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3. PREQUESTIONAMENTO

3.7. Outras questões referentes ao prequestionamento

3.7.8. Ação rescisória

Questão relevante diz respeito à exigência ou não do prequestionamento como um dos requisitos para a ação rescisória fundada no art. 485, inciso V, do Código de Processo Civil (violação literal a dispositivo de lei).181

A respeito do assunto, Sérgio Rizzi entende ser incorreto aplicar os mesmos requisitos de admissibilidade dos recursos excepcionais à ação rescisória, notadamente o prequestionamento.182

179

Primeira Turma, Relator Ministro Sepúlveda Pertence, j. 05.09.2000. 180

Como exemplo, cita-se o julgamento do Agravo de Instrumento nº 476.512-1 (MT), interposto contra decisão que inadmitiu recurso extraordinário. No acórdão, o relator Ministro Sepúlveda Pertence, embora tivesse negado provimento ao agravo, concedeu, de ofício, habeas corpus a favor do agravante, determinando a anulação do processo por não lhe ter sido nomeado defensor

ad hoc em razão do não comparecimento de seu defensor constituído à inquirição das

testemunhas de acusação (1ª Turma, j. 11.05.2004).

É esse, também, o entendimento do AG 409055-0 (RJ), em que foi relator o Ministro Sepúlveda Pertence, que declarou em seu voto: “A ofensa ao texto constitucional, independente da deficiência ou não na fundamentação do RE, não foi prequestionada no julgado, ao qual não se opuseram embargos de declaração.

No RE criminal, contudo, a falta do prequestionamento tem sido considerada irrelevante, sempre que evidenciada ameaça ou lesão à liberdade de locomoção, possa ser concedido habeas corpus de ofício (v.g., RE 273.363, 1ª T., 5.9.00, Pertence, DJ 20.10.00; Ag 386.537 (QO), 1ª T., 13.8.02, Pertence, Inf. STF 277)” (1ª Turma, j. 03.09.2002).

181

Assim preceitua o citado dispositivo legal: “Art. 485. A sentença de mérito, transitada em julgado, pode ser rescindida quando: (...) V – violar literal disposição de lei.”

182

No mesmo sentido é o entendimento de Theotonio Negrão e José Roberto F. Gouvêa, que propugnam não ser necessário que a lei tida como violada tenha sido suscitada no processo objeto da rescisória; segundo os autores, independentemente da invocação da lei no processo, o que importa é que tenha ocorrido a violação a ela, motivo pelo qual não há que se falar em prequestionamento na ação rescisória.183

A jurisprudência dominante no Supremo Tribunal Federal consagra essa posição ao propugnar que a ação rescisória, por não ser recurso e sim ação, não possui como um dos pressupostos o prequestionamento. Assim, o prequestionamento somente seria exigível para os recursos excepcionais. Já no âmbito da rescisória, a ação se reveste contra a decisão transitada em julgado que, de alguma forma, violou literal disposição de lei, ainda que esta lei não tenha sido expressamente mencionada na referida decisão.184

183

Código de Processo Civil e legislação processual em vigor, comentário nº 25 ao artigo 485, p. 536.

184

Nesse sentido é o Agravo Regimental no Recurso Extraordinário nº 444.810 (DF), no qual o voto do relator Ministro Eros Grau traça um resumo a respeito do entendimento do Supremo Tribunal Federal a respeito da questão:

“8. Conquanto tenha essa jurisprudência como suficiente para suplantar a tese da exigência de debate prévio sobre a ocorrência ou não de decadência da rescisória proposta pelo IBAMA, é importante ressaltar que o Pleno deste Tribunal refutou a exigência de prequestionamento: ‘não se aplica à rescisória, que não é recurso, mas ação contra a sentença transitada em julgado, atacável, inda que a lei invocada não tenha sido examinada na decisão rescindenda’ (Embargos em Ação Rescisória n. 732, Relator o Ministro Soares Muñoz, DJ de 9.5.80). Esse entendimento foi reafirmado no julgamento da Ação Rescisória n. 1.126/SP, Relator o Ministro Djaci falcão, Ementário 1.405-1, entre outros.

9. É importante ressaltar, ainda, que, conforme preleciona Pontes de Miranda, in Comentários à

Constituição, vol. IV, pág. 278, ‘sempre que a Justiça do Trabalho edita regra jurídica, tem de dizer

qual a lei que lho permitiu, na espécie. Se o caso não entra na classe de casos, que a especificação legal discerniu, para dentro dela se exercer a atividade normativa da Justiça do Trabalho, está ela a exorbitar das funções constitucionalmente delimitadas’. E como assentado por esta Corte em seus precedentes (EAR 732/RJ; AR 777/RJ; AR 978/PE), em se tratando de ação rescisória não se impõe o requisito do prequestionamento. A rescisória tanto pode versar sobre o fundamento em que se fixou a decisão rescindenda, quanto em outro por ela não tratada. A exigência de prequestionamento somente se impõe para admissão de recursos de natureza extraordinária, e ação rescisória não é recurso. É assim a jurisprudência deste Tribunal fixada a partir da interpretação conferida ao artigo 485 do Código de Processo Civil:

