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Os primeiros povos a habitar de forma permanente e sedentária o território que hoje conhecemos por Palestina foram os cananeus que lá chegaram e se fixaram há pouco mais de cinco mil anos34. Depois chegaram os filisteus e os israelitas à Terra de Canaã, quase na mesma época, há pouco mais de três milênios. Os filisteus, que vinham das ilhas gregas, supostamente de Creta, ocuparam o Sul e a costa Ocidental, permanecendo vários séculos com o controle do território que passou a se chamar Filisteia (depois Philistine ou Palestina). Os israelitas, conduzidos por Moisés após a fuga do Egito, chegaram à parte oriental da Terra de Canaã onde fundariam o reino israelita da Judeia e lá permaneceram até 597 a.C., quando o Reino de Judá foi invadido pelos babilônios e a população expulsa da região (SAFIEH, 2001) (Mapa 2).

Mapa 2: Territórios ocupados pelos filisteus, cananeus e pelas tribos israelitas. Fonte: Biblioteca on-line da Torre de Vigia. Disponível na Internet. Acesso em 10.07.2016

< http://wol.jw.org/pt/wol/d/r5/lp-t/1102003115>

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Foram os cananeus que deram ao território o nome de Canaã ou ‘Terra de Canaã’. Os cananeus também estão ligados ao nome da cidade de Jerusalém, anteriormente conhecida como Urushalem. Ur significa cidade e ‘Salem’ foi um dos ancestrais canaanitas. Portanto, Jerusalém seria a Cidade de Salem (ELALI, 1995).

Depois dos babilônios muitos outros povos ainda passariam ou ocupariam esses territórios, inclusive os europeus que chegaram à região com as cruzadas e estabeleceram em Jerusalém o Pequeno Reino Latino no ano de 1099. Jerusalém ainda permaneceu até 1187 nas mãos dos europeus quando foi finalmente dominada pelos sarracenos comandados por Saladino, um curdo que se tornou sultão do Egito e da Síria. Várias outras cruzadas tentariam recuperar a cidade de Jerusalém, mas sem sucesso, até que em 1291 “o Pequeno Reino Latino caiu, para nunca mais levantar-se” (BUYERS, 1951, p.178). A Palestina e o restante do Oriente médio ainda seriam invadidos e saqueados pelos mongóis que vieram da Ásia Central e pelos mamelucos do Egito que lá ficariam por mais de 200 anos. Depois disso, só voltou a ser invadida e ocupada novamente em 1516, e deste ano até 1918, a parte do Oriente Médio conhecida como Síria ou Grande Síria, que incluía o território da Palestina, ficou sob o domínio do Império Otomano (mapa 3 e 4) 35.

Mapa 3: Territórios árabes conhecidos como Mapa 4: Império Otomano antes da Primeira Grande Síria. Internet. Acesso: 10.07.2016 Guerra Mundial. Internet. Acesso Em 10.07.2016 Fonte: DaTuOpinion.com Fonte: CONIB – Confederação Israelita do Brasil

<http://www.datuopinion.com/bilad-al-sham> <http://www.conib.org.br/principios/noticias>

Portanto, até 1918, quando meu avô Hissa Mussa Hazin e a totalidade dos imigrantes pioneiros já haviam chegado ao Brasil, a Palestina não existia como nação. Como vimos acima, já havia quatro séculos que grande parte do Oriente Médio fora invadido e

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O termo Síria era usado desde a Idade Média por geógrafos árabes para designar o território que hoje corresponde ao Sudoeste da Turquia, Síria, Líbano, Israel/Palestina e Jordânia. Algumas subdivisões regionais tinham uma identidade geográfica, cultural e histórica própria como a Palestina (Filistin) ou Monte Líbano (Jabal Lubnan), embora também fossem vistas como parte integrante da Síria. [...] Embora esse território não possuísse uma unidade administrativa na época otomana, o termo ‘Síria’ continuava a ser usado para designar o conjunto de províncias nele existente (ROCHA PINTO, 2010, p.21).

dominado pelos turcos-otomanos. Neste caso, não podemos falar de um forte sentimento nacionalista palestino e nem tampouco imaginar que aqueles árabes possuíssem uma identidade palestina, ou síria ou libanesa quando aqueles países nem sequer existiam.

