• Nenhum resultado encontrado

A instrumentalização da regulação urbana em Votuporanga As primeiras leis reguladoras do espaço urbano no município

Ano População Urbana

Planta 1.4 Planta Cadastral da cidade de Votuporanga (Executada no ano de 1952)

1.2.3 A instrumentalização da regulação urbana em Votuporanga As primeiras leis reguladoras do espaço urbano no município

Enquanto a industrialização era incorporada nos grandes centros, no oeste paulista vivenciava- se o início ou abertura de uma nova fronteira, inclusive motivada por um contingente de trabalhadores oriundos da indústria paulistana. Na visão de Santos (1998 p. 6), “A urbanização ganha, assim, novo impulso e o espaço do homem, tanto nas cidades como no campo, vai tornando-se um espaço cada vez mais instrumentalizado, culturizado, tecnificado e cada vez mais trabalhado segundo os ditames da ciência”.

Assistia-se a uma sistematização ainda mais apurada do planejamento físico e territorial no Brasil que já trazia, desde alguns anos antes, algumas formas legais de organização das cidades através de instrumentos previstos pela Constituição Federal de 1946, que já pensava nas propostas de uma organização em nível regional e propunha a formação de comissões para dirigir os processos.

Neste momento, porém, Votuporanga ainda não possuía uma legislação para controle e organização urbana: nem códigos, nem Planos. Apenas decretos que regulamentavam a abertura de novos logradouros públicos, que dispunham sobre a proposta orçamentária, instrumentos tributários para recolhimento de impostos.

Quando se deu o processo de formação do núcleo urbano de Votuporanga, pela iniciativa do Grupo Alemão Theodor Wille, foram instituídas em 1937, as primeiras “datas” da Fazenda Marinheiro de Cima, seguidas de ruas, serviços e praças, num processo de “abertura de logradouros públicos”, feito sem regras legais para o parcelamento do solo. Considerava-se apenas a demarcação da quadra, com certo número de “datas” e o seu sistema viário circundante. Após o fim da ditadura Vargas, em 1945, e a busca do estabelecimento da democracia no país, o município assiste pela primeira vez à eleição para prefeito e elege João Gonçalves Leite. A família Leite permaneceu no poder por mais alguns anos:

Após este período [...] a cidade começou a incorporar mecanismos de regulação de suas atividades urbanas [...]. Houve uma intervenção na prefeitura por causa de problemas operacionais. Um grupo político unificou a direita liberal, os populistas e a esquerda comunista contra estes problemas e tomaram a Prefeitura. Meu pai estava nesse grupo [...]. (Entrevistado 1; 26/12/2013).

A influência deste grupo (ainda segundo Entrevistado 1, 2013), junto ao governo federal foi fundamental para articular processos, investimentos e benefícios para Votuporanga, que se desenvolveu consideravelmente após este período. Assim, na década de 1940, a Estrada de Ferro

As disputas pelo território no espaço urbano de Votuporanga/SP – Contradições no zoneamento de Interesse Social (ZEIS), 1996-2012

102

Araraquarense tem seus trilhos ampliados16 em direção a Votuporanga, na sua porção sul, motivando a expansão da malha urbana no sentido centro-sul e estimulando, ainda mais, o desenvolvimento urbano não apenas do município, mas também de toda a sua microrregião, reforçando a necessidade do planejamento urbano.

