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A Historiografia da Educação

8. A Nova Democracia (1985 – 2000)

8.3 Novos Rumos da Literatura Pedagógica

8.3.3 A Historiografia da Educação

Uma coisa é a história da educação, outra é a discussão sobre como se escreve a história da educação, que é o que chamamos de historiografia da educação.

Um campo que cresceu bastante a partir de meados da década de 1980 foi o da história da educação. Paralelamente a ele, houve uma razoável preocupação com a continuidade da discussão em historiografia da educação.

Antes dos anos noventa, a discussão em historiografia da educação ficou marcada, entre outros, por dois artigos e um pequeno livro. Os artigos foram de Dermeval Saviani e Luiz Antônio Cunha, o livro foi escrito por Eliane Marta Teixeira Lopes.

Em meados dos anos setenta, Dermeval Saviani produziu o texto a “Função do ensino de filosofia da educação e de história da educação”, publicado no livro Educação: do senso comum à consciência filosófica em 1980. O Em Aberto número 23, de 1984, trouxe, entre outros, um interessante artigo de Cunha: “Diretrizes para o estudo histórico do ensino superior no Brasil. Eliane Marta Teixeira Lopes, por sua vez, publicou o livro Perspectivas históricas da educação em 1986 (cf. Ghiraldelli Jr., 1993, pp. 21-52).

O texto de Dermeval Saviani se preocupou com o magistério das disciplinas filosofia da educação e da história da educação. Dizia ele que, normalmente, a história da educação era ministrada com uma ênfase muito forte na primeira palavra da locução. Isto é, a “educação” estaria secundarizada frente a “história”. O professor de história da educação, preocupado em dominar o campo da história, acabaria por colocar a educação na penumbra. Isto não significava, para Saviani, que a história ficasse assim melhor caracterizada. Tal procedimento, segundo ele, teria levado ao entendimento da história da educação como uma mescla entre os acontecimentos gerais e o desfilar das doutrinas pedagógicas, sem muita discussão sobre se isto era ou não história da educação. Saviani acrescentou que os programas da disciplina história da educação (como os da filosofia da educação) ora eram construídos a partir de uma visão determinada, ora seguiam um ecletismo onde passava-se em revista as instituições educacionais e/ou doutrinas pedagógicas da Grécia Antiga até a época contemporânea. Uma terceira via, que estaria buscando escapar do ecletismo e da filiação prévia a determinada corrente (filosófica ou histórica), seria aquela que estaria pretendendo organizar os programas a partir de temas, na forma de seminários, estimulando os alunos a constituírem grupos de estudos por sua iniciativa própria. Todavia, para ele, isto também estava resultando em fracasso. Saviani, então, procurou esboçar uma possível saída para tal impasse.

a ênfase nas palavras da locução “história da educação”, jogando todo o peso na última palavra. Argumentou que isto não significaria deixar a primeira palavra na penumbra, pois a inversão serviria para mostrar que a história é sempre história de alguma coisa, isto é, “história concreta”. Então, no final, haveria a “unidade sem ambigüidade” dos termos. Para ele, com tal solução, não mais teríamos a tradicional seqüência de fatos ou idéias, a mera cronologia, e seu ensino não seria dependente exclusivo dos processos de memorização.

O artigo de Luiz Antônio era uma parte de sua de tese de doutoramento, de 1980. Ele partiu de livros como História e verdade de Adam Schaff e

Que é História? de Eduard Carr, e elaborou um pequeno quadro

classificatório sobre posições, no âmbito da teoria do conhecimento (epistemologia), em ao conhecimento histórico. Feito isso, aplicou esse quadro à historiografia da educação superior brasileira.

Assim, segundo ele, Primitivo Moacyr com A instrução no Império e A

instrução na República, Ernesto de Souza Campos com A educação superior no Brasil e Instituições culturais de educação superior no Brasil,

era historiadores positivistas. Eram positivistas, segundo Cunha, porque haviam se limitado a tecer uma crônica documentada das instituições de ensino e pesquisa. Para Cunha, havia também os historiadores idealistas, destacando três tipos: 1) os que construíram a história do ensino superior a partir de um ideal fixado no passado, e o exemplo seria Henrique de Lima Vaz com Cultura e Universidade; 2) os que a construíram a partir de um ideal futuro, e o exemplo seria Darcy Ribeiro com A Universidade necessária; e, finalmente, 3) os que projetavam o presente no passado, e o exemplo era Fernando de Azevedo com A

cultura brasileira e outras obras.

