• Nenhum resultado encontrado

Mana vol.10 número1

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2018

Share "Mana vol.10 número1"

Copied!
18
0
0

Texto

(1)

H e re b y it is m an ife st, th at d u rin g th e tim e m e n liv e w ith ou t a com m on p ow e r to k e e p th e m all in aw e , th e y are in th at con d ition w h ich is calle d w arre ; an d su ch a w arre , is of e v e ry m an ag ain st e v e ry m an (H ob b e s 1975 [1651]:64).

Introdução

Q u a n d o d e i in ício a o m e u tra b a lh o d e ca m p o n os An d e s colom b ia n os, p re -te n d ia e stu d a r form a s d e violê n cia org a n iza d a : os n a rcotra fica n -te s, a g u e rrilh a , o p róp rio Esta d o colom b ia n o. A ocorrê n cia , n o p a ssa d o, d e u m a re -b e liã o ca m p on e sa -b e m -su ce d id a , q u e e xp u lsou os a n tig os p rop rie tá rios d e te rra d a re g iã o, fa la va n os, su p osta m e n te , d e solid a rie d a d e ca m p on e sa . N a d a p re ssa g ia va m e u e n con tro com a s vin g a n ça s d e sa n g u e e n tre fa -m ília s d e ca -m p on e se s q u e se -m a ta va -m u -m a s à s ou tra s, a té o e xte r-m ín io.

N e ste a rtig o, te n to re fle tir, p or m e io d a ob se rva çã o d e u m g ru p o fa m ilia r e sp e cífico e d a d e scriçã o d e su a s p rin cip a is a tivid a d e s, sob re a re -le vâ n cia p a rticu la r d a violê n cia1e n tre p e ssoa s d e u m m e sm o e stra to

so-cia l ca m p on ê s e m u m a com u n id a d e ru ra l d o a ltip la n o cu n d ib oya ce n se . N e sta com u n id a d e , a q u e vou m e re fe rir a q u i com o N óm e q u e , situ a d a a o p é d o Pá ra m o d e Su m a p a z*, d e se n volvi d u ra n te ca torze m e se s u m a p e s-q u isa a n trop ológ ica b a se a d a p rin cip a lm e n te n o m é tod o d a ob se rva çã o p a rticip a n te .

EN TRE GALOS E MATADOUROS:

VIOLÊN CIA, VIDA SOCIAL E FAMÍLIA

EM UMA COMUN IDADE CAMPON ESA

DO SUMAPAZ

Sa n t ia g o A lv a r e z

*O Su m a p a z é u m a re g iã o situ a d a n os An d e s orie n ta is, a o su l d a ca p ita l Bog otá , n o d e p a rta m e n to d a C u n d im a rca ; cu n d ib oy ace n s e re fe re se p rova ve lm e n te à re g iã o fron te iriça e n tre os d e p a rta

(2)

Te n d o e m con ta os a n te ce d e n te s d a lu ta ca m p on e sa n a re g iã o, d e s-critos, e n tre ou tros, p or M a ru la n d a (1991:74) e Lon d oñ o (1993:58-59), u m a s d a s a lte rn a tiva s q u e se m e a p re se n ta va m e ra foca liza r a a n á lise n os con flitos d o ca m p e sin a to com ou tra s cla sse s socia is e com o Esta d o n a -cion a l. Este s, se n os a te m os a os e stu d os h istóricos m e n -cion a d os, p a re ce m te r e sta d o n o ce n tro d a p rob le m á tica re g ion a l n o p e ríod o d a colon iza çã o ca m p on e sa e d u ra n te a s lu ta s a g rá ria s q u e tive ra m com o con se q ü ê n cia o d e sm a n te la m e n to d a s g ra n d e s fa ze n d a s e a d ivisã o d a te rra . Ta l foco e sta ria e m con cord â n cia com a m a ioria d a s a n á lise s d o ca m p e sin a to n a re g iã o a n d in a , b a se a d a s p re fe re n cia lm e n te n a in ve stig a çã o d a s “ e stra té -g ia s ca m p on e sa s d e sob re vivê n cia ” (ve r Ste rn 1990:15) e su a re la çã o com os m ovim e n tos p olíticos loca is e n a cion a is.

Em b ora e u con sid e ra sse q u e o m om e n to d a “ re b e liã o ca m p on e sa ” — ob je to clá ssico d os e stu d os sob re o ca m p e sin a to n os a n os 60 — se h a via e n ce rra d o ou se e n con tra va e m e sta d o la te n te , p e n sa va a in d a q u e o ce n -tro d e m in h a in ve stig a çã o p u d e sse con sistir n o e stu d o d a “ re sistê n cia ca m p on e sa ” , d a s “ a rm a s d os fra cos” (tom a n d o-se d e e m p ré stim o o fe liz títu lo d e J a m e s Scott) e d e su a re la çã o com u m m ovim e n to g u e rrilh e iro d e ca rá te r “ d e fe n siv o” q u e , in se rid o n a com u n id a d e ca m p on e sa , a p rote -g ia d a s a m e a ça s d e ou tros a tore s socia is.

Pa ra Scott (1985:29), a ssim com o p a ra ou tros (Ad a s 1979; H ob sb a w m 1983; Isa a cm a n 1980), ce rta s form a s cotid ia n a s d e re sistê n cia — d im in u i-çã o d o ritm o d e tra b a lh o, sa b ota g e m , rou b o e tc. — e ra m e xp re ssõe s d e u m a lu ta d e cla sse ca m p on e sa cu jo ob je tivo n ã o e ra a re b e liã o ou a re vo-lu çã o, m a s q u e , n o e n ta n to, a ta ca va m e a lfin e ta va m a s re la çõe s d e p od e r e xiste n te s.

C on tra m in h a s e xp e cta tiva s, p oré m , e le va n d o e m con sid e ra çã o o fa to d e q u e N óm e q u e se e n con tra va e m u m a zon a d e con flito e n tre o Es-ta d o e a g u e rrilh a , u m a ve z e m ca m p o n ã o p u d e d e ixa r d e re g istra r a e n orm e re le vâ n cia d o fe n ôm e n o q u e Isa a cm a n d e n om in a “ d isse n sã o in te rn a ” (1980:1556), p e lo q u e m e re firo a os con flitos e xiste n te s n o in te -rior d a com u n id a d e . O g ra u d e te n sã o e o n íve l d e a g re ssã o n o se io d e sta se re ve la ra m a lta m e n te sig n ifica tivos. G ra ve s con flitos e n tre fa m ília s sã o siste m a tica m e n te re solvid os p or m e io d a vin g a n ça d e sa n g u e . Em N óm e -q u e , sã o n u m e rosos os e xe m p los d e e n fre n ta m e n tos e n tre fa m ília s in im i-g a s q u e re su lta ra m n o q u a se tota l a n iq u ila m e n to d e se u s m e m b ros m a s-cu lin os. Essa s e xp e riê n cia s se con se rva m tra u m a tica m e n te n a m e m ória cole tiva d os m ora d ore s2. A violê n cia re cíp roca q u e a fe ta a com u n id a d e

(3)

A fa m ília e xte n sa é o g ru p o m ín im o e m q u e se e xp re ssa a solid a rie -d a -d e socia l e q u e p a rticip a a tiva m e n te -d a vin g a n ça . N o ca so -d a s fa m ília s e stu d a d a s e m N óm e q u e , e ssa solid a rie d a d e , q u a n d o se tra ta d e ve n d e -ta s, se lim i-ta va a os irm ã os, m e ios-irm ã os e , m a is e xce p cion a lm e n te , p ri-m os irri-m ã os3. As re d e s socia is loca is sã o b a sta n te frou xa s, e a trib u ise p ou

ca im p ortâ n cia à in stitu içã o d o com p a d rio com o cria d ora d e la ços d u rá -ve is — com e fe ito, e m a lg u n s ca sos a s fa m ília s e m con flito m a n tin h a m vín cu los d e com p a d rio e n tre si. Du ra n te m e u tra b a lh o d e ca m p o, a s fa m ília s e n volvid a s e m vin g a n ça s vivia m su a vid a n a com u n id a d e se m se -re m p e rse g u id a s ou q u e stion a d a s p or q u a lq u e r a u torid a d e e sta ta l, e m b ora ca ib a e scla re ce r q u e , n e sse p e ríod o, a d e le g a cia d e p olícia foora a b a n d on a d a a p ós u m a ta q u e g u e rrilh e iro q u e a d e stru iu com p le ta m e n te , m a ta n d o vá rios d e se u s d e fe n sore s. Este fa to re força va a in e ficá cia d o siste -m a le g a l.

