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Cf Festschrift fü r E Husserl, pp 59-90.

No documento Roman Ingarden - A Obra de Arte Literária (páginas 51-56)

L I Imanência, intuição Tal como nos surgem em Ingarden,

1 Cf Festschrift fü r E Husserl, pp 59-90.

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sente é o resultado do seu estudo relacionado com as tendências fundamentais que acabo de indicar. Porque me deixei guiar na redacção deste livro por motivos tão diversos, diferentes si- ■ações reais foram mais rigorosamente tratadas do que indispensável num livro que se limitasse a estudar apenas

35 fundamentos filosóficos de uma teoria da obra literária. Por

outro lado, foi precisamente a multiplicidade das produções pertencentes à estruturação da obra literária que me levou a uma série de considerações, indispensáveis para este problema especial e ao mesmo tempo importantes para várias disciplinas filosóficas. Assim, as investigações do 5.° capítulo são uma contribuição para a Lógica e a sua nova orientação; as consi­ derações sobre as relações objectivas e as objectividades apre­ sentadas na obra literária procuram desenvolver alguns problemas ontológico-formais, as investigações sobre o modo de ser dos objectos apresentados têm importância para a Ontologia exis­ tencial geral. Para não prejudicar a unidade do livro, evitei discutir as conseqüências muito importantes que derivam dos resultados desta investigação, tanto para o problema Idealismo- -Realismo, como ainda no que respeita a outros problemas filo­ sóficos. O presente livro foi escrito durante uma licença concedida para a realização de estudos, nos meses de Inverno de 1927/28. A preparação de outras publicações inadiáveis e as condições muito difíceis do meu trabalho arrastaram, por mais dois anos inteiros, a redacção definitiva do texto a imprimir, verificando-se correspondente atraso na publicação do livro. A conseqüência disto foi a de muitos resultados dos meus estudos terem entre­ tanto sido publicados noutras obras. É este o caso de muitas observações do 5.° capítulo deste livro e da Formale und trans-

zendentale Logik, de Husserl. A afinidade entre algumas das

minhas análises e as afirmações do meu venerado mestre cau­ sou-me particular satisfação durahte a leitura da sua obra recente. Ao mesmo tempo, a comparação dos dois textos revelou que, ao lado de pontos de contacto, existem também grandes divergências, e porventura naqueles pontos que para mim são os mais importantes. Assim, foi-me impossível referir esta sua obra apenas pelo acréscimo posterior de uma série de citações. Déixei, pois, imprimir o texto do meu livro sem o modificar e quero indicar aqui apenas os pontos de afinidade e de diver­ gência, esperando poder um dia dedicar uma publicação especial à nova obra tão 'significativa do meu venerado mestre.

As minhas afirmações concordam com as de Husserl em

cados das palavras, as frases e as unidades superiores de sentido como realizações que resultam das operações subjectivas da consciência. Portanto, não são objectividades ideais r\o sentido definido pelo próprio Husserl nas suas Logischen Untersuchungen. Enquanto Husserl conserva o termo ideal na maior parte da sua Lógica, acrescentando só, por vezes, em parêntese a palavra

irreal, eu renuncio por completo a esta nomenclatura, pro­

curando opor, nitidamente, aquelas realizações às objectividades ideais no sentido rigoroso. Nisto revela-se a primeira divergência objectiva. Husserl considera actualmente como produtos inten­ cionais de género especial todas as objectividades outrora con­ sideradas como ideais no sentido antigo, chegando, assim, a uma ampliação universal do Idealismo Transcendental, enquanto eu continuo a insistir na rigorosa idealidade de várias objecti­ vidades ideais (dos conceitos ideais, dos objectos individuais ideais, das ideias e das essencialidades) e vejo até nos conceitos ideais um fundamento ôntico das significações das palavras que lhes torna possível a sua identidade intersubjectiva e o seu modo-de-ser ontològicamente heterónomo. Ao mesmo tempo, a nova concepção dos produtos lógicos resulta em Husserl sobre­ tudo das investigações fenomenológicas e dos motivos idealista- -transcendentais universais, enquanto as minhas considerações seguem a orientação ontológica, procurando demonstrar nos

próprios produtos lógicos uma série de circunstâncias que im­

possibilitam o seu ser ideal no sentido rigoroso e, ao mesmo tempo, indicam como sua origem ôntica as operações subjectivas. Só depois tento acrescentar alguns esboços fenomenológicos correspondentes. Abstenho-me, no meu livro, de todo o juízo a respeito da posição idealista-transcendental e, em particular, da concepção idealista do mundo real. O meu livro contém uma série de resultados isolados que, no caso de serem verdadeiros, serão contrários a esta concepção. Isto diz respeito, p. ex., à singular estrutura dupla das objectividades puramente intencio­ nais, às indeterminações que aparecem nos seus conteúdos e à sua heteronomia ontológica.

