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A institucionalização do planejamento no Brasil na Era Vargas urbanização interior

Ano População Urbana

Planta 1.4 Planta Cadastral da cidade de Votuporanga (Executada no ano de 1952)

1.2.2 A institucionalização do planejamento no Brasil na Era Vargas urbanização interior

O “Plano Diretor” se difunde no Brasil a partir da década de 1940, mas foi substituído por outros nomes a partir da década de 1960. […]. (VILLAÇA, 2010, p. 187).

Claro está que a planificação regional assegurara o estabelecimento de uma ordem de prioridades, segundo a qual sejam escolhidas as diferentes áreas e a ordem em que devem ser atendidas. (SANTOS, 1965, p. 147).

Elaborou-se aqui um histórico do processo de formação do pensamento urbanístico no Brasil entre aos anos de 1930 e 1970, relacionando tais fatos ao processo de urbanização e planejamento no município de Votuporanga que, fundado em 1937, passa por intensas transformações nacionais nas estruturas econômica, política, social, administrativa e, sobretudo, naquelas ligadas ao desenvolvimento urbano, quando se dá um esforço para reconstruir saberes e práticas urbanísticas,

As disputas pelo território no espaço urbano de Votuporanga/SP – Contradições no zoneamento de Interesse Social (ZEIS), 1996-2012

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com inserção de novos conceitos. O período recortado neste capítulo (1930-70) também traz uma importância histórica e política relevante para o Brasil e, em matéria urbanística, é um período em que se firma a assistência técnica aos municípios, são criados e inseridos os órgãos de planejamento nas administrações municipais e as empresas de engenharia consultiva (FELDMAN, 2005b).

Nos anos de 1930 ocorrem transformações na trajetória do ideário do Urbanismo, em que os profissionais desta área, confrontados com mudanças estruturais da realidade urbana, dão início à construção e à difusão da pauta urbanística que, pelas quatro décadas seguintes, será perseguida e atualizada, porém não necessariamente consumada no âmbito da administração pública. (FELDMAN, 2005a).

Esvaziado do seu conteúdo e reduzido a discurso, alteram-se os conceitos de “plano” e “planejamento”. O planejamento urbano no Brasil passa a ser identificado com a atividade intelectual de elaborar planos. Uma atividade fechada dentro de si própria, desvinculada das políticas públicas e da ação concreta do Estado, mesmo que eventualmente, procure justifica- las. Na maioria dos casos, entretanto, pretende na verdade, oculta-las” (VILLAÇA, 2010, p. 222).

Na historiografia do Urbanismo no Brasil a década de 1930 pode ser considerada como um marco temporal significativo. Trata-se de uma fase em que o Urbanismo se constitui como um saber e uma prática, fomentando a atuação do urbanista. Muitos estudos se transformaram em importantes ferramentas de planejamento urbano.

Foram produzidos documentos técnicos como planos e plantas para atender as cidades ou parte delas. Ainda que apenas uma pequena parte destas ideias tenha chegado ao campo das realizações, o que foi feito consolidou o Urbanismo como importante campo de atuação. O fato é que com a crescente industrialização no país, sentia-se a necessidade de uma nova ordem para a reorganização do espaço urbano e também de suas funções. Emblemática pela implantação do regime da ditadura de Vargas (o Estado Novo de 1937 a 1945), a década de 1930 presencia a implantação de alguns instrumentos que tinham a pretensão de pensar a problemática da construção do espaço urbano, ainda que na forma condicionada pelo Estado. (FELDMAN, 2005a). A este respeito, Villaça (2010, p. 173) assim se manifesta: “[...] Aquilo que nas últimas décadas tem sido denominado de planejamento urbano (e que nas décadas de 1930 e 1940 se chamava de urbanismo) é a ação do Estado sobre a organização do espaço intraurbano”.

Entre os anos 1930 e 1950 não se tem uma concepção de plano associada a uma prática consolidada no Brasil. Apenas a partir dos anos 1940, o plano começa a aparecer em algumas experiências e durante os anos 1950, se disseminam. Criam-se instituições de urbanismo fora das administrações e se constituem equipes multidisciplinares. (FELDMAN, 2005a).

Feldman (2005b) coloca que os anos 1950, foi um marco qualitativo na inserção dos urbanistas no campo da assistência técnica, que se manifesta nas instituições criadas que delimitam um campo de atuação específico:

[...] é suscitada a “elaboração de planos diretores, na formação de quadros técnicos promovendo cursos para arquitetos e engenheiros funcionários do Estado, publicando boletins destinados a orientar técnicos, especialistas e representantes de entidades nos trabalhos de planejamento. Esta conquista de espaço das questões urbanísticas no campo da assistência técnica se evidencia, também, na recorrência do tema na Revista Brasileira dos Municípios”. (FELDMAN, 2005b, p. 5).

