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SECÇÃO II O RECRUTAMENTO DE DOCENTES PARA AS ESCOLAS PORTUGUESAS

3. A identificação e satisfação de necessidades

As necessidades das escolas, quanto ao número de docentes, resultam de um modo genérico, de dois tipos de serviço: o que decorre das cargas letivas de cada disciplina, por turma e ano de escolaridade, e o que resulta das horas de créditos atribuídos à escola para as restantes atividades, sejam elas de supervisão, orientação educativa, desenvolvimento de projetos, etc. Tendo em conta este conjunto de horas de trabalho, cada escola procede ao apuramento do número de docentes necessários por grupo de recrutamento.

Deste conjunto global podem decorrer dois grandes tipos de necessidades. As necessidades permanentes que, em regra, deveriam corresponder e ser satisfeitas pelos professores do quadro e as necessidades de duração anual, também designadas por transitórias (DL 18/1988; DL 51/2009), residuais (DL 35/2003; DL 20/2006), temporárias (DL 132/2012).

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3.1. Necessidades permanentes

A definição dos lugares de quadro inclui diferentes interações entre a escola e a administração, num processo de auscultação, que envolve também os serviços regionais e centrais. As decisões finais sobre as vagas de quadro são tomadas pela administração central e publicitadas em diploma da responsabilidade do Ministério da Educação e das Finanças. As necessidades permanentes são satisfeitas pela via do concurso interno e externo.

3.1.1. Concurso interno

O concurso interno destina-se aos docentes que já pertencem aos quadros de um agrupamento/escola ou aos quadros de zona pedagógica (QZP)69 e que pretendem mudar para outro agrupamento/escola ou para outro QZP, ocupando vagas livres nesse quadros.

Enquanto nas organizações não escolares o recrutamento interno visa a promoção, rentabilização, aproveitamento de um colaborador já existente na organização, no recrutamento de docentes entende-se como recrutamento interno a vinda de um docente de uma outra escola. Assim, um docente colocado no quadro de uma escola, concorre “internamente” para outra, como se pertencesse a essa mesma escola. Na prática, e à luz do que vimos na secção anterior, considera-se recrutamento interno algo que, de facto, é um recrutamento externo. Esta aceção decorre do entendimento de que a relação profissional dos professores é estabelecida com o Ministério, as escolas são meros locais de exercício de funções, pelo que aqueles que pertençam aos seus quadros são, em sede de recrutamento, recursos internos de todas as escolas.

69 Os Quadros de Zona Pedagógica (QZP) foram criados pelo Decreto-Lei n.º 384/93, de 18 de novembro, com o objectivo de, proporcionando aos docentes um vínculo jurídico adequado, garantir a sua fixação nas zonas mais carenciadas, a definir pelas necessidades do sistema. Para tal os quadros de vinculação distrital dos educadores de infância e professores do 1.º ciclo do ensino básico criados pelo Decreto-Lei n.º 35/88, de 4 de fevereiro, passam a designar-se por quadros de zona pedagógica.

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3.1.2. Concurso externo

As vagas para necessidades permanentes não ocupadas por candidatos dos quadros (concurso interno) destinam-se a candidatos não pertencentes aos quadros que a elas concorrem pela via do concurso externo70.

O concurso interno e externo ocorrem em simultâneo já que ambos visam o preenchimento de vagas de quadro. Estão estabelecidas prioridades de colocação de modo a garantir que os candidatos externos são colocados apenas em vagas não ocupadas pelos candidatos já pertencentes aos quadros. Os diferentes diplomas, que ao longo do tempo regulam o concurso de professores, têm o cuidado de explicitar que a colocação é efetuada com recuperação automática de vagas, acentuando que tal visa evitar a ultrapassagem de candidatos71. Deste modo, sempre que um docente do quadro é colocado numa outra vaga, o lugar por ele libertado fica disponível para os restantes candidatos em concurso, tendo em conta a graduação e as suas preferências.

Para as escolas, o concurso externo tem a eventual vantagem da renovação dos quadros e, tal como no interno, possibilita a entrada de novas competências e dinâmicas na escola. A entrada de candidatos do concurso externo significa que a oferta é superior à procura por parte dos professores dos quadros e pode demonstrar que a escola tem uma baixa capacidade de atrair docentes mais experientes. É por isso, que, em regra, as consideradas “boas escolas” e/ou as escolas situadas nos centros das cidades, bem como aquelas cuja representação do trabalho efetuado é positiva, tendem a ver ocupados os lugares vagos, logo na fase de concurso interno, por docentes provenientes dos quadros de outras escolas.