J a cob Bla ck -M ich a u d , e m Fe u d in g socie tie s, m ostra q u e , p a ra a lé m

d a s su tis d istin çõe s q u e se p ossa m e sta b e le ce r e n tre a vin g a n ça p rop ria -m e n te d ita e o fe u d — b a sica m e n te , a o con trá rio d e ste ú ltim o, a vin g a n

ça se ria in d iscrim in a d a e n ã o a d m itiria com p e n sa çã o —, a m b os e stã o in -te rcon e cta d os e su a s d ife re n ça s d e sa p a re ce m n a s p rá tica s d os a tore s (Bla ck M ich a u d 1975:1920). N e ste ca so p a rticu la r, p re firo fa la r e m vin -g a n ça d e sa n -g u e ou ve n d e ta . En con tre i e m ou tros ca sos q u e e stu d e i u m a te n ta tiva d a g u e rrilh a d e m e d ia r a s p a rte s, visa n d o p ôr te rm o, a o m e n os te m p ora ria m e n te , a os con flitos, o q u e os a p roxim a ria d a d e fin içã o d e fe u d

(ve r Bla ck -M ich a u d 1975:17) — e m b ora se ja n e ce ssá rio d ize r q u e e ssa s te n ta tiva s n ã o fora m p a rticu la rm e n te e fe tiva s, re ve la n d o-se in ca p a ze s d e con trola r a s ve n d e ta s ou d e re g u la m e n tá -la s (ve r Alva re z 1999).

A ve n d e ta n ã o é a ú n ica form a d e violê n cia ve rifica d a n a com u n id a -d e , m a s con si-d e ro q u e se u e stu -d o, e m p re e n -d i-d o -d e u m a p e rsp e ctiva -d istin ta , p od e forn e ce r e le m e n tos sig n ifica tivos p a ra su g e rir q u e , sob os con -flitos q u e m on op oliza m a s p e sq u isa s e os d iscu rsos oficia is sob re a p rb le m á tica d a violê n cia , su rb ja z n a com u n id a d e ca m p on e sa u m a con flitu o-sid a d e in te rn a q u e m e re ce se r ob je to d e in ve stig a çã o.

Os Casares, açougue e matadouro

(4)

aci-lou e caiu o sob e rb o an im al e n tre os g ritos d a ch u sm a q u e p roclam av a M atase te v e n ce d or e lh e ad ju d icav a com o p rê m io o m atafom e . M aatase te e ste n -d e u , org u lh oso, p e la se g u n -d a v e z , o b raço e a faca e n san g ü e n td a e se ag a-ch ou p ara e sfolá-lo com ou tros com p an h e iros (Ea-ch e ve rría 1993 [1851]:85).

O s C a sa re s sã o u m a fa m ília com p osta , h oje , p e la m ã e viú va e cin co filh os h om e n s. J u n tos, tra b a lh a m u m a “ fam a” (a çou g u e ). Trê s d os irm ã os C a sa re s m a n tê m re la çõe s e stá ve is com m u lh e re s com a s q u a is coa b ita m , n a m a ioria d os ca sos, d e sd e q u e tive ra m filh os e m com u m . Su a s re la çõe s com a s re sp e ctiva s e sp osa s, e m b ora m a rca d a s p or m a u s-tra tos e b rig a s, n ã o d ife re m su b sta n cia lm e n te d a s re la çõe s h a b itu a is e n tre os m e m b ros d os d ois se xos ca ra cte rística s d o g ru p o fa m ilia r n a com u n id a d e a n a lisa d a (g ru p o n o q u a l o h om e m q u e , a o m e n os se m a n a lm e n te , volta b ê b a d o p a ra ca sa ta rd e d a n oite e b a te n a m u lh e r con stitu i a n orm a e n ã o a e xce çã o).

O e ixo d a fa m ília n a re g iã o é a m ã e . É e la q u e se re sp on sa b iliza p e la cria çã o d os filh os, e n q u a n to o p a i, g e ra lm e n te , se d e sp re ocu p a d a ta re fa . Essa m a trifoca lid a d e se e xp rim e e m u m a fa m ília com o a d os C a sa -re s, com p osta p or irm ã os h om e n s q u e ce rca m a m ã e . O p a i e u m irm ã o m a is n ovo m orre ra m tra g ica m e n te h á a p e n a s u m a n o, com o se rá op ortu -n a m e -n te e xp lica d o. A situ a çã o e co-n ôm ica d a fa m ília é b a sta -n te p re cá ria . Alu g a m o a çou g u e , a ssim com o ta m b é m a ca sa on d e m ora m . Existe u m a a ce n tu a d a d ife re n ça d e id a d e e n tre o m a is ve lh o d os irm ã os, d e u n s 40 a n os, e o m a is n ovo, q u e n ã o ch e g a a os 18. N e n h u m d e le s cu rsou m a is q u e os e stu d os p rim á rios.

(5)

O a çou g u e e m q u e os C a sa re s tra b a lh a m é u m loca l p e q u e n o, d e u n s se te m e tros d e com p rim e n to p or u n s q u a tro d e la rg u ra , on d e se ve n d e ca rn e q u a se tod os os d ia s, à e xce çã o d a s se g u n d a sfe ira s e d e a lg u n s fe ria d os. N o a çou g u e , a ca rn e é e xp osta e d e p e n d u ra d a e m g ra n d e s g a n -ch os. N a com u n id a d e , con stitu i q u a se u m lu g a r-com u m a com p a ra çã o d e su a s a tivid a d e s com o a çou g u e iros com a su a p a rticip a çã o e m a çõe s vio-le n ta s. Um a vizin h a m a n ife sta va se u te rror a o ve r “ e sse s g ra n d a lh õe s m a n e ja n d o e ssa s fa ca s e n orm e s, corta n d o ca rn e ” . O sa n g u e d e rra m a d o n o a çou g u e é com p a ra d o a o sa n g u e d e rra m a d o n a s vin g a n ça s.

O m a ta d ou ro d a com u n id a d e é u m a con stru çã o d e p la n ta b a ixa d e u n s vin te m e tros d e com p rim e n to p or cin co d e la rg u ra ; d o la d o d e fora , fica m os cu rra is on d e os b ois e sp e ra m su a ve z d e se re m sa crifica d os. N e -le se ria p ossíve l ca rn e a r a o m e sm o te m p o u m a s q u a tro re se s, ca so fosse n e ce ssá rio. Às q u in ta s-fe ira s, os a çou g u e s p re p a ra m a ca rn e p a ra ve n d e r à s se xta s e , e sp e cia lm e n te , a os sá b a d os, d ia d o m e rca d o. O s e n ca rre g a -d os -d a li-d a sã o g e ra lm e n te os e m p re g a -d os -d os a çou g u e s ou os p róp rios a çou g u e iros q u a n d o n ã o p ossu e m p e ssoa l e m p re g a d o. N o ca so p a rticu -la r d os C a sa re s, e le s m e sm os se e n ca rre g a m d e lid a r com o g a d o.

