• Nenhum resultado encontrado

Trata-se aqui da universalidade relativa, que se não deve confundir com a universalidade absoluta atrás definida (p 84).

No documento Roman Ingarden - A Obra de Arte Literária (páginas 134-139)

Segunda Parte ESTRUTURAÇÃO

2 Trata-se aqui da universalidade relativa, que se não deve confundir com a universalidade absoluta atrás definida (p 84).

«constantes» do conteúdo material de uma significação nominal da palavra e julgava-se com isto ter esgotado o conteúdo com­ pleto do conceito, o que levou a vários erros consideráveis. O «conteúdo do conceito» foi nestas circunstâncias definido de modo inteiramente absurdo como âmbito das «características comuns» dos objectos abrangidos pelo conceito.

Finalmente, é preciso acentuar que a variabilidade do factor da direcção intencional de um nome está intimamente relacionada com as «variáveis» que aparecem no seu conteúdo material. O factor de direcção é sempre variável quando neste conteúdo haja qualquer «variável» que pertença à definição da natureza individual constitutiva do objecto, caso uma qualidade indivi­ dualizante não seja ao mesmo tempo determinada no conteúdo material por uma função especial do nome composto. É este sempre o caso quando o objecto intencional é percebido através de um momento duplamente dependente da sua natureza, um «esquema», de maneira que a condição anteriormente referida da variabilidade do factor de direcção (cf. pp. 84 e segs.) é equi­ valente à que acaba de ser indicada. Se, ao contrário, o con­ teúdo material de um nome individual deve constar apenas de constantes é um problema que deve aqui ficar em suspenso.

Ad 3) Se a significação nominal da palavra não contivesse nada mais do que o conteúdo material e o factor de direcção intencional, estes, juntos, ainda não poderiam projectar nenhum

objecto e muito em particular nenhum objecto do tipo «coisa

individual». É que faz parte da essência de qualquer objecto realmente ideal ou só intencional possuir não apenas certa multiplicidade de determinações qualitativas do modo de ser, mas ostentar ainda uma estrutura formal característica. E esta estrutura varia conforme se trata de um objecto (de uma «subs­ tância») autónomo no seu ser, nomeadamente de uma «coisa» ou, p. ex., de uma qualidade ou de um estado ou coisas seme­ lhantes. Com efeito, estas objectividades são também visadas em significações nominais de palavras enquanto estruturadas for­ malmente de diversos modos. Assim, é necessário supor ao lado do «conteúdo material» ainda um «conteúdo form al» destas significações. Se até agora isto quase nunca aconteceu, ficando assim a significação nominal da palavra reduzida apenas ao seu conteúdo material, a razão está no modo particular como o conteúdo formal aparece na totalidade da significação nominal da palavra. Sob este aspecto ele distingue-se radicalmente do conteúdo material. Observando nós, p. ex., a significação com­ posta das palavras «um triângulo equilátero», o seu conteúdo material consiste numa série de momentos intencionais entre si

relacionados para formarem ama unidade de sentido. Estes momentos individuais, que determinam os traços distintos da objectividade correspondente, podem ser assinalados na signifi­ cação isoladamente, cada um de per si, como elementos parti­ culares. Não é este, em geral, o caso dos momentos do conteúdo formal. A estrutura formal do objecto (p. ex., do triángulo, da mesa) em geral não é visada explicitamente no significado nomi­ nal da palavra do mesmo modo que as suas determinações materiais. Apesar disso, os momentos da estrutura formal são simultáneamente intencionados mas de um modo funcional. Pode­ mos dizer que a significação nominal da palavra perante o seu objecto qualitativamente determinado pelo conteúdo material (o qual só por este conteúdo ainda não é «objecto») exerce uma função estruturante ao tratar o determinado pelo conteúdo material como uma unidade formalmente estruturada, p. ex., como uma «coisa», uma «qualidade de alguma coisa», um «pro­ cesso», e assim por diante. Este «tratar algo como uma coisa» (ou como uma qualidade de algo) é o que no caso normal cons­ titui o «conteúdo form al» da significação nominal. Decerto é possível que o conteúdo formal geralmente existente apenas de modo funcional seja por assim dizer explicitado de maneira que o traço correspondente da estrutura formal do objecto se pense explicitamente do mesmo modo que as suas determinações materiais. (É este, p. ex., o caso da significação nominal com­ posta das palavras: «a determinação vermelha da coisa mesa».) É este o modo, por assim dizer, anómalo de aparecimento do conteúdo formal da significação nominal da palavra. A possibi­ lidade de semelhante «explicação» prova também da melhor maneira que o conteúdo formal existe na significação nominal da palavra.