Muitos desses imigrantes vieram para o Brasil após desertarem do exército otomano ou fugiram de suas aldeias para não serem obrigados a defender os turcos que os dominavam e a quem odiavam. Mesmo assim, quase todos entraram no Brasil com passaporte do Império Otomano, como meu avô, que formalmente era turco. Porém, nem ele nem os outros árabes que imigraram para o Brasil no período da ocupação otomana se sentiam ou se identificavam como turcos. Apesar disso, ao desembarcarem no Brasil, foram imediatamente identificados como turcos, o seu dominador, e a alcunha de turco que se difundiu entre os árabes em geral nem sempre foi utilizada em tom de brincadeira. Muitas vezes tinha a intenção de “ferir ou humilhar, fazendo com que os imigrantes se sentissem ofendidos e envergonhados ao serem confundido com os turcos que os oprimiam a ponto de obrigá-los a abandonar o seu País” (TRUZZI, 2008, p.83).

Em contrapartida, havia um movimento nacionalista árabe36 que começou a se articular discretamente desde o período da dominação turco otomana ainda no final do século XIX, quando intelectuais de Jerusalém e Beirute e os oficiais árabes que serviam ao exército turco resolveram se reunir secretamente para conspirar contra a dominação otomana. O renascimento do nacionalismo árabe aconteceu mais ou menos na mesma ocasião em que o sionismo, que por definição é um movimento nacionalista judaico, se constituiu em Basiléia, na Suíça, quando suas lideranças procuraram convencer as grandes potências da necessidade da criação de um estado Judeu na Palestina.

A decadência do Império Otomano no final do século XIX e início do século XX despertou a cobiça das principais potências econômicas da época interessadas no petróleo do Oriente Médio e no espólio do Império que desmoronava (mapa 4). Na esperança de salvaguardar o seu território, ao eclodir a guerra em 1914, o Império Otomano aliou-se à Tríplice Aliança que incluía o Império Alemão, o Império Austro-Húngaro e mais a Itália37. Do outro lado, a Tríplice Entente, que reunia a Inglaterra, a França e a Rússia.

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O nome ‘árabe’ surgiu de fato com Maomé no século VII e se fortaleceu com a expansão do Império Árabe nos séculos seguintes. Depois que o Império foi destruído, parte do território passou a ser controlado pelos turcos e o nome árabe ficou restrito mais a algumas regiões da Península Arábica e do Norte da África, sobrevivendo mais em função da unidade da língua e de costumes e em parte, pela religião muçulmana.

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Criada em 1882, a Tríplice Aliança era um acordo econômico, político e militar entre aquelas potências europeias. Em 1915, um ano após o início do conflito, a Itália foi convencida pela Inglaterra a abandonar a Tríplice Aliança e unir-se a Tríplice Entente, que também receberia o apoio dos Estados Unidos.

Os nacionalistas árabes que viviam num Oriente Médio ocupado pela Turquia enxergaram na guerra uma oportunidade única de conseguir a tão sonhada independência de seus dominadores. “Nessa conjuntura, os britânicos tiveram o máximo interesse em aproveitar-se dos movimentos nacionalistas árabes, naturalmente anti-turcos, em prol de seus propósitos”. Já no primeiro ano de guerra alguns grupos nacionalistas “redigiram em Damasco um documento pelo qual, em troca do apoio que poderiam oferecer na guerra, exigiriam da Grã Bretanha a independência dos territórios habitados pelos árabes”. Mas o acordo definitivo dos árabes com a Tríplice Entente só seria efetivado pelas mãos do xeique Hussein Bin Ali de Meca (fotografia 12), na Arábia Saudita, um descendente do Profeta Maomé que entrou em negociações diretas com Sir Henry McMahon (fotografia 13), alto comissário do comando militar britânico no Cairo, em 1915. “Hussein colocaria as suas tropas ao lado dos ingleses na campanha contra a Turquia e em troca, o governo britânico deveria garantir-lhe a coroa de um futuro Reino Árabe que incluiria todos os territórios ao Sul do paralelo 37, ou seja, a Síria, o Líbano, a Palestina, o Iraque e a Península Arábica, com exceção de Aden”. A Grã Bretanha, por sua vez, só responderia favoravelmente ao acordo no ano seguinte, após excluir “certas regiões no Noroeste e Nordeste por não serem inteiramente árabes” (REICHERT, 1972, p. 217 e 218).