70 «5 — O concurso externo destina -se ao recrutamento de candidatos que pretendam aceder a lugares da categoria de professor dos quadros de agrupamento de escolas ou escola não agrupada e preencham os requisitos previstos no artigo 22.º do Estatuto da Carreira dos Educadores de Infância e dos Professores dos Ensinos Básico e Secundário, aprovado pelo Decreto -Lei n.º 139 -A/90, de 28 de Abril, na sua redacção actual». (Art.º 5, DL 20/2006, na redação dada pelo DL 51/2009)

71 «1 - O concurso a que se refere este diploma realiza-se com recuperação automática de vagas, de modo que cada concorrente não seja ultrapassado em qualquer das suas preferências por outro candidato com menor graduação». ( Art.º 9.º Decreto-Lei n.º 17-C/86). Com formulações muito idênticas esta garantia é referida noutros diplomas: Art. 13.º Decreto-Lei n.º 18/88; Art. 24.º Decreto-Lei n.º 35/2003; Art.º 27 Decreto-Lei n.º 20/2006; Art.º 27 Decreto-Lei n.º 51/2009.

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3.2. Necessidades transitórias

As necessidades transitórias correspondem aos horários não ocupados pelos professores dos quadros.

Após as matrículas e a constituição de turmas, as escolas procedem à distribuição de serviço pelos docentes já pertencentes aos quadros. Os horários que não forem ocupados ficam disponíveis para as situações de destacamento, afetação de professores dos QZP e para a contratação.

A validação destes horários é feita pela administração regional, aceitando-os ou rejeitando-os a concurso. A administração central procede a uma regulação mais abrangente através da frequente monitorização e levantamento das situações de contratação, ou pela definição de uma quota anual por parte dos Ministérios da Educação e das Finanças.72

3.2.1. Docentes dos quadros

Nesta fase de necessidades transitórias, a colocação de docentes procura, genericamente, assegurar a colocação de três tipos de docentes:

Em primeiro lugar os docentes que já pertencem aos quadros e que não têm serviço na escola a cujo quadro pertencem. Os normativos definem regras próprias, que obrigam esses docentes a apresentarem-se a concurso e que procuram garantir que a colocação respeita o interesse da administração e do docente.

Em segundo lugar, dado o facto de, nesse momento, ainda surgirem horários completos e anuais, tem sido prática habitual possibilitar que os professores dos quadros, que o pretendam, possam concorrer, via destacamento, para esses horários. Garante-se assim uma colocação mais próxima dos interesses dos docentes.

72 «A contratação de pessoal docente em regime de contrato de trabalho a termo resolutivo depende de despacho conjunto de autorização dos membros do Governo responsáveis pelas áreas das finanças, da administração pública e da educação, que fixa a quota anual de contratos a celebrar, de acordo com o presente decreto-lei, para efeitos de descongelamento das admissões necessárias». (Art. 5.º, DL 35/2007, de 15 de fevereiro).

118 Enquadram-se aqui os destacamentos de aproximação à residência (DAR), outrora também designados ao abrigo da preferência conjugal. Existem ainda outras situações de destacamento que procuram responder a necessidades de docentes que têm necessidade de uma colocação mais favorável por motivo de doença do próprio ou de familiar (Destacamento por condições específicas).

Em terceiro lugar, procura-se afetar aos horários disponíveis os docentes dos quadros de zona pedagógica. Embora estes professores possam ser colocados em qualquer escola inserida na zona a cujo quadro pertencem, a sua colocação procura também respeitar as preferências manifestadas pelos candidatos.

Tendo em conta que se trata de docentes já pertencentes aos quadros, os candidatos aos destacamentos são colocados antes dos docentes contratados. As prioridades de colocação destes docentes (DAR e DCE), ora antes, ora depois dos QZPs, têm sido alvo de constantes alterações que trazem uma conflitualidade desnecessária ao processo de colocações. Se os candidatos a DAR e DCE forem colocados antes dos QZPs deixam menos lugar livres para estes correndo o risco de alguns QZPs ficarem sem colocação, se, pelo contrário, forem colocados depois, os QZPs ocupam os lugares e não possibilitam um número tão elevado de destacamentos.

3.2.2. Docentes contratados

Os horários que ainda se mantiverem disponíveis, após a colocação dos docentes em regime de destacamento e de afetação, são ocupados por titulares de habilitação profissional candidatos à celebração de um contrato de prestação de serviço docente.

As necessidades surgidas ao longo do ano, para substituição de professores, são também preenchidas por docentes candidatos à contratação, que ainda aguardam colocação.

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4. Critérios de seleção ou de colocação de docentes