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Tal fato nos leva a concluir que o processo de inserção de novas áreas loteadas era mais uma jogada imobiliária do que fruto de uma demanda imediata de ocupação: “até a década de 1960, os loteamentos não eram decorrentes da necessidade de expansão do núcleo urbano[...] essas áreas eram loteadas com vistas sobretudo à valorização imobiliária” (VOTUPORANGA, 1971, v. 1, p. 156).

Apesar do latente processo de especulação imobiliária que se manifestava, há que se ressaltar que naquele momento, a Lei n. 1.233/1971 se manifestava novamente contraria a tais práticas apontando inclusive que o zoneamento não deveria ser instrumento deste mercado de terra que estava em vias de expansão: § 3º - A obrigatoriedade dos coeficientes máximos de ocupação e de aproveitamento do lote tem as seguintes finalidades: b) evitar valorização excessiva dos lotes, localizados em qualquer zona, destinados a construir edificações de quaisquer tipos e para quaisquer usos (Capítulo XII, Seção VI, Art. 227; p: 112). Embora com a intenção de democrático e inovador, o fato é que o Plano de 1996 alguns aspectos absorveu conceitos e determinações do Plano de 1971.

Segundo entrevistado 2 (em entrevista concedida em 05/06/2014), o Plano de 1971 era uma “imensa colcha de retalhos” com inúmeras leis que alteram parcialmente. “Não eram leis complementares, eram leis modificativas, que alteravam zoneamento e demais componentes do Plano de 1971 [...] o fato é que sempre que se iria recorrer ao Plano de 1971, Lei n. 1.233/1971, tinha-se que observar uma gama de leis que formavam o “mosaico de leis” (Feldman 2005ª) que o alteravam, daí achou-se por bem fazer um novo Plano, onde todas estas alterações estavam descritas e atualizadas numa sequência lógica única mais precisa. Ao analisar cada uma destas Leis, pode-se observar que dentre elas haviam leis que alteravam, o perímetro urbano, condições de normas edilícias, como recuos, dentre outros, especialmente que alteram o zoneamento municipal, principalmente o zoneamento industrial.

Salienta-se que o número e datas das leis que alteram a Lei do PDI-1971, estão listadas na página referente às listas de leis que compõem as análises desta dissertação, onde apenas uma delas, caracterizada como Lei Complementar, sendo as demais, leis modificativas. Destaca-se alguns exemplos que constam as modificações da Lei n. 1.233/197146, dentre os vários encontrados:

Lei n 2.633/1993- (Dá nova redação ao Artigo 234 e Parágrafos da lei n. 1.233, de 09.06.1971) “Artigo 1º- O Artigo 234 da Lei n. 1233, de 09.06.1971, passa a ter a seguinte redação: [...]”. Lei 2633 de 30 de agosto de 1993.

Lei n 2.650/1993 (Dispõe sobre alteração das Leis 1 799 e 1.233 e dá outras providências) [...] “Artigo 2º O inciso III e o § 4 do Artigo 242 da Lei n. 1.233 de 09/06/1971, passa a vigorar com a seguinte redação’” [...] Lei n 2650 de 30 de novembro de 1 993:

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Selecionou-se apenas parte das Leis que mostraram as modificações da Lei n. 1.233/1971. Não se mencionou o teor total de tais leis, por não ser este o objetivo aqui a ser alcançado aqui neste momento, ainda que se destaca acima que as referidas leis alterem o perímetro urbano, condições de normas edilícias, como recuos, dentre outros, especialmente que alteram o zoneamento municipal, principalmente o zoneamento industrial, dentre outras.

As disputas pelo território no espaço urbano de Votuporanga/SP – Contradições no zoneamento de Interesse Social (ZEIS), 1996-2012

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Lei Complementar n. 56/2002. “Art. 21 Revogam-se os artigos 295 a 309 da Lei n. 1.233, de 9 de junho de 1971 e as demais disposições em contrário” Lei Complementar n 56 de 02 de outubro de 2002.

A relação de todas as leis que alteram do PDI-1971 está elencada na listagem de documentos e legislação consultados para elaboração da dissertação, no apêndice desta.

A respeito disso Villaça (2012, p. 176-177), analisa que “o modelo que os urbanistas definiram nas décadas de 1970 e 1980 [...] consistia em um documento de princípios, objetivos e diretrizes gerais que, necessariamente dependeriam de leis complementares para serem aplicados”, que no caso de Votuporanga, eram as ‘leis modificativas’ que preconizavam tais princípios, objetivos e diretrizes.

Surge então uma questão que pode aqui ser colocada: seria o Plano 1996 uma necessidade de organizar o município que vivenciava os efeitos da industrialização e especialmente os reflexos da crise no seu parque industrial, ou seria uma necessidade de compilar as leis modificativas do PDI-1971 e organizá-las num só Plano?

A lei de 1996 era na verdade um apanhado de todas as leis existentes, fazendo-se todas as alterações necessárias.

