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4. Realização da prática profissional

4.3. Área 4 – Desenvolvimento profissional

4.3.3. Ensinar: um processo de aprendizagem ao longo da vida

O desenvolvimento profissional é abordado por Arends (1995) como um processo que decorre ao longo da vida. O autor procura evidenciar a relevância da formação contínua/aprendizagem permanente na formação de profissionais de educação verdadeiramente competentes.

De facto, as transformações económicas, políticas e sociais que têm ocorrido nas últimas décadas modificaram, significativamente, o modo como é encarada a educação e a formação. Neste sentido, os profissionais de educação têm que investir, permanentemente, na sua formação, de forma a poderem acompanhar as novas exigências da sociedade que se encontra em constante transformação (Day, 2001).

Vários autores, tais como Arends (1995), Day (2001), Machado e Formosinho (2009), Perrenoud (1993), entre outros, têm abordado a questão da formação contínua/permanente, chamando a atenção para a importância da busca pelo conhecimento ao longo de toda a vida.

Neste âmbito, Arends (1995) reconhece que tornar-se eficaz/competente leva bastante tempo, seja qual for a profissão. Logo, os profissionais de educação não podem limitar-se à formação inicial, pois os conhecimentos e

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competências adquiridos nesta, por si só, não chegam para oferecer experiências de aprendizagem de qualidade aos alunos.

Arends (1995) recorre a alguns exemplos para demonstrar a importância da formação estender-se por toda a carreira profissional. Neste contexto, usa o exemplo dos atletas que apenas atingem a forma atlética ótima depois de longos anos de aprendizagem e prática constante. Do mesmo modo, muitos escritores consagrados só escreveram as suas melhores obras poucos anos antes da sua morte, depois de terem lançado muitas obras inferiores. Para o autor, tornar-se um profissional de educação competente é similar, é necessário muito desejo de aprender e a consciencialização de que aprender a ensinar é algo que se processa ao longo de toda a vida.

Assim, para o professor a formação inicial de per si não é suficiente, é necessária uma constante atualização dos seus saberes/das suas aprendizagens, para dessa forma ser capaz de desempenhar eficazmente a sua função como docente (Arends, 1995), que de acordo com Machado e Formosinho (2009, p. 287) se constitui como “…uma actividade profissional complexa…”.

No mesmo sentido, Day (2001, p. 213) destaca a necessidade e a relevância do papel da formação contínua, afirmando que:

“…há dados que demonstram que a formação contínua pode produzir, e de facto produz, um forte impacto no pensamento e na prática dos professores e, consequentemente, de uma forma indirecta, na qualidade das experiências de aprendizagem dos alunos na sala de aula”.

Numa posição semelhante, Freire (1996) sublinha que ensinar exige muito mais do que uma pré-preparação ou uma aquisição de saberes e competências para o fazer. Efetivamente, o profissional de educação deve possuir uma responsabilidade ética e profissional e apostar numa formação permanente baseada na análise crítica da sua própria prática. Uma atitude crítica é fulcral para que o professor reflita sobre os caminhos que a prática o faz percorrer para, dessa forma, enriquecer a sua aprendizagem, promovendo um ensino de maior eficácia/qualidade (Freire, 1996). De acordo com o mesmo autor, os conhecimentos e competências que o exercício da profissão docente implica vão-se, então, adquirindo ao longo da carreira.

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Ainda a propósito da formação contínua importa salientar que também o Decreto-Lei n.º 240/2001, de 30 de Agosto, que aprova o perfil geral dos educadores de infância e professores dos ensinos básico e secundário, deixa bastante explícita a “…indispensabilidade da aprendizagem ao longo da vida, para um desempenho profissional consolidado e para a contínua adequação destes aos sucessivos desafios que lhe são colocados”.

Assim depreende-se que a formação deve ser encarada como um continuum que se prolonga por toda a vida do profissional, em que este vai adquirindo novos conhecimentos e aprofundando outros, contribuindo deste modo para melhorar as suas práticas e, progressivamente, alcançar padrões de qualidade no ensino. É neste sentido que o EE, apesar de reconhecer que evoluiu, significativamente, do ponto de vista do seu desenvolvimento profissional e pessoal, tem perfeita consciência de que o conhecimento não se esgota e que o profissional de educação tem que atualizar-se constantemente, é crucial. Portanto, ao longo da sua carreira profissional compete-lhe refletir e investigar de forma a enriquecer e desenvolver o seu próprio conhecimento.

De acordo com vários autores, nomeadamente, Cauterman, et al. (1978) e Tardif, et al. (1978), de um vasto número de meios eficazes, que contribuem para a formação contínua dos professores, bem como para os apoiar no exercício da sua profissão, salienta-se a pesquisa. Segundo os autores, através da pesquisa o professor pode “…clarificar e, potencialmente, melhorar a formação inicial…” (Tardif, et al., 1978, p. 28). A pesquisa permite aos professores descobrirem novos caminhos para responderem às necessidades dos alunos e do contexto, encontrarem soluções para resolverem problemas com as quais se possam deparar e, consequentemente, melhorarem a sua prática profissional.

Recorrendo novamente às ideias de Freire (1996, p. 29) o professor deve consciencializar-se de que “não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino”, pois estes estão intimamente ligados. Assim, o profissional de educação deve assumir uma postura de busca constante, dado que esta ajuda- o a alcançar novas aprendizagens, de modo a intervir de forma adequada.

Contudo, Sarmento (2009, p. 326) lembra que “os professores são pessoas que se formam nos seus diversos contextos vivenciais, ao longo da vida”, o que significa que também as suas experiências, sobretudo a reflexão

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que fazem dessas experiências, influenciam as suas conceções sobre o ensino e a aprendizagem e contribuem para o desenvolvimento de novas competências profissionais. Aliás, de acordo com Formosinho (2009) é precisamente na escola, no contexto de trabalho, onde ocorre a formação mais significativa do professor e, em grande medida, através da aprendizagem cooperativa/do trabalho em equipa com outros profissionais (aspeto que abordamos na secção anterior do presente capítulo).

Podemos então concluir, secundando Arends (1995, p. 19), que:

“…aprender a ensinar é um processo de desenvolvimento que se desenrola ao longo de toda a vida, não se limitando ao período compreendido entre a primeira aula [como estudante – futuro professor –] (…) e a aquisição do direito legal para ensinar. (…) Os professores tornam-se progressivamente mais competentes mediante a atenção prestada ao seu próprio processo de aprendizagem e ao desenvolvimento das suas características e competências específicas”.

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