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Diferenciação pedagógica: uma forma de atender à diversidade

4. Realização da prática profissional

4.1. Área 1 Organização gestão do ensino e aprendizagem

4.1.3. Realização: fatores gerais que influenciam a qualidade do processo

4.1.3.6. Diferenciação pedagógica: uma forma de atender à diversidade

O êxito e a eficácia dos processos de ensino e aprendizagem estão relacionados com o modo como o profissional de educação planeia e organiza o ensino. Isto é, com a forma como o professor adequa os seus estilos de ensino aos ritmos e estilos de aprendizagem de cada aluno, visto que “…os alunos não aprendem todos da mesma forma…” (Resende & Soares, 2002, p. 23).

Posto isto, no sentido de seguir uma pedagogia diferenciada, o professor deverá procurar perceber os ritmos e estilos de aprendizagem dos alunos para

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que possa agir em conformidade com as suas características e necessidades individuais (Cadima, 1997; Sanches, 2001).

Ter em consideração a unicidade/singularidade de cada aluno não se trata de adotar simplesmente um modo de agir diferente, mas sim de refletir acerca das estratégias pedagógicas que melhor se adequam aos alunos. Esta perspetiva exige uma consciencialização por parte do professor para o seu papel, dadas as repercussões que a sua própria atuação exerce na aprendizagem dos alunos. Neste sentido, a adoção de uma pedagogia diferenciada pressupõe que o professor se sustente no princípio da intencionalidade educativa, de modo a desenvolver uma diversidade de atividades e estratégias que levará cada aluno a confrontar-se, habitualmente, com situações de aprendizagem enriquecedoras (Cadima, 1997).

Diferenciar não significa adotar um ensino individualizado, mas antes e de acordo com Cadima (1997), oferecer a todos os alunos igualdade de oportunidades de vivenciarem situações promotoras do desenvolvimento de aprendizagens e experimentar sucessos.

Neste âmbito, na sua intervenção pedagógica o EE procurou adotar muitas e diversificadas estratégias, de modo a colocar cada aluno perante a situação mais favorável de aprendizagem. Deste modo, e tomando como ponto de partida para a sua ação educativa o conhecimento que possuía de cada aluno, concretamente das suas necessidades e dificuldades, tentou arranjar forma os alunos conseguirem atingir os objetivos e consequente sucesso.

De facto, os diferentes ritmos dos alunos exigiam a adoção de diferentes estratégias, embora direcionadas para os mesmos objetivos. Isto é, o ajustamento de determinados exercícios para garantir a igualdade de oportunidades de todos os alunos obterem sucesso nas tarefas de aprendizagem.

A título de exemplo pode citar-se uma situação que ocorreu na Ginástica, especificamente na abordagem aos rolamentos, em que os alunos da turma apresentavam diferentes níveis de dificuldade e, como tal, o EE procurou organizar e gerir o espaço de forma a permitir a realização de diferentes tarefas em simultâneo. Assim, para os alunos que evidenciavam dificuldades na realização dos rolamentos, o EE preparou um plano inclinado (formado por um reuther com um colchão colocado sobre ele) e colocou-os a realizar os

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rolamentos sobre esse plano. Já os que não apresentavam dificuldades realizavam, num espaço distinto, os rolamentos sobre um plano horizontal. Deste modo, a cada aluno era-lhe atribuído um nível de exigência de acordo com as suas capacidades.

A este respeito é possível mencionar, ainda, as aulas destinadas à modalidade do Voleibol, em que conforme o conhecimento que o EE possuía acerca das capacidades/habilidades já alcançadas pelos alunos atribuía-lhes diferentes exigências. Por exemplo, aos alunos que o EE considerasse ter potencialidade para iniciar a partida com o serviço, exigia-lhes que colocassem a bola em jogo servindo, aos que ainda não possuíam competência para iniciar o jogo com o serviço era-lhes permitido fazê-lo através do passe, até que essa habilidade fosse adquirida. Do mesmo modo, na execução do passe, o EE autorizava os alunos que apresentavam algumas dificuldades a realizarem um autopasse antes de passar corretamente a bola para o campo adversário.

Importa, contudo, salientar que noutros momentos da aula era oferecido um apoio mais individualizado aos respetivos alunos, com vista a alcançarem tais competências.

Esta perspetiva reforça o papel do professor como orientador das aprendizagens dos alunos, daí a preocupação central do EE em arranjar a melhor forma de ajudar os alunos a aprender e não apenas de depositar os conteúdos programáticos.

Da análise aos pressupostos que fundamentam o processo de diferenciação pedagógica, podemos inferir que esta proporciona a “…igualdade de oportunidades educativas aos alunos…” (Resende & Soares, 2002, p. 23).

Neste sentido, depreende-se que uma das funções do professor prende- se, acima de tudo, com o respeito pela singularidade de cada aluno, pelo que deverá desenvolver práticas que atendam às particularidades, necessidades e interesses demonstrados por cada aluno, dado que, “…cada indivíduo possui pontos fortes, interesses, necessidades e estilos de aprendizagem diferentes…” (Resende & Soares, 2002, p. 20).

Efetivamente, não há dúvidas que não é fácil operacionalizar uma abordagem pedagógica diferenciada, aliás foi uma das maiores dificuldades com que o EE se deparou na prática pedagógica, pois os alunos possuem todos particularidades e aptidões diferentes, tornando-se por vezes difícil gerir

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a heterogeneidade existente entre os alunos. Contudo, aquilo que tem de ser feito, por parte do profissional de educação, prende-se com proporcionar, de forma consciente e fundamentada, vivências e experimentações que, da melhor forma possível, ofereçam respostas significativas às características e necessidades específicas de cada aluno.

Além disso, e como pôde constatar-se na prática pedagógica, de modo a conseguir administrar a diversidade que existe na turma torna-se necessário, muitas vezes, pensar em formas de gerir o tempo de atenção que é oferecido a cada aluno ou grupo de alunos. Em muitas circunstâncias, o EE sentiu que fazia todo o sentido fazer um acompanhamento mais individualizado a alguns alunos ou grupo de alunos, para que estes fossem capazes de compreender e acompanhar os conteúdos e, daí, a importância de utilizarem-se ritmos, estratégias e meios diferentes, de acordo com a capacidade, estilo e ritmo de aprendizagem dos alunos.

Com o tempo, o EE tornou-se progressivamente mais consciente e intencional na criação de diferentes oportunidades de aprendizagem e, efetivamente, constatou que os alunos aprendem melhor quando são tidas em conta as suas individualidades.

Em suma, pode dizer-se que as necessidades, interesses e particularidades de cada aluno devem constituir-se, sem dúvida, um ponto de partida para os profissionais de educação intervirem de forma diferenciada e contextualizada. Os docentes devem adequar as suas propostas de ensino, tomando opções sustentadas na diferenciação pedagógica e não fazer desta designação “…algo de que todos falam (…) [mas que] poucos praticam” (Morgado, 1999, p. 83).

Sobre a pedagogia diferenciada não serão adiantados mais detalhes neste ponto, contudo poder-se-ão ler pormenores mais específicos acerca deste assunto no capítulo seis deste relatório.