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3. PREQUESTIONAMENTO

3.7. Outras questões referentes ao prequestionamento

3.7.2. Questão que surge no próprio julgado

Em hipóteses excepcionais, pode ocorrer que a ofensa à lei federal ou constitucional nasça do próprio julgado. Se assim suceder, é evidente que será impossível à parte haver provocado o prequestionamento da matéria, como ocorre, por exemplo, nos casos em que há julgamento extra petita (violação aos artigos 128 e 460 do CPC).

Nessas circunstâncias, o Colendo Superior Tribunal de Justiça tem reiteradamente decidido que inexiste a necessidade de oposição de embargos de declaração, pois a parte não tem dons divinatórios. Todavia, há julgados em sentido contrário, não havendo uma tendência sedimentada acerca do assunto. Vejamos os acórdãos abaixo transcritos:

“A necessidade de que o tema haja sido versado no acórdão, para ensejar recurso especial, é da natureza deste recurso, decorrendo dos termos em que constitucionalmente previsto. É de exigir-se, ainda quando se trate de vício do

próprio julgamento. Se o aresto nele incidiu sem que haja, entretanto,

manifestação a respeito, necessária a apresentação de embargos declaratórios para que o tribunal enfrente a matéria.”157

“As questões federais – inclusive os ‘errores in procedendo’ – surgidas no julgamento da apelação devem ser prequestionadas, sob pena de não conhecimento do Recurso Especial.”158

“Recurso Extraordinário: prequestionamento: inexigibilidade, quando se cuida de nulidade originária do próprio acórdão.”159

“Recurso Extraordinário – Prequestionamento – Dispensa – Hipótese em que a alegada ofensa ao texto constitucional surgiu no julgamento do recurso da parte vencida – Recurso conhecido – Inaplicabilidade das Súmulas 282 e 356 do Supremo Tribunal Federal. O científico rigor na aferição da existência do prequestionamento como um dos requisitos necessários à manifestação e ao na instância extraordinária do recurso especial, mas o problema só poderia ser discutido em recurso extraordinário contra o acórdão do STJ, que não foi interposto” (Julgado em 08.11.94, 1ª Turma).

157

EmbDiv em REsp. nº 99.796, j. 16.06.99, Rel. Ministro Eduardo Ribeiro. 158

REsp nº 6.720, j. 10.10.96, Rel. Ministro Adhemar Maciel. 159

reconhecimento do apelo extremo deve sofrer temperamento em casos em que a alegada ofensa ao texto constitucional surja ao ensejo do julgamento de recurso da parte vencida, sob pena de se estar exigindo que possuam as partes dons divinatórios, que a lei e a boa razão desconsideram.”160

Não obstante a ausência de uniformização da jurisprudência a respeito do tema, importante lembrar que, nas hipóteses em que a violação à lei ou à Constituição Federal tenha se iniciado no próprio julgado, não seria coerente exigir do jurisdicionado uma atuação que excedesse os limites do razoável, mesmo porque seria impossível exigir-lhe provocar o prequestionamento de uma matéria que somente surgirá em momento posterior. A convivência num Estado de Direito implica afirmar que as partes não podem ser surpreendidas, cabendo a elas oportunidade de defesa e de manifestação.161

De outro lado, não representa qualquer abuso a exigência de oposição de embargos declaratórios naquelas situações em que, embora a violação tenha ocorrido no julgado, não houve clara manifestação do órgão julgador a respeito

160

RE nº 107.439-6-SP, j. 23.05.86, 1ª Turma, Rel Ministro Oscar Corrêa. 161

Nesse sentido, importante verificar o acórdão proferido no RE nº 111.771-1 (AL), que, embora proferido antes da promulgação da atual Constituição, lança aspectos importantes a respeito da questão. A matéria de fundo do mencionado acórdão refere-se à ação rescisória de sentença proferida em ação de usucapião, rescisória essa ajuizada por pretenso proprietário do imóvel, não citado para os termos do processo de usucapião. No acórdão, o relator Ministro Sydney Sanches aborda a matéria atinente à violação surgida no próprio acórdão recorrido:

“4. Resta, pois, saber se o apelo é admissível, no caso, enquanto alega violação dos §§ 3º e 22 do art. 153 da CF.

Tais normas não foram ventiladas no v. acórdão recorrido, nem em embargos declaratórios, o que, em princípio, segundo as Súmulas 282 e 356, impediria o conhecimento do extraordinário, por falta de prequestionamento.

