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Em 1931, fui por isso alvo de ataques vindos de todos os lados, pelo menos na Polônia Ficaria satisfeito se esta exigência metodológica

No documento Roman Ingarden - A Obra de Arte Literária (páginas 56-59)

L I Imanência, intuição Tal como nos surgem em Ingarden,

2 Em 1931, fui por isso alvo de ataques vindos de todos os lados, pelo menos na Polônia Ficaria satisfeito se esta exigência metodológica

nem tão-pouco ultrapassadas pelos resultados contidos em outros livros e tratados, de modo a perderem hoje o seu significado. Pelo contrário, creio que este meu livro oferece resultados que excedem quanto outros realizaram neste campo. Oxalá que a situação destas investigações tenha evoluído favoràvelmente a este livro e talvez as reflexões nele contidas se tornem hoje mais acessíveis ao leitor do que o foram no princípio do quarto decênio deste século.

Assim deposito este livro nas mãos do público, esperando que continue a provar a sua utilidade.

Deixei a obra inalterada na sua essência. Apenas nalguns passos tentei adaptar as formulações anteriores com mais pre­ cisão aos factos dados. Por vezes completei o texto com uma ou outra observação. Tenho plena consciência de que este livro seria muito mais acessível e plástico para os investigadores da literatura se eu oferecesse uma série de análises concretas das obras de arte individuais. Contudo, já na primeira redacção tive de renunciar a elas, porque de outro modo o livro ficaria demasiado extenso. Além disto, receei analisar obras de arte concebidas numa língua que me é estranha, porque neste caso fácilmente se é levado a interpretações erradas. Por essas mesmas razões desisti também agora da análise de obras de arte indi­ viduais. Em contrapartida, inseri em vários passos novas refe­ rências literárias e citei as opiniões alheias que pareciam con­ firmar a minha posição em vários problemas particulares. Foram particularmente valiosas para mim as confirmações oriundas de autores que era óbvio não conhecerem o meu livro. Em alguns passos respondi às objecções que me foram feitas no decurso dos anos. Infelizmente, a literatura mais recente só parcialmente foi tomada em consideração, e eu apenas pude obter uma parte reduzida das respectivas publicações.

Por fim, não quero deixar de apresentar os meus melhores agradecimentos ao meu fiel editor, Dr. Hermann Niemeyer, em

Tubingen, por se propor reeditar este livro.

Cracovia, 1959.

Prefácio

As investigações trazidas a público nesta obra têm por tema principal a estrutura fundamental e o modo de ser da obra !::erária e, muito especialmente, da obra de arte literária. Desta pretendem sobretudo focar a estrutura característica e eliminar

¿3. sua concepção as várias confusões que em obras antecedentes

resultaram, por um lado, das tendências psicologísticas, que continuam a ser fortes, e, por outro lado, das considerações de uma teoria geral da arte e da obra de arte. Das primeiras, trato mais pormenorizadamente na primeira parte do presente livro, permitindo-me aqui remeter o leitor para ela. Quanto à teoria zeral da arte, oscilou-se, desde os tempos de Lessing, entre duas concepções antagónicas. Ou aproximou-se demasiado das «artes plásticas» (em primeiro lugar da pintura) a obra literária, e particularmente a obra de arte literária, ou pretendeu-se 1 — se­ guindo o primeiro impulso de Lessing— , como, por ex., Th. A. Meyer, acentuar em demasia o elemento puramente lingüístico da obra literária, negando assim os elementos plásticos da obra de arte literária. Estes dois extremos, a meu ver, resultaram do íacto de se considerar a obra literária sempre como uma reali­ zação unistratificada, enquanto, na realidade, ela é constituída por vários estratos heterogéneos, e de se terem em conta apenas alguns elementos, e sempre diferentes nas diversas teorias, como

unicamente constitutivos. Visto que as minhas considerações

procuram pôr em relevo a estrutura multistratificada e a poli­

fonia, com ela relacionada, como essenciais à obra literária, na

intenção de visar todos os elementos nela existentes, a minha

1 Sobre a história do problema, cf., entre outros, Jonas Cohn, na

Zeitschrift für Aesthetik und Allgemeine Kunstwissenschaft, 1907, n.° 3;

Fora originalmente meu propósito fazer a crítica, nesta nova edição, de algumas teorias apresentadas nos últimos anos. Como, porém, esta edição é uma reimpressão fotomecánica, devo desistir dessa intenção e limitar-me a fazer aqui algumas observações sobre a Teoria da Literatura de René Wellek e Austin Warren, referindo aqueles passos em que René Wellek expressa­ mente menciona o meu liv r o 3.

Há apenas dois passos (a pp. 169 e 175) em que o meu nome aparece no texto da Teoria da Literatura4. O primeiro destes passos refere-se à minha concepção de estratificação da obra de arte literária, não indo além, no fundo, de uma enume­ ração destes estratos. Afirma-se, porém, que eu distingo cinco estratos, e, entre eles, o das qualidades metafísicas. Isto é um erro. É certo que eu tive em conta, entre outras, as qualidades metafísicas, mas nunca as considerei um dos estratos da obra literária. Seria, pois, inteiramente errado se o fizesse. Só rara­ mente aparecem em certos acontecimentos e situações da vida dentro do mundo apresentado. Se constituíssem um estrato da obra deviam pertencer à estrutura fundamental da obra de arte literária e aparecer, como tais, em todas as obras deste género. Não é este, de modo algum, o caso, o que aliás Wellek também nota. Apesar disto, a sua função na obra de arte é muito importante. Estão intimamente relacionadas com o seu valor estético, e foi precisamente esta a razão por que eu tratei das qualidades metafísicas5. Podem também aparecer em obras de outras artes, sobretudo de Música, Pintura, Arquitectura, etc. Nestes casos podem frequentemente depender do modo como eu concebi a «ideia» de obra. A existência de qualidades meta­ físicas não está, portanto, de modo algum ligada ao carácter literário da obra. Se fossem consideradas estrato da obra de arte literária, passariam despercebidas a feição «anatómica» e a

3 A Teoria da Literatura apareceu primeiro em inglês no ano de 1942,

No documento Roman Ingarden - A Obra de Arte Literária (páginas 56-59)

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