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O passado passou, e só o presente é real, mas a atualidade do espaço tem isto de singular: ela é formada de momentos foram, estando

Mapa 2.1 Mapa da Divisão cadastral do município

Fonte: Prefeitura Municipal de Votuporanga- Setor de Cadastro Físico - Elaboração própria, a partir do original.

Nota-se assim, que o Cadastro Municipal foi uma das grandes contribuições do PDI-1971. Juntamente com todo um sistema de normas de tramitação interna de documentos, o PDI organizou a administração em várias instâncias burocráticas. A manutenção do Cadastro Municipal foi levada adiante nas administrações seguintes até a sua transformação em Cadastro Multifinalitário, atualmente em implantação, através de um sistema cadastral totalmente georeferenciado, visto com mais detalhes no item 2.5.2.

As principais contribuições do Plano Diretor Integrado de Votuporanga se deram nas propostas de desenvolvimento econômico especialmente aquelas relacionadas à produção agrícola, pois indicou como saída para o município um olhar mais aprofundado para a sua estrutura fundiária baseada na pequena e média propriedade. O plano propõe a diversificação agrícola que passou a ser o principal elemento de campanhas da prefeitura. Esta interveio diretamente no processo com a criação e doação de mudas de frutíferas em larga escala para os pequenos produtores. Também foram difundidas a sericicultura e a ovinocultura com apoio da municipalidade, sendo também dessa época a instalação do Colégio Técnico Agrícola e da ampliação do quadro funcional da Casa da Lavoura.

A partir do PDI-1971 deu-se início à ampliação da pavimentação urbana e à construção de infraestrutura de iluminação e abastecimento de água para atender a todas as parcelas da cidade, numa

repentina e extraordinária ampliação dos investimentos municipais. Isso se deve ao aumento da arrecadação e a introdução de novos métodos e procedimentos regulamentados pelo plano diretor.

Observando o item de instalação das redes de infraestrutura, e tomando-se como referencial as propostas previstas no Plano de Ação do PDI-1971 - (v. 2) do município, e reforçando as palavras do

entrevistado 05 (em entrevista a autora em 06/06/2014) já havia esclarecido durante a entrevista para

elaboração do capítulo 1 deste trabalho, em relação às obras de infraestrutura: “Dentro desta diretriz, deverão ser atendidas prioritariamente as necessidades: 1º Abastecimento de água; 2º Rede de esgoto sanitário; 3º Esgotamento de águas de superfície; 4º Pavimentação de logradouros públicos; 5º Sistema viário; 6º Recreação e Cultura” (VOTUPORANGA, 1971, v. 2, p. 15).

Ao ser indagado sobre o legado ou o que se havia feito em termo de benefícios em obra de infra e superestrutura em Votuporanga entre os anos 1960/70 e início dos anos 1980, o entrevistado

6,27·, em entrevista à autora, assim se manifesta:

Durante a administração do Sr. Dalvo Guedes pudemos realizar muitas obras, entre as quais salientamos a Avenida Prestes Maia. Iniciamos nesta administração o processo de planejamento [do município], colocando-nos talvez, na vanguarda de muitos municípios com a introdução do planejamento [urbano] e do conceito de plano diretor e da administração indireta nos municípios, como a criação da autarquia de água e esgoto: A Superintendência de Água e Esgoto de Votuporanga – SAEV. (Entrevistado 6, em entrevista concedida à autora em 09 de julho de 2014)

A respeito deste período, o Sr. Dalvo Guedes, nos coloca que:

A cidade não tinha asfalto, nem rede de esgoto [...] e a energia era a base de tinha apenas 23 mil habitantes [...] a arrecadação era pequena e vivíamos na dependência dos governos estadual e federal [...]. Contamos com o motor a diesel e a água era precária [...] quando assumi a prefeitura e 1963, Votuporanga apoio do SERFHAU para nos auxiliar com projeto para implantação do plano de abastecimento e água do município. O Órgão do Ministério do Interior faz um empréstimo de 5 milhões a serem pagos em 18 anos, em parceria com o DOP (Departamento de Obras públicas do Estado de São Paulo). (Ex Prefeito Dalvo Guedes (1963), em entrevista ao Jornal A Cidade, em 19/11/2013).

Retomando as considerações do entrevistado 6:

Seguiram-se as próximas administrações [do Sr. Ernani Nabuco e do Prof. Luiz Garcia de Haro, quando projetamos e executamos a barragem para captação do córrego Marinheirinho. Em seguida, na administração do Sr. João Antonio Nucci (1977 a 1982) executamos várias obras dentro do plano do Governo Federal chamado cidades de porte médio, onde salientamos, a solução das erosões da Vila Paes culminado na construção da Avenida Antonio Augusto Paes [que liga o centro da cidade à zona norte e leste de Votuporanga].