O m a ta d or, a u xilia d o p or a lg u n s com p a n h e iros, d e ve fa ze r o a n im a l e n tra r n o m a ta d ou ro, a m a rra r su a ca b e ça e su a s p a ta s e m a rg ola s d e fe r-ro coloca d a s n o ch ã o e , fa ze n d o u so d e su a h a b ilid a d e e força física , d om in a r o a n iom a l e toom b á lo p a ra p od e r e om se g u id a om a n ie tá lo coom p le ta -m e n te e -m a tá -lo. Pa ra ta l, fa z-lh e u -m a in cisã o n o p e scoço p rocu ra n d o a ju g u la r, d a q u a l b rota im e d ia ta m e n te u m g ra n d e jorro d e sa n g u e , q u e é d e p osita d o e m u m b a ld e — e sse sa n g u e é d e p ois ve n d id o p a ra o con su -m o. E-m ce rca d e cin co -m in u tos, o a n i-m a l fica d e ssa n g ra d o e , a p ós ve rifi-ca r q u e e ste já n ã o re a g e , o a çou g u e iro com e ça a re tira r-lh e o cou ro p a ra log o d e sm e m b rá -lo e e ve n trá -lo. Alg u m a s m u lh e re s, a com p a n h a d a s d e cria n ça s, se e n ca rre g a m d e corta r e la va r a s vísce ra s d o a n im a l.

(6)

sé cu lo XIX, d e Este b a n Ech e ve rría (1993 [1851]), q u e n os a p re se n ta u m m a ta d ou ro p ovoa d o p or se re s d e g ra d a d os p e la in se n sib ilid a d e , tra n sfor-m a d os e sfor-m sfor-m a ssa a sfor-m orfa se sfor-m in d ivid u a lid a d e q u e a ca b a sfor-m sfor-m a ta n d o u sfor-m d issid e n te p olítico d a m e sm a form a q u e se m a ta o g a d o.

O tra b a lh o d e M a ría Victoria Urib e , M atar, re m atar y con tram atar

(1978), fa z re fe rê n cia à s m u tila çõe s in flig id a s a os ca d á ve re s d a s vítim a s d a violê n cia p olítica q u e fla g e lou o Tolim a n * d u ra n te os a n os 50. Este s corte s tin h a m u m con te ú d o sim b ólico; im p rim ia m u m a m e n sa g e m d e te r-ror, u tiliza d o p a ra e xe rce r u m con trole socia l d e te rm in a d o e m u m m o-m e n to d e con vu lsã o p olítica . As o-m u tila çõe s a p re se n ta va o-m ca ra cte rística s sim ila re s a os corte s q u e se fa z n o g a d o e m d ive rsa s ta re fa s ru ra is (ca stra -çã o, e sq u a rte ja m e n to e tc.). Se g u n d o a a u tora , a s p e ssoa s q u e m u tila va m os ca d á ve re s d e su a s vítim a s e ra m a s m e sm a s q u e se re la cion a va m vio-le n ta m e n te com o m u n d o a n im a l. A re la çã o viovio-le n ta q u e im p e ra e n tre o ca m p on ê s e a n a tu re za q u e e le d e ve d om in a r (situ a d a a lé m d a s con h e ci-d a s ici-d e a liza çõe s cita ci-d in a s ci-d a vici-d a b u cólica ) se ci-d e sloca p a ra a re la çã o ví-tim a -a lg oz — d e sloca m e n to, é ce rto, q u e n ã o é d ire to n e m a u tom á tico, p ois ob via m e n te n e m tod os a q u e le s q u e d e se m p e n h a m ta re fa s n a s q u a is se e xe rce violê n cia sob re a n im a is e xe rce m violê n cia sob re p e ssoa s. Por ou tro la d o, é n e ce ssá rio e scla re ce r q u e os C a sa re s com e te ra m h om icíd ios con tra os Ra m a llo, m a s n ã o m u tila va m su a s vítim a s. Em tod o ca so, p ro-p on h o-m e a a firm a r q u e a form a com o ce rta s ro-p e ssoa s d o m u n d o ru ra l e xe rce m violê n cia con tra ou tros h om e n s e stá im p re g n a d a d e costu m e s e u sos q u e se d e se n volve m n o d om ín io viole n to sob re os a n im a is.

As brigas de galos

Pare ce -m e q u e e u o e stiv e ra v e n d o q u an d o saiu com o g alo d e b aix o d o b ra-ço. A d v e rti-lh e q u e n ão fosse p rocu rar u m a d e sg raça n o g alin h e iro e e le m e m ostrou os d e n te s e m e d isse : cala-te q u e n e sta tard e v am os n os e n ch e r d e cob re s (G a b rie l G a rcía M á rq u e z 1972).

O s C a sa re s tê m u m p a ssa te m p o e u m a p a ixã o: a s b rig a s d e g a los. Pa rticip a m d e la s com b in a n d o, à s ve ze s, su a s a p osta s com a s d e Wa lte r, q u e ta m b é m lid a com re se s n o m a ta d ou ro. Wa lte r d e d ica a m a ior p a rte d e se u te m p o livre à cria çã o e p re p a ra çã o d e g a los d e b rig a . “ O s g a los

(7)

p a ra m im sã o tu d o, sã o m a is im p orta n te s q u e a s m u lh e re s” . J u n to com e le e stá se m p re Rica rd o, se u com p a n h e iro in se p a rá ve l, “ o tolim e n se ” , u m a m i-g o d e u n s 40 a n os q u e e n sin ou a e le vá rios tru q u e s n a a rte d e p re p a ra r g a los. Rica rd o tra b a lh a e m u m a p a d a ria . O s C a sa re s e ou tros a m ig os a com p a n h a m e sse s d ois e m su a s a ve n tu ra s, e m p re sta n d o a e le s se u s g a -los p a ra p ô--los n a rin h a ou a p osta n d o n os g a -los d e le s e m su a s b rig a s.

Existe m d ois rin h a d e iros n a com u n id a d e . Um se e n con tra n o b a irro m a is p ob re , ch a m a d o “ Sim ón Bolíva r” , u m b a irro op e rá rio ta m b é m co-n h e cid o, m a is ico-n form a lm e co-n te , com o “ b a irro ch ico-n ê s” . Tra ta -se d o m e lh or rin h a d e iro. É u m re cin to circu la r com trib u n a s on d e p od e m a com od a r-se a té oite n ta e sp e cta d ore s. Possu i u m re lóg io p a ra d e fin ir e xa ta m e n te a d u ra çã o d a s b rig a s, e o ju iz q u e se fa z p re se n te te m u m a sp e cto q u a se p rofission a l. Sã o ta m b é m a li m a iore s a s a p osta s, a ssim com o a q u a n tid a d e e q u a lid a d e d os g a los q u e se a p re se n ta m . O ou tro rin h a d e iro se loca -liza e m u m a á re a ig u a lm e n te m a rg in a l d a p ovoa çã o, e n tre u m g ru p o d e ca sa s q u e se g u e m o cu rso d e u n s ria ch os q u e p a ssa m p e la vila . Esse ri-n h a d e iro p ossu i, a p roxim a d a m e ri-n te , m e ta d e d a ca p a cid a d e d o p rim e iro e é m e n os con corrid o. As b rig a s re a liza m -se g e ra lm e n te a os d om in g os, a lte rn a n d ose e n tre os d ois rin h a d e iros, d e m od o q u e h á a tivid a d e e m ca -d a u m -d e q u in ze e m q u in ze -d ia s.