Fotografia 12: Xeique Hussein Bin Ali Fotografia 13: Sir Henry McMahon Fonte: Wikipédia Fonte: Ellas History Blog Internet. Acesso em 10.07.2016. Disponível em: Acesso em 10.07.2016. Disponível em: <https://en.wikipedia.org/wiki/Ali_of_Hejaz> <https://sites.google.com/site/ellashistoryblog>

No mesmo ano em que os britânicos ratificaram o acordo e os árabes começam a lutar ao lado dos Europeus (1916), ingleses e franceses elaboraram um plano secreto que ficou conhecido como Acordo de Sykes-Picot (mapa 5), e que consistia em dividir o Mundo Árabe em áreas de influência britânica e francesa, traindo o compromisso assumido com os nacionalistas árabes de preservar a unidade do seu território e criando em seu lugar um grande número de pequenos países não viáveis politica nem economicamente. Porém, “para que esse plano fosse duradouro, era preciso implantar no Mundo Árabe uma força leal a elas [as potências coloniais] que servisse de guardiã dos seus interesses” (SAFIEH, 2001, s/p).

O movimento sionista, por sua vez, preconizava a criação de um Estado Judeu na Palestina para solucionar o problema criado pela migração dos judeus da Europa Oriental para a Europa Ocidental e a crescente intolerância contra eles em vários países europeus. Tomando conhecimento das intenções das potências coloniais, os sionistas prontificaram-se a executar o seu plano de colonização, tal como ficou explicitado no livro de Theodor Hertzl ‘O Estado Judeu’, quando escreveu: “Para a Europa, construiremos lá [na Palestina] uma fortaleza contra a Ásia. Seremos a sentinela avançada da civilização contra a Barbárie” (SAFIEH, 2001, s/p), (Grifo meu).

Mapa 5: Acordo de Sykes-Picot

Fonte: Daily News. Acesso em 10.07.2016. Disponível em:

<http://www.hurriyetdailynews.com/after-sykes-picot-britain-france-and-the-struggle-for-the-middle-

east.aspx?pageID=238&nID=75160&NewsCatID=474>

No ano seguinte, em 1917, enquanto os árabes ainda lutavam ao lado dos seus aliados contra a Tríplice Aliança, o Ministro das Relações Exteriores da Grã-Bretanha, Sir Arthur James Balfour envia correspondência ao lorde Rothschild, líder da Comunidade judaica do Reino Unido e um dos principais articuladores do movimento sionista. O Acordo

ou Declaração de Balfour38, como ficou conhecido o episódio, não só contrariava o compromisso assumido com seus aliados de manter a integridade dos territórios reconquistados aos turcos, como ainda se comprometia a estabelecer na Palestina um lar nacional para os judeus, “sem, no entanto, trazer prejuízos civis ou religiosos às comunidades não judias da Palestina” (fotografias 14 e 15). A proposta aprovada pelos parlamentos britânico, francês e norte-americano era uma traição aos árabes que lutaram até ao fim da Guerra ao lado dos aliados europeus contra as forças otomanas (SAFIEH, 2001; ASFORA, 2002).

