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3 COMPREENDENDO OS PLANOS NARRATIVO E DISCURSIVO

3.2 Nível discursivo: textos e discursos em Once upon a time

3.2.4 Intertextualidade: significações de histórias clássicas

3.2.4.5 A Bela e a Fera

Em nosso percurso explorador de significações de uma narrativa, chegamos à história de A Bela e a Fera. A versão mais conhecida do conto é de Madame de Beaumont (Jeanne- Marie Leprince de Beaumont), datada de 1756 (BEAUMONT, 2013, p. 74-93). A protagonista, Bela, era uma menina humilde que adorava ler, filha de um negociante muito rico e irmã de outras duas meninas muito vaidosas que gostavam de festas, luxo e ostentação, além de outros três irmãos. Em certo momento, contudo, o negociante perde sua fortuna e vão todos morar no campo, para a profunda tristeza das irmãs vaidosas de Bela. Após um ano no campo, recebendo notícias de que um navio atracara no porto com mercadorias suas, o pai parte, recebendo de Bela um singelo pedido de lhe trazer uma rosa. No caminho de volta, ainda mais pobre, por não ter conseguido suas mercadorias, o negociante se abriga num castelo que encontra no caminho, pois estava perdido no bosque e precisava se proteger de uma nevasca. Entrando ali, sem avistar ninguém, come o jantar posto à mesa e dorme em um dos aposentos. Na manhã seguinte, partindo do palácio, lembra do pedido da filha caçula e colhe uma rosa do jardim do castelo. Porém, foi surpreendido pela Fera, proprietária da mansão. Ofendida pelo roubo da rosa após toda a hospitalidade oferecida, a Fera jura o negociante de morte. Suplicando perdão, o velho explica que colheu a rosa para atender a um pedido da filha mais nova. A Fera, então, ordena que o negociante traga, dentro de três dias, uma das filhas para se oferecer como prisioneira dele em seu lugar. A Fera o deixa partir, inclusive entregando a ele um cofre cheio de moedas de ouro. O pai, chegando em casa, explica o que havia acontecido, e Bela, em um gesto de ternura pelo pai, se oferece para salvá-lo. Assim, dentro de três dias, conforme o combinado, Bela chega ao palácio de Fera. Na primeira noite, sonha com uma dama (uma fada), que lhe explica que ela será recompensada por sua boa ação. Com o passar dos dias, Bela e Fera se aproximam cada vez mais. Bela passou três meses ali, tranquila e feliz com as conversas e a companhia da Fera todas as noites durante a ceia. Num determinado dia, Bela pede a gentileza de poder visitar seu pai, pois enxergou, através de seu espelho, que ele está triste com saudades dela. A Fera concorda, dá a ela oito dias para ficar com sua família e explica que, para retornar, basta Bela colocar seu anel sobre a mesa. Bela, então, parte e reencontra seu pai e seus irmãos. Suas irmãs, invejando a felicidade da caçula, tiveram a ideia de distrair Bela para que ela retardasse

seu retorno para além dos oito dias e deixasse a Fera furiosa. Na décima noite que Bela está na casa de seu pai, porém, ela sonha que Fera está morrendo por sua falta. A menina, então, percebe que ela também sente falta dele e que o ama verdadeiramente, decidindo retornar naquele instante. Chegando ao castelo, Bela encontra Fera de fato esvaecendo-se por não se alimentar direito, temendo que Bela não retornasse. Bela se dá conta que não pode viver sem ele, declarando seu amor ao aceitar se casar com ele. Fera, então, se transforma num lindo príncipe, pois o amor de Bela fez quebrar um encanto que o condenara a viver sob a forma de fera. Por fim, a Bela e o Príncipe se casam e vivem felizes para sempre. Antes, porém, a fada que apareceu em sonho para Bela transforma as suas irmãs em estátuas frontais do palácio, para testemunharem diariamente a felicidade da caçula, como castigo aos seus corações ruins. A versão mais popular de A Bela e a Fera, midiatizada pela Disney (1991), traz algumas mudanças nessa história original. As distinções centrais seriam as seguintes: o pai de Bela, em vez de negociante, é um inventor frustrado; as irmãs más não são transformadas em estátuas ao final e, principalmente, a narrativa da Disney traz uma explicação para o encantamento do Príncipe em Fera que inexiste no original. Na versão da Disney, tal feitiço teria origem porque o Príncipe, rude, se recusou a hospedar uma velha senhora em troca de uma rosa. Esta, então, feiticeira, rogou a maldição transformando o Príncipe em Fera, determinando que a rosa, encantada, floresceria até o 21o ano, quando começaria a perder suas pétalas. Assim, se a Fera não encontrasse um amor verdadeiro correspondido até a última pétala cair, permaneceria Fera para sempre.