(8)

-rie d a d e é , com o te n to e xp lica r, e sse n cia lm e n te fle xíve l e , la m e n ta ve lm e n te , só se e xp rilm e e lm op osiçã o a ou tros, n a con tra p osiçã o e n tre d ife -re n te s g ru p os d e a p osta d o-re s. Essa form a d e a p osta , e m q u e a s -re la çõe s p e ssoa is e a le a ld a d e e n tre g ru p os tê m m a is im p ortâ n cia q u e o lu cro, p os-su i ób via s se m e lh a n ça s com a a p osta ce n tra l d e scrita n o a rtig o clá ssico d e C lifford G e e rtz a p rop ósito d a s b rig a s d e g a los e m Ba li (G e e rtz 1997: 349). G e e rtz re fe re -se a li a d ois tip os d e a p osta s: a a p osta ce n tra l, e n tre os a tore s p rin cip a is, q u e é cole tiva e e n volve coa lisõe s d e a p osta d ore s re u n id os e m torn o d o d on o d o g a lo (n a s q u a is se fa z n e ce ssá rio a p osta r e m u m d e te rm in a d o g a lo q u a n d o a re d e d e re la çõe s socia is e m q u e a p e s-soa e stá in se rid a a ssim o e xig e , in d e p e n d e n te m e n te d a e xp e cta tiva d e vitória ), e a s a p osta s p e rifé rica s, q u e se re a liza m se p a ra d a m e n te e n tre e sp e cta d ore s q u e p rocu ra m b a sica m e n te o lu cro (G e e rtz 1997:349).

O s C a sa re s, Wa lte r e Rica rd o a ssocia va m -se con sta n te m e n te n a s a p osta s. Rica rd o a rru m a va os g a los d os C a sa re s e e ra q u e m os la n ça va n a a re n a . Isto ocorria se m p re q u e os C a sa re s le va va m u m g a lo p a ra b ri-g a r. Se n ã o a p re se n ta va m ri-g a los, ri-g e ra lm e n te u m d e le s e sta va p re se n te e a p osta va com Rica rd o. N a s ú ltim a s rin h a s q u e p re se n cie i, p oré m , e ssa re la çã o se h a via d e sfe ito, e ca d a g ru p o a p osta va in d e p e n d e n te m e n te .

Te n d ose e m con ta q u e n ã o se re ce b e n e n h u m a g ra tifica çã o e sp e -cia l p a ra a p re se n ta r os g a los n a a re n a , e q u e a o cu sto d e cria r e p re p a ra r os g a los d e ve som a r-se o p a g a m e n to d os se rviços d o ju iz, se a s b rig a s g a -n h a s e a s p e rd id a s fore m e q u iva le -n te s, a som a fi-n a l se ria ze ro. Em b ora os g a lista s se m p re a cre d ite m q u e se u s g a los sã o m e lh ore s q u e os d os ou -tros, e e m b ora e xista m a q u e le s q u e g a n h a m m u ito m a is q u e p e rd e m , com p re e n d e -se im e d ia ta m e n te q u e a a tivid a d e a q u e se d e d ica m com ta n ta p a ixã o n ã o con siste n o m a is re n tá ve l d os n e g ócios.

(9)

Os Casares e a vingança de sangue

A p artir d o m om e n to e m q u e a v iolê n cia in te stin a re ch açad a p e lo sacrifício re v e la lig e iram e n te su a n atu re z a, ap re se n ta-se , com o acab am os d e v e r, sob a form a d e v in g an ça d e san g u e ou ‘b lood fe u d ’, q u e n ão d e se m p e n h a e m n os-so m u n d o m ais q u e u m p ap e l in sig n ifican te ou até n u lo. Talv e z se ja aí on d e con v e n h a p rocu rar a d ife re n ça d as socie d ad e s p rim itiv as, a fatalid ad e e sp e cí-fica d e q u e n os liv ram os e q u e o sacrifício n ão p od e , e v id e n te m e n te , d e scar-tar, m as ap e n as m an te r d e n tro d e ce rtos lim ite s tole ráv e is (G ira rd 1983:14).

N a vila , os C a sa re s sã o cla ssifica d os com o p e ssoa s com a s q u a is é m e lh or n ã o p rovoca r e n fre n ta m e n tos. Em u m a a lte rca çã o, e le s p od e m a p e la r a u m ú ltim o re cu rso: “ n ã o se m e ta m com ig o q u e e stou d isp osto a tu d o” . O d e sa fe to corre o risco d e con tra ir u m in im ig o p a ra tod a a vid a , u m a p e ssoa q u e p od e le va r o e n fre n ta m e n to à s ú ltim a s con se q ü ê n cia s (ou se ja , a o e m p re g o d a violê n cia física con tra e le ou con tra a su a fa m í-lia ) e q u e n ã o e sq u e ce rá a a fron ta .

N ã o é e stra n h o, p orta n to, q u e u m a d a s a firm a çõe s ou vid a vá ria s ve -ze s, e m d ife re n te s con ve rsa s, com d istin ta s p e ssoa s, se ja q u e “ e ssa é u m a vila ca lm a , a q u i n ã o a con te ce n a d a , d e sd e q u e n ã o se te n h a u m in im i-g o” . O q u e é u m in im ii-g o? “ Um in im ii-g o é a li-g u é m q u e e stá se m p re lh e p rocu ra n d o, q u e n ã o lh e p e rm ite fica r tra n q ü ilo p orq u e você sa b e q u e e m a lg u m m om e n to lh e p od e fa ze r m a l” .

C om o se con strói u m in im ig o? “ Q u a n d o se e stá b e b e n d o, ou d u ra n -te u m tra b a lh o, p od e -se d ize r coisa s a a lg u é m q u e o d e sa g ra d e m , e h á p e ssoa s m u ito ra n corista s (sic) q u e n ã o e sq u e ce m e n ã o p e rd oa m ” . O u -tra s ve ze s, “ b rig a -se p or d in h e iro ou p or te rra ou p or m u lh e re s” . Um in i-m ig o roi-m p e a s re g ra s d o jog o socia l, a ssu i-m in d o tod a s a s con se q ü ê n cia s n e g a tiva s q u e p ossa m re ca ir sob re su a p e ssoa , m a s, a o m e sm o te m p o, ob rig a n d o o ou tro a vive r n a in ce rte za e n o p e rig o. Ele d e cid e , p or e le e p or se u s in im ig os, vive r u m a vid a b a se a d a n a in se g u ra n ça . Por e xe m p lo, e m u m p le ito p or te rra s, o in im ig o a b a n d on a rá a d iscu ssã o ju ríd ica e tra -ta rá d e d e cid ir o litíg io a m e d ron -ta n d o ou a g re d in d o fisica m e n te o a d ve r-sá rio ou su a fa m ília .

(10)

A fa m ília C a sa re s, h á p ou co m e n os d e u m a n o, a lu g a va u m a ca sa d os Ra m a llo. N a q u e la é p oca , a re la çã o e n tre e le s e ra con sid e ra d a b oa , e se u s m e m b ros e ra m fre q ü e n te m e n te vistos b e b e n d o ju n tos — u m a d a s form a s sob a s q u a is se e xp re ssa a a m iza d e n a com u n id a d e a n a lisa d a . Pa re ce q u e os C a sa re s a tra sa ra m p or a lg u n s m e se s o p a g a m e n to d o a lu -g u e l. A m ã e Ra m a llo e xi-g iu d e le s o p a -g a m e n to d u ra n te u m a forte d iscu ssã o, q u e te rm in ou e m a m e a ça s e in su ltos. N e sse m om e n to, e ssa m u -lh e r e n tre g ou a u m d e se u s fi-lh os u m a fa ca d e a çou g u e iro e o in citou a m a ta r o p a i C a sa re s. (As m u lh e re s, n e ste e e m ou tros ca sos a n a lisa d os, a p e n a s e xce p cion a lm e n te a g e m d ire ta m e n te n a s a çõe s viole n ta s, a in d a q u e e ste ja m p re se n te s in cita n d o os h om e n s à a çã o e a viva n d o a s ch a m a s d o con flito.) Em lu g a r d o p a i C a sa re s, p oré m , se u filh o m a is n ovo, q u e e sta va p re se n te n a d iscu ssã o, in te rp ôs-se , te n d o m orrid o e sfa q u e a d o.

