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4. Realização da prática profissional

4.1. Área 1 Organização gestão do ensino e aprendizagem

4.1.3. Realização: fatores gerais que influenciam a qualidade do processo

4.1.3.1. A disciplina e a sua influência no processo de ensino e

Como mencionado no ponto anterior, respeitante ao planeamento, é deveras importante adequar o currículo às necessidades e interesses dos alunos. Dito de outro modo, segundo Estrela (1992), é necessário que o professor planifique cuidadosamente a sua ação, procurando motivar os alunos através de atividades entusiastas, mas ao mesmo tempo pedagógicas. No entanto, o que não foi dito ainda, é que a atuação apropriada do professor não só é importante para uma adequação do ensino aos seus alunos como também para o controlo salutar da sua turma. Passando a explicar, caso o profissional de educação não planeie tendo em vista os interesses evidenciados pelos seus alunos, isto é, caso o professor planifique inadequadamente, poderá levar ao descontentamento/desmotivação dos seus alunos, que se poderá revelar "...através da agressividade, da fuga ao trabalho ou da apatia" (Estrela, 1992, p. 48). O autor acrescenta, ainda, que se grande parte do grupo possuir o mesmo sentimento de frustração poderão, ainda mais, dificultar a tarefa ao professor.

Posto isto, torna-se de extrema importância para o professor gerir, de forma positiva, o espaço de aula para com isso atingir os objetivos a que se propôs (Duarte, 2000). Para tal, o professor deve planear toda a sua ação tendo em conta os seus alunos. Mais ainda, dessa forma, prevenirá fatores de desconforto/indisciplina nas suas aulas, na medida em que, cabe ao mesmo procurar atenuar situações que possam provocar a indisciplina dado que "...o

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bom professor não é o que lida bem com a indisciplina mas o que tem poucas situações de indisciplina com que lidar" (Morgado, 1999, pp. 40-41)

Deste modo, a disciplina é, portanto, um fator incontornável no que à gestão da turma diz respeito, constituindo-se como uma das grandes preocupações da ação pedagógica (Morgado, 1999; Carita & Fernandes, 1999).

A disciplina é tremendamente importante para que os alunos percebam quais os comportamentos apropriados e não apropriados, o que implica restringir os alunos em relação às suas ações na sala de aula. É necessário que o professor revele autoridade, embora que esta seja razoável e bondosa, proporcionando desta forma segurança ao aluno (Gomez, et al., 2000).

Cury (2003, p. 88) corrobora desta opinião, alertando que "expressar a autoridade com agressividade" é um dos sete pecados capitais do professor, assim, cabe ao mesmo mediar a sua atuação tendo em vista a captação do interesse dos alunos. Por outras palavras, é tarefa adjacente ao professor equilibrar o permissivismo com o autoritarismo (Gomez, et al., 2000).

As regras de sala de aula podem servir como mais-valia para o professor, contudo, estas deverão ser legítimas e respeitadas e não vistas como teimosia. Além do mais, estas têm um papel importante no que à regulação da sala de aula diz respeito (Estrela, 1992). Carita e Fernandes (1999) acrescentam, ainda, que a inexistência de regras leva a que os alunos averiguem os limites do professor. Este, devido ao não delineamento de regras poderá sentir dificuldades em lidar com as diferentes situações. Posto isto, torna-se essencial que nas primeiras aulas o professor estabeleça as regras que norteiam o ambiente educativo. No estabelecimento das regras é, ainda, essencial que aja uma negociação entre professor e alunos para desta forma ser-lhes dada parte da responsabilidade, envolvendo-os de forma direta na gestão da sala de aula (Carita & Fernandes, 1999).

No decorrer do EP o EE procurou delinear, em conjunto com os alunos, as normas de sala de aula. Assim, desde cedo foi possível observar algumas das regras esboçadas. Contudo, por motivos alheios, quer aos alunos, quer ao EE, uma das regras apenas foi possível ser posta em prática no terceiro período, devido ao facto de terem esgotado as camisolas da escola. De seguida, ficam alguns excertos de reflexões que comprovam tal facto:

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"Tal como ficou notificado na aula de apresentação, os alunos dispõem de 7 minutos para chegar junto a mim, após o toque. Não houve atrasos, todos cumpriram com o estipulado" (Reflexão 2).

"Importa referir que os alunos foram alertados de que teriam de começar a realizar as aulas com a camisola da escola" (Reflexão 4).

"...contudo, uma das alunas antes de iniciar a aula teve de arranjar um elástico para o cabelo, por sorte da aluna, a professora cooperante possuía um a mais e emprestou-lhe" (Reflexão 10).

"Durante a corrida tive de intervir, isto porque um dos alunos encontrava-se a correr de chiclete na boca" (Reflexão 29).

"Antes de começar, salienta-se o facto de que todos os alunos já dispõem da camisola da escola, algo que ainda não tinha acontecido, devido ao facto de as mesmas estarem esgotadas" (Reflexão 44).

Relativamente à turma que ficou ao encargo do EE, desde cedo se mostrou ser uma turma bem-educada e cumpridora. Assim, foram escassos os problemas disciplinares que atormentaram o EE. A única situação ocorrida, que possa merecer algum destaque foi a de, por vezes, os alunos conversarem um pouco para o lado, que Estrela (1992) denomina de "redes clandestinas". Contudo, quando tal acontecia, o EE optava por se silenciar, levando a que os alunos também se calassem. Como já foi referido, a turma sempre foi bastante cumpridora e, até nestes casos, na maioria das vezes, eram os próprios pares a chamar à atenção os alunos que estavam a conversar. Salienta-se, ainda, um episódio em que um aluno foi chamado atenção por três ou quatro vezes, pelo que, nesta situação, o EE optou por dizer ao aluno que se sentasse no banco sueco. Após alguns minutos chamou-o, conversou com ele e de seguida, permitiu que este retomasse a aula.

Embora, esporadicamente, existissem estes pequenos incidentes, o comportamento global da turma sempre foi bastante apropriado. Este comportamento foi, portanto, condição necessária ao desenvolvimento de atividades mais dinâmicas e entusiastas por parte do EE. Isto porque, em turmas em que ocorrem situações de indisciplina o desenrolar natural da aula é posto em causa, assim como o investimento energético por parte do professor,

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sendo que este, sente a indisciplina como uma intimidação ao seu desempenho (Carita & Fernandes, 1999).

Em síntese, como foi possível entender, a disciplina é, de facto, um marco essencial no que à gestão da sala de aula diz respeito. Morgado (1999, p. 69) afirma mesmo que, "a gestão da sala de aula é uma das preocupações primordiais dos professores...". Desta forma o próximo ponto ficará reservado para a discussão acerca da organização e gestão do ambiente educativo.