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SECÇÃO II O RECRUTAMENTO DE DOCENTES PARA AS ESCOLAS PORTUGUESAS

6. A estabilidade do corpo docente

6.2. A periodicidade do concurso como fator de mobilidade

A anualidade do concurso de professores está instituída de modo recorrente em todos os diplomas até à publicação do DL 20/2006.

O crescente aumento do número de alunos fez com que todos os anos houvesse necessidade de mais professores. Dada a inexistência de professores com habilitação profissional, o Ministério da Educação regulava e fomentava, pela via do concurso, a formação profissional dos docentes. O concurso anual era assim um modo de promover o acesso à formação de professores, de gerir os quadros das escolas com a colocação dos que terminavam a sua formação e de fomentar a existência de docentes profissionalizados em todas as escolas do país.

A preocupação com a estabilidade do corpo docente levou o legislador do DL n.º 150-A/85 a enunciar as três razões que justificam a instabilidade do corpo docente, apontando como fator essencial «o próprio mecanismo de concursos, que, na sua

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frequência anual, não favorece a permanência dos concorrentes nas escolas onde exercem

a sua actividade» (Preâmbulo do DL n.º 150-A/85) (Negrito nosso).

Para contrariar essa mobilidade, estipula que «aos docentes que se encontrem em regime de contratação plurianual e sejam candidatos (…) serão automaticamente

renovados os respectivos contratos até que obtenham provimento como professores

efectivos» (art.º 5.º, n.º 1). (Negrito nosso). Deste modo, impõe o princípio de fixação do professor à escola, mesmo para os professores que ainda não tivessem obtido a sua profissionalização.

A constatação de que as escolas dos grandes centros tinham capacidade de atrair docentes, enquanto as da periferia e da província tendiam a não ter professores profissionalizados90 levou a administração a instituir mecanismos de acesso ao quadro que impunham como condição a candidatura a uma zonado país91. A este título importa aqui recordar o movimento que foi designado dos “professores desterrados” que, com diferentes protagonistas e motivos tem, ao longo dos anos, reclamado a aproximação à sua residência92.

90 Em 1975, o Decreto-Lei n.º 294-C/75 de 18 de Junho constatava que «largas zonas do interior do País não dispõem ainda de estabelecimentos de ensino que contribuam para uma efectiva igualdade de oportunidades escolares; por outro, as grandes carências de pessoal docente verdadeiramente qualificado que se verificam nos poucos estabelecimentos existentes nessas zonas têm vindo a iludir aquela igualdade que, desde logo, há-de exigir igual nível de ensino.

Não é compatível com o processo revolucionário em curso que as citadas áreas de Lisboa e Porto e a cidade de Coimbra disponham, por si só, de mais de 65% do pessoal docente qualificado de todo o continente, impedindo, assim, qualquer concretização dos objectivos de regionalização, indispensáveis a um desenvolvimento harmonioso e global do País, nomeadamente no sector da formação profissional do pessoal docente.

Procura-se, assim, com o presente diploma, iniciar uma primeira tentativa de ordenamento profissional do pessoal docente dos ensinos preparatório e secundário, criar condições básicas para uma efectiva democratização do ensino e assegurar as infra-estruturas humanas necessárias a uma verdadeira regionalização educativa (Preâmbulo Decreto-Lei n.º 294-C/75).

91 Foram criadas 4 zonas correspondentes aos seguintes distritos: Zona 1 – Braga, Bragança, Porto, Viana do Castelo e Vila Real; Zona 2 – Aveiro, Castelo Branco, Coimbra, Guarda e Viseu; Zona 3 – Leiria, Lisboa, Portalegre e Santarém;

Zona 4 – Beja, Évora, Faro e Setúbal. (Cf. Mapa anexo do Decreto-Lei n.º 18/88). 92 vide: http://movimentodeprofessoresdesterrados.wordpress.com/

Ficou durante muitos anos conhecido o designado movimento dos professores desterrados. A última oportunidade destes docentes para a aproximação às suas residências, na fase do concurso de destacamento e afectação de professores, foi-lhes praticamente sonegada com a redefinição de prioridades (artigo 30.º, do Decreto-Lei n.º 35/03), onde são preteridos, desrespeitando a sua graduação

142 Cruz, et al., (1988) dizem que

«nos últimos 15 anos, a condição docente tem sido caracterizada por uma grande mobilidade geográfica dos professores. Para ela contribuíram essencialmente a explosão escolar e a necessidade de reorganização da rede de estabelecimentos de ensino, a par das condições de ingresso na profissão desde as habilitações dos professores aos mecanismos do concurso documental - e de acesso à profissionalização e à efectivação.