C om o n a q u e la é p oca o Exé rcito e sta va p re se n te n a á re a , sold a d os p re n d e ra m o a ssa ssin o e su a m ã e , a in d a q u e e sta te n h a sid o lib e ra d a p ou-co te m p o d e p ois. Um d os Ra m a llo, q u e se e n ou-con tra va p re so n o m om e n to d o fe ito e q u e e ra , a d e m a is, m u ito te m id o n a vila , foi solto, voltou p a ra su a ca sa e d e p a rou se com a q u e la situ a çã o. Acu sou os C a sa re s p e lo su -ce d id o e , q u in ze s d ia s d e p ois, d e n oite , h om e n s m a sca ra d os e n tra ra m n a ca sa d os C a sa re s e a ssa ssin a ra m à b a la o p a i.

C e rca d e se is m e se s d e p ois, o p a i Ra m a llo te ve d e com p a re ce r à vila p a ra p a g a r a lg u n s im p ostos. Esta va a com p a n h a d o d e su a filh a d e m a is d e 30 a n os, d e u m a n e ta d e 6 e d e su a m u lh e r. En q u a n to e sta e sp e ra va n a te sou ra ria , se u m a rid o, su a filh a e su a n e ta fora m b u sca r b ole tos d e im p ostos q u e fica ra m n a ca sa a n te riorm e n te a lu g a d a p e los C a sa re s. Pa ra re sg a tá -los, d e ve ria m n e ce ssa ria m e n te p a ssa r e m fre n te a o a çou g u e d e se u s in im ig os. Ao fa zê -lo, fora m p rovoca d os p e los C a sa re s p a ra u m a d icu ssã o fe roz, d u ra n te a q u a l fora m troca d os tod o tip o d e in su ltos (in te re s-sa n te n ota r q u e , a lé m d os vitu p é rios q u e se re fe ria m à d e son e stid a d e d a s re sp e ctiva s m ã e s, a s p e ssoa s q u e p re se n cia ra m o in ício d a d iscu ssã o re -cord a m e sp e cia lm e n te o u so d o e p íte to “p e rros”). Q u a n d o volta ra m a

(11)

Os ritos fúnebres

A ce rim ôn ia fin al, tod av ia, e n v olv e a re afirm ação d a socie d ad e m an ife sta p e lo fim d o lu to e p e la cre n ça d e q u e a alm a foi in corp orad a p e la socie d ad e d os m ortos e asse n tou -se d a m e sm a m an e ira q u e a con sciê n cia cole tiv a d os v iv os foi asse n tad a p e los ritu ais fu n e rários (Bloch e Pa rry 1989:4).

N o e n te rro d e d om N a rciso C a sa re s p od e m -se ve r e le m e n tos p róp rios à m orte d e u m “p ate r fam iliae” a ssa ssin a d o e m con se q ü ê n cia d e u m a sé rie d e a tos d e vin g a n ça . N a ig re ja p a roq u ia l foi re a liza d a u m a m issa p e lo m or-to a ssistid a p or ce rca d e 250 p e ssoa s; m u ita s ou tra s e sp e ra va m d o la d o d e fora . Essa foi a ce rim ôn ia ca tólica p rop ria m e n te d ita , já q u e o p a d re p a rti-cip ou a p e n a s d e la e a litu rg ia re strin g iu -se à ortod oxia . O p a d re a b e n çoou os re stos m orta is n a sa íd a d o te m p lo e , com isso, d e u p or e n ce rra d a su a p a rticip a çã o n o ritu a l. De p ois d a m issa e d a b e n çã o, u m a m u ltid ã o d e a p roxim a d a m e n te oitoce n ta s p e ssoa s a com p a n h ou o corte jo d o fé re tro a té o ce -m ité rio. Por q u e a e xp re ssã o d e solid a rie d a d e foi tã o -m a ciça ? De se n volvi e m ou tro a rtig o a d e scriçã o d os g ra n d e s e n te rros d e h om e n s m ortos vio-le n ta m e n te , a ssocia d os a o cu lto h e róico p e la com u n id a d e (Alva re z 2001:40-43). Ad e m a is, d e ve m os te r e m con ta q u e , n e ste ca so, N óm e q u e con sid e rou os Ra m a llo cu lp a d os, d e ve n d o se u s p a re n te s m a is d ista n te s ju stifica r d e -fe n siva m e n te su a s op in iõe s. Por ou tro la d o, h ou ve u m a p rofu n d a e xp re sã o d e solid a rie d a d e e n tre os m a ta d ore s e a çou g u e iros d a á re a , q u e cu s-te a ra m p a rs-te d os g a stos d o e n s-te rro e , e sp e cia lm e n s-te , p a g a ra m os m ú sicos.

Du ra n te o tra je to a té o ce m ité rio, u m a b a n d a d e m ariach is in te rp re

-tou d ive rsa s ca n çõe s, e n tre e la s “ N in g u é m é e te rn o n o m u n d o” e “A cru z d e m ad e ira” , q u e fa ze m re fe rê n cia à m orte , à con se q ü e n te se p a ra çã o e à

n e ce ssid a d e d e m a n te r vivos a le m b ra n ça e o cu lto d o e n te q u e rid o d e -sa p a re cid o.

O costu m e d e le va r m ariach is a os fu n e ra is n ã o é con sid e ra d o tra d

i-cion a l; su a in trod u çã o é d e d a ta re ce n te . Pa ra a m a ioria , e ssa p rá tica (q u e , n e ssa com u n id a d e , se d á a p e n a s e m e n te rros d e h om e n s) é d e cla ra ori-g e m n arco (n a rcotra fica n te ) e é re se rva d a , d e a cord o com m e u s in for

-m a n te s, a h o-m e n s q u e se d e sta ca ra -m n a co-m u n id a d e ou q u e -m orre ra -m tra g ica m e n te . O s m ariach is fora m ve ta d os re ce n te m e n te p e la Ig re ja C a

-tólica n a s ce rim ôn ia s fú n e b re s d a re g iã o. Se g u n d o ru m ore s, a p roib içã o se d e ve ria à e xp re ssa d isp osiçã o d o b isp o, q u e con sid e ra ria o costu m e com o “ p róp rio d e p a g ã os” .

(12)

a-riach is volta ra m a e n toa r a s m e sm a s ca n çõe s. De p ois, o trom p e tista tocou

a a lvora d a e fe zse u m m in u to d e silê n cio, in te rrom p id o p or u m a a va la n ch a d e solu ços m a jorita ria m e n te fe m in in os q u e a com p a n h a ra m , ru id osa -m e n te , a coloca çã o d o fé re tro n a cova .

Poste riorm e n te , n a sa íd a d o ce m ité rio, os fa m ilia re s e n tre g a ra m a os p re se n te s ce rve ja s e re frig e ra n te s q u e fora m con su m id os p or tod os os p a rticip a n te s. Esta ú ltim a a çã o p od e ria se r con sid e ra d a , d e a cord o com a clá ssica op in iã o d e Du rk h e im (1993) e Rob e rtson Sm ith (1889), com o u m a to d e com e n sa lid a d e . N a q u e le e xa to m om e n to, os p a re n te s d o se xo m a s-cu lin o p róxim os d o m orto se re u n ira m e coch ich a ra m e m voz b a ixa . Um d e le s d isse : “ Isso n ã o p od e fica r a ssim , é a se g u n d a m orte e m u m m ê s” .