Ad 4) e 5) Por fim, aparece sempre de modo funcional e por vezes também explícito na significação nominal da palavra um momento existencial de caracterização. No significado da expres­ são «capital da Polônia», p. ex., a cidade não é só visada como «capital», etc., mas também como algo que é «real» segundo o seu modo de ser. E análogamente, o objecto da significação «triângulo equilátero» — no sentido matemático— é concebido como algo idealmente existente. Este momento da caracterização existencial não deve, porém, confundir-se com o momento da posição existencial. Assim, p. ex., o nome «H am let» (no sentido da figura do drama de Shakespeare) significa um objecto que nunca teve nem terá existência real, mas se acaso existisse per­ tenceria às objectividades do modo existencial «realidade». Há contudo um momento de caracterização existencial na plenitude

da significação deste nome, mas falta-lhe absolutamente a posição existencial de realidade. A expressão «capital da Polonia», em contrapartida, pode usar-se de modo que na sua significação a posição existencial de realidade apareça ao lado do momento de caracterização existencial. Neste caso o seu objecto não só é pensado como real segundo o modo de ser, mas ao mesmo tempo como existindo de facto realmente. Também podemos usar a expressão «H am let» de modo a conter além do momento da caracterização existencial ainda o de uma posição existencial particular que, embora não ponha o objecto correspondente na realidade espaço-temporal de facto existente, o situe contudo na «realidade» fictícia criada pelo conteúdo da significação do drama shakespeariano. Aqui há situações particularmente difíceis que adiante serão estudadas. Por enquanto trata-se apenas de dis­ tinguir os dois elementos existenciais: o momento da caracte­ rização existencial e o da posição existencial e de salientar a sua existência potencial já nas próprias expressões nominais e não só em proposições ou em juízos.

Os momentos ou grupos de momentos da significação nomi­ nal da palavra que distingui encontram-se em dependência fun­ cional mútua e diferente, de modo que, p. ex., uma distinção no conteúdo material pode implicar distinção correspondente no conteúdo formal. Sob este aspecto vigoram determinadas leis a priori que não podem ser aqui examinadas pormenorizadamente.

Como se mostrará em seguida, a distinção dos diferentes momentos contidos numa significação nominal ainda não é sufi­ ciente para a sua caracterização nominal. Esta distinção é, porém, indispensável para progredir nesta caracterização em confronto com outros tipos de unidades de significação.

b) A diferença entre nomes e palavras funcionais

Para nos aproximarmos da essência da expressão nominal começamos por confrontá-la com as «palavras funcionais».

À primeira vista a distinção entre duas espécies de palavras parece muito fácil de efectuar na medida em que, em primeiro lugar, as expressões nominais se distinguem na sua significação pela existência do factor de direcção e do conteúdo material, que faltam às palavras funcionais, e, em segundo lugar, estas exercem funções diversas enquanto as expressões nominais não podem exercer nenhuma função.