Fotografias 14 e 15: Declaração ou Acordo de Balfour Fonte: Sanaúd – Voltaremos. Acesso em 10.07.2016. Disponível em:

<http://sanaud-voltaremos.blogspot.com.br/2014/08/a-questao-palestina-cem-anos-da-primeira-guerra-mundial-

e-da-declaracao-de-balfour.html>

O fim da Primeira Guerra Mundial em 1918 marcou também o início da segunda fase da imigração palestina para o Brasil, o período do ‘protetorado britânico’. O Tratado de Versalhes, traindo o acordo McMahon, estabeleceu que os territórios árabes desmembrados do antigo Império Turco-Otomano fossem reconhecidos como países ‘independentes’ com base na ‘partilha’ estabelecida em 1916 pelo acordo Sykes-Picot, mas sujeitos ao ‘aconselhamento’ de um estado encarregado do ‘mandato’ para eles. Assim, segundo os termos dos mandatos formalmente concedidos pela Liga das Nações em 1922, os

38Tratava-se de uma carta escrita em 1917 pelo então secretário britânico dos Assuntos Estrangeiros, Arthur

James Balfour, endereçada ao Barão Rothschild, líder da comunidade judaica do Reino Unido, para ser transmitida à Federação Sionista da Grã-Bretanha.

territórios ‘reconquistados’ foram desmembrados e partilhados entre a França, Inglaterra e Rússia. Em 1922 a França criou os mandatos da Síria e do Líbano, a Inglaterra os protetorados da Palestina e da Transjordânia e a Rússia o do Iraque, todos eles legitimados pela ‘Liga das Nações’ (que se transformaria na Organização das Nações Unidas poucos anos depois), como “destinados a preparar os povos árabes para a independência” (ROCHA PINTO, 2010). O Líbano passou a existir como país soberano apenas em 1943 e a Síria em 1946. Quanto à Palestina, os ingleses propuseram às Nações Unidas a partilha em um Estado Judeu e um Estado Árabe, o que desencadeou a guerra entre os dois povos e culminou com a criação do Estado de Israel em 1948 e o fim das pretensões árabes de criar o Estado da Palestina. O passo seguinte seria a expulsão de mais de setecentos mil palestinos de suas casas, transformando-os em refugiados. Quanto aos árabes que já haviam emigrado e não estavam na Palestina naquela ocasião (e este é o caso da maioria das famílias palestinas que entrevistei), não teriam direito a retornar às suas aldeias, ao convívio com o seu povo e muito menos a seu País e se transformaram automaticamente em apátridas. Naquela ocasião, eles não eram mais turcos, não eram palestinos nem eram israelitas e muitos ainda não eram sequer brasileiros.

Mapa 6 Mapa 7 Mapa 8

Mapa 6: Os novos estados árabes depois de desmembrados do Império Otomano (1920) Mapa 7: O território da Palestina pela divisão original (1920)

Mapa 8: A Palestina e a Transjordânia, segundo divisão definitiva, em 1922 pela Liga das Nações Fonte: Filosofia de Pára-choque. Acesso em 11.07.2016. Disponível em:

http://paticastro.blogspot.com.br/2014/08/a-guerra-na-palestina-ouvindo-o-que_9.html

Portanto, desde o final do século XIX quando teve início a imigração árabe para o Brasil, já havia um forte sentimento nacionalista árabe que lutava nos bastidores pela libertação da Grande Síria do jugo otomano. Quando os demais países árabes se uniram à Tríplice Entente na Primeira Guerra Mundial, não foram lutar pela libertação da Palestina, da Síria ou do Líbano, mas pela libertação de um vasto território árabe situado no Oriente Médio até então ocupado pelos turcos. A divisão e as fronteiras que hoje existem, com sutis diferenças, foram traçadas e ratificadas no acordo de Sykes-Picot com a anuência da Tríplice Entente durante a Primeira Guerra Mundial, e tinha objetivos bem específicos, como o de

enfraquecer o novo país árabe que seria ‘criado’ após a Guerra, o de partilhar entre os vencedores do conflito as imensas jazidas de Petróleo que já se sabia desde aquela época existir na região, e por último, de resolver a questão do antissemitismo que avançava rapidamente na Europa, gerando conflitos em vários países do continente, especialmente no Leste Europeu (Rússia e Polônia, por exemplo), criando um ‘lar’ para os judeus no futuro protetorado britânico da Palestina.

