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SECÇÃO II O RECRUTAMENTO DE DOCENTES PARA AS ESCOLAS PORTUGUESAS

5. Atores e papéis nos processos de recrutamento dos docentes

5.3. As escolas

Num processo centralizado de recrutamento de docentes, a atuação das escolas tendeu, sistematicamente, para assumir uma função de apoio, supletiva da atuação da administração. Esta intervenção concretiza-se no levantamento de necessidades de docentes, quer a nível dos lugares de quadro (concurso interno e externo) quer ao nível de horários anuais (necessidades transitórias) ainda sem professor.

Na definição dos lugares de quadro, as escolas são consultadas. A decisão final cabe à administração, já que a abertura de lugares de quadro implica a assunção de compromissos que se mantém ao longo do tempo de permanência do docente na carreira. Acresce ainda que a existência de um maior rigor e intransigência na abertura de lugares de

85 Mecanismo implementado pelo Decreto-Lei n.º 35/2003, de 27 de fevereiro, com as alterações introduzidas pelos Decretos-Leis n.ºs 18/2004, de 17 de janeiro, e 20/2005, de 19 de janeiro.

133 quadro não compromete a prestação do serviço educativo aos alunos, já que este pode ser assegurado pelo recurso à posterior contratação de docentes.

Esta decisão a nível central desresponsabiliza as escolas, não fomentando uma completa intervenção na gestão do seu quadro de pessoal, nem na gestão dos encargos globais com recursos humanos. Em regra, as escolas limitam-se a trabalhar com os docentes que a administração lhes faculta, gerindo-os de acordo com as normas estipuladas.

Um outro papel de atuação das escolas diz respeito ao tratamento da documentação dos concursos. Primeiro com os formulários em papel, mais tarde com as aplicações informáticas, as escolas validam86 os dados introduzidos pelos professores na sua candidatura – dados pessoais e profissionais, habilitações, classificações, tempo de serviço para concurso, menções da avaliação de desempenho, etc.

No processo de colocação de docentes, propriamente dito, a intervenção das escolas só ocorria quando o nível central não dispunha de candidatos para colocar.

Em 1976, previa-se a hipótese de que quando,

«Esgotadas as possibilidades de preenchimento de vagas, por força do concurso previsto neste diploma, as ainda existentes poderão ser preenchidas por candidatos propostos pelos órgãos directivos dos estabelecimentos de ensino, pela ordem indicada no presente artigo (…)». (DL n.º 672/76, art.º 9.º).

Esta atuação, por parte das escolas, carecia de posterior homologação por parte da tutela:

«2. Cada estabelecimento de ensino enviará à direcção-geral respectiva, para homologação, listas por grupo, subgrupo, disciplina ou especialidade dos docentes nas condições do número anterior. (DL n.º 672/76, art.º 10.º, n.º 2).

86 1—A validação consiste na confirmação da veracidade dos dados da candidatura por parte dos órgãos dos estabelecimentos de educação ou de ensino e da Direcção-Geral dos Recursos Humanos da Educação. 2—A validação referida no número anterior processa-se em três momentos distintos:

a) No primeiro momento, as entidades responsáveis pela validação procedem à verificação dos dados de candidatura, por um período de, pelo menos, cinco dias úteis;

b) No segundo momento, a Direcção-Geral dos Recursos Humanos da Educação disponibiliza ao candidato o acesso à sua candidatura, por um período de, pelo menos, dois dias úteis, para proceder ao aperfeiçoamento dos dados introduzidos, aquando da candidatura, dos campos alteráveis e não validados no primeiro momento;

c) No terceiro momento, as entidades responsáveis procedem a nova validação caso tenha havido por parte do candidato o aperfeiçoamento dos dados da candidatura, por um período de, pelo menos, dois dias úteis» (DL nº 20/2006, art.º 17.º)

134 Passados doze anos o procedimento é idêntico. As escolas propunham candidatos aos serviços regionais para que estes pudessem homologar a colocação desses docentes:

«20.1 - Esgotadas as possibilidades de preenchimento de horários, ao abrigo do disposto no n.° 19.2, os conselhos directivos, ou quem as suas vezes fizer, proporão, para homologação, aos serviços competentes das direcções regionais de educação candidatos para preenchimento dos horários ainda vagos (…)». (DN n.º 77/88). Em 2003 (DL n.º 35/2003), procedeu-se a uma centralização dos processos de colocação. Porém, as escolas continuaram a ser a garantia do bom funcionamento do sistema: «as necessidades residuais de pessoal docente que não puderem ser supridas nos termos dos artigos anteriores são-no por contratação resultante de oferta de escola. (…)» (art.º 44.º). No caso dos jardins-de-infância ou escolas do 1.º ciclo do ensino básico, não agrupadas, este procedimento era assegurado pelas direções regionais de educação. O acompanhamento destas contratações era efetuado pela Direcção-Geral dos Recursos Humanos da Educação, a quem era prestada informação sobre os horários objeto da oferta de emprego e sobre a data de início da oferta de escola. (Cf. DL 35/2003, art.º 44.º).

