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1 SOBRE OBJETO EMPÍRICO E PERCURSO METODOLÓGICO

1.2 Desenho metodológico alcançado

Introduzido nosso objeto empírico de estudo, nosso interesse agora é esboçar o grosso dos traços do desenho metodológico planejado para este estudo, com a intenção de deixarmos o aprofundamento dos detalhes de cada etapa para cada momento pertinente, ou seja, para os respectivos capítulos que seguem e que, afinal, correspondem a etapas da metodologia. O objetivo é apenas deixar delineado o percurso que programamos.

Em termos de procedimentos metodológicos, que compreendemos como os processos sistemáticos selecionados na tentativa de investigação do objeto de pesquisa em questão, entendemos que envolve a adoção de abordagens, modalidades, técnicas, instrumentos e análise dos dados que mais se adequam a cada situação. Desse modo, a fim de alcançarmos os objetivos propostos, apostamos em uma metodologia combinada, que associa mais de uma técnica de aproximação ao corpus da pesquisa. Assim, levando em consideração a natureza das fontes de pesquisa, desmembramos o estudo no que chamamos de três de etapas metodológicas distintas e complementares, a saber: (1) pesquisa bibliográfica; (2) pesquisa documental; e (3) análise do corpus.

A pesquisa bibliográfica é caracterizada por uma revisão de literatura, em torno de conceitos e autores que abordam os assuntos afins ao tema proposto e que dão sustentação e fundamentação teórica ao estudo. Empreendemos, portanto, para essa pesquisa bibliográfica, a leitura e a análise de diversas fontes, como livros, artigos em periódicos científicos e em anais de eventos acadêmicos, disponíveis de forma impressa ou digital.

Tal fundamentação teórica percorre uma série de eixos conceituais. Entre eles, exploramos os conceitos de narrativa (GENETTE, s.d.; TODOROV, 2008; ARISTÓTELES, 2011; entre outros) e sua importância em nossas vidas (BRUNER, 2014), assim como também abordamos as estruturas e funções das narrativas (PROPP, 2010; CAMPBELL, 2007; VOGLER, 2009). Da produção de conhecimento sobre o audiovisual televisual, na tentativa de situar nosso objeto, trazemos uma discussão sobre gêneros e formatos (LOPES; BORELLI; RESENDE, 2002; BORELLI, 1996; PALLOTTINI, 2012; MACHADO, 2005) e também sobre adaptações e remakes (BALOGH; MUNGIOLI, 2009; BALOGH, 2005; 2006; 2008). Acrescentamos as caracterizações de uma narrativa complexa (MITTELL, 2012) e um estudo sobre o cronotopo (BAKHTIN, 2014b) que se apresentam significativos. Desenvolvemos um apanhado teórico sobre os conceitos de intertextualidade (KRISTEVA, 2012; FIORIN, 2003) e dialogismo (BAKHTIN, 2011; 2014a; 2014b), que nos são centrais; além de conceitos afins a esses de uma série de outros autores dos estudos do discurso.

Atravessamos, ainda, a questão das representações (MOSCOVICI, 2013) e do imaginário (DURAND, 1985; 2000; 2004; 2012) que se mostram pertinentes para os estudos de imagem, igualmente uma proposta metodológica para o estudo da imagem (PINK, 2008) e um olhar antropológico dos estudos da cultura material, para a análise dos objetos articuladores da intertextualidade imagética na narrativa (MCCRACKEN, 2003; MILLER, 2013; GELL, 1998; LATOUR, 2012). Essas são nossas principais referências consultadas e citadas, mas conversamos com outras em menor intensidade, que são apresentadas ao longo dos próximos capítulos.

Dando continuidade ao percurso metodológico, a segunda etapa, a pesquisa documental, por sua vez, é assim chamada por consistir na consulta de material que ainda não recebeu, por parte do pesquisador, “[...] nenhum tratamento analítico, são ainda matéria- prima, a partir da qual o pesquisador vai desenvolver sua investigação e análise” (SEVERINO, 2007, p. 123). Fazemos referência, pois, aos episódios de Once upon a time que foram por nós assistidos para devido recorte do corpus (1a temporada) e sua análise.

Finalizando (terceira etapa), submetemos, então, o corpus selecionado à análise a partir de todo o embasamento teórico anterior, buscando fazer emergir textos e discursos, respondendo a nossos objetivos. Metodologicamente, nossa análise do corpus se desdobra em três planos: no plano da narrativa, no plano do discurso (ambas na esfera do verbal) e no plano da imagem. Primeiramente, no plano da narrativa, nós fazemos um mapeamento da estrutura da narrativa da série, levantando suas principais funções e personagens (PROPP, 2010; CAMPBELL, 2007; VOGLER, 2009).

No plano do discurso, assumimos os conceitos de intertextualidade (KRISTEVA, 2012; FIORIN, 2003) e dialogismo (BAKHTIN, 2011, 2014a, 2014b) como instrumentais para a desconstrução da narrativa e do discurso, uma vez que a série se constrói retrabalhando textos de clássicos contos de fada e conversando com discursos de antes e de hoje. Nós, então, desconstruímos a série, levantando os contos com os quais ela trabalha, e identificamos os sentidos (novos ou não) que os contos ganham no Reino Encantado da série e em seu Mundo Real.

Em seguida, partimos para o terceiro plano da análise, o imagético. Aqui, inspiramo- nos em método de análise audiovisual proposto por Sarah Pink (2008), pesquisadora inglesa, cuja análise da imagem de um texto cultural compreende três etapas. Primeiro, entender o objetivo e a origem do texto cultural em questão. Segundo, identificar o contexto sociocultural mais amplo em que as imagens do texto são produzidas – compreende

identificar conexões entre as práticas representadas no texto e o macrocontexto em que emergem essas práticas. Terceiro, analisar os significados das imagens do texto.

Empreendemos, portanto, tal trajeto sugerido por Pink (2008) e, mais especificamente, fazemos um mapeamento de cenas de Once upon a time para apresentar como elas se constroem intertextualmente (ARAUJO, 2007). Tendo identificado que, além dos personagens, são determinados objetos que promovem a intertextualidade imagética da série, partimos para um garimpo antropológico pela narrativa, buscando os objetos articuladores das relações intertextuais internas e externas.

Com tal combinação metodológica (três etapas e três planos de análise), acreditamos dar conta do estudo a que nos propusemos de exploração da intertextualidade e do dialogismo de uma narrativa complexa. Ainda que não fosse nossa pretensão, a certo modo, cremos ter construído um percurso metodológico que tem potencial para ser replicado para outros objetos empíricos de estudo no campo do audiovisual. Os pormenores sobre o processo de análise adotado em cada um dos planos investigados são explicados a cada capítulo.