)ouHAS(p=0,423),sobrepesocomIMCmaior doque25kg/m2(p=0,444),agrupamento(p=0,087)ounúmero
deníveisdeartrodese(p=0,884).
Discussão
De ummodo geral, a cirurgia para a doenc¸a degenerativa paraacolunacervicalpeladiscectomiacomousemartrodese anterior,àparteaavaliac¸ãoestratificadapelosdados demo-gráficos,apresentoumelhoriaemcurtoelongoprazonanossa avaliac¸ão.Poroutrolado, ao seestratificaremos pacientes emsubgrupos,foramencontradasdiferenc¸asentreos desfe-chos,porémaindaénecessárioummaiorentendimentoda
complexafisiopatologiada doenc¸adegenerativadiscalpara queseencontremasreaiscausasparaessesfatos.
Emumestudorecente,Murrayetal.compararamos des-fechoscirúrgicosdospacientescomdoenc¸adegenerativada coluna cervical eentre osresultados da análise estatística não foram encontradasdiferenc¸as nos resultadospara dor ouqualidadedevidaentreosdiferentesaspectos demográ-ficos:gênero,idade,etnia,tabagismo,IMC,nívelcirúrgicoou tratamentoprévio,oquecontrastacomalgunsresultadosdo presenteestudo.23
A análise combinada dosnossos resultados com a lite-ratura atual levaa crer quea cirurgia feita para a doenc¸a degenerativadacolunacervicaltembonsresultadosemcurto eemlongoprazo,masapresentadiferenc¸asestatisticamente significantes entre os grupos demográficos, fato que pode guiaraescolhadopacientequeterábonsresultadose pos-sivelmente evitar ou adiar uma cirurgia desnecessária em pacientesqueterãoresultadosmenossignificativosno pós--operatóriotardio.
Nossoestudoconcluiuquetodosospacientessão benefici-adosemalgumgraucomacirurgiaparaadoenc¸adegenerativa dacolunacervical,masaquelesqueapresentamsobrepeso, que são submetidos àdescompressão simples ouque têm diagnósticopréviodehipertensãosãoosquemenos apresen-tammelhoriadadoroudaqualidadedevida.Outrastécnicas operatóriasemdesenvolvimentopodemmelhoraraindamais esseparadigma,porémaindasãonecessáriosnovosestudos clínicoslongitudinaiseprospectivos paramelhoravaliac¸ão dosdesfechos eeventuaiscomplicac¸ões.Osestudosatuais mostram poucadiferenc¸aestatísticanodesfechode dorou disfunc¸ãoquandocomparadoscomosprocedimentosde dis-cectomia com fusão e discectomia com artroplastia, com vistas amanter a mobilidadedosegmento.23–25 Novas for-mas de avaliac¸ãodo desfecho e questionários também se encontramemdesenvolvimentoevalidac¸ãoparaquesejam alcanc¸adasconclusõescadavezmaisprecisasacercadedados subjetivoseindividuais,emvezdacomparac¸ãorasade resul-tadosradiográficosquepodemnãoexpressarcomfidelidade asatisfac¸ãodopaciente.26
Limitac¸ões
do
estudo
Virtudes
do
estudo
A facilidade do acesso ao banco de dados de prontuá-rios,deformaanônima paraopaciente,comquestionários previamente preenchidospela equipe deenfermagem, nos possibilitatomarconclusõesadequadamentesegurasparase escreverumtrabalhodecoortehistóricocomoopresente.Os resultadospodemauxiliarnapredic¸ãodemelhoresresultados emlongoprazoapartirdedadosdemográficos,oquedeveser associadoàexperiênciadocirurgião.
Conclusão
Naamostraestudada,ohábitodefumar,odiagnósticoprévio de diabete ou o número de níveis de artrodese não influ-enciam no prognóstico da cirurgia da coluna cervical,nos quesitosde dor,qualidade devidaedisfunc¸ão.Em contra-partida,pacientescomhipertensãoforammenosbeneficiados emrelac¸ão àdoreàdisfunc¸ão.Alémdisso, pacientescom sobrepeso,definidoporIMCmaiordoque25kg/m2,não
obti-verammelhoriatãosignificativadadisfunc¸ãoquantoaqueles comIMCmenordoque25kg/cm2. Ospacientesqueforam
submetidosàdiscectomiacomartrodese obtiveram melho-resresultadosdoescorededorapós12mesesdoqueaqueles submetidosapenasàdiscetomiasimples.Portanto,os paci-entesnãohipertensos,comIMCmenordoque25kg/cm2 e
submetidosàartrodesecombinadaàdiscectomiaparecemser maisbeneficiadoscom oprocedimentocirúrgicodadoenc¸a degenerativadacolunacervical.
Conflitos
de
interesse
Osautoresdeclaramnãohaverconflitosdeinteresse.
Agradecimentos
ÀequipedoNúcleodeApoioaoPesquisador(NAP)danossa instituic¸ãopelaanáliseestatísticadosdadoseprestatividade.
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