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SECÇÃO II UMA NOVA GESTÃO PÚBLICA

5. Instrumentos ao serviço da eficácia das políticas educativas

5.3. A intervenção das escolas na gestão dos recursos humanos

A definição, a nível central e de modo homogéneo para todas as escolas, das regras relativas à gestão dos recursos humanos, num procedimento típico de uma regulação de controlo, fez com que a intervenção das escolas e das suas direções se restringisse a uma aplicação de normas e verificação administrativa de condições relacionadas com o processamento de vencimentos, com a contagem de tempo de serviço para efeitos de concurso, de avaliação de desempenho, de progressão na carreira ou de aposentação. Mesmo as alterações anuais na elaboração dos horários dos docentes decorrem de medidas

57 decididas centralmente, fruto de mudanças nas estruturas curriculares, ou no número de horas de trabalho a prestar por cada docente40.

Já em 2005, Natércio Afonso, dizia que

«no plano dos recursos humanos, a situação, como todos sabemos, é paupérrima. - Sugere o autor que - as escolas públicas precisam de ter uma palavra importante a dizer no recrutamento dos professores, nem que seja uma palavra partilhada com outras entidades: têm que ter uma palavra a dizer na gestão da carreira, no conteúdo funcional do trabalho docente e não docente, têm que ter capacidade para organizar a oferta do serviço, de acordo com as circunstâncias e com a especificidade do território e da comunidade onde se inserem. Evidentemente que para isto é preciso massa crítica, é necessário que cada escola disponha de uma efectiva capacidade de gestão em termos técnicos. Portanto, aí está uma área importante de investimento público, em termos da qualificação profissional e da gestão escolar» (Afonso, 2007, p. 226).

A assunção pelas escolas de novas competências e responsabilidades, que extravasam a unânime oferta do currículo nacional, tem originado uma maior intervenção e responsabilização do diretor de escola na definição da oferta educativa e na seleção dos recursos humanos para essas ofertas. A previsão de um recrutamento efetuado pelas escolas TEIP insere-se nestes princípios e é sustentada pela necessidade de aumentar o sucesso escolar e educativo, considerando-se, para tal, necessário

«(…) dotar estes agrupamentos e escolas de mecanismos de selecção e fixação de

docentes com competências específicas, a fim de poder melhor fazer face às

dificuldades existentes e proporcionarem condições geradoras de sucesso escolar

e educativo, bem como de reinserção social destes alunos» (Portaria n.º 365/2009)

(Negrito nosso).

Gradualmente, ainda que mantendo a atuação normativista dos serviços centrais do Ministério da Educação, foram sendo adstritas à escola, e de um modo mais específico ao seu diretor, atribuições que implicam uma maior intervenção no âmbito da gestão de recursos humanos, designadamente ao nível da definição do horário de trabalho,41 no

40 Conforme previsto no art.º 79 do Estatuto da Carreira Docente, o tempo de serviço e a idade dos docentes influenciam a definição do número de horas de trabalho letivo semanal.

41 Vide, a título de exemplo: Despacho n.º 13 599/2006, de 28 de junho:

«4—Incumbe às escolas e agrupamentos de escolas, no âmbito das competências legalmente cometidas aos órgãos de gestão e administração respetivos, determinar o número de horas a atribuir à componente não letiva de estabelecimento, nos termos do artigo 82.o do ECD, (…)». (Negrito nosso).

58 processo de avaliação de desempenho42, na contratação de pessoal docente43 e não docente,44 na disponibilização aos alunos de atividades de enriquecimento do currículo,45 entre outras.

A atribuição destas novas competências ao diretor de escola insere-se numa abordagem gerencialista do seu papel que pode também ser ilustrada com a obrigatoriedade de, no processo de candidatura a diretor, apresentar uma plano de intervenção no qual «identifica os problemas, a missão, as metas e as grandes linhas de orientação da ação, bem como a explicitação do plano estratégico a realizar no mandato» (art.º 22.º A, DL 75/2008).

O reforço de poderes do diretor e a sua maior autonomia face à tutela requerem a instituição de mecanismos mais próximos e mais participativos onde os próprios membros da organização (Maroy, 2006) constroem mecanismos locais de regulação conjunta, no sentido em que falam Barroso (2005c) e Reynaud (2003).

Reynaud (2003) indica como exemplo da regulação conjunta, que aqui usamos para ilustrar o desafio que se coloca ao diretor da escola, os processos de negociação coletiva em que é possível «os interessados elaborarem regras gerais aceites por ambas as partes, as quais têm em conta as preocupações e os interesses de cada um» (p. 109). É neste sentido que o papel do diretor se torna mais difícil, porém mais desafiante na medida em que, apesar das resistências e desafios colocados por trabalhadores autónomos e competentes,

42 No Decreto Regulamentar n.º 1-A/2009, de 5 de Janeiro, ao referir-se à calendarização do processo e aprovação dos instrumentos necessários à avaliação, é dito:

1 — O calendário anual de desenvolvimento do processo de avaliação, (…) é fixado pelo presidente do

conselho executivo ou director do agrupamento de escolas ou escola não agrupada». (negrito nosso).

43 No art.º 54.º do Decreto-lei n.º 51/2009, de 27 de fevereiro, quando se estabelecem os requisitos necessários à renovação da colocação de um docente contratado, diz-se:

«5 — A renovação da colocação (…) dependendo do preenchimento cumulativo dos seguintes requisitos: (…)

d) Concordância expressa da escola e do candidato relativamente à renovação do contrato». (negrito

nosso).

44 A delegação de competências nos diretores de escolas é uma forma de descentralização: Pelo Despacho n.º 17212-A/2010 de 12 de Novembro, o Diretor Geral de Recursos Humanos da Educação delega «nos directores dos agrupamentos de escolas ou escolas não agrupadas, (…) a competência para (…) realizar o procedimento concursal comum de recrutamento para ocupação de postos de trabalho (…) para a carreira e categoria de técnico superior (psicologia) (…)».

45 A título de exemplo, vide o Despacho n.º 13 599/2006, de 28 de junho, Diário da República n.º 12, 2.ª

59 se torna necessário o encontro e compromisso entre uma regulação de controlo e uma regulação autónoma, já que «a regulação conjunta não é outra coisa senão a democracia» (Reynaud, 2003, p. 113).