O m om e n to d e m a ior solid a rie d a d e socia l coin cid e ta m b é m com a q u e le u tiliza d o p a ra p la n e ja r u m a p ossíve l vin g a n ça . Dois d os m om e n -tos e m q u e a u n id a d e fa m ilia r se e xp re ssa com o ta l, e m q u e se m a n ife sta a e xistê n cia m e sm a d a fa m ília , sã o a vin g a n ça d e sa n g u e e os ritu a is fú n e b re s. Pa ra Du rk h e im (1993), e ssa s d u a s coisa s e stã o d ire ta m e n te re la -cion a d a s. A d or cole tiva le va d a e m a lg u n s ca sos a o p a roxism o n os ritos fú n e b re s p rod u ziria a n e ce ssid a d e d e e xte rioriza r e sse se n tim e n to p or m e io d a vin g a n ça . Am b os form a ria m p a rte d e u m m e sm o m e ca n ism o socia l, e m q u e u m a d e sg ra ça com u m re a viva os se n tim e n tos cole tivos e re -força n os d ois ca sos os la ços socia is. Um a ob se rva çã o d e tid a d a fa m ília C a sa re s p a re ce corrob ora r e sta a firm a çã o. A sé rie d e ve n d e ta s u n iu a fa -m ília q u e p ra tica -m e n te só se -m ove co-m o cole tivo a n te o te -m or d e u -m a re va n ch e . Por ou tro la d o, olh a -se p a ra fora d o círcu lo fa m ilia r com re ce io e d e scon fia n ça . N u n ca se vê u m C a sa re s q u e n ã o e ste ja a com p a n h a d o p or ou tro. G e ra lm e n te , a n d a m e m trê s, d ois n a fre n te e u m a trá s, tod os a rm a d os. Essa situ a çã o, con se q ü ê n cia ób via d a p ossíve l vin g a n ça q u e p a ira sob re su a s ca b e ça s, os con d u z n e ce ssa ria m e n te à u n iã o fa m ilia r e à su a se p a ra çã o d o re sto d a com u n id a d e .

Discussões e conclusões

(13)

fli-to a té su a s ú ltim a s con se q ü ê n cia s, com o u m m e ca n ism o d e fe n sivo d e cla sse . Este se ria a cion a d o p e los q u e , se g u in d o a s re g ra s socia is e le g a is, a ca b a ria m p e rd e d ore s e m q u a lq u e r e n tre d ito e m q u e se visse m con fron -ta d os com p e ssoa s d e m a ior in flu ê n cia , m e lh ore s re la çõe s ou sim p le s-m e n te s-m a ior e d u ca çã o fors-m a l, a s q u a is te rs-m in a ria s-m p or is-m p or se u p on to d e vista . Dia n te d e ssa in fe riorid a d e d e con d içõe s, “ e sta re m d isp ostos a tu d o” lh e s p e rm itiria rom p e r o jog o socia l e a m e a ça r se u s d e sa fe tos, a rrisca n d o tu d o, in clu sive su a s vid a s e a s d e su a s fa m ília s. Su a a titu d e se -ria a ssim a n á log a a o q u e J a m e s Scott ch a m a d e “ a s a rm a s d os fra cos” . Pa ra Scott (1985), a s a rm a s d os fra cos con stitu e m form a s ve la d a s d e lu ta d e cla sse s, à s q u a is u m se tor socia l e m in fe riorid a d e d e con d içõe s d ia n te d os d e m a is (e sp e cia lm e n te e m su a re la çã o com o p od e r e con ôm ico e com o p od e r p olítico) a p e la com o form a d e re sistê n cia . M a s, cu riosa m e n te , n a com u n id a d e a n a lisa d a e sse m e ca n ism o a ca b a se im p on d o e m ca sos d e e n fre n ta m e n to d e p e ssoa s d e con d içõe s socioe con ôm ica s ig u a is ou m u i-to p a re cid a s, com o n o ca so a cim a d e scrii-to d a s fa m ília s C a sa re s e Ra m a l-lo. O u se ja , se a a titu d e re fe rid a con stitu ísse u m m e ca n ism o d e fe n sivo d e cla sse , p or q u e a s p rin cip a is vítim a s se e n con tra m n a m e sm a ca m a d a socia l? N o m e u e n te n d e r, u m a a n á lise d e tid a d a a g re g a çã o e d e sa g re g a -çã o socia l d a com u n id a d e a n a lisa d a q u e , a o m e sm o te m p o, d ê e sp a ço à a u ton om ia d os e le m e n tos cu ltu ra is, fa z-se n e ce ssá ria p a ra e xp lica r com o u m m e ca n ism o socia l d e fe n sivo p od e con ve rte r-se e m u m fa tor d e con fli-to in te rn o.

A a n á lise d a cu ltu ra loca l fa z-m e p e n sa r n a e xistê n cia d e u m se n tid o tid e p e rte n cim e n to fa m ilia r q u e p rotid u z u m a a u toitid e n tifica çã o e m “ fa -ce d o m u n d o” . Pe r-ce b e -se n o in te rior d a fa m ília C a sa re s u m forte se n ti-m e n to d e p e rte n citi-m e n to e solid a rie d a d e q u e con tra sta coti-m u ti-m a re d e d e re la çõe s e xte rn a s fra ca m a n e ja d a com u m a p rofu n d a d e scon fia n ça . N e s-se s-se n tid o, a já m e n cion a d a re la çã o q u e Du rk h e im e sta b e le ce e m A s for-m as e le for-m e n tare s d a v id a re lig iosa e n tre for-m orte -ritos fú n e b re s e ve n d e ta ,

(14)

Pa ra Re n é G ira rd (1982; 1983), o sa crifício, fu n d a m e n to d e tod o o siste m a re lig ioso, con sistiria a p rin cíp io e m u m a violê n cia re a l p a ra d e -p ois se con ve rte r e m violê n cia sim b ólica . Prim e iro, o sa crifício con sistia e m e n tre g a r u m se r h u m a n o e m h oloca u sto; a se g u ir, e ste foi su b stitu íd o p or u m a n im a l, a o q u a l fora m a trib u íd a s ca ra cte rística s d e h u m a n id a d e (e xe m p lo: o cord e iro); e , fin a lm e n te , tra n sform ou se e m u m sa crifício m e -ra m e n te sim b ólico (e xe m p lo: a m issa ). O sa crifício con sistia e m u m a to q u e ca n a liza va os im p u lsos viole n tos d a com u n id a d e p a ra u m a vítim a d e te rm in a d a (o b od e e xp ia tório). A re lig iã o, p ois, p or via d o sa crifício, e sta ria e xorciza n d o a violê n cia com u n itá ria . A vin g a n ça d e sa n g u e , q u e p a ra G ira rd se ria u m a to p róp rio d os p ovos ch a m a d os p rim itivos (in clu i-ria e le , n e sta ca te g oi-ria , o su l d a Itá lia ?), é e vita d a a o con ce n tra r-se a violê n cia e m u m a vítim a d e te rm in a d a . Q u a n d o u m a com u n id a d e n ã o con -se g u e ca n a liza r e s-se s im p u lsos viole n tos, e sta ría m os d ia n te d e u m a “ cri-se sa crificia l” . Se ria e ste o ca so d a com u n id a d e d e N óm e q u e ?