Na história recente, portanto, a Palestina só existiu formalmente por vinte e seis anos, de 1922 até 1948, quando foi criado o Estado de Israel. Contudo, esse curto período de existência foi suficiente para que os palestinos, depois de quatro séculos de luta contra os turcos e de quase três décadas de luta contra o colonialismo europeu e o sionismo judeu, passassem a se sentir e a se identificar como ‘palestinos’. Se os imigrantes pioneiros que haviam chegado até o início da Primeira Guerra Mundial desembarcaram com passaportes turcos e careciam de uma identidade nacional, os imigrantes que chegaram ao Brasil na segunda fase da imigração, no período do protetorado britânico, desembarcavam com passaportes palestinos e mesmo que submetidos ao controle das autoridades britânicas, já eram portadores de uma identidade nacional palestina, se sentiam de fato palestinos. Este mesmo sentimento nacionalista que ‘contagiou’ os novos imigrantes foi gradativamente incorporado pelos palestinos que tinham imigrado antes da Primeira Guerra Mundial e que haviam chegado ao Brasil como turcos. Desde então, esses imigrantes passaram também a se sentir e a se identificar como palestinos.

Durante a minha pesquisa bibliográfica percebi que outros autores chegaram a mencionar a “precariedade” da identidade nacional entre os árabes submetidos à ocupação otomana. Segundo Knowlton, “os sírios e libaneses dedicam o máximo de sua devoção à sua aldeia ou cidade e têm pouca consciência de unidades políticas maiores” (KNOWLTON, apud TRUZZI, 2008, p. 110). Oswaldo Truzzi também menciona o fato, mas como Knowlton, não apresenta maiores explicações. Segundo ele

[...] Existe um sentimento precário de identidade nacional, compensado, porém, por uma forte identidade religiosa e regional. A religião e a aldeia (ou cidade) definem os laços básicos de lealdade entre os aqui chegados. A unidade sustentadora de tais laços é a família ampliada” (TRUZZI, 1992, p.14).

Philip Khuri Hitti, historiador libanês radicado nos Estados Unidos e citado inúmeras vezes por Truzzi apresenta outra explicação. Para ele, as religiões desempenhavam um papel equivalente ao dos estados ocidentais. “Em cada aldeia, a autoridade religiosa de cada credo controlava sua comunidade, regulando assuntos de natureza não apenas espiritual,

mas civil, educacional e pessoal”. Além da religião, a aldeia e a família também eram fatores constituintes da construção identitária daquele povo. Segundo Truzzi, o autor, “seduzido por uma espécie de determinismo geográfico procurou vincular tal identificação às características do território Sírio”. O Oriente Médio possuía características geográficas peculiares que não facilitavam as comunicações entre as diferentes regiões, contrapondo planícies costeiras a regiões montanhosas e a extensas áreas desérticas.

Seus efeitos sobre a ocupação e sobre o caráter do povo não podem ser subestimados. Elas deixaram a população dividida social, política e economicamente, contribuindo para perpetuar as diferenças raciais e os preconceitos (HITTI, apud TRUZZI, 2008, p. 32 e 33).

Em comum para estes autores, o fato de que a identidade árabe se fundamenta em três pilares: religião, aldeia e família e que por essa razão ou pelo determinismo geográfico são fracos os laços identitários nacionais. Contudo, parece-me razoável pensar que a fragilidade dos laços identitários nacionais dos palestinos, sírios e libaneses estava relacionada à inexistência da Palestina, da Síria e do Líbano na fase inicial da imigração. A partir de 1922, após a institucionalização desses países, um quarto pilar foi erigido, a identidade nacional. Em outras palavras, não era o peso da identidade com a religião, com a aldeia e com a família que inibia a existência de uma identidade nacional. Era simplesmente a inexistência dos países que impedia esta identificação. A emergência de novas identidades nacionais depois 1922, por sua vez, não foi suficiente para reduzir a importância da aldeia, da religião e da família na etnicidade árabe ou palestina, e com exceção dos palestinos na diáspora, estas identidades continuam o ‘governar’ parte da vida e dos costumes dos habitantes da região.