Essa mobilidade geográfica e de local de trabalho é bastante significativa para todos os níveis de ensino à excepção do pré-escolar (…)» (p. 1219).

A obrigatoriedade de candidatura a uma zona sustenta-se no princípio de garantir alguma equidade na qualidade do serviço prestado aos alunos. Porém, impôs as necessidade de mecanismos de mobilidade que ocorreram nesse mesmo ano (setembro/outubro) ou no concurso do ano seguinte.

O facto de, em agosto e setembro de cada ano ainda surgirem nas escolas muitos horários completos, que podiam ser ocupados por docentes que estavam deslocados das suas áreas de residência, justificou a necessidade de garantir a possibilidade de destacamento de docentes que se encontravam longe da sua residência. É neste sentido que surgem os destacamentos por preferência conjugal e, mais tarde, os destacamentos por aproximação à residência (DAR).

Em 1993, partindo-se da constatação de que

«na segunda parte do concurso de professores surge normalmente um número significativo de horários completos, aos quais os professores do quadro de nomeação definitiva não deixariam de concorrer, se tal lhes fosse permitido». - E de que-

«Por outro lado, é indiscutível que o exercício de funções docentes em escolas da preferência dos professores tem reflexos directos na qualidade do ensino, pelo que deve ser encorajado».

- Vai permitir -

«(...) a todos os professores dos quadros dos 2.º e 3.º ciclos do ensino básico e do ensino secundário a apresentação a concurso, em todo o território nacional, às duas partes do concurso regulado pelo Decreto-Lei n.º 18/88». (Preâmbulo do Decreto-Lei n.º 206/93).

profissional superior, por docentes igualmente efectivos mas em quadro de zona pedagógica, na sua quase maioria com graduação inferior.

143 Deste modo, permite-se que um docente já colocado no quadro de uma escola mude, nesse mesmo ano, para outra. Não raro, através deste e de outros mecanismos, houve docentes, nomeadamente no TEIP, que estiveram colocados nos quadros de diferentes escolas onde nunca chegaram a trabalhar.

Como dizia Marçal Grilo,

«há professores que, tendo lugares de quadro todos os anos, querem ter a possibilidade de concorrer a outra escola. Há professores que mudam de uma escola para outra capaz de estar situada um quilómetro para lá, apenas porque podem ter um horário melhor, ou prometeram-lhes isto ou aquilo. Isto é um prejuízo enorme para a escola» (Neto, 2001, p. 59).

Apesar do reconhecimento já em 1985 de que a anualidade do concurso fomentava a instabilidade dos docentes, foram sistematicamente implementados procedimentos que fomentaram a mobilidade reconhecendo-se em 1997 que «o processo de concursos de professores dos ensinos básico e secundário traduz-se numa operação anual (…) o qual, (…) não tem conseguido operar, até à data, a desejada estabilidade do corpo docente das escolas» (Preâmbulo do DL n.º 43-A/97).

Um dos exemplos mais claros da instabilidade legislativa e indefinição das políticas de colocação de professores reside no entendimento e gestão dos quadros de zona pedagógica. Originários nos quadros distritais de vinculação, tinham como primeiro objetivo garantir a sua fixação nas zonas mais carenciadas, proporcionando aos docentes um vínculo jurídico adequado 93.

Aquilo que surgia como uma situação transitória de resposta a necessidades temporárias, rapidamente atingiu um número significativo de professores, aumentando a instabilidade do sistema. Além do aumento do número de docentes nos QZP, a instabilidade é potenciada pelo facto de a sua colocação ou afetação ser feita apenas por um ano escolar94 o que gera novas mobilidades anuais nos professores e nas escolas.

