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3 COMPREENDENDO OS PLANOS NARRATIVO E DISCURSIVO

3.2 Nível discursivo: textos e discursos em Once upon a time

3.2.5 Intertextualidade interna e externa: inventário completo em OUAT

3.2.5.16 Episódio 16: Heart of darkness

Como intertextualidade interna entre os mundos da série, há várias situações correspondentes de um espaço-tempo a outro no 16o episódio (Heart of darkness). Assim como Branca de Neve parte da casa dos anões determinada a matar a Rainha Má, Mary Margaret, sua contraparte, é suspeita de matar Kathryn em Storybrooke. No Mundo Real, Emma confia que a incriminação de Mary Margaret é uma armação, porém não enxerga ninguém que teria motivo para lhe querer o mal. Nisso, Henry, em referência ao Reino Encantado, aponta Regina como a pessoa que teria uma razão: “Ela [a Rainha Má] odeia a Branca de Neve”.

Em conversa com David (16o episódio, Heart of darkness), em Storybrooke, Regina desabafa: “Eu entendo o que está passando. Dói ser traído por alguém de quem gostamos”. Nesse ponto, a prefeita está, em verdade, referindo-se ao que considera traição de Branca de Neve com ela em sua outra vida, quando a menina, inocentemente, revelou à mãe de Regina o segredo do verdadeiro amor de sua vida. Em defesa de Mary Margaret, David argumenta: “Ela é uma boa pessoa. Eu a conheço” e “Sim, claro, mas ter um lado sombrio e fazer algo tão maligno são coisas diferentes. Ela não é assim”; parafraseando ele mesmo, ou melhor, sua contraparte no Reino Encantado: “A Branca não é sanguinária. Ela não é assassina. Eu a conheço”, e: “Ela nunca seria tão maligna”.

Os mesmos personagens, David e seu equivalente, Príncipe Encantado, ouvem nos distintos mundos o mesmo discurso de pessoas diferentes. Enquanto Rumpelstiltskin fala: “O mal não nasce pronto, querido. É feito. Se a Branca tomar esse caminho, nunca a terá de volta!”, Regina no outro mundo o cita: “Sempre pensei que o mal não nasce pronto, ele se faz”.

No Reino Encantado (16o episódio, Heart of darkness), o anão Zangado resume bem a “nova” Branca de Neve após ter tomado a poção para não lembrar mais de Príncipe

Encantado e da dor de estarem separados: “Branca de Neve, você mudou. Tornou-se irada, irritada, pura e simplesmente má”. No outro espaço-tempo atual, durante o interrogatório de Mary Margaret, Regina, em alusão à mudança de Branca de Neve no Reino Encantado, tenta convencer e insinuar que Mary Margaret mudou após Kathryn ter batido nela em frente a todos da escola, e isso a teria levado a assassinar a moça: “Sei o que está passando. Sei como é perder quem se ama, ser humilhada publicamente. Eu fiquei arrasada. Eu mudei. Posso imaginar o que perdê-lo [David] fez a você”, e “Ela [Mary Margaret] é uma mulher de coração partido. E isso pode levá-la a fazer coisas indescritíveis”. Aqui também há uma concreta indicação à situação passada por Regina enquanto Rainha Má no Reino Encantado: sua mãe matou seu verdadeiro amor, e isso endureceu seu coração e esfriou seus sentimentos para sempre, o que a fez praticar a maldade a todo custo.

Assim como Dr. Archibald tenta ajudar David no Mundo Real (16o episódio, Heart of darkness), os respectivos personagens equivalentes a eles, Grilo Falante e Príncipe Encantado, também encontram-se no mundo dos contos de fada da série e o inseto orienta o Príncipe. Em Storybrooke, na tentativa de ajudar David a recuperar a memória do que aconteceu durante seu apagão, Dr. Archie faz uma sessão de hipnose com o rapaz. Acontece que o personagem entra em hipnose profunda e, além de lembrar das memórias imediatas, tem flashes de sua vida passada com Branca de Neve, o que mais uma vez enxergamos como uma intertextualidade interna entre as duas dimensões tempo-espaciais.

“Digamos apenas que investi no seu futuro” é uma citação clara e explícita de um mundo a outro e na voz de personagens equivalentes (16o episódio, Heart of darkness). É falada por Sr. Gold, no Mundo Real, como justificativa por ajudar Mary Margaret sendo seu advogado de defesa no caso do suposto crime contra Kathryn, e é enunciada por Rumpelstiltskin para Príncipe Encantado para justificar porque lhe forneceu a informação sobre o paradeiro de Branca de Neve. No fundo, Sr. Gold e Rumpelstiltskin pretendem, com isso, atingir Regina/Rainha Má.

A partir de afirmações e questionamento de Emma, em Storybrooke (16o episódio, Heart of darkness), podemos traçar várias considerações: “O coração [supostamente de Kathryn] foi enterrado perto da antiga ponte. Parece ter sido arrancado com uma faca de caça. Já esteve naquela ponte?”. Aqui, nesse pequeno trecho, vemos relações intertextuais internas e externas à série. Externa, porque a faca de caça remeteria ao Caçador e sua missão de arrancar um órgão de Branca de Neve no texto-fonte da personagem homônima (GRIMM, 2005, p. 33-41). Já relações intertextuais internas estariam nas menções também ao Caçador e à sua tarefa de arrancar o coração de Branca de Neve no Reino Encantado, mas também, indo

além, há uma alusão, no questionamento a respeito da ida de Mary Margaret à ponte, ao fato de que sua contraparte, Branca de Neve, conheceu o grande amor de sua vida, Príncipe Encantado, justamente nesta ponte no espaço-tempo dos contos de fada.

Também identificamos mais uma relação intertextual interna à série, mas dessa vez inserida no mesmo mundo. Dentro de um mesmo discurso sobre Branca de Neve não poder matar a Rainha Má para não se corromper de vez ao mal, Grilo Falante e Rumpelstiltskin falam, respectivamente: “Não, não. Vingança não é a saída. Não, isso vai mudá-la. Ficará mais sombria do que imagina. Nem queira isso. Não, não” e “Se ela matar a Rainha, vai se tornar tão maligna quanto a mulher cuja vida quer tomar”.

Já bem ao fim do 16o episódio (Heart of darkness), localizamos uma relação intertextual externa à série. Quando Zangado comemora: “Vamos mostrar ao Rei [George] o que Branca de Neve e os sete anões podem fazer”, remete-nos objetivamente ao título da clássica animação da Disney (1937), baseada na história de Branca de Neve.