No Reino Encantado de Once upon a time, a história construída a partir do texto de A Bela e a Fera se inicia com um Guarda Real trazendo más notícias da Guerra dos Ogros a Sir Maurice. Chega, então, Rumpelstiltskin para salvar o Reino, informando que o seu preço é Bela, filha do Rei, pois ele deseja uma guardiã para suas vastas propriedades. Bela aceita. Num primeiro momento, ele coloca a menina num calabouço, mas aos poucos os dois vão se aproximando a ponto de Rumpelstiltskin revelar a ela inclusive que teve um filho e que o perdeu, assim como a mãe do menino. Em determinado momento, Gaston, noivo de Bela, bate à porta do castelo de Rumpelstiltskin, e este transforma o rapaz numa rosa vermelha. Retornando ao interior do castelo, diz que era uma velha vendendo flores e dá a rosa a Bela. Em outro momento, Rumpelstiltskin faz uma proposta: Bela deve buscar palha na cidade e, na volta, contará a história completa dele sobre seu filho para ela. Lá fora, caminhando, Bela passa pela carruagem da Rainha Má, que desce e caminha com ela. As duas conversam e, nessa conversa, a Rainha faz Bela perceber que ama Rumpelstiltskin e sugere que a moça o beije, justificando que o ato o faria voltar a ser um homem comum e não essa entidade

sombria que é atualmente. Assim, Bela retorna ao castelo e beija Rumpelstiltskin, e a maldição começa a se desfazer. Contudo, ele interrompe o beijo, concluindo que Bela trabalha para a Rainha Má para enfraquecê-lo. Rumpelstiltskin, então, coloca Bela no calabouço e, mais ao final, liberta-a, negando veementemente o amor que sente pela jovem. Recebendo visita da Rainha Má um tempo depois, ela o comunica uma notícia mentirosa de que Bela está morta, pois o pai da jovem havia a prendido em uma torre da qual ela se jogou. Assim, a história finaliza com Rumpelstiltskin colocando sua xícara lascada (única lembrança que guarda de Bela) em pedestal, lugar de destaque em sua sala.

Enquanto isso, no Mundo Real da série, a história construída a partir do texto de A Bela e a Fera inicia na véspera de um Dia dos Namorados com Gold confiscando o furgão de Moe French, florista, por falta de pagamento. Na sequência, a casa de Sr. Gold é assaltada, a xerife Emma é acionada e ele declara que o assaltante foi Moe. Avançando na narrativa, Emma recupera as peças roubadas por Moe, mas Sr. Gold sente falta de um objeto, o mais precioso segundo ele: uma xícara lascada. Sr. Gold, então, decide resolver o caso com as próprias mãos e sequestra Moe. Amarra-o e tortura-o, insistindo em saber onde está a xícara e quem mandou Moe roubá-la. Na sequência, Emma chega ao local, Moe é enviado ao hospital, e Sr. Gold vai preso na delegacia. Finalizando o episódio, Regina chega à delegacia para conversar com Sr. Gold. A prefeita está com o objeto que Sr. Gold deseja (a xícara), mas, em troca, ela quer que o homem responda: “Qual o seu nome? O verdadeiro, dos momentos passados em outro lugar”. Ele fala “Rumpelstiltskin”, e Regina, então, devolve a xícara lascada. Ao final, vemos Regina entrando em parte subterrânea do hospital da cidade, em uma espécie de calabouço, onde está internada Lacey French (Bela), que apenas retornará a aparecer no Mundo Real no último episódio da temporada, procurando por Sr. Gold.