93 Os Quadros de Zona Pedagógica (QZP) foram criados pelo Decreto-Lei n.º 384/93, de 18 de novembro, com o objetivo de garantir a sua fixação nas zonas mais carenciadas, a definir pelas necessidades do sistema. Para tal, os quadros de vinculação distrital dos educadores de infância e professores do 1.º ciclo do ensino básico criados pelo Decreto-Lei n.º 35/88, de 4 de fevereiro, passam a designar-se por quadros de zona pedagógica.

94 «Afectação

1 - Os professores dos quadros de zona pedagógica serão afectados a escolas, por um ano escolar, nas vagas da 2.ª parte do concurso». (Art.º 15.º do DL 384/93).

144 A indefinição e contradição é tal que, em 2009, se optou por fechar os quadros de zona pedagógica,95 porém em 2013, foi determinado que as colocações não fossem feitas em quadros de escola, mas sim em quadros de zona pedagógica, o que reforça as dinâmicas de mobilidade.

O destacamento por doença – designado concurso por condições específicas – foi objeto de polémica em 2004, tendo sido noticiada a existência de eventuais situações de irregularidade processual. O facto de os docentes oponentes a este tipo de destacamento serem colocados primeiro que os docentes dos QZP candidatos à afetação abriu aqui um caminho ínvio de mobilidade para aproximação à residência96. A conflitualidade e

95 «Assim, com vista a uma maior estabilidade do corpo docente, os professores do quadro de zona pedagógica passam a integrar os quadros de agrupamento de escolas ou escola não agrupada, mediante concurso interno, sendo os seus lugares de zona pedagógica extintos à medida que vagarem» (Decreto- Lei n.º 51/2009).

96 «A polémica à volta dos supostos falsos atestados médicos apresentados por docentes para conseguirem mudar de escola por doença incapacitante ou para apoio a cônjuge, ascendentes ou descendentes está a revelar-se uma verdadeira bola de neve. Depois de Bragança - o único distrito onde a Inspecção-Geral da Educação lançou já uma investigação -, Leiria, Chaves, Portalegre e Santarém, ontem chegaram mais suspeitas de uso indevido de declarações médicas vindas de Vila Real, Viana do Castelo e Guarda. Um grupo de docentes de Vila Real começou ontem a fazer circular um abaixo-assinado que exige da tutela uma "fiscalização rigorosa" de todos os pedidos de destacamento. O documento denuncia a existência este ano de uma "abusiva utilização" por parte dos docentes dos pedidos de destacamento por condições específicas.

Segundo os professores, foi a mudança da legislação - que veio este ano dar prioridade à colocação de docentes que concorrem ao destacamento por condições específicas - que fez disparar de uma "forma brutal" o número de atestados médicos apresentados este ano. "Bastou um ou dois professores começarem a dizer que iam meter atestado médico para os outros irem atrás. Foi uma coisa louca, o bom senso não imperou", sublinha a professora Ilda Azevedo. A agência Lusa adiantou que cerca de 500 dos 679 docentes que integram o quadro de zona pedagógica de Vila Real pediram destacamento por condições específicas.

No seio da classe docente, a angústia e a desilusão estão instaladas. Todos receiam que a lista ordenada de graduação venha a ser este ano "completamente adulterada", levando a que profissionais com mais tempo de serviço, logo mais graduados, venham a ser ultrapassados por outros mais novos.

"Esta lei penaliza quem é honesto", comenta Máxima Oliveira. "E só vem dividir a classe... Agora somos obrigados a acusarmo-nos uns aos outros", acrescenta Filomena Azevedo. "Se isto rebentar vai ser uma vergonha para a nossa classe", remata.

Em Viana do Castelo, explicou ao PÚBLICO um docente da região, está também a circular um abaixo- assinado para ser entregue no Centro de Área Educativa, na Direcção Regional de Educação do Norte e ainda na Ordem dos Médicos e na Inspecção-Geral da Saúde.