[...]. Na administração do Sr. Mario Pozzobon (1983 a 1988) que sucedia a do Sr. João Antonio Nucci, realizamos um trabalho pioneiro com a construção do poço profundo da Vila Muniz, hoje integrado ao sistema da zona sul da SAEV. E desta última administração também, o projeto e a construção de emissários do Córrego Marinheirinho até a juzante da represa e do córrego Boa Vista até os limites do perímetro urbano. (Entrevistado 6, em entrevista concedida à autora em 09 de julho de 2014)

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Dentre as diretrizes para disponibilização de serviços de recreação e cultura, foram construídos a concha acústica, chamada pelo prefeito Nabuco de “teatro do povo” (Adauto Leva, à autora/2014), construção do centro recreativo do horto Florestal, Construção do Prédio da Biblioteca Pública. (VOTUPORANGA, 1971, v. 2, p. 20).

Na segunda metade da década de 1970, a prefeitura passa a investir na capacitação profissional de funcionários ligado ao setor de obras, através do CEPAM (Centro de Estudos e Pesquisas de Administração Municipal), órgão estatal criado em 1967 para assessorar tecnicamente os municípios paulistas:

Figura 2.1 - Crachá do 1ºcurso regional oferecido pelo CEPAM

Fornecido à autora por Valter Lima de Melo em novembro/2013

Ainda que tido muitas vezes como tecnocrático, o PDI-1971 de Votuporanga foi orquestrador do processo de organização da administração pública local, e mesmo que amparado em bases burocráticas e criou um conjunto de regras e diretrizes que amparam o processo de planejamento urbano de Votuporanga, especialmente nos primeiros anos que o sucederam.

2.2 O PDI-1971 - Regulação de uso e ocupação do solo

Até implantação do Plano de 1971, não se tinha registro de nenhum recurso ou instrumento disciplinador do uso do solo no município de Votuporanga. Tanto é que o Plano buscou resolver

alguns problemas de usos incompatíveis, ao detectar no início da década de 1970 a presença de algumas indústrias implantadas ao longo do tecido urbano, diluídos junto às residências. Estas indústrias isoladas eram constituídas de pequenas unidades, a indústria moveleira, herdeira das pequenas marcenarias (de imigrantes europeus), instaladas na cidade entre os anos 1940/50.

A indústria de Móveis e Estofados A.B. Pereira, instalada em 1962, foi a primeira indústria moveleira de produção em série de Votuporanga, no período que antecede a instalação do primeiro parque industrial no município. (RODRIGUES, 2006a).

Os empreendedores dessa nascente indústria esbarravam, frequentemente, no problema da inadequação de sua localização, via de regra, em meio a áreas residenciais, o que acabou por mobilizá-los tanto para a criação de uma entidade de representação coletiva, a AIRVO, quanto para a instalação do I Distrito Industrial. (RODRIGUES, 2006a, p. 83).

No caso das regiões metropolitanas, a criação de uma legislação específica disciplinando o zoneamento industrial, e a localização das indústrias constitui:

Num fator inibidor da ampliação de fábricas e instalação de novas unidades industriais que, de alguma forma, pudessem agravar a poluição ambiental ou mesmo comprometer ainda mais os principais mananciais hídricos da metrópole. Isso explica, parcialmente, que durante o período 1970/85 tenha aumentado o número de estabelecimentos industriais e a participação do peso relativo do interior no VTI paulista de alguns ramos, acentuadamente poluentes, como farmacêuticos e veterinários, metalurgia, papel e papelão, borracha, química e produtos de matérias plásticas, principalmente após 1975, quando se instituem essas restrições (NEGRI, 1996, p. 182).

A indústria se fortaleceu posteriormente engajado pela realização de uma política de “interiorização do desenvolvimento” a partir dos anos de 1980, se configura como principal atividade econômica em Votuporanga. (NEGRI, 1996).

No contexto de desconcentração industrial e de implementação de políticas de interiorização do desenvolvimento é que emerge uma nova configuração social, econômica, urbana e demográfica da Região Administrativa de São José do Rio Preto e da Região de Governo de Votuporanga. (RODRIGUES, 2006a, p. 67).

Com isso, o processo de industrialização do interior paulista, sobretudo de Votuporanga, se intensifica. A questão industrial era tão presente e representativa que o PDI de 1971 destina um mapa especifico para o zoneamento industrial, além do zoneamento geral da cidade.

A influência da indústria no processo de planejamento e desenvolvimento local no PDI- Votuporanga se explicita, assim como ocorreu no PDDI/Franca, que a zona industrial deveria ser submetida a um planejamento detalhado. (VOTUPORANGA, 1971), conforme já se observou no item 1.3.2 (subitem 1.3.2.1).

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