‘(...) que não se aplica à ação rescisória, que não é recurso, o requisito do prequestionamento exigido nas Súmulas 282 e 356. O fundamento da ação rescisória tanto pode coincidir com aquele em que se assenta a decisão rescindenda, quanto noutro por esta não enfrentado. As hipóteses

Theotonio Negrão e José Roberto F. Gouvêa ressaltam que o entendimento de inaplicabilidade do prequestionamento para a ação rescisória sofre algumas moderações, principalmente no caso da prescrição (de direitos patrimoniais) não aventada na ação principal, hipótese em que se mostraria incabível a invocação da mesma prescrição no juízo da rescisória.185

Nesse sentido é também o entendimento de José Miguel Garcia Medina,186 ao expor:

“Em certas hipóteses, aliás, a manifestação anterior das partes a respeito não só é aconselhável, mas imprescindível, para que a decisão se manifeste acerca da lei. É o que ocorre, por exemplo, na hipótese de se ajuizar ação rescisória com fundamento na prescrição, se tal matéria não foi alegada no processo em que foi proferida a sentença rescindenda. Ora, no caso, se fazia necessário o prequestionamento para que a sentença julgasse a matéria. Não tendo havido o prequestionamento, a sentença rescindenda não julgou a matéria e, por isso, não houve violação à literal disposição de lei.”187

Ocorre que a ressalva acima, pelo menos no que diz respeito à prescrição, tende a não persistir, considerando-se as últimas alterações no

enunciadas na maioria dos incisos do art. 485 do Código de Processo Civil, bem evidenciam a inaplicabilidade à rescisória do pressuposto concernente ao prequestionamento’ (AR N. 978/9-PE,

DE 11.10.78).

10. Logo, se este Tribunal à época em que dispunha de competência para exame da legislação federal dispôs sobre a inexigibilidade de prequestionamento para admissão e conhecimento de ação rescisória, não há de pretender-se a prevalência de jurisprudência assentada pelo Tribunal Superior do Trabalho” (1ª Turma, j. 29.03.2005).

O voto do Ministro Moreira Alves na Ação Rescisória nº 978 (PE) é, da mesma forma, esclarecedora no tocante à questão do prequestionamento:

“Entendo que, em se tratando de aço rescisória, a decisão rescindenda é atacável, ainda que a lei, que venha a ser invocada na ação rescisória, não tenha sido examinada pela decisão rescindenda. Parece-me que, em matéria de rescisória, não há que se falar em prequestionamento, porque a coisa julgada diz respeito à decisão sobre os fatos, que são julgados em face da legislação aplicável. Mas ela, evidentemente, não afasta a possibilidade de, com relação à mesma questão, invocar-se a lei que a decisão rescindenda deveria ter aplicado, e que, por equívoco, não aplicou” (STF, Pleno, relator Ministro Cunha Peixoto, j. 11.10.1978). No mesmo sentido são os Embargos em Ação Rescisória nº 732-8 (RJ), em que foi relator o Ministro Soares Muñoz (STF, Plenário, j. 28.02.1980).

185

Op. cit., comentário nº 25 ao artigo 485, p. 536-537. 186

O prequestionamento nos recursos extraordinário e especial: e outras questões relativas a sua admissibilidade e ao seu processamento, p. 353.

187

Posição idêntica é a de Sérgio Rizzi, Ação rescisória, p. 111, para quem “não pode ser julgada procedente a ação rescisória com fundamento em violação de lei que não foi discutida na causa; salvo se o texto legal não poderia ter sido aplicado de ofício, em virtude da proibição constante de outra norma escrita, como ocorre no caso de prescrição de direitos patrimoniais (há proibição no art. 219, § 5º, do Código de Processo Civil, e no art. 161 do Código Civil)”.

Código Civil e no Código de Processo Civil. De fato, a antiga redação do art. 219, § 5º, do CPC permitia ao juiz somente conhecer da prescrição, de ofício, nos casos que não envolvessem direitos patrimoniais. Atualmente, com a nova redação dada pela Lei 11.280/2006, não há qualquer restrição para que o juiz pronuncie a prescrição de ofício. Tal permissão é corroborada, também, pela revogação, pela mesma lei, do art. 194 do Código Civil, o qual previa que “o juiz não pode suprir, de ofício, a alegação de prescrição, salvo se favorecer a absolutamente incapaz”.

Depreende-se, assim, diante das atuais alterações, que a prescrição, em qualquer hipótese, pode ser declarada de ofício pelo juiz e, conseqüentemente, no âmbito da ação rescisória, não se poderia exigir que a questão da prescrição tivesse sido suscitada no processo principal pela parte.

Por fim, deve ser lembrado que a existência de prequestionamento na decisão rescindenda eleva-se em importância para a fixação da competência para o conhecimento da ação rescisória, devendo, para tanto, ser observados os procedimentos previstos nas Súmulas nº 249 e 515, ambas do Supremo Tribunal Federal.188

188

Assim prevêem as Súmulas: “249. É incompetente o Supremo Tribunal Federal para a ação rescisória, quando, embora não tendo conhecido do recurso extraordinário, ou havendo negado provimento ao agravo, tiver apreciado a questão federal controvertida” ; “515. A competência para a ação rescisória não é do Supremo Tribunal Federal, quando a questão federal, apreciada no recurso extraordinário ou no agravo de instrumento, seja diversa da que foi suscitada no pedido rescisório”.