Este procedimento de colocações em situações ainda não supridas foi atualizado no ano seguinte, em 2004,

«considerando-se não supridas as necessidades quando se tenha esgotado a lista definitiva de ordenação no respectivo grupo de docência ou disciplina ou quando se trate de horários de substituição temporária ou inferiores a seis horas, desde que, em qualquer destas duas situações, tenham estes horários sido recusados por duas vezes». (Alteração introduzida pelo DL 18/2004).

Em 2006, mantém-se este tipo de condições para as ofertas de escola, mas decide- se estipular a possibilidade de definir um momento a partir do qual eram suspensas as designadas contratações cíclicas efetuadas pela administração central, sendo, a partir daí, todas as contratações feitas por oferta de escola87. Pela primeira vez as escolas interpretam

87 «2 - A Direcção-Geral dos Recursos Humanos de Educação determina, no aviso de abertura dos concursos, o momento a partir do qual suspende as contratações cíclicas, nunca antes do termo do primeiro período lectivo, substituindo-as por oferta de escola e fazendo cessar a vigência das listas de ordenação nacional dos não colocados.

3 - Compete ao órgão de gestão dos estabelecimentos de educação ou de ensino ou dos agrupamentos de escolas proceder a uma oferta de emprego, que tem como destinatários os indivíduos possuidores, no momento dessa oferta, das aptidões e dos requisitos gerais, especiais e habilitacionais exigidos para o exercício da função docente.

4 - Cada direcção regional de educação publicita, através da Internet, a lista de ofertas de emprego da respectiva área territorial, pelo prazo de cinco dias úteis a contar do seu envio pelas escolas, bem como a

135 o papel que até aí era desempenhado pela administração educativa. A assunção destes procedimentos por parte das escolas ocorria também numa fase em que as contratações se restringiam às situações de substituição de docentes o que facilitava os processos, possibilitando-se assim às escolas um contacto mais tranquilo e de aprendizagem no exercício destas novas competências.

Este gradualismo na intervenção das escolas tornou-se mais abrangente em 2007, quando, fruto da diversificação das ofertas curriculares, designadamente com a criação de cursos de educação e formação e dos cursos profissionais, foi instituída uma

«reconversão do mecanismo de oferta de escola, (…) num instrumento de recrutamento de recursos mais eficaz e flexível que permita às escolas seleccionar o candidato com perfil ajustado às necessidades ocasionais resultantes do respectivo plano de actividades ou projecto educativo.

Estão em causa, entre outros, os horários disponíveis após o termo do primeiro período escolar, (…) e ainda os horários que derivem do desempenho de actividade docente nas disciplinas de técnicas especiais ou do desenvolvimento de projectos especiais de duração limitada (…)». (Preâmbulo do DL n.º 35/2007).

Como modo de operacionalização deste procedimento, estipula-se um processo de seleção que, enquadrado pelos procedimentos da contratação para a administração pública,88 atribui ao órgão de direcção executiva da escola a possibilidade de «fixar os critérios objectivos de selecção em que assenta a decisão de contratar, colhido o parecer vinculativo do conselho pedagógico». (Art. 6.º, DL n.º 35/2007).

Por oposição à prática habitual, afirma-se assim a possibilidade de diferentes perfis de professores, ajustados aos planos de atividades e aos projetos educativos das escolas.

Com este tipo de procedimento, também a atuação da administração se transforma, assumindo, agora, o papel de facilitação e de apoio que outrora coube à escola.

«3—O processo de selecção a que se refere o presente artigo tem como suporte uma aplicação informática disponibilizada através da Internet pela escola.

4—A utilização da aplicação informática para a divulgação e a inscrição do processo de selecção é obrigatória, sem prejuízo da utilização de outros suportes nos termos exigidos no presente decreto-lei.

lista das correspondentes colocações com indicação dos candidatos e respectiva graduação profissional» (DL 20/2006, art.º 59.º).

136 5—Compete à Direcção-Geral dos Recursos Humanos da Educação disponibilizar os meios técnicos indispensáveis à estruturação e correcto funcionamento da aplicação informática, garantindo os requisitos de actualização, segurança e acessibilidade, bem como a elaboração dos formulários electrónicos de candidatura». (Art. 6.º, DL 35/2007).

Posteriormente, em 2009, o DL 51/2009 veio abrir a hipótese de existência de um concurso local para as escolas consideradas prioritárias (Art. 64.º-A). Estes concursos, que analisaremos num outro capítulo deste trabalho, ocorreram em escolas ineridas em Territórios Educativos de Intervenção Prioritária. Na fase de contratação de professores, ainda que não decorrentes destes normativos, também as escolas com contrato de autonomia puderam recrutar professores e selecioná-los com critérios específicos.