Um grupo de professores do 1.º ciclo do ensino básico da Guarda também apelou ao ministério que desencadeie um "processo rigoroso de averiguações" sobre o elevado número de destacamento por condições especificas que se regista no distrito. Um abaixo-assinado subscrito por cerca de uma centena de docentes e educadoras de infância refere que "as novas regras no que respeita ao destacamento de docentes por condições específicas estão a remeter o concurso de afectação dos professores pertencentes aos quadros de zona pedagógica para um plano secundário e a dar-lhe contornos de total virtualidade".

145 irregularidades levaram à alteração do diploma e o DL n.º 20/2005 priorizou a afetação face ao destacamento por condições específicas.

O desejo de mobilidade por parte dos professores conduz à existência de pressões com vista à existência de mecanismos mais alargados de mobilidade que permitam uma aproximação à residência familiar. Se um docente está colocado longe do seu domicílio procurará situações de mobilidade que o levem a aproximar-se. Como modo de evitar riscos e pressões, o legislador procura prever no normativo todas as possíveis situações, como forma de prevenir eventuais figas e robustecer os processos. Veja-se, como mais um exemplo, o conjunto de condições que o legislador aponta como necessárias para a efetivação da permuta de lugar, procurando acautelar todas as situações que pudessem comprometer a seriedade do processo97.

O documento explica que "esta ideia assenta no facto de um número elevadamente suspeito de professores ter recorrido a este expediente de destacamento por condições específicas para, supostamente, contornar a ordem estabelecida pela lista graduada do concurso de afectação, permitindo desta forma que candidatos com menor classificação e tempo de serviço ultrapassem outros mais graduados".

Investigações apenas em Bragança

Embora os casos de suspeitas quanto ao recurso abusivo ao destacamento por condições específicas estejam a alastrar-se por todo o país, o PÚBLICO apurou que foi em Bragança que se registou o maior número de casos. Neste distrito entraram mais pedidos de destacamento do que em Santarém, Leiria, Viana do Castelo ou Coimbra, por exemplo. Em Viana do Castelo surgiram mais atestados médicos do que em Bragança e no Porto mais do que em Lisboa.

Segundo informações do gabinete de imprensa da ministra Maria do Carmo Seabra, de momento estão apenas a ser investigadas as ocorrências no distrito de Bragança. (Pereira & Costa, 2004)

97 «Das permutas entre professores do ensino primário do quadro geral.

Art. 26.º - 1 - É autorizada a permuta de lugares das escolas do continente situadas em localidades da mesma categoria aos professores do quadro geral do ensino primário desde que a solicitem e reúnam cumulativamente as seguintes condições:

a) Serem titulares dos lugares do quadro geral que pretendem permutar por efeitos de concurso, ou por efeitos de permuta há mais de três anos contados nos termos do artigo 31.º do presente diploma; b) Estarem em exercício efectivo de funções nos lugares de que são titulares;

c) Não completem 50 anos de idade até ao dia 31 de Dezembro do ano em que a permuta é requerida; d) Não estejam abrangidos por qualquer das situações impeditivas fixadas pelo artigo 27.º deste diploma. (…)

Art. 27.º - 1 - Não podem permutar os lugares de que são titulares os professores que se encontrem abrangidos por uma das situações a seguir indicadas:

a) Titulares de lugares propostos para suspensão;

b) Excedentários nos respectivos estabelecimentos de ensino ou titulares de lugares suspensos ou extintos;

146 Também as condições de exercício da profissão e o horário docente com um ano letivo de setembro/outubro a junho, com três paragens pelo meio - Natal, Carnaval e Páscoa – a que se pode juntar a eventual possibilidade de um dia por semana sem serviço letivo, permitindo juntar três dias sem trabalho, viabilizavam que se vivesse cada ano escolar numa situação de transitoriedade, acreditando que o concurso seguinte traria uma colocação mais próxima. Deste modo, sem estabilidade todo o trabalho na escola é pensado e vivido com uma perceção de curto prazo. Os docentes não criam raízes na escola de colocação, a qual era sempre vista como uma escola de passagem.

