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A Pfaender foi o primeiro a chamar a atenção, na sua Logik (/.

No documento Roman Ingarden - A Obra de Arte Literária (páginas 140-143)

Segunda Parte ESTRUTURAÇÃO

1 A Pfaender foi o primeiro a chamar a atenção, na sua Logik (/.

c., pp. 306 e segs.), para o facto de as significações nominais das palavras

(«conceitos de objectos» na terminologia dele) exercerem determinadas funções em relação aos seus objectos. As funções por mim atrás assina­ ladas são, porém, diferentes das que Pfaender tem em vista. Também não posso concordar com os pormenores da sua concepção. Levar-nos-ia, porém, muito longe discutir estes pontos expressamente. A seguir voltarei ainda a referir-me ao que considero verdadeiro na concepção de Pfaender.

form al das significações nominais. Enquanto estas determinam

(«projectam »), com a cooperação essencial do conteúdo formal,

sobretudo um objecto intencional, exercendo diferentes funções

só nestes objectos já constituídos, as palavras «funcionais» não são capazes de projectar intencionalmente e desde si mesmas um objecto. Só exercem várias funções apenas formal ou também materialmente determinantes de objectividades que são projec- tadas por outras significações, geralmente nominaisl. Assim, parece que o conteúdo formal, produtor dos objectos das expres­ sões nominais, é o que as torna precisamente nominais e que, portanto, é correcto caracterizá-las com Pfaender como «con­ ceitos de objectos». Entretanto novas dificuldades surgem quando se considera que, em primeiro lugar, as expressões nominais podem em boa parte distinguir-se umas das outras pelos seus conteúdos formais (podem aparecer nelas conteúdos formais que projectam a estrutura formal da coisa, da qualidade, do estado, do processo, da actividade, da relação, etc.) e, em segundo lugar, pelo menos alguns destes conteúdos formais podem aparecer em significações de palavras radicalmente diferentes das expres­ sões nominais, a saber, nas expressões meramente verbais. A res­ peito do primeiro caso é muito vantajoso fazer contrastar as expressões nominais com as verbais, o que nos será útil ainda pela razão de assim nos prepararmos, ao mesmo tempo e da melhor maneira, para a captação da essência da frase.

Outro ponto de distinção a indicar entre as significações nominais das palavras e as palavras funcionais consistiria na necessidade de discriminar na significação de um nome muitos elementos heterogéneos, enquanto esta variedade não existe nas significações das palavras funcionais, pois cada uma destas pala­ vras parece exercer uma única função. Entretanto, é de novo problemático se será possível afirmar isto em geral considerando que há muitas palavras funcionais que exercem ao mesmo tempo várias funções (como o «é » na frase categórica, que geralmente exerce tanto a função afirmativa como ainda a predicativa). Acontece, porém, que é sempre possível manter separadas em casos como este as funções individuais e remeter cada uma delas para outra palavra funcional, o que não é possível tra­

1 É esta a razão por que a ligação de palavras apenas «funcionais», como, p. ex., «e», «ou», «é», não conduz a nenhuma unidade de significação.

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tando-se de um nome. Assim, não se pode, p. ex., formar signi­ ficações nominais que contivessem somente o conteúdo material sem qualquer conteúdo formal e sem o factor da direcção intencional. A plena significação de um nome parece, por con­ seguinte, constituir um todo intrínsecamente coerente, composto por elementos heterogéneos mas convenientemente seleccionados, enquanto nada disto aparece nas palavras funcionais.

c) A significação do verbo finito

Vamos estudar agora o verbo finito isolado em qualquer forma definida, como, p. ex., «escreve», «está», «vou», «ama- tur», etc. Haverá na plenitude da sua significação os mesmos elementos heterogéneos cuja existência nas significações nominais de palavras demonstrámos?

É antes de mais indubitável que devemos falar também de um «conteúdo material» do verbo finito. Tomando dois verbos de «form a gramatical» exactamente a mesma, p. ex., «fa la » e «anda», o «conteúdo material» é — formalmente falando — aquilo por que as significações destas palavras se distinguem. Em ambas as palavras trata-se — como é comum dizer-se— de uma «acti­ vidade», mas diferente em cada uma delas, materialmente deter­ minada de outro modo. Em contrapartida, nas palavras «anda», «andou», «andaremos», etc., apesar da diferença da «form a gra­ matical» aparece algo idêntico: em cada um dos casos trata-se de uma actividade de espécie exactamente idêntica. Por outras palavras: o conteúdo material do verbo finito é aquele elemento da sua significação plena que decide de que actividade, de que

qualidade de actividade em cada um dos casos se trata. Por

conseguinte, parece de início que entre o conteúdo material da significação nominal de uma palavra e o de um verbo finito não há diferença. A favor disto parece depor também o facto de a comparação das palavras «fala » e «fala r» nos induzir a fixar um elemento idêntico, i. é, de em ambos os casos se tratar de uma actividade de espécie exactamente idêntica. Residiria, portanto, a diferença entre as duas espécies de palavras sim­ plesmente em aparecer nas suas significações outro conteúdo

form a l? Não será, porém, o conteúdo formal dentro da signi­

ficação da palavra o que determina a estrutura formal do intencionalmente visado, e não terá o visado intencionalmente

pelas palavras «fala » e «fala r» a mesma estrutura formal, pre­ cisamente a de uma «actividade»? É certo que ela é visada uma vez «substantivamente», outra vez «verbalmente»; mas não será esta uma circunstância de natureza meramente «gramatical», absolutamente irrelevante para a significação das palavras? A ninguém ocorrerá que se trata, ao empregar a palavra «o escre­ ver», de uma coisa só porque a palavra é um «substantivo». E igualmente ninguém se lembra de julgar que se trata de uma actividade quando alguém diz «o céu azuleja» \ Apesar da «expressão» verbal «meramente gramatical», o azul do céu é aqui considerado uma qualidade sua; aparece neste caso num «verbo» um conteúdo formal que é freqüente aparecer em signi­ ficações nominais de palavras. Não haverá, pois, nenhuma dife­ rença essencial entre as significações nominais e verbais das palavras? 2

Isto deve ser firmemente negado, ainda que algumas das afirmações alegadas sejam verdadeiras. Resultam, porém, de uma análise superficial dos dois tipos de significações. Antes de mais deve observar-se que a significação nominal da palavra contém um factor de direcção intencional, enquanto no verbo finito semelhante factor de direcção, que indicaria a actividade qualificada pelo conteúdo material do verbo (p. ex., «escreve»),

falta completamente3. A ausência ou a presença deste factor

1 É certo que este exemplo é uma expressão pouco usual na linguagem

No documento Roman Ingarden - A Obra de Arte Literária (páginas 140-143)

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