Na verdade, se houvessem feito o que o plano pregava, em relação as devidas modificações em cada período, não seria necessário um novo plano [...]. No pano diretor de 1971, que é muito completo, dizia que ele deveria ser atualizado a cada dois anos (ver onde fala), já que a cidade se modifica com constância. [...]. A administração municipal, através de seu corpo técnico, ia fazendo alterações periódicas na lei. A partir destas alterações a operacionalização da lei passou a ser feita com a leitura da lei n. 1.233/1971 e comparando-a com suas alterações Qualquer ignorância a cerca de uma nova alteração poderia acarretar erros irreparáveis na gestão da cidade, como por exemplo o uso indevido do zoneamento. “Se tivessem compilado todas estas leis que alteravam no Plano de 1971, não seria necessário fazer um novo plano. (Entrevistado 1 entrevista em concedida em 05/06/2014).

É possível ver na lei 2829/1996 que aquilo que esta lei não contemplava, dever-se-ia recorrer à Lei de 1971: Título IV Artigo 29 – Esta lei entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário, em especial naquilo que conflitar com a Lei n. 1.03547 de 04/10/68, que iniciou o Plano Diretor, e a Lei n. 1.233 de 09/06/71, que o instituiu. (Lei n. 2.829 de 05 de janeiro de 1996).

Mas uma nova questão estava emergindo: o município passava por alterações estruturais significativas iniciadas com a industrialização e posteriormente coma crise do seu parque industrial. Questões sociais e habitacionais estavam se inserindo nas discussões da cidade. Destaca-se aqui o fato do Plano de 1996 introduzir a visão de uma política urbana de inclusão, que pensava a cidade como

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A n.1.035 de 04/10/68 (Dispõe sobre a contratação de financiamento para Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado e dá outras providências)

espaço de debate, embora na elaboração deste plano, a população não esteve envolvida, de fato. Sob o Número 2.829, a lei do Plano de 1996 foi aprovada em 05 de janeiro do referido ano.

A lei é composta da seguinte forma:

Tabela 2.3 – Composição do Plano Diretor Municipal – Votuporanga: Lei n. 2.829 de 05 de janeiro de 1996.

COMPONENTES LEI

Diagnóstico e Subsídios para o Desenvolvimento de Votuporanga

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Lei do Plano Diretor Lei n. 2.829 de 05 de janeiro1996

Código de Posturas Lei n. 1.595/1977 (Incorporada)

Código de Obras Lei Compl. 13 de 20 de dezembro de 1996

Leis do Zoneamento, parcelamento uso e ocupação do solo

Lei n. 2.830 de 05 de janeiro1996 Mapas que Compõem a Base Cartográfica:

a) Diagnóstico:

* Concentração físico-espacial

* Distribuição espacial: unidades escolares * Distribuição espacial: unidades de saúde b) Subsídios:

* Sistema de esgotamento sanitário

* Micro bacia do Marinheirinho: Capacidade de Uso do Solo

c) Diretrizes:

* Sistema Viário e sua expansão * Zoneamento e novo perímetro urbano * Macrozoneamento rural

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Fonte: Elaboração própria a partir da leitura do Plano.

No que diz respeito ao zoneamento Municipal, a Lei n. 2.830 de 05 de janeiro1996 o institui, e traz anexada à lei, o mapa que afirma a composição e localização de cada área gravada.

As disputas pelo território no espaço urbano de Votuporanga/SP – Contradições no zoneamento de Interesse Social (ZEIS), 1996-2012

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Mapa 2.17 – Mapa Original do Plano Diretor Municipal de 1996 – Lei nº 2830/1996

Fonte: Câmara Municipal de Vereadores de Votuporanga, à autora. Disponível em tamanho A3, no anexo V

Ao analisar ao Plano de 1971 e suas leis modificativas observa-se ainda que, mesmo após ter sido aprovado o plano de 1996, muitas indicações da lei de 1971 ainda continuavam vigentes. Um exemplo disso é a Lei Complementar nº 56 de 02 de outubro de 200248, Art. 21 Revogam-se os artigos 295 a 309 da Lei n. 1.233, de 9 de junho de 1971 e as demais disposições em contrário [...] Art. 22. Esta lei entrará em vigor na data de sua publicação [...] Votuporanga, 02 de outubro de 2002.

Até o ano de 2010, recorria-se às matrizes dos mapas do PDI-1971 para expedição de certidões de perímetro urbano. Segundo o entrevistado 649, ex-diretor de obras Prefeitura Municipal de Votuporanga durante a administração do Sr. Hernani de Mattos Nabuco, em 1963, aquele departamento de obras respondia por todos os atos administrativos e técnicos da prefeitura:

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Lei complementar municipal que institui o Programa Municipal “Viver Melhor” do Projeto Votuporanga em Ação, dando nova sistemática ao emplacamento das edificações urbanas.

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