Ve ja m os, e m p rim e iro lu g a r, q u e a se p a ra çã o q u e G ira rd re a liza e n -tre p rim itivos e m od e rn os lh e p e rm ite ob via r o p rob le m a d a e xistê n cia d e socie d a d e s ca m p on e sa s sob o im p a cto d a m od e rn iza çã o (C a lá b ria , Sicília , o a ltip la n o cu n d ib oya ce n se ), n a s q u a is a violê n cia in te rn a é ca ra cte rística e , a in d a m a is g ra ve , ob via r a d iscu ssã o sob re a fu n çã o d a re lig iã o n e ssa s socie d a d e s. C om e fe ito, n a s socie d a d e s m e n cion a d a s, a “ crise sa crificia l” con vive com a ce le b ra çã o con sta n te d o sa crifício d a m issa . G ira rd d iz q u e o sa crifício n ã o e lim in a com p le ta m e n te a violê n cia , m a s a re d u z a lim ite s “ tole rá ve is” , u m a d je tivo q u e a o in vé s d e ilu m in a r a solu çã o d o p rob le m a a ju d a a ob scu re cê -lo a in d a m a is. N e ce ssita ría m os ta lve z e sb oça r u m ín d i-ce d e tole ra b ilid a d e ? Por ca u sa d isso, e m b ora n os e n con tre m os d ia n te d e u m a com u n id a d e “ e n fe rm a ” d o p on to d e vista d e su a coe sã o socia l, a cre -d ita m os q u e a “ crise sa crificia l” n ã o se ja u m a e xp lica çã o p la u síve l p a ra com p re e n d e rm os os fe n ôm e n os e m p a u ta . Se ria n e ce ssá rio a n a lisa r com m a is a te n çã o a p rofu n d a com p le xid a d e d os fe n ôm e n os re lig iosos q u e n ã o se e sg ota m n o sa crifício e , e m p a rticu la r, a s form a s p op u la re s d e re lig iosi-d a iosi-d e p re se n te s n o ca tolicism o ta l com o se iosi-d e se n volve m n a C olôm b ia , on-d e é p ossíve l “re z ar p ara m atar”, q u e r d ize r, ora r solicita n d o à d ivin d a d e

(15)

Existe ou n ã o u m a “ cu ltu ra d a m orte ” com o e le m e n to a u tôn om o q u e in cid e d ire ta m e n te n o com p orta m e n to d a com u n id a d e , con form e d e fe n d e C a rlos Alb e rto Urib e (1988) p a ra a C olôm b ia ? A re a liza çã o d e tra b a -lh os q u e im p lica m u m con sta n te e xe rcício d e violê n cia sob re os a n im a is, a e xp osiçã o a im a g e n s su m a m e n te viole n ta s n o con ta to com e ste s, à s q u a is se te ria d e a g re g a r a s im a g e n s d e m orte e a g re ssã o e n tre h u m a n os a q u e d e sd e p e q u e n a s a s p e ssoa s se vê e m e xp osta s, in flu e m e m se u com -p orta m e n to e m b ru te cid o ou a n im a liza d o? Essa s a titu d e s se re fle te m n a s in tu içõe s d e Ech e ve rría e n o tra b a lh o d e M a ría Victoria Urib e a n te rior-m e n te cita d os. Arior-m b os tra ta rior-m n ã o ta n to d a “an im aliz ação” d o a lg oz, m a s

d a a n im a liza çã o d a vítim a , d e u m p roce sso d e “ n a tu ra liza çã o” m e d ia n te o q u a l e sta ú ltim a se vê d e su m a n iza d a e in te g ra d a à n a tu re za . Se m q u e e u te n h a e n con tra d o e le m e n tos d e a n im a liza çã o tã o con tu n d e n te s com o os corte s re a liza d os n a s vítim a s d u ra n te o p e ríod o d a “ violê n cia ”, p e rm a n e ce o fa to d e q u e os m e m b ros m a scu lin os d a fa m ília a n a lisa d a tra b a lh a m e m u m a m b ie n te d e con ta to a g re ssivo com o m u n d o a n im a l, o a çou -g u e e , e sp e cia lm e n te , o m a ta d ou ro d a vila , e q u e su a p rin cip a l d ive rsã o sã o a s b rig a s d e g a los. C om o vim os, os C a sa re s con sid e ra va m q u e os Ra -m a llo d e via -m -m orre r “ co-m o p e rros”.

Em b ora e sse s e le m e n tos, p or si só, se ja m in su ficie n te s p a ra e sta b e -le ce r a lg u m tip o d e re la çã o ca u sa l d ire ta e n tre a violê n cia e xe rcid a sob re a n im a is e o a ssa ssin a to d e se re s h u m a n os, a tre ve r-m e -ia a a firm a r q u e o a m b ie n te cu ltu ra l d a s p e ssoa s e stu d a d a s, ta n to e m su a s a tivid a d e s la b ora is q u a n to re cre a tiva s, e stá im p re g n a d o d e u m a cu ltu ora viole n ta e ta n á -tica (ou tros e le m e n tos a se le va r e m con ta se ria m a p re se n ça d os m aria-ch is, som a d a a o tip o d e ca n çõe s in te rp re ta d a s, q u e n ã o sã o ou vid a s

so-m e n te n o ce so-m ité rio, so-m a s fa ze so-m p a rte d o re p e rtório loca l, cu ja a n á lise p m e n oriza d a im p lica ria u m n ovo a rtig o). O u tro a sp e cto n ã o m e n os im p orta n te d e ssa cu ltu ra é o fa to d e a m orte viole n orta a ca b a r se n d o con sid e ra -d a u m e le m e n to -d a coti-d ia n i-d a -d e . Ao fim e a o ca b o, m a ta r ou m orre r a sa ssin a d o é a lg o q u e se m p re a con te ce u e p ossive lm e n te a con te ce rá n e s-sa vila .

(16)

“ crise sa crificia l” . A violê n cia e stá p re se n te n a cu ltu ra d a fa m ília e d a com u n id a d e a n a lisa d a ta n to n a form a d a re la çã o a g re ssiva com a n a tu re za com o n a cotid ia n id a d e d o h om icíd io; com o d isse u m ca m p on ê s: “ Se -n ã o, p a ra q u e a s p e ssoa s ca rre g a ria m u m a a rm a ?”

Re ce b id o e m 2 d e d e ze m b ro d e 2002

Ap rova d o e m 3 d e fe ve re iro d e 2004

Tra d u çã o: J org e M a tta r Ville la

Sa n tia g o Alva re z é p rofe ssor d e a n trop olog ia d a Un ive rsid a d e N a cion a l d e Sa n M a rtín . E-m a il: <a lva re sa n tia g o@h otm a il.com >

Not as

1 Existe m d ificu ld a d e s ob je tiva s p a ra se ch e g a r a u m a d e fin içã o in te rcu ltu -ra l sa tisfa tória d o con ce ito d e violê n cia , com o a p on ta Da vid Rich e rs e m Th e an th -rop olog y of v iole n ce (Rich e rs 1986:28). Pre fe ri, p a ra os fin s d e ste tra b a lh o, d e fin ir a violê n cia e m u m se n tid o a m p lo com o “ tod a ação h u m an a q u e e n v olv e a in flic-ção d e lib e rad a d e sofrim e n to sob re ou tros” (M a rvin 1986:121).

2 O s con flitos d e scritos n e ste a rtig o, e n tre ta n to, tive ra m tod os lu g a r n o d e -corre r d a p e sq u isa , te n d o sid o, p orta n to, d ire ta m e n te ob se rva d os.

(17)

Ref erências bibliográf icas

ADAS, M ich a e l. 1979. Pro p h e t s o f re b e llion : m ille n arian p rote st m ov e m e n ts ag ain st th e Eu rop e an colo -n ial ord e r. C h a p e r H ill: U-n ive rsity of N orth C a rolin a Pre ss.