Observando, assim, os primeiros processos de regulamentação urbana de Votuporanga, estes datam da década de 1950. Ao analisar o banco de dados de Leis e Decretos da Prefeitura de Votuporanga, observa-se que nos anos 1930 e 1940, a legislação estava direcionada a instrumentos de tributação, Recursos Humanos (Plano de Cargos e Empregos, o Quadro do Pessoal). Nem mesmo a abertura e implantação de novos bairros eram sujeitos a decretos locais e apenas em 1968 estes passam a ser implantados de forma documentada, sendo o primeiro deles o Parque Guarani. (Requerimento nº 357/68 de 16/02/1968). Esta informação é confirmada segundo dados da SMDUH e Tabela de aprovação de bairros do PLHIS-2010, conforme segue descrita no período de 1937 a 1968:

Tabela 1.6 - Aprovação de bairros do PLHIS-2010 – Reelaborada pela autora/2013

Loteamento Decreto Aprovação Previa

ou Decreto Final

Ano de

Abertura Localização

1 Patrimônio Velho Não encontrado 1937 Centro

2 Patrimônio Novo Não encontrado 1948 Leste

3 Vila Hercília Não encontrado 1948 Leste

4 Vila Budim Não encontrado 1948 Leste

5 Parque Kennedy Não encontrado Década de 40 Centro

6 Vila Dutra Não encontrado Década de 40 Nordeste

7 Vila Santa Luzia Não encontrado 1948 Centro

8 Vila Sá Não encontrado 1948 Centro

9 Cidade Nova (Cia

Melhoramentos) Aprovação em 26/10/50 1950 Sudoeste

10 Bairro da Estação Não encontrado 1950 Sudoeste

11 Bairro São João Aprovação em 06/09/78 1952 Sudoeste

12 Vila Marim Não encontrado 1952 Centro

13 Vila São Vicente Aprovação em 03/07/65 1955 Sudeste

14 Vila América Não encontrado 1956 Centro Oeste

15 Vila Muniz Aprovação em 12/11/57 1957 Sul

16 Bairro do Café

(prolongamento) Aprovação em 30/12/59 1959 Nordeste

17 Bairro Santa Eliza Aprovação em 30/12/59 1959 Centro Oeste

18 Jardim São Paulo Aprovação em 04/12/59 1959 Nordeste

19 Vila Paes (Alberto

Honório e outros) Aprovação em 25/09/64 1959 Centro Leste

16

No caso de Votuporanga, a ampliação da Estrada de Ferro Araraquarense em 1940, contribuiu para alavancá-la como centro econômico regional (MONBEIG, 1998; PEICHOTO, 2001, RODRIGUES, 2006; p. 45), promovendo, assim, sua ascensão administrativa, que leva à implantação da infraestrutura necessária para a nova função. Delineiam-se os primeiros contornos de uma cidade industrial, conforme se revelou posteriormente. (RODRIGUES, 2006, p. 45).