Entretanto, esta distinção não é assim tão fácil de efectuar. É que, em primeiro lugar, há entre as palavras puramente fun­

91

cionais algumas cuja função reside sobretudo em ter na sua significação um factor de direcção intencional: são aquelas pala­ vras funcionais «demonstrativas» distinguidas por A. Pfaender e que aparecem em formas diversas como, p. ex., «este», «aquele», «aqui», etc. Se este factor de direcção é variável ou constante e em que direcção aponta isso depende apenas das outras signi­ ficações nominais de palavras em que aparece integrado !. Por outro lado, também não é verdade que palavras funcionais não possuam conteúdo algum material nem tão-pouco algo que lhe seja análogo. Pois tal conteúdo têm-no todas aquelas palavras funcionais de que Pfaender com razão afirma estabelecerem uma relação «real» entre os objectos. Se, p. ex., considerarmos a expressão «junto de» isoladamente o seu significado p or si só não determina nenhum objecto no seu carácter qualitativo, não lhe atribui nenhuma propriedade, porque ela não «projecta» nenhum objecto. Quando, porém, um objecto é «projectado» pela significação nominal de uma palavra relacionada com a respectiva palavra funcional, v. gr., na expressão «a cadeira junto da mesa», a expressão «junto de» caracteriza o objecto do nome correspondente quanto à sua situação no espaço rela­ tivamente a outro objecto. Existe, portanto, neste caso um aná­ logo do conteúdo material de uma significação nominal da palavra. Finalmente, também não é verdade que as significações nominais das palavras não possam exercer quaisquer funções em relação aos seus objectos. Em geral, contêm já de modo funcional o conteúdo formal. As funções próprias das significa­ ções nominais, porém, só se evidenciam nitidamente quando a significação nominal da palavra aparece como parte de uma significação nominal composta2. Tomemos, p. ex., a expressão «a bola vermelha lisa», considerando as mudanças que se passam nas significações das palavras «vermelha» e «lisa», tomadas a princípio isoladamente, quando se transformaram em elementos constitutivos da referida expressão composta. Cada uma destas palavras tem, no seu isolamento, ao lado do próprio conteúdo material e formal ainda um factor de direcção que visa o seu objecto próprio. Desde que se tornam elementos constitutivos

1 Cf. a este respeito também as observações de Husserl sobre as sig­ nificações «ocasionais» ( Logischen Untersuchungen, vol. II, Investigação I).

: As significações nominais das palavras exercem funções muito espe­ ciais — sintácticas — quando são partes de uma frase. Deve, contudo, salientar-se que estas funções já são possíveis em expressões nominais compostas que não constituem partes de uma frase inteira.

da referida ¡expressão composta exercem funções bem determi­ nadas em relaçáo aos seus objectos. Sobretudo o seu factor de direcção é neste caso estabilizado e actualizado de um modo

particular, absoluta ou apenas relativamente é que incide sobre

o mesmo objecto indicado pela palavra «bola». Se o factor de direcção desta palavra já está estabilizado 2 também está o factor de direcção da palavra «verm elho» (ou «lis o ») e alcança assim a sua plena actualização. Se, porém, o factor da direcção do substantivo é ainda variável o resultado é uma «confluência» de todos os três factores de direcção. Esta confluência deve-se a duas circunstâncias diferentes. Em primeiro lugar, obtém-se uma modificação dos limites de variabilidade dos factores de direcção de todas as palavras que aparecem na respectiva expres­ são, no sentido de se restringirem mütuamente os limites de variabilidade a princípio diferentes, resultando daí um único limite de variabilidade do factor de direcção de toda a expressão composta. Em segundo lugar, esta adaptação mútua dos limites individuais de variabilidade só é possível pela fusão simultânea dos respectivos factores num só, de maneira que toda a expres­ são se dirige para um único objecto no caso de o factor de direcção ser unirradiado e se estabilizar. Porém, esta fusão dos factores de direcção num só constitui, por assim dizer, apenas a expressão extrínseca de uma unificação muito mais profunda das três produções de significação numa única unidade, unifi­ cação esta que por sua vez radica nas funções especiais exerci­ das pelos atributos que aparecem como adjectivos. Se, p. ex., a palavra «verm elho» é tomada isoladamente ela projecta, por meio do seu conteúdo material e formal, um objecto qualitati­ vamente determinado apenas pela qualidade do «verm elho» mas ao mesmo tempo indeterminado a respeito da sua natureza, portanto acerca daquilo que ele e 3. A significação plenamente

1 Se estas palavras são consideradas isoladamente o seu factor de

No documento Roman Ingarden - A Obra de Arte Literária (páginas 134-139)

Outline

Documentos relacionados