Num estudo sobre a mobilidade dos educadores no distrito de Braga, os autores constatam que a mobilidade entre os educadores contratados é de 100% (Oliveira- Formosinho, Ferreira, & Formosinho, 2000). O facto de as colocações serem anuais, leva os autores a dizer que esses docentes «são sujeitos a uma colocação anual e são obrigados a

c) Ausentes dos lugares de que são titulares, por efeitos de colocação especial, e ainda os que beneficiam da conversão total da componente lectiva nos termos do Decreto-Lei n.º 109/85, de 15 de Abril.

2 - Também não podem permutar os lugares de que são titulares os professores que tenham apresentado ou pretendam apresentar até ao final do ano lectivo algum pedido para qualquer das situações a que se refere o artigo 32.º deste diploma.

3 - Os requisitos referidos no número anterior serão declarados sob compromisso de honra pelos interessados em documento a anexar aos respectivos pedidos de permuta.

4 - Os professores colocados por permuta nos termos do presente diploma que não respeitarem a declaração exigida pelo número anterior serão exonerados do quadro geral do ensino primário, podendo, no entanto, candidatar-se ao exercício de funções docentes como professores não pertencentes aos quadros.

Art. 28.º - 1 - Os professores que pretendam permutar têm de o requerer, separadamente, durante o mês de Janeiro de cada ano. (…)

Art. 29.º - 1 - São permitidas a cada professor duas permutas, nos termos deste diploma.

2 - Os professores que permutaram já duas vezes até à data da publicação do presente diploma não poderão beneficiar de nova permuta. (…)

Art. 32.º - 1 - No período de três anos escolares que se seguem à data fixada pelo artigo anterior, os professores que permutarem não poderão beneficiar das situações a seguir indicadas:

a) Nova permuta de lugares;

b) Admissão a concurso para outros lugares, dentro ou fora do Ministério da Educação;

c)Transferência a seu pedido ou com a sua concordância para outro lugar do Ministério da Educação ou de outro ministério;

d) Exoneração do lugar, a seu pedido; e) Aposentação voluntária;

f) Licença ilimitada;

g) Licença sem vencimento nos termos do Decreto-Lei n.º 414/74, de 7 de Setembro». (Decreto-Lei nº 35/88).

147 competir cada ano por um lugar no sistema e pela colocação numa escola». (Ibidem, p. 43). Júlia Formosinho (2000) fala mesmo de uma determinação sem nenhuma racionalidade que leva os educadores ao desespero e à incompreensão, perante um “eterno retorno” anual que provoca cansaço, frustração, revolta, desenraizamento e humilhação. Tendo em conta que «pode haver estabilidade e não haver qualidade – mas que - a estabilidade é sempre uma condição necessária da qualidade docente» (p. 60), conclui que a mobilidade compulsiva, imposta pelos mecanismos da colocação, é um «constrangimento ao progresso profissional» e provoca com enorme perda uma «descontinuidade da acção educativa». (Oliveira-Formosinho, 2000).

Carvalho (1992) no seu estudo “Clima de escola e estabilidade dos professores” refere-se à excessiva mobilidade anual do corpo docente considerando que ela é «(…) ditada pelos mecanismos de colocação de professores (…)» o que faz com que os professores se guiem por razões de ordem ‘egoísta’ na procura de estabelecimentos de ensino (…)» (p. 108). Uma outra conclusão do autor, que ilustra a importância da estabilidade, diz respeito ao facto de constatar que a estabilização do professor num estabelecimento de ensino fomentar a 'construção' de um ambiente de trabalho propício a essa continuidade. Sem esquecer a importância de fatores mais pessoais, como a distância escola-residência, constata que os professores, nas opções por se manterem na mesma escola, valorizam a qualidade das relações entre colegas, o envolvimento com a gestão, a participação nas decisões das escolas, a adoção de padrões de comportamento entre os professores, o normal funcionamento da escola. Estes fenómenos influenciam as decisões dos professores dos quadros, mas também dos mais jovens, acabados de chegar à escola. A forma como são acolhidos e apoiados, os horários e as turmas que lhe são atribuídos ilustram os jogos de poder nas escolas e influenciam as decisões quanto à manutenção, ou não, na mesma escola. Entre as razões apontadas para uma mudança de escola, transversal aos professores mais experientes ou mais jovens, está a necessidade de encontrar novas experiências de trabalho (Ibidem, p. 108-110).