5. Sucede que a ofensa a tais dispositivos, segundo alegam os recorrentes, teria ocorrido apenas e tão-somente no próprio julgamento recorrido. Não poderiam eles ter sido prequestionados, pois não se sabia, de antemão, que seriam violados. Vale dizer: a ofensa à coisa julgada e ao direito de propriedade, ocorridas apenas no aresto impugnado, não poderiam ter sido previstas.

6. O Supremo Tribunal Federal tem admitido recurso extraordinário para discussão de questões que não poderiam ter sido suscitadas antes do julgamento recorrido, ou seja, as surgidas apenas com ele e não antes dele.

(...)

7. Ora, no caso dos autos, também o prequestionamento é inexigível, pois os autores da ação não sabiam que, no julgamento, acabaria ocorrendo aquilo que chamam de violação à coisa julgada e ao direito de propriedade, a nível constitucional.

E até os embargos declaratórios seriam dispensáveis, pois não visariam esclarecer o julgamento, mas, de certa forma, demonstrar seu desacerto, caracterizando-se como infringentes.

dos aspectos que ensejaram tal vício. Como exemplo, cita-se a situação na qual, ao julgar questão de cunho infraconstitucional, o tribunal acaba por ofender dispositivo da Constituição Federal. Nesse caso, como o tribunal possivelmente não adentrou no questionamento a respeito do artigo constitucional violado, caberá à parte prejudicada provocar o prequestionamento da matéria em sede de embargos de declaração. No entanto, existindo manifestação jurisdicional a respeito do próprio dispositivo constitucional infringido, não há que se falar em oposição de embargos de declaração, uma vez que o prequestionamento já se encontra presente.162

162

José Miguel Garcia Medina, O prequestionamento nos recursos extraordinário e especial: e outras questões relativas a sua admissibilidade e ao seu processamento, p. 339, no entanto, entende não ser necessária a oposição dos embargos de declaração para fins de prequestionamento nas hipóteses em que a violação ocorre no próprio julgado:

“Quando a própria decisão recorrida viola a norma jurídica, não há que se falar em necessidade de prequestionamento pela parte, através de embargos de declaração. Efetivamente, não há razão lógica para tal exigência, pois o requisito imposto pela Carta Magna à admissibilidade do recurso extraordinário ou especial já se encontra presente. Ademais, os embargos de declaração não se podem prestar a agitar a matéria que já existe na decisão embargada, a não ser que haja contradição, obscuridade ou omissão.”

Gleydson Kleber Lopes de Oliveira, Recurso especial, p. 268-271, também apresenta o mesmo entendimento ao afirmar:

“Impõe-se discutir se, quando a questão federal surgir, originariamente, na decisão final proferida pelo tribunal a quo, é necessária a interposição do recurso de embargos declaratórios, a fim de o órgão julgador emitir pronunciamento a respeito da nova questão. Para uma corrente doutrinária e jurisprudencial, mostra-se desnecessária a interposição dos embargos de declaração, tendo em vista a ventilação na decisão recorrida da questão federal, sendo formalismo exigi-la. De outro lado, para outra corrente, quando a questão surgir no próprio acórdão, afigura-se necessária a interposição do recurso de embargos declaratórios, a fim de o órgão julgador emitir pronunciamento acerca da nova questão.

Se o vício surgir originariamente na decisão final é evidente que as partes não suscitaram a questão federal anteriormente. Cumpre afirmar que, como o recurso de embargos de declaração é de fundamentação vinculada, necessariamente o recorrente tem que alegar um dos vícios indicados no art. 535 do CPC, sob pena de inadmissibilidade. Pelo fato de não haver omissão, obscuridade ou contrariedade a ser suprida, afigura-se incorreto exigir, para fins de configuração de prequestionamento, a interposição do recurso de embargos de declaração, com o propósito de o órgão julgador emitir pronunciamento acerca da questão federal surgida originariamente na decisão final. Ademais, quando a questão federal surge originariamente no próprio acórdão recorrido, considera-se preenchido o requisito do prequestionamento, visto que há pronunciamento acerca da questão que vai ser veiculada no recurso especial. Não se confundem prequestionamento com a atividade da parte em suscitar questão federal, de forma que a presença da questão federal no acórdão recorrido é suficiente para configurar o prequestionamento. Por conseguinte, afigura-se equivocado o entendimento prevalente no Superior Tribunal de Justiça de que, mesmo quando questão federal surja no julgamento do acórdão, deve a parte interpor recurso de embargos de declaração.”

3.7.3. Interposição dos recursos extraordinário e especial por terceiro