Quanto a pormenores sobre a aludida afinidade com a

Lógica de Husserl, bastará salientar as seguintes observações

como afins das correspondentes de Husserl: 1.°, a concepção das operações subjectivas elaboradoras das frases e a distinção entre a pura proposição e o juízo; 2.°, a distinção entre o conteúdo material e formal da significação nominal da palavra e o confronto da plenitude de significação de uma palavra iso­

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lada com os momentes sintácticos próprios da sua significação na frase; 3.°, a análise da constituição de uma objectividade puramente intencional numa multiplicidade de períodos. Final­ mente, acontece por vezes que onde Husserl se limita a aludir só de passagem a uma afirmação ou a um problema, porque no contexto respectivo não os pode aprofundar, eu, para os fins que tenho em vista, ofereço análises pormenorizadas. Refe­ re-se isto, p. ex., à minha consideração do modo de ser das objectividades apresentadas na obra literária, enquanto Husserl só duas vezes observa que «também as ficções têm o seu modo de ser» (1. c., pp. 149 e 226). Na página 230 da sua obra, Husserl põe o «problema delicado» da possibilidade de «a subjectividade em si mesma criar, únicamente a partir das origens da sua espontaneidade, produtos susceptíveis de passar por objectos ideais de um “ mundo” ideal. E mais (como problema de outra ordem) o do modo detestas idealidades poderem receber exis- xència vinculada ao espaço e tempo no mundo da cultura exigido como real enquanto encerrado no universo espaço-temporal, exis­ tência essa na forma da temporalidade histórica, como é o caso das teorias e ciências». Estes «problemas delicados», em particular o segundo, constituíram outrora o ponto de partida da minha reflexão sobre a obra literária. O resultado foi a exclusão destas realizações não só do âmbito das idealidades no sentido rigoroso, mas também do mundo real. Se consegui ou não justificar este resultado, o leitor deste livro poderá julgar por si mesmo.

Todas estas observações permitem ao leitor orientar-se com facilidade nas relações que existem entre o meu livro e a Formale

and Transzendentale Logik de Husserl. Embora eu tenha de

referir alguns pontos de divergência em relação às opiniões do meu venerado mestre, não esqueço quanto lhe devo. Hoje, depois de doze anos de trabalho pessoal, sei, melhor do que nunca, quanto Edmund Husserl, com as suas profundas intuições e o domínio de horizontes ilimitados, a todos nos supera. Se conseguirmos descobrir algo que a Husserl passou despercebido, devemo-lo, sobretudo, às grandes facilidades que o seu trabalho incansável de investigador nos proporcionou.

Por fim, não queria deixar de exprimir os meus melhores e mais calorosos agradecimentos a todos aqueles que me auxi­ liaram na preparação do presente livro. Foram, sobretudo, os Professores Julius Kleiner e Zygmunt Lempicki, que me ajudaram com os seus conselhos preciosos e crítica. Alguns capítulos ¿iscuti-os com o Dr. W. Auerbach (que também me ajudou na

revisão das provas tipográficas) e com a Dr.a M. Kokoszynska e fico-lhes muito grato por muitas observações acertadas. A Dr.a Edith Stein teve a amabilidade de se encarregar do grande trabalho da correcção lingüística do texto, prestando-me, assim, um precioso serviço de amizade.

Os meus especiais agradecimentos vão para Max Niemeyer, que, apesar da crise geral, resolveu publicar o meu livro na sua Casa Editora, empenhando-se em lhe dar a melhor apre­ sentação possível.

Lemberg, Outubro de 1930.

Prefácio da terceira edição

A nova edição do presente livro aparece quando o seu

Apêndice original, agora intitulado Investigações acerca da Onto- '.:zia da Arte, já tinha sido publicado em língua alemã. Só agora

5-c torna evidente que as reflexões consagradas à obra literária, ¿esde o princípio, constituíam simplesmente parte de uma pro­ blemática mais vasta e foram conduzidas segundo uma intenção :eórica mais extensa. Abstraindo da relação com o problema Idealismo-Realismo, que talvez se torne nítida depois da publi­ cação do meu livro Der S treit■ um die Existenz der Welt («A dis­

cussão acerca da existência do mundo»), está claro agora que eu, desde o princípio, pretendi criar, pela análise profunda da estrutura e do modo de ser das obras das diferentes artes, uma base mais concreta para a Estética fenomenológica do que a vigente até então. Andava aliada a este propósito a exigência metodológica de que a ciência da literatura e toda a investigação estética deviam concentrar as suas análises nas próprias obras de a rte 1 e todos os problemas a elas concernentes só nesta base poderiam ser tratados2. É certo que os dois livros men­ cionados constituem somente a parte principal das minhas publicações em língua polaca. Espero, porém, oferecer ao público alemão pelo menos o meu livro Vom Erkennen des literarischen

Kunstwerkes («D o conhecimento da obra de arte literária») e

uma colectânea das minhas conferências em versão alemã. Então começarão a delinear-se os contornos de uma Estética fenome- nològicamente tratada, como eu a entendo.

1 A isto René Wellek chamou mais tarde «o método literário-imanente

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