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À unidade da frase refere-se recentemente H Ammann ( Menschliche

No documento Roman Ingarden - A Obra de Arte Literária (páginas 179-182)

127 § 19 Característica geral da fra s e

2 À unidade da frase refere-se recentemente H Ammann ( Menschliche

Rede, vol. II). Esta mera afirmação não é, porém, suficiente enquanto

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É preciso notar: a frase «passa um carro» (1) e a expressão

nominal «um carro passando» (2) não são idênticas na signifi­

cação. Em (2) denomina-se um objecto que exerce determinada actividade, i. é, o factor de direcção nominal refere-se aqui a um objecto que de antemão (a saber: pelo conteúdo material da significação composta) é determinado como «passando». Aqui não se diz que passa, mas o objecto aparece revestido de uma

característica particular que lhe advém da actividade por ele

exercida e em conseqüência do seu exercício. Na frase «passa um carro» o carro não é projectado e denominado pelo nome como já revestido desta característica. Neste caso é meramente projectado e denominado como um «carro» e só porque a acti­ vidade desenvolvida pelo verbo radica nele graças ao factor de direcção verbal a actividade e com ela o próprio sujeito expli­ citam-se na execução desta actividade de modo verbal mas, como se mostrará a seguir, não puramente verbal K

1 Cf. a este respeito Herling, Die Syntax der deutschen Sprache: «N a frase a relação aparece como acontecendo; na palavra, porém, como já acontecida. Em “ a ave voa” a relação acontece realmente; em “ a ave voando” a relação entre voar e a ave é designada como já efectuada.» (cit. por J. Ries, Was ist ein Satz?) Ries acrescenta: «O que a exposição de Herling quer dizer é isto: a frase é o efeito lingüístico de um acto psíquico na sua realização presente, o grupo (reduzido) de palavras é a expressão do resultado de tal acto anteriormente feito. N a frase a asso­ ciação de imagens é, por assim dizer, vivida (ou vivida de novo) como acontecendo nesse momento, enquanto no grupo de palavras é aprendida e apresentada como existindo já concluída na consciência.» (L. c., p. 69.) De modo diferente investiga esta distinção J. Kurytowicz no seu tratado

Les structures fondamentales de la langue: proposition et groupe des mots

(Studia Philosophica, vol. III, Cracovia, 1947). Julgo, porém, que a distinção tem outras raízes. N o segundo volume do meu livro Der Streit um die

Existenz der Welt tentei conceber na sua form a a essência do processo

de modo distinto do objecto (particularmente da coisa) permanente no tempo e verificou-se então que é necessário distinguir o processo enquanto se desenvolve temporalmente à maneira de um todo crescente de fases c enquanto objecto que neste desenvolvimento se constitui (como sujeito de qualidades). Á esta distinção corresponde a que existe entre a frase e o grupo de palavras, em que um nome é associado a um tributo. A frase capta o processo precisamente na sua form a originária de um todo fásico em desenvolvimento, enquanto o grupo de palavras o apreende como um objecto especial. Isto sucede já naturalmente na distinção entre a con­ cepção puramente verbal de «voa» e a nominal de «o voo de...». Pode, naturalmente, perguntar-se se a distinção formal entre o processo como sujeito de qualidades e como um todo fásico em desenvolvimento é origi­ nária, de modo que a distinção entre as formações lingüísticas tratadas c apenas o seu reflexo lingüístico, ou se, ao contrário, tal distinção é intencionalmente introduzida no ente através das diversas produções lin­ güísticas. Isto é um problem a que ultrapassa amplamente o nosso tema.

A função agora descrita do verbo finito na frase analisada esclarece a estrutura do conteúdo de sentido desta frase, mas apenas desde o ponto de vista do verbo na forma predicativa. É possível também elucidar a mesma situação desde o ponto de vista do nome «um carro»: neste caso não é um mero nome, mas funciona como sujeito da frase. Isto significa duas coisas: 1) O nome não só denomina um objecto, mas capta-o ao mesmo tempo como algo que é portador quer de uma qualidade ainda a atribuir-lhe, quer de uma actividade a exercer (na frase pre­ sentemente analisada trata-se, naturalmente, apenas da segunda modalidade). O nome «prepara», por assim dizer, o objecto denominado para exercer esta função ou outra; e sómente assim «preparado» o objecto pode servir de termo do factor de direc­ ção verbal que o procura. E vice-versa, pode por isso mesmo a actividade desenvolvida pelo verbo finito radicar no objecto. Imaginemos que em lugar do nome aparece urna partícula mera­ mente funcional, p. ex., a palavra «e », de maneira que neste caso a frase seria «e passa». Aqui o factor de direcção verbal, remis­ sivo na sua procura, não encontra precisamente objecto algum susceptível de exercer a respectiva actividade; passa, por assim dizer, diante da forma de ligação estabelecida pela partícula «e » e transcende necessàriamente toda a formação projectada pela expressão «e passa». Por isso mesmo é que esta formação é dependente e a própria expressão se oferece como uma parte que pretende ser completada por algo. 2) O nome que ocupa o lugar do sujeito da frase funciona simultáneamente como o factor de significação que satisfaz a necessidade de complemento do verbo na forma predicativa. Possibilita ao factor de direcção verbal, que procura remetendo e, quando isolado, é potencial, actualizar-se e fundir-se com o seu próprio factor de direcção nominal. Assim, torna também possível ao verbo finito exercer sobretudo a função de explicitar a actividade enquanto prove­

niente de um sujeito dinâmico.

Pode, portanto, dizer-se que tanto o nome enquanto sujeito da frase como o verbo finito na forma predicativa exercem fun­ ções que — numa expressão figurativa— apenas se esperam mütuamente para, apoiando-se uma à outra, se realizarem ple­ namente e nesta sua actuação não só estabelecerem a unidade do conteúdo de sentido da frase mas também levarem a frase inteira a exercer a função nelas fundada. No exemplo apresen­ tado esta função da frase reside exclusivamente na explicitação

nominal-verbal muito peculiar de uma actividade exercida pelo

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razão que nem em todos os casos se trata do desenvolvimento de uma actividade, como no outro exemplo: «Esta rosa é ver­ melha». O predicado «é vermelha» desempenha aqui a função de atribuição de uma característica K Mas este predicado exerce também a sua função do mesmo modo verbal que o exemplo anteriormente analisado. Explicita o «te r» a característica «ver­ melho» por assim dizer existente no interior de um ob jecto2. O conteúdo formal da expressão «é vermelha» não contém neste caso o momento que projecta a estrutura da actividade, mas outro essencialmente diferente que apreende o «verm elho» na estrutura particular de «pertencer a algo como característica». Em contrapartida, conserva-se a função verbal-predicativa desta expressão. Juntamente com o conteúdo formal do predicado, diferente neste caso, o nome que desempenha a função de sujeito da frase não projecta nenhum portador da actividade, mas um sujeito receptor dessa característica. Precisamente pelo facto de se modificar a função do sujeito da frase conforme o predicado que nela entra se mostra como os elementos do conteúdo de sentido da frase se harmonizam e nesta harmonia formam uma unidade de sentido, de modo que em qualquer caso se exerce a mesma função total da frase, i. é, a de uma explicitação nomi- nal-verbal de uma «relação objectiva» 3.

No documento Roman Ingarden - A Obra de Arte Literária (páginas 179-182)

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