• Nenhum resultado encontrado

1 INTRODUÇÃO

2.2 AÇÃO COLETIVA: REPRESENTAÇÃO DE INTERESSES DE

2.2.1 Ação Coletiva: promoção ou representação de interesses e gestão

Em uma concepção ampla, a ação coletiva corresponde à associação de esforços entre atores com o propósito de se alcançar determinado resultado a partir da gestão de recursos comuns (OSTROM, 2009). Para o recorte desta pesquisa, o resultado perseguido relaciona-se com a cooperação entre múltiplos atores (LOBATO, 1997; HEIDMANN; SALM, 2009; LOPES, 2016). Neste cenário situam- se como agentes do processo os cidadãos (HEIDMANN; SALM, 2009), atores políticos que os representam e os entes federativos, figurando como recursos

comuns os bens e serviços que partilham características dos bens públicos (não exclusão) e privados (rivalidade).

Giacomoni (2017) e Ostrom (2009) caracterizam bens ou serviços públicos por meio, especialmente, de dois atributos. O primeiro, da não rivalidade, tendo em conta que o respectivo consumo por determinado cidadão não afasta o de outro. E o segundo, da não exclusão, haja vista que o cidadão não é impedido do consumo pela ausência de pagamento. Nos recursos comuns, os níveis de subtração são alterados pelo consumo pelo atributo da rivalidade, tal qual se verifica nos bens privados. Mas o outro atributo dos bens privados – exclusão por não pagamento ou participação – não se faz presente (McGINIS; OSTROM, 2014).

Além da noção de cooperação em torno dos comuns, a ação coletiva é referenciada como a promoção ou representação de interesse de associados, dentro da perspectiva de advocacy (FILLIPIN; ABRUCIO, 2016). Dita referência traz à tona aspecto veiculado pela teoria da escolha racional e relatado por Souza (2006) sobre o mito de que um bloco de interesses individuais corresponderia à ação coletiva, e de que esta, em todos os casos, geraria bens coletivos.

De qualquer sorte, a representação de interesses voltada ao benefício de grupo específico é condicionada por características do Estado e do seu relacionamento com a sociedade (LOBATO, 1997). Isto se dá mesmo quando a representação expresse coalizões advindas de acordos racionais voltados à redução do custo de transação (HALL; TAYLOR, 2003). Ademais, confiança, solidariedade e cidadania representam elementos que, em articulação, também influenciam os interesses de grupos (PITERMAN; REZENDE; HELLER, 2016), de modo a viabilizar a geração de bens coletivos.

Em teorias de ação coletiva abordam-se a tragédia dos comuns expressada na alegoria formulada por Garret Hardin (OSTROM 2007, 2009), sobre a perspectiva de que a administração dos comuns alcançaria resultados subótimos à coletividade, em razão da conduta dos atores de maximizar suas próprias preferências (HALL; TAYLLOR, 2003). Mencionadas teorias exploram o possível conflito entre os interesses individual ou coletivo, particular ou comunitário, no trato dos recursos (COX, 2010). As teorias de primeira geração associam-se com a necessidade de intervenção externa ou oferta de incentivos para solucionar problemas comuns (OSTROM; AHN, 2002).

Souza (2006) traz a posição de Mancur Olson Júnior sobre a importância de incentivos seletivos para minimizar interesses personalistas nas definições de ação coletiva, presente a perspectiva citada por Machado e Andrade (2014) de que além da cooperação a deserção se coloca como opção entre os atores.

De outro lado, Ostrom e Ahn (2002) explicam que as teorias de segunda geração que sustentam o constructo consideram motivações sociais, confiança, reciprocidades, redes, estruturas institucionais e cidadania como aspectos que influenciam no processo.

Em linha análoga, Fung (2015) defende que a superação dos dilemas de ação coletiva não dependeria de coerção centralizada, como proposto por Hardin, apontando os autores a participação dos cidadãos como um dos elementos relevantes nesse propósito. A participação se verifica quando pessoas comuns fazem parte da tomada de decisão pública (FUNG; WRIGHT, 2003).

Fung (2015) registra que as escolhas de design participativo devem ser consideradas para engajar o cidadão. Nesse cenário, quem participa, de que forma ocorre a comunicação e tomada de decisão, e a influência verificada nos respectivos resultados são aspectos a se considerar para referido engajamento (FUNG, 2006, 2015). Avritzer (2008) acresce que, além da escolha do desenho adequado, o contexto impacta na efetividade da participação.

Destacando a dependência da cooperação, Fung e Wright (2003) buscam descrever as fontes do poder em: organizações locais, partidos políticos e organizações de movimentos sociais. Dito poder, segundo os autores, serve para evitar falhas na governança. Governança, em linhas gerais, pode ser compreendida como a capacidade do Estado de formular e implementar suas políticas, e de transformar em realidade as decisões relacionadas com o projeto de Estado e Sociedade (PATRÍCIO NETO et al., 2010).

Em que pese serem reconhecidos os desafios na seara participativa, sobretudo os relacionados à ausência de lideranças e condições para o avanço da prática (FUNG, 2015), sobressai-se o ponto do estudo de Ostrom (2009) que sustenta a existência de Instituições com capacidade de regular o uso dos comuns, garantindo-lhes sustentabilidade ao longo do tempo. Ostrom (2007) ainda adverte

que o desenho da propalada tragédia se ampara em circunstâncias em que as decisões firmadas por atores são anônimas, apesar de não descartar, segundo Peres (2014), que cooperação possa não ser uma constante.

De qualquer modo, vários dos dilemas da ação coletiva decorreriam da ausência de arranjos institucionais que promovam uma atuação voltada à coletividade (HALL; TAYLOR; 2003) ou da característica desses arranjos e dos atores que deles participam (OSTROM, 2009). Os arranjos institucionais seriam sistemas para conformar o comportamento (MACHADO; ANDRADE, 2014) impedindo que os atores atuem de modo diverso ao preferível no plano coletivo (HALL; TAYLOR, 2003).

Assim, a ação coletiva depende de conformações institucionais que garantam valor público e constranjam comportamentos que lhe sejam opostos, sobretudo os consubstanciados em coleta de benefício sem a correspondente cooperação, enquadrados como free-rider´s ou “caronas” (MACHADO; ANDRADE, 2014). Limites dos recursos claramente definidos, regras adaptadas à realidade, participação dos atores ou usuários na escolha coletiva, monitoramento, sanções graduais, mecanismo de resolução de conflito e algum direito de auto-organização são princípios que favorecem a sustentabilidade dos comuns (OSTROM, 1999).

Cabe, por fim, agregar as posições de Souza (2006, p.20-45), no sentido de que em ambientes democráticos, inserem-se dentre as questões de ação coletiva as “definições sobre políticas públicas”, bem como a de Lobato (1997, p.31), de que a relação Estado/Sociedade é o “locus por excelência da concretização dessas políticas”. Somando esse aspecto ao fato de as políticas públicas sobressaírem-se como elo e como centralidade das categorias de contexto integrantes desta pesquisa, merecem ser aportados os elementos conceituais que alicerçam o estudo, nos moldes a seguir delineados.