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5. AS TUTELAS DE URGÊNCIA NO ÂMBITO DOS RECURSOS EXCEPCIONAIS

5.5. Do cabimento da medida cautelar para concessão de efeito suspensivo, em função

5.5.1. A orientação do Supremo Tribunal Federal

Pacificou-se no âmbito do Supremo Tribunal Federal o entendimento de que o requerimento de medida cautelar para dar efeito suspensivo ao recurso extraordinário só será admissível se houver juízo positivo de admissibilidade desse recurso pela presidência do Tribunal local.348

Nesse sentido, o Supremo Tribunal Federal editou a Súmula nº 634, com o seguinte teor: “Não compete ao Supremo Tribunal Federal conceder medida cautelar para dar efeito suspensivo a recurso extraordinário que ainda não foi objeto de juízo de admissibilidade na origem”.

O Supremo Tribunal Federal entende ainda que, se a Corte deferisse a medida cautelar sem que o Tribunal local houvesse admitido o recurso extraordinário, tal atitude violaria a independência do Tribunal local.349

De fato, considerando que o fumus boni juris consiste no juízo de probabilidade do provimento do mérito do recurso excepcional, é certo que a

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“É pressuposto de admissibilidade do pedido de medida cautelar a configuração de um recurso extraordinário admitido, não podendo supri-lo a emissão de juízo de admissibilidade, nem considerar implantada a fase delibatória, enquanto pendente de decisão o agravo de instrumento de despacho indeferitório , prolatado pelo presidente do tribunal de origem” (STF, 1ª Turma, Pet. 1.281-8 – AgRg-RS, Rel. Ministro Octavio Gallotti, v.u., DJU 03.04.1998, p. 11).

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“O disposto no parágrafo único do art. 800 do CPC, na redação que lhe deu a Lei 8.592/94, não se aplica a recurso extraordinário ainda não admitido, pela singela razão de que sua aplicação implicaria pré-julgamento da admissão do recurso extraordinário pelo relator da petição de medida cautelar, que se torna prevento para julgar o agravo contra o despacho da não-admissão desse recurso, em detrimento da livre apreciação do Presidente do Tribunal a quo no âmbito da competência originária que a legislação lhe outorga para esse juízo de admissibilidade, porquanto, se considera relevante o fundamento jurídico do recurso extraordinário para o efeito de conceder- lhe o efeito suspensivo que a legislação não lhe outorga, é evidente que ele deverá ser admitido ainda que para melhor exame. Ademais, se, não obstante isso, o Presidente do Tribunal a quo não admitir o recurso extraordinário a que foi dado efeito suspensivo em medida cautelar perante essa Corte, ter-se-á, a esdrúxula situação de um recurso extraordinário não-admitido por quem é competente para tanto continuar a ter efeito suspensivo antes de reformada a decisão de não admissibilidade, uma vez que o despacho de não admissão na Corte de origem não tem força para reformar a concessão da cautelar dada pelo Tribunal ad quem que lhe é hierarquicamente superior” (STF, 1ª. Turma, AGPET 1189-MG, Rel. Ministro Moreira Alves, v.u., DJU 06.12.1996, p. 92).

aludida decisão proferida pelo Tribunal Superior constituiria um forte indicativo de que o juízo de admissibilidade deveria ser positivo.

Portanto, é lícito afirmar que, se o Supremo Tribunal Federal concedesse a medida cautelar antes do juízo de admissibilidade do recurso extraordinário pelo Tribunal local, este último ver-se-ia compelido a admitir o recurso extraordinário. Afinal, já seria conhecido, previamente, o entendimento do relator de eventual agravo de instrumento contra o despacho denegatório daquele recurso extraordinário.

Contudo, certo é que em função do princípio da inafastabilidade da jurisdição (CF, art. 5º, XXXV) alguém sempre será competente para conceder a tutela de urgência e, nesse caso, tal competência cabe à presidência do Tribunal local.

Nessa linha, e complementando a orientação consubstanciada na já mencionada Súmula nº 634, o Supremo Tribunal Federal editou também a Súmula nº 635, estabelecendo que “cabe ao Presidente do Tribunal de origem decidir o pedido de medida cautelar em recurso extraordinário ainda pendente de seu juízo de admissibilidade”.