ALVAREZ, Sa n tia g o. 1999. Th e re la tion sh ip b e tw e e n in te rn a lly a n d e xte r n a lly g e n e ra te d viole n ce in a n a n -d e a n m e stizo C olom b ia n com m u n i-ty. Ph . D. Th e sis, Lon d on Sch ool of Econ om ics.

___ . 2001. “ En te rra n d o h e róis, p a tria rca s, su icid a s e tra id ore s: solid a rie -d a -d e e ostra cism o n os An -d e s colo m-b ia n os” . M an a, 7(2):35-55.

BLAC K-M IC H AUD, J a cob . 1975. Fe u d in g socie tie s. O xford : Ba sil Bla ck w e ll.

BLO C H, M a u r ic e e PARRY, J o n a t h a n (e d s.). 1989. De ath an d th e re g e n e r-ation of life . C a m b rid g e : C a m b rid g e Un ive rsity Pre ss.

DURKH EIM, É m ile . 1 9 9 3 . L a s f o rm a s e le m e n ta le s d e la v id a re lig io sa. M a d rid : Alia n za Ed itoria l.

EC H EVERRÍA, Este b a n . 1993 [1851]. El M atad e ro. Pa n a m e rica n a Ed itoria l.

G ARC ÍA M ÁRQ UEZ, G a b r ie l. 1 9 7 2 . El Coron e l n o tie n e q u ie n le e scrib a. Bu e n os Aire s: Ed itoria l Losa d a .

G EERTZ, C lifford . 1997. “ J u e g o p rofu n -d o: n ota s sob re la riñ a -d e g a llos e n Ba li” . In : La in te rp re tación d e las cu ltu ras. Ba rce lon a : G e d isa .

G IRA RD, Re n é . 1 9 8 2 . “ E l m ist e r io d e n u e stro m u n d o” ; “ C la ve s p a ra u n a in te rp re ta ción a n trop ológ ica ” . In : D iá lo g o s c o n J . M . O u g h o u rlia n y G . Le fort. Sa la m a n ca : Ed icion e s Si-g u e m e .

___ . 1983. La v iole n cia y lo sag rad o. Ba rce lon a : Ed itoria l An a g ra m a .

H O BBES, Th om a s. 1975 [1651]. Le v ia -th an . Lon d on : Eve rym a n ’s Lib ra ry.

H O BSBAWM, Eric. 1983 [1969]. R e b e l-d e s p rim itiv os. Ba rce lon a : Arie l.

ISAAC M AN, Alle n . 1980. “ C h ie fs, ru ra l d iffe re n tia tion a n d p e a sa n t p rote st: t h e M o z a m b ic a n fo r c e d c o t t o n r e g im e , 1 9 3 8 - 1 9 6 1 ” . A fric a n Ec o-n om ic H istory , 1(4):15-56.

LO N DO Ñ O, Rocío. 1993. Los n u e v os h a-ce n d ad os d e l S u m ap az . Bog otá .

M ARULAN DA, Elsy. 1991. Colon iz ación y con flicto, las le ccion e s d e l S u m a-p az . Bog otá : Te rce r M u n d o Ed itore s.

M ARVIN, G a rry. 1986. “ H on ou r, in te g ri-t y a n d ri-t h e p r o b le m o f v io le n c e in th e Sp a n ish b u llfig h t” . In : D. Rich -e rs (-e d .), Th e an th rop olog y of v io-le n ce . N e w York : Ba sil Bla ck w e ll.

RIC H ERS, Da vid (e d .). 1986. Th e an th ro-p olog y of v iole n ce . N e w York : Ba sil Bla ck w e ll.

RO BERTSO N SM ITH, W. 1889. Le ctu re s o n th e re lig io n o f th e S e m ite s . Ed im b u rg o: A a n d C Bla ck .

S C O T T, J a m e s. 1985. W e ap on s of th e w e ak : e v e ry d ay form s of p e asan t re -sistan ce . N e w H a ve n / Lon d on : Ya le Un ive rsity Pre ss.

STERN, Ste ve (org .). 1990. Re siste n cia, re b e lión y con cie n cia cam p e sin a e n los A n d e s. Lim a : In stitu to d e Estu -d ios Pe ru a n os.

URIBE, C a rlos Alb e rto. 1988. “ N u e stra cu ltu ra d e la m u e rte ” . Te x to y Con -te x to, 13:53-67, Bog otá .

(18)

Resumo

Este a rtig o d e scre ve a vin g a n ça d e sa n -g u e e n tre p e ssoa s d o m e sm o e stra to so-cia l e m u m a com u n id a d e ca m p on e sa d os An d e s colom b ia n os. Em b ora e sta com u n id a d e e ste ja situ a d a e m u m a zo-n a d e cozo-n flito p olítico e zo-n tre Esta d o e g u e rrilh a , a re le vâ n cia d e su a s d isse n -sõe s in te rn a s é ta l q u e o ob se rva d or n ã o p od e e xim ir-se d e re g istrá -la s. G ra ve s con flitos e n tre fa m ília s d e se n ca d e ia m sé rie s d e a tos d e vin g a n ça q u e fre q ü e n -te m e n -te con d u ze m a o a n iq u ila m e n to d os m e m b ros m a scu lin os d e sse s g ru -p os. Foca liza n d o u m d e sse s con flitos, d iscu te -se a e xistê n cia d e u m a cu ltu ra d a violê n cia , com o ob je tivo d e in d ica r a n e ce ssid a d e d e le va r e m con ta a con flitu osid a d e in te rn a su b ja ce n te a os fe n ôm e n os d e re sistê n cia ou re b e liã o ru -ra l q u e d om in a m a s in ve stig a çõe s e os d iscu rsos a p rop ósito d a violê n cia ca m-p on e sa .

Palavras-chave Violê n cia ; Vin g a n ça ; C olôm b ia ; C a m p on e se s

Abst ract

Th is a rticle d e scrib e s b lood re ve n g e b e -tw e e n p e op le of th e sa m e socia l stra ta in a p e a sa n t com m u n ity in th e C olomb ia n An d e s. Eve n th ou g h th is com m u -n ity is loca te d w ith i-n a -n a re a of g u e rrilla w a rfa re a g a in st th e sta te , th e re le -va n ce of its in te rn a l q u a rre ls ca n n ot b e ove rlook e d b y th e ob se rve r. Se riou s h ostility b e tw e e n fa m ilie s p rovok e s a cts of re ve n g e th a t fre q u e n tly le a d to th e a n n ih ila tion of th e m a le m e m b e rs of th e se g rou p s. Focu ssin g on on e su ch con flict, th e e xiste n ce of a cu ltu re of vi-ole n ce is d iscu sse d , in ord e r to illu stra te th e n e e d to ta k e in to a ccou n t th e in te r-n a l a r-n ta g or-n ism th a t coe xists w ith th e p h e n om e n a of ru ra l re sista n ce or re b e l-lion th a t d om in a te re se a rch a n d d iscu s-sion on viole n ce a m on g th e p e a sa n ts.

Referências

Documentos relacionados

Ref erências bibliográf icas.. ALVES-SILVA, J ., SAN TO

Tempo de Brasília: etnografando lugares-eventos da polít ica.. Rio de Janeiro:

Poder, hierar- quia e reciprocidade: saúde e harmo- nia ent re os Baniw a do Alt o Rio Ne- gro. Rio de Janeiro: Edit ora Fiocruz (Coleção Saúde dos

Th e social org an iz ation of cu ltu re d iffe re

Rio de Janeiro: Edit ora Fiocruz (Coleção Saúde dos

Esta in clu sã o... Pa

Th e stru ctu re of social action.. En say os sob re m e tod olog ía

M adrid: Consejo Superior de Inves- tigaciones Científicas... O f im da religião: dilemas da liberdade religio- sa no Brasil e