Cunha, seguindo um livro que fez muito sucesso entre os que queriam discutir história da educação e se filiar a um tipo específico de marxismo  o livro de Shaff  se colocava em uma posição que ele acreditava superior a desses historiadores citados, por causa de que, enfim, ele estaria olhando para a história da universidade como uma visão geral da universidade no interior da sociedade capitalista e, mais ainda, a partir de uma ótica que era a ótica naturalmente superior, ou seja, a visão do proletariado a respeito da história; ou seja, a visão que não era a visão de qualquer proletário, mas a visão que corresponderia  como pregava aquele tipo de marxismo  ao que racionalmente corresponderia aos interesses do proletariado (cf. Ghiraldelli Jr., 1993, pp. 39-41)

O mérito de Eliane Marta foi o de colocar questões aparentemente simples, mas que até então não haviam sido postas daquela maneira em nosso meio. Ou seja, ele insistiu que não deveríamos deixar de lado perguntas como “a quem serve a história?” e “qual história da educação?”. Além disso, retomou uma idéia com a qual eu tinha simpatias e trabalhava com ela, a de diferenciar a história da educação

que falava das ações do Estado, das elites pedagógicas, das reformas pedagógicas e a história da educação que falava dos setores marginalizados (cf. Ghiraldelli Jr., 1993, p. 42).

Nos anos noventa, os caminhos da historiografia da educação no Brasil ficaram mais definidos. Por um lado, os marxistas, sob a orientação de Dermeval Saviani, se aglutinaram na UNICAMP, na Faculdade de Educação. Tal grupo produziu artigos e livros neste campo, como por exemplo os livros História da Educação – perspectivas para um

intercâmbio internacional e História e história da educação, ambos

organizados por Dermeval Saviani, José Claudinei Lombardi e José Luís Sanfelice, respectivamente de 1998 e 1999. Por outro lado, eu fiz alguns textos buscando mostrar as fontes clássicas do pensamento historiográfico em história da educação, e isso resultou, principalmente, no livro Educação e razão histórica, de 1994. Eliane Marta, por sua vez, trabalhou em coletâneas junto com Marta Carvalho e Clarice Nunes, mas seguiu seu caminho independente, chegando no momento atual no livro, feito a meu pedido, e escrito em conjunto com Ana Maria de Oliveira Galvão, O que você precisa saber em história da educação, publicado pela DPA em 2001.

Tanto eu quanto Eliane, sem trocarmos muitas idéias, terminamos por escrever, já no final da década de 1990 para a entrada do século XXI, coisas semelhantes no campo discussão historiográfica em educação e, nesse sentido, sobre a história da educação acadêmica. Ambos, chamamos a atenção para o problema do “contexto” em história da educação. O trecho de Eliane que cito é longo, mas necessário para que possamos entender a sua crítica à necessidade de se considerar o contexto em história da educação. No seu último livro, citado acima, ela e Ana Maria escreveram:

Em nome do “contexto” que se tornou o primado dessas produções, pouco se conhecia a respeito daquilo que se pesquisava: os aspectos econômicos e políticos de uma determinada época serviam para explicar (quase) tudo que se referia à educação, considerada, de maneira geral, bipartida:

de um lado, a educação das elites dominantes; de outro, das camadas populares. O binômio dominador-dominado dava conta de tudo explicar e, mesmo que tenha feito algumas áreas avançarem, o fez simplificando as complexas relações entre classes, gêneros e raças. Muitas vezes, esse ‘contexto’, que nas dissertações e teses ocupavam um capítulo do trabalho, servia para qualquer objeto, na verdade pouco ajudando a explicá-lo. No extremo, poderíamos escrever “contextos” adequados a