Por outro lado, se a presidência do Tribunal local conceder a providência cautelar pleiteada com vistas a atribuir efeito suspensivo a recurso extraordinário ainda não apreciado, caberá ao próprio Supremo Tribunal Federal, quando da remessa dos autos, reexaminar a decisão.350

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“Considerando a orientação firmada pelo STF no sentido de que não cabe medida cautelar inominada para obtenção de efeito suspensivo a recurso extraordinário que ainda não foi admitido na origem, permitindo-se, nesses casos, que o presidente do tribunal a quo examine o pedido de liminar – que, se concedido, será provisório, cabendo ao STF quando da subida dos autos ratificá- la ou não –, a Turma negou provimento ao agravo regimental em petição interposto contra decisão do Ministro Sidney Sanches, relator, em que se pretendia a concessão de efeito suspensivo a

No Supremo Tribunal Federal há, ainda, entendimento no sentido de que o requerimento da medida cautelar deve ser processado nos próprios autos do recurso extraordinário, não se tratando, in casu, da ação cautelar inominada prevista no art. 796 do Código de Processo Civil.351

Com relação ao recurso extraordinário retido (§ 3º do artigo 542 do Código de Processo Civil), como foi visto em capítulo anterior, o Supremo Tribunal Federal adota a mesma orientação, ou seja, como a admissibilidade desse recurso somente será examinada por ocasião de sua reiteração, entende o Supremo Tribunal Federal que não lhe cabe apreciar requerimento de medida cautelar para dar efeito suspensivo ao recurso ou para determinar a imediata remessa dos autos.

Portanto, havendo situação de urgência que justifique a concessão de medida cautelar relativamente ao recurso extraordinário retido, o respectivo requerimento deve ser dirigido à presidência do Tribunal local.352

recurso extraordinário ainda não admitido na origem. Precedente citado: PET (QO) 1.863-RS (DJU 14.4.2000, PET (AgRg) 1.871-RS e 1.862-RS, Rel. Ministro Sydney Sanches, 08.08.2001 (PET 1871) (PET 1862)” (Informativo STF 236).

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“Petição. Ação cautelar inominada. Despacho de Indeferimento da cautelar, ficando prejudicado, assim, o agravo regimental da peticionária. Esta Turma, ao apreciar questão de ordem na Petição 1414, decidiu que não se aplica, no âmbito desta Corte, em se tratando de medida cautelar relacionada com recurso extraordinário, o procedimento cautelar previsto no art. 796 e seguintes do Código de Processo Civil, uma vez que, a propósito, há norma especial de natureza processual – e, portanto, recebida com força de lei pela atual Constituição – em seu Regimento Interno. Trata-se do inciso IV do art. 21 que determina que se submetam ao Plenário ou à Turma, nos processos da competência respectiva, medidas cautelares necessárias à proteção de direito susceptível de grave dano de incerta reparação, ou ainda destinadas a garantir a eficácia da ulterior decisão da causa. Assim, petição dessa natureza, na pendência de recurso extraordinário, não constitui propriamente ação cautelar, mas, sim, requerimento de cautelar nesse próprio recurso – embora processado em autos diversos por não terem ainda os dele chegado a esta Corte – e requerimento que deve ser processado como mero incidente do recurso extraordinário em causa” (STF, 1ª Turma, AGRPET 1440-PE, Rel. Ministro Moreira Alves, v.u. DJ 29.05.1998, p. 7).

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“Na hipótese de retenção de recurso extraordinário (CPC, art. 542, § 3º), também se aplica a jurisprudência do STF no sentido de que compete ao Presidente do Tribunal a quo conceder, ou não, o pedido de medida cautelar referente ao recurso extraordinário ainda não submetido ao juízo de admissibilidade na origem. Com esse entendimento a Turma não conheceu da petição em que se pleiteava a concessão de medida liminar em ação cautelar inominada com vistas a assegurar o processamento do recurso extraordinário retido interposto contra acórdão em agravo de

Cabe registrar, por fim, acerca desse assunto, que o Supremo Tribunal Federal, em curiosa decisão, concedeu medida cautelar com o escopo de determinar à Presidência do Tribunal local o exame acerca da admissibilidade do recurso extraordinário, nada obstante não se tenha afastado o regime da retenção.353