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Neste Capítulo, apresentamos um resumo das principais conclusões acerca do percurso de prática pedagógica supervisionada/EP, nomeadamente o seu contributo na formação integral do formando como futuro profissional de educação.

Parece-nos, assim, apropriado começar recorrendo às palavras de Freire (1996, p. 107):

“Ninguém é autônomo primeiro para depois decidir. A autonomia vai se construindo na experiência de várias, inúmeras decisões, que vão sendo tomadas. Por outro lado, ninguém amadurece de repente, aos 25 anos. A gente vai amadurecendo todo dia, ou não. A autonomia, (...) é processo, é vir a ser. Não ocorre em data marcada”

Esta citação do pedagogo e filósofo Freire perpassa a ideia de que é com a experiência que o profissional de educação se vai tornando progressivamente autónomo, capaz de desempenhar o seu papel eficazmente.

É neste contexto que o EP possui um lugar de destaque, particularmente os formadores que acompanham os formandos – futuros docentes – neste processo e preparam-nos para a sua futura profissão, conduzindo-os ao desenvolvimento da sua autonomia progressiva.

Neste âmbito, pode aferir-se que o EP constituiu-se como um processo de aprendizagem imprescindível e conducente ao desenvolvimento profissional e pessoal do estagiário. Este considera ter adquirido competências profissionais para a docência em Educação Física nos Ensino Básico e Secundário, competências essas, promotoras de um desempenho profissional analítico e reflexivo.

Além do mais, esta experiência de prática pedagógica supervisionada desenvolvida no âmbito do EP permitiu uma melhor compreensão dos exemplos do ponto de vista da ilustração da teoria, que lhe foram sendo fornecidos ao longo da sua formação académica. Isto porque, os conhecimentos teóricos apenas são realmente compreendidos quando mobilizados na prática, o que significa que só assim é possível verificar a validade, ou não, desses conceitos. Neste contexto, Roldão (1999, p. 105)

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afirma que, a “…melhor prática é uma boa teoria, (…) [contudo] a boa teoria só se torna real na boa prática”.

Assim, através da articulação entre a teoria e a prática, o estagiário conseguiu adquirir uma visão mais aprofundada, objetiva e crítica, de tudo aquilo que o envolvia, conduzindo a uma reflexão com base numa observação atenta e crítica.

Pode aferir-se, sem reservas, que a oportunidade oferecida ao estagiário de experimentar em contexto real a sua futura profissão possibilitou-lhe evoluir em termos globais, criando uma linha evolutiva no seu desenvolvimento profissional. A experimentação – reflexão proporcionada pelo EP, isto é, a metodologia de investigação-ação adotada pelo estagiário permitiu-lhe adquirir outra maturidade no que respeita à tomada de decisões que melhor se ajustam à especificidade de cada situação e às necessidades e interesses dos aprendizes, que trará, certamente, repercussões positivas na aprendizagem escolar dos seus futuros alunos.

Importa salientar que todos os progressos visíveis nas práticas do estagiário deveram-se não só ao conjunto de situações novas com a qual se confrontou no EP, concretamente com alunos diversificados que implicou a constante adequação de atividades e comportamentos, mas também, e sobretudo, ao acompanhamento próximo, por parte do professor orientador e da professora cooperante, do trabalho desenvolvido pelo estagiário.

Julgamos ser bem evidente a contribuição destes nos processos de aprendizagem e desenvolvimento do estagiário, dado que, muito mais do que supervisionar o trabalho deste, aconselhavam-no com vista a orientá-lo no seu desenvolvimento profissional.

Assim, ao longo do EP, o estagiário foi estimulado, constantemente, a adotar atitudes de questionamento e reflexão crítica sobre as práticas educativas, a fim de melhorar as suas futuras intervenções, bem como de conhecer-se a si mesmo, resultando numa intervenção pedagógica cada vez mais consciente, responsável e autónoma.

A prática reflexiva contribuiu, assim, para o desenvolvimento do pensamento crítico do estagiário, como também para o desenvolvimento da confiança e capacidade de desenvolver estratégias pedagógicas diferenciadas, propícias ao sucesso de cada aprendiz. Este sente-se, agora, preparado para

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ajudar na edificação de uma escola diversificada e aberta à diversidade dos seus alunos. Note-se que este pretende manter esta atitude reflexiva e investigativa, que foi construindo e gradualmente aperfeiçoando, ao longo de toda a sua futura atuação.

Nesta linha, o balanço que julgamos poder fazer é extremamente positivo, superando todas as expectativas do estagiário. Este considera que, toda a experiência propiciada pelo EP foi gratificante e promotora de aprendizagens significativas, que terão reflexo, com toda a certeza, em todo o percurso enquanto professor. Além disso, a prática pedagógica ajudou o estagiário na construção do seu próprio modelo de ensino, integrando-se numa perspetiva construtivista do processo de ensino e aprendizagem, que privilegia o envolvimento ativo dos alunos nas suas aprendizagens.

O EP possibilitou ao estagiário confirmar que, de facto, no ensino não existe qualquer tipo de receituário, não há um tipo de ensino “…pronto a vestir de tamanho único” (Formosinho, citado por Formosinho & Machado, 2008, p. 7), nem se podem seguir sempre as mesmas regras e processos, pois no ensino cada situação e momento são específicos e apresentam particularidades únicas, não existem decisões mais, ou menos, corretas e melhores ou piores formas de enfrentar problemas.

Assim, depreende-se que aprender ensinar, tal como já foi mencionado no quarto Capítulo, constitui-se como um processo de desenvolvimento complexo “…que se desenrola ao longo de toda a vida” (Arends, 1995, p. 19), e, como tal, o estagiário – candidato a futuro professor – está consciente de que deverá investir na sua formação ao longo de toda a sua carreira profissional, visto que o conhecimento é um processo em constante descoberta, nunca chega a concluir-se.

Em suma, ao estagiário apraz-lhe dizer, acerca da sua experiência de EP, que esta se constituiu como um marco na sua vida e será sempre alvo de lembrança, pois esta experiência provocou nele, por diversas vezes, sentimentos de grande satisfação, nomeadamente quando os alunos evidenciavam prazer de aprender. Resta-lhe a saudade daqueles que, pela primeira vez, lhe chamaram pelo tão desejoso nome de professor e a tranquilidade por saber que deixou com os seus primeiros alunos uma parte de si, e foi seguramente a melhor!

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De momento, sem certezas acerca do que o futuro lhe reserva, cabe-lhe manter a chama, que o conduziu até então, acesa, permitindo-lhe continuar a sonhar que um dia, irá, finalmente, ser professor de Educação Física.

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