Loteamento Decreto Aprovação Previa ou Decreto Final

Ano de

Abertura Localização

20 Recanto dos Esportes Não encontrado 1959 Centro Oeste

21 Chácara Aviação Aprovação em 07/08/68 1959 Oeste

22 Vila Guerche Aprovação em 15/01/59 1959 Centro Oeste

23 Loteamento Albino Zan Aprovação em 07/08/61 1961 Centro Oeste

24 Jardim Alvorada Aprovação em 10/05/63 1963 Leste

25 Jardim São Judas Tadeu Aprovação em 10/04/63 1963 Centro Norte

26 Vila São João Batista Não encontrado Década de 60 Sul

27 Loteamento Nelson

Camargo Não encontrado Década de 60 Sul

28 Chácara Camargo Não encontrado 1964 Sudeste

29 Parque Brasília Aprovação em 02/12/68 1964 Centro Norte

30 Jardim Yolanda Aprovação em 11/08/65 1965 Sudeste

31 Loteamento José Silva

Melo Aprovação em 04/11/65 1965 Nordeste

32 Prolongamento São

Vicente Não encontrado 1965 Sudeste

33 Prolongamento Vila

Marim Aprovação em 19/01/65 1965 Sudeste

34 Bairro Marão Aprovação em 25/06/66 1966 Sudeste

35 CECAP I Aprovação em 12/01/66 1966 Sul

36 Chácara das Paineiras Aprovação em 24/09/66 1966 Oeste

37 Loteamento Bandeirantes Aprovação em 17/09/66 1966 Centro Oeste

38 Parque 8 de Agosto Aprovação em 31/12/66 1966 Centro Oeste

39 Nova Boa Vista Não encontrado 1966 Centro Norte

40 Parque Guarani REQ.357/68 Aprovado em

16/02/68 1966 Sudoeste

41 Chácara Vera Aprovação em 08/09/67 1967 Sul

42 Jardim Umuarama Aprovação em 27/07/67 1967 Sudeste

43 Parque São Pedro Aprovação em 09/11/67 1967 Leste

44 Vila Formosa Aprovação em 10/08/67 1967 Nordeste

45 Parque dos Estados Não encontrado 1967 Centro Leste

46 Jardim Paraiso Aprovação em 20/11/68 1968 Oeste

47 Parque Roselândia Aprovação em 17/10/68 1968 Sul

48 Vila Lupo Aprovação em 20/01/68 1968 Sudeste

49 Loteamento Santa Alice Não encontrado 1968 Nordeste

Fonte: Votuporanga, 2010 - (Reelaborada pela autora)

Segundo o entrevistado 4 do CRIA - (Cartório de Registro de Imóveis e Anexos de Votuporanga), “nos anos 1930, 1940, 1950 e 1960, os loteamentos eram aprovados pelo prefeito municipal que apenas com um carimbo e uma assinatura permitia a construção de novos bairros no município”. (Entrevistado 4, 2014). Entre o final da década de 1930 até o final da década de 1960 foram aprovados 49 loteamentos. Apenas após a década de 1970, coincidindo com a aprovação do

As disputas pelo território no espaço urbano de Votuporanga/SP – Contradições no zoneamento de Interesse Social (ZEIS), 1996-2012

104

Plano de Desenvolvimento Integrado (PDI-1971), os loteamentos passaram a ser aprovados por decretos.

O Parque Guarani de 1966 e aprovado em 16/02/1968 (REQ. 357/68) é um raro caso de solicitação de aprovação via requerimento, vindo os loteamentos a serem efetivamente aprovados por decretos apenas no início da década de 1970, sendo o exemplo disso loteamento Jardim Progresso em 1974 (Dec. Aprovação n. º 1500/74). Tais decretos não norteavam diretrizes para o parcelamento do solo, seus textos eram simples e diretos: normalmente com os dizeres “Dispõe sobre a aprovação do loteamento x”. Apenas após o ano de 1979, com a aprovação da Lei 6766/1979 é que o município passou a incorporar as formas de parcelamento do solo regidas e orientadas segundo a referida lei propunha. Destaca-se que até o momento, Votuporanga fazia uso do Decreto Lei nº 58 de 10/12/1937, trabalhado com maiores detalhes capítulo 2, item 2.2.1 A Lei Federal de Uso e Ocupação do Solo - 6.766/79.

Não havia obrigatoriedade de execução de obras de infraestrutura. Segundo o entrevistado 2, ex-funcionário do setor de cadastro físico da prefeitura, contratado na década de 1970, aprovava-se o loteamento e a estabelecia se paralelamente um documento de solicitação da construção de guias e sarjetas nos novos logradouros públicos. Também à medida que se tinha a necessidade de construção de equipamentos públicos como praças e escola, por exemplo, o poder público desapropriava áreas para provisão de tais.

Ao analisar decretos e projetos de loteamentos em Votuporanga das referidas décadas analisadas, observou-se que, à exceção do loteamento Cia. Melhoramentos, atual Cidade Nova (aprovado em 26/10/1950) e projetado pela equipe do Eng. Prestes Maia, a praça não apenas estava prevista como também foi executada juntamente com o processo de parcelamento do solo.

Abrem-se uns parênteses para destacar o referido loteamento, que pode ser considerado um caso emblemático. O “Cidade Nova” tem traçado que difere dos demais loteamentos até então implantados no município, com tecido curvilíneo que primou pelo aproveitamento das características do relevo, acrescentando certa particularidade ao projeto.