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N a primeira fase, Husserl utiliza duas categorias para definir o estético: a presentificação (Vergegenwartigung) e a modificação de neu­

No documento Roman Ingarden - A Obra de Arte Literária (páginas 46-51)

L I Imanência, intuição Tal como nos surgem em Ingarden,

88 N a primeira fase, Husserl utiliza duas categorias para definir o estético: a presentificação (Vergegenwartigung) e a modificação de neu­

tralidade. N a segunda fase guarda só a Neuíralitdtsmodifikation, e a Verge-

lenwartigung desaparece. (Perspectivas da Fenomenología de Husserl), 104-5.

Haveria que m ostrar o parentesco entre a Vergegenwartigung husserliana í a Abbildungsfunktion de Ingarden.

nossa exigência actual de especialização. Lingüística, literatura, estética, lógica, fenomenología, ontologia...

Estará Ingarden definitivamente ultrapassado, ou não será mais acertado ver nele um precursor, sobretudo ao afirmar a necessidade de uma reflexão filosófica sobre lingüística e litera­ tura? O problema fo i posto no início destas considerações

(p. x).

É indiscutível que os bons (o u maus) velhos tempos de Descartes e Newton passaram: um edifício único com vários compartimentos ou a famosa árvore com raízes, tronco e ramos de nomes diferentes. Mas, pela mesma razão, não deveriam pas­ sar também os múltiplos «a lib is» de um positivismo que não cessa de renascer periódicamente das próprias cinzas?

Parece indispensável distinguir hoje (mais do que Ingarden o fez...) três coisas: primeiro, o que é do domínio autónomo de cada ciência e que só p or abstracção se pode separar dos pressu­

postos filosóficos, teológicos ou políticos a que em regra testá ligado. Isto é sobretudo válido numa perspectiva diacrónica. É possível reconstruir a história da matemática, da física ou da lingüística numa síntese, aliás sempre provisória, registando o que, num processo de selecção e sedimentação, o trabalho de séculos fo i acumulando, rejeitando, corrigindo, aperfeiçoando de maneiras várias. (H á épocas de rotura e épocas de continuidade, p or exemplo.)

Em segundo lugar, e aqui pensamos na «ciência que se faz», há que explicitar os pressupostos filosóficos e ideológicos que informam a investigação em cada ciência nas suas várias cor­ rentes, escolas ou tendências. Explicitá-los, assumi-los.

Finalmente, e no respeitante aos sectores que de maneira especial nos interessam: importa criar uma Filosofia da Lingua­ gem (que não dispensa, talvez, uma Filosofia da Lingüística...) e uma Filosofia da Literatura — designação bem mais pertinente do que Teoria da Literatura, reflexão que englobaria esta última e iria. muito mais longe.

Prefácio da segunda edição

Passaram-se mais de trinta anos sobre a redacção deste livro. Entretanto, o mundo sofreu muitas modificações. Se hoje me resolvo a publicar de novo este livro, move-me não só a cir­ cunstância de ele se encontrar esgotado desde há muitos anos, sendo até rara a possibilidade da sua consulta nas bibliotecas, mas também o facto de continuar ainda actual, apesar das enormes transformações que se operaram na atmosfera cultural, e de até nos últimos anos ser alvo de maior consideração do que na altura da sua primeira aparição. Nesse ano de 1930 foi um empreendimento arriscado tentar uma ontologia da obra de arte literária e discutir problemas não só puramente, estru­ turais como ontológico-existenciais, tratando então a obra lite­ rária à luz do problema Idealismo-Realismo. Foi precisamente sob este aspecto que a situação se modificou profundamente nos passados 30 anos. Neste lapso de tempo, tais problemas ou outros que lhes são análogos foram abordados de diversos ângulos e sob vários aspectos, e muitas vezes tratados num espírito muito afim do meu. O interesse por semelhantes pro- blemás aumentou visivelmente não só na Alemanha como ainda noutros países, Se isto se deve à influência do meu livro ou se aconteceu completamente à margem dele, não tem importância de maior. Despertou entretanto a consciência de que os pro­ blemas ontológicos referentes à obra de arte literária não são de modo algum assuntos relativamente isolados da ciência da literatura, mas estão, pelo contrário, intimamente relacionados com as várias questões fundamentais da filosofia: o problema c. pois, formulado no sentido que se ajusta à intenção do presente livro. Deste modo, não ficará a obra isolada no mundo científico como nos inícios da sua existência.

Ao mesmo tempo, quer parecer-me que as suas análises e perspectivas, no que toca a problemas ulteriores, ainda não foram de maneira alguma exploradas em medida satisfatória

posição é irjtermediária entre as duas posições antagónicas. Para evitar a extensão desnecessária do meu livro já volumoso, e ainda para ajudar o leitor a assumir uma atitude pura em relação ao objecto da investigação, desisti de uma vincujação expressa às teorias existentes. Tal vinculação tem normalmente por conseqüência a remissão do leitor para esquemas conceptuáis preexistentes, o que essencialmente dificulta a visão pura das

situações de facto presentes.

Apesar de as minhas investigações terem por tema principal a obra literária, e sobretudo a obra de arte literária, os motivos que, em última análise, me levaram a tratar este tema são de natureza filosófica geral e transcendem amplamente este assunto regional. Estão intimamente relacionados com o problema Idealismo-Realismo, que desde há anos me preocupa. Como tentei demonstrar nas minhas Observações acerca do problema

Idealismo-Realismo \ o conflito entre o «Realism o» e o «Idea­

lismo» abrange vários grupos de problemas muito intrincados que é necessário distinguir e tratar isoladamente antes de se abordar o problema principal metafísico. Em conseqüência disso, há várias vias que nos preparam o acesso a este problema prin­ cipal. Uma delas está relacionada com a tentativa do chamado Idealismo Transcendental de E. Husserl em conceber o mundo real e os seus elementos como objectividades puramente inten­ cionais, que têm o seu fundamento ontológico e a sua razão determinante nas profundidades da pura consciência constitutiva. Para se tomar posição perante esta teoria, elaborada por E. Hus­ serl com extrema subtileza e através da exposição de situações reais sumamente importantes e de difícil captação, é, entre outras coisas, necessário pôr em relevo a estrutura essencial e o modo de ser do objecto puramente intencional, para em seguida exa­ minarmos se as objectividades reais, pela sua própria essência, podem ter essa mesma estrutura e esse mesmo modo de ser. Com este escopo, procurei um objecto cuja intencionalidade pura fosse indubitável e em que pudéssemos estudar as estruturas essenciais e o modo de ser do objecto puramente intencional sem nos submetermos às sugestões resultantes da consideração das objectividades reais. Foi assim que a obra literária se me afigurou ser um objecto de investigação particularmente ade­ quado a este fim. Ao ocupar-me dela mais de perto rasgaram-se-me os problemas específicos da ciência da literatura, e o livro pre­

No documento Roman Ingarden - A Obra de Arte Literária (páginas 46-51)

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