Mas é a partir deste período que por meio do IAB (Instituto de Arquitetos do Brasil) e suas instituições que efetivamente se dá a atuação de um saber na formação de técnicos dentro e fora das administrações municipais e na institucionalização de um sistema hierarquizado de planejamento. O IAB alia a formação de quadros técnicos a uma atuação política. (FELDMAN, 2005a, p. 223).

A dupla inserção do profissional de planejamento urbano, em instituições de ensino e nos órgãos públicos, permitiu vínculos que se estendem até os dias de hoje. Durante o primeiro governo de Getúlio Vargas, o urbanista assume um papel importante ao reafirmar seus vínculos com a administração pública. As comissões de planos, criadas ao longo da década de 1930 nas principais capitais brasileiras, constituem o espaço da ampliação da concepção de Urbanismo. Tais comissões de planos de cidades contribuíram para a inserção de diferentes setores da sociedade nos debates sobre o planejamento das cidades, ainda que dentro dos limites jurídico-institucionais impostos pelo regime do governo.

A respeito da constituição física das cidades, estas sofrem uma alteração de suas estruturas a partir da intensificação da industrialização no país e seus reflexos, exigindo novas estratégias territoriais e, consequentemente, novas formulações e novos instrumentos de controle do uso do solo, que para a nova realidade urbano-industrial. (FELDMAN, 2010).

Em 1947 é criada a SAGMACS - Sociedades Gráficas e Mecanográficas Aplicadas aos Complexos Sociais, a partir dos trabalhos do Padre Lebret (ANGELO, 2010), buscando difundir o Movimento Economia e Humanismo. Em São Paulo (e também em Belo Horizonte), os estudos feitos pela SAGMACS trabalham a primeira proposta de intervenção a partir do desenvolvimento regional, sobretudo ao considerar as conurbações. Com isso, a partir da década de 1950, a questão regional ganha espaço no campo do Urbanismo e se torna foco e objeto de análise e proposições para o planejamento e intervenção pública, no período pós-Segunda Guerra. Desta forma têm início os planos regionais (MUNFORD, 1938) um planejamento que articula conhecimento técnico e prática profissional, com o intuito de controlar, em função da nova e crescente migração campo-cidade, a urbanização em função da expansão do perímetro urbano nos principais municípios brasileiros.

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Entre meados dos anos 1940 e início dos anos de 1960, as comissões de cidade, de caráter consultivo, dão origem aos departamentos de urbanismo ou similares, que institucionalizam um espaço de atuação exclusiva do urbanista, com a extinção dos “departamentos de municipalidades”, então criados para melhorias das cidades pequenas uma vez que estas cidades não eram submetidas a regras específicas de planejamento municipal.

No período que decorre entre os anos de 1940 e 1950 a assistência técnica aos municípios se mostra voltada para a institucionalização deste novo formato de órgãos. É o caso do CEPEU Centro de Estudos e Pesquisas Urbanísticas, na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, criado em 1955 e dirigido por Anhaia Mello ao mesmo tempo em que orienta a elaboração de planos, organiza no interior das administrações um setor de planejamento com “equipes multidisciplinares, aglutinando equipes de outras áreas do conhecimento como engenheiros civis e agrônomos, médicos sanitaristas, historiadores, economistas e juristas” e cria comissões com representantes da sociedade. (FELDMAN, 2005b; FELDMAN, 2005a, p. 226).

Ainda a partir de 1950 vários organismos foram sendo criados com o objetivo de planejar a ação governamental a nível federal, dentre eles o Ministério do Planejamento, a SUDENE, SUDAM, o SERFHAU entre outros, já a nível estadual quase a totalidade dos Estados já possuíam órgãos de planejamento como prática administrativa. Da mesma forma, os municípios já possuíam organismos locais de planejamento, articulados de forma menos intensa com ocorria no âmbito do Estado. Quanto a iniciação dos trabalhos do SERFHAU, sua prática do planejamento urbano e regional no Brasil se modificava de forma radical com o golpe e a ditadura militar em 1964. Com a instauração do novo período, ocorreu o fortalecimento da atuação do SERFHAU (LEME, 1982), contribuindo para que, nos anos 1970, se estruture uma linha de pensamento urbanístico no Brasil, que se baseava na elaboração dos planos diretores de desenvolvimento integrado.

Nos anos de 1960, o SERFHAU centraliza essa atividade envolvendo empresas privadas de consultoria. Com a criação do SERFHAU, a ênfase na formação de quadros técnicos internos às administrações municipais, que prevalecia desde os anos de 1930, se desvanece. (FELDMAN, 2005a, p. 223).

Dentre as empresas privadas de consultoria destacaram-se as empresas a SERETE, o SOCIPLAN, o GPI, entre outras. (FELDMAN, 2005a, p. 229). Destaca-se aqui que tais empresas são também citadas por Azevedo (1976, p. 53).

1.2.3 A instrumentalização da regulação urbana em Votuporanga - As primeiras leis