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Cf as minhas Questões Essenciais, cap I, § °

No documento Roman Ingarden - A Obra de Arte Literária (páginas 197-200)

147 que lhes é cedida pelos actos de consciência Isto permite às

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ordenado» como t a l1 não pode existir em nenñüm mundo autó­ nomo no seu ser ou real. O cumprimento da ordem efectua-se realizando uma «relação objectiva» (ou uma multiplicidade de relações). Uma vez realizada pode tornar-se o «objecto material» de urna frase afirmativa e relacionar-se com a ordem recebida como sua «execução». Mas o que então se realiza não é «o (que foi) ordenado» como tal, mas sim uma «relação objectiva» cuja realização todavia é conseqüência da obediência de alguém que recebeu, e entendeu a ordem. A «relação objectiva» realizada não tem em si própria um carácter especial de imperativo e distingue-se, portanto, do «ordenado» como tal a que esse carác­ ter é essencial. Não há característica alguma com «form a de imperativo» que pudesse distinguir uma «relação objectiva» real

independentemente de todas as intenções da consciência ou da

frase. Pertence ao sentido do imperativo que aquilo que por ele é ordenado ainda não exista mas se tenha «de realizar». O «ordenado» como tal é um «ter de se realizar» relativamente ao imperativo e, na realidade, nada há que exista e simultánea­ mente se tenha apenas «de realizar». Assim, o «ordenado» como tal não pode ser efectivamente realizado. É apenas o correlato puramente intencional de uma frase imperativa ou de um acto subjectivo de intenção. Portanto, não há nenhum comportamento de coisas objectivo que exacta e directamente corresponda à frase im perativa2.

1 «O (que foi) ordenado», como tal, deve distinguir-se, por um lado, do «dever» objecti vãmente existente que recai sobre aquele que é obri­ gado a obedecer à ordem dada, por outro, da vivência deste dever e, final­ mente, do correlato puramente intencional desta vivência.

2 Precisamente em casos como o «problem a», o «ordenado», etc., vê-se

com m aior nitidez que os correlatos puramente intencionais das significa­ ções ou das frases não são construções científicas arbitrárias e cómodas, mas devem ser, necessàriamente, reconhecidos e aceites no seu «ser» espe­ cífico. Só agora — quase trinta anos após a publicação deste liv ro — se investiga, sob vários aspectos, o problema do modo de ser de várias objec­ tividades. Assim, em 1958, Etienne Sourriau (que, aliás, em 1943, publicou um livro: Les différents modes d'existence) deu à estampa um tratado sobre o modo de ser do que «se tem de realizar», «de fazer», numa fase essencialmente ampliada. A sua exposição é, indubitàvelmente, interessante e contém várias observações correctas mas falta a toda a reflexão um fundamento ontológico-existencial satisfatório, visto que não foram sufi­ cientemente salientados os momentos existenciais nem os modos de ser. Cf., a este respeito, o vol. I do meu livro D er Streit um die Existenz der

Welt. Fenómeno análogo se regista nos últimos anos nos Estados Unidos

da América. Vários autores descobrem, novamente, problemas do modo de ser, da estrutura e da identidade da obra de arte.

Em resumo: cada frase «tem » pela própria essência um correlato pura e derivadamente intencional, mas só a frases de tipo determinado e especiat é que correspondem comportamentos de coisas objectivamente existentes. Mais adiante convencer-nos- -emos de que mesmo frases que têm a forma de proposições afirmativas podem ser modificadas de tal modo que, ao contrário dos autênticos «juízos», não pretendem incidir sobre um com­ portamento de coisas objectivo.

N o correlato puramente intencional da frase é preciso dis­ tinguir entre o seu conteúdo, a estrutura intencional e o modo de ser — no mesmo sentido, em que esta distinção é necessária em qualquer objectividade puramente intencional. Aqui, a dis­ tinção resulta até muito mais imperiosa do que nos objectos puramente intencionais do simples acto intencional (ou das significações nominais das palavras). Se aqui não se quisesse proceder a essa distinção dever-se-ia admitir que os correlatos puramente intencionais das frases contêm em si momentos con­ traditórios. Por exemplo: o correlato puramente intencional da frase tem — precisamente enquanto intencional— sempre um e o mesmo modo de ser heterónomo. Entretanto, o carácter onto- lógico do conteúdo do correlato puramente intencional de uma frase é diferente conforme se trata de um tipo diferente de frase. Assim, o conteúdo é caracterizado como «existente» numa frase judicativa, como «dúbio» numa frase interrogativa, etc. E até dentro das próprias proposições afirmativas (mais precisamente das «frases judicativas») existem a este respeito diferenças con­ sideráveis e incompatíveis entre si. Aparece, p. ex., no conteúdo do correlato intencional de uma proposição afirmativa categórica o carácter ontológico do ser incondicional e simples; num juízo hipotético, ao contrário, este carácter é inteiramente diferente pois é precisamente o de um ser de uma ou outra maneira

condicionado; num' juízo problemático, por sua vez, é um «ser

provável», um «ser possível», etc. Por outro lado, p. ex., no conteúdo do correlato da frase «Friburgo está situado em Baden» aparece o carácter de um modo especial de ser a que chamamos realidade, enquanto tal carácter de modo algum existe no con­ teúdo do correlato da frase «As diagonais do quadrado cruzam-se em ângulo recto», mas é substituído, se assim se pode dizer, pelo carácter do ser ideal. São todos eles caracteres do ser rigorosamente distintos do carácter do ser intencional e incom­ patíveis com ele. Além disso, o conteúdo do correlato puramente intencional da frase tem uma construção formal que lhe é própria na sua qualidade de correlato de uma frase (no caso da proposição afirmativa é a estrutura particular da «relação

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