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A investigação criminal e a condução do inquérito policial

CAPÍTULO II – O INQUÉRITO POLICIAL E A INVESTIGAÇÃO CRIMINAL

2.3 A investigação criminal e a condução do inquérito policial

Idealizamos uma persecução penal célere, eficiente, eficaz e com efetividade, com economia de recursos humanos, financeiros e de tempo. É incrível ver que a Administração Pública brasileira consome quase 40% do produto interno bruto em tributos. Comparando os custos operacionais das máquinas administrativas públicas envolvidas na persecução penal com os resultados obtidos expressos na pesquisa estatística não nos sobra outros sentimentos do que a frustração e indignação. A pesquisa demonstra de forma científica que os inquéritos policiais instaurados por portaria durante o ano de 1999 concluíram: 72,34% o judiciário decidiu pelo arquivado por diversas razões ou pela sentença absolutória (no 1º grau de jurisdição); 8,93% a Justiça Federal declinou da competência para julgar; 6,38% foram propostas a suspensão condicional do processo ou a transação penal; 5,11% ainda tramitam na Justiça Federal sem sentença de 1º grau; 5,11% sentenças com condenação a pena restritiva de direitos e 2,13% sentenças com condenação a pena privativa de liberdade.

Qualquer instrumento de investigação criminal pré-processual tem que ser célere. Não serve à justiça e a sociedade um inquérito policial que desvende toda a extensão de um crime depois de transcorrido o prazo prescricional da pretensão punitiva. Se o Estado não pode mais exercer seu poder de jus puniendi devido à morosidade da instrução do inquérito policial de nada adianta a persecução pré-processual com seus custos decorrentes.

Encontramos fartos exemplos na imprensa nacional da morosidade e impunidade decorrente da atividade da polícia investigativa. Evidente que existem outras inúmeras condicionantes da impunidade. Outra falta grave que diz respeito diretamente a polícia é o

83 Não custa lembrar que a história republicana brasileira é marcada, na maior parte, por períodos antidemocráticos.

alto percentual de subnotificação dos crimes acontecidos. Uma reportagem do Jornal Extra do dia 24/09/2006 revelou que 202.665 pessoas compareceram às Delegacias de Polícia Civil do município do Rio de Janeiro para registrar ocorrências de crimes no ano de 2005 e publicou um relatório da própria Polícia Civil que dizia que somente 4% (8.239 ocorrências) viraram inquéritos policiais. A reportagem finalizou dizendo:

“O maior volume de queixas da população, no entanto, teve o mesmo destino: a gaveta. As ocorrências, algumas transformadas em Verificação Preliminar de Inquérito (VPI), tiveram as investigações suspensas. Em alguns casos, crimes como seqüestro-relâmpago, roubo e extorsão acabaram sendo arquivados logo depois de serem registrados pelas vítimas. Essa é a realidade da investigação criminal no Brasil. O desalento dos cidadãos brasileiros com a persecução pré-processual é dimensionado com as palavras de uma vítima que teve sua moto roubada: Não tenho mais fé na polícia. Fui vitima duas vezes: uma do roubo, outra do descaso”. Recentemente o Jornal O Povo, de 28/05/2007 publicou uma série de reportagens sobre a eficiência do inquérito policial instaurado por portaria e da investigação criminal desenvolvida pela Polícia Civil do Ceará (cabendo perfeitamente para as outras polícias). Extraímos os principias trechos das reportagens que sintetizam a realidade encontrada na instrução pré-processual.

45% dos inquéritos não têm autoria definida no Ceará

Dos 576 inquéritos policiais que chegaram às Varas do Júri, em 2006, em 45,3% deles o acusado não era conhecido. A falta de técnicas de investigação é apontada como um dos entraves no Estado.

Se a investigação criminal no Ceará fosse um romance policial, quatro em cada dez livros não revelariam a identidade do assassino no final. Essa é uma das conclusões a que se pode chegar quando se analisa o resultado obtido pela Polícia Civil em 2006. No ano passado, 576 inquéritos deram entrada nas seis varas dos Júri (especializada em homicídios). Desse total, 315 identificavam o acusado. Em 261 deles, no entanto, a autoria permanecia desconhecida (45,3% dos casos). A informação é da Secretaria das Promotorias do Júri do Fórum Clóvis Bevilácqua.

O Código de Processo Penal (CPP), em seu artigo 10, prevê um prazo de 10 dias para a conclusão do inquérito policial - caso o indiciado tenha sido preso em flagrante - e de 30 dias, quando o indiciado estiver solto ou tiver pago fiança. Depois de concluído, o material segue para o Ministério Público onde é analisado. O inquérito, então, pode se transformar em denúncia crime ou ser arquivado por falta de provas. Aí reside o problema: sem a identificação do autor do crime, como levar o processo judicial adiante?

O promotor de Justiça Francisco Marques Lima, secretário-executivo das promotorias do Júri, destaca dois motivos para o grande número de inquéritos sem autoria: o desaparelhamento da autoridade policial e o medo que as pessoas têm de colaborar com a Polícia e comparecer à delegacia. Essa situação torna-se ainda mais grave no que se refere aos homicídios, explica, porque os "vestígios somem do local com muita rapidez".

...

A coleta de vestígios no local do crime é um fundamento básico do trabalho policial. Se bem feita, pode revelar diversos fatos sobre o crime e auxiliar o trabalho da Promotoria, que passa a contar com provas objetivas e mais difíceis de serem contestadas no Tribunal. Para a doutora em Políticas Sociais e coordenadora do Laboratório de Direitos Humanos e Cidadania da Universidade Estadual do Ceará (Uece), Glaucíria Mota Brasil, a Polícia no Ceará precisa ser mais científica.

"Temos ainda uma polícia confessional do século passado, baseada em depoimentos. Isso como prova (em um julgamento) é muito frágil. A perícia é fundamental em um inquérito. Um cigarro ou um cabelo podem revelar o autor do crime. Isso são vestígios que podem ser analisados pela Polícia Científica, caso haja recursos. A Polícia tem de ser mais científica. Ela está atrasada muitos anos. Estamos enfrentando problemas do século XXI com recursos do século passado", avalia.

Como já discutido em outros tópicos a polícia investigativa se destina a apuração do crime e sua autoria (artigo 144, § 1º, I, CF)84 e não se confunde com a polícia judiciária que tem a função de auxiliar o Poder Judiciário (artigo 144, § 1, IV, CF)85, sendo a função de polícia judiciária da União exercida de forma exclusiva pela Polícia Federal. A exclusividade de polícia judiciária da União não abrange o exercício da investigação criminal que no Brasil nunca teve caráter de exclusividade. Em tópico próprio discutiremos como a hipótese da defesa da exclusividade da investigação criminal pode derivar da manutenção de privilégios decorrentes da presidência do inquérito policial e do controle da gestão dos órgãos policiais.

Essa defesa intransigente sobre a exclusividade da investigação criminal86 é um total contra senso quando se conhece a gestão administrativa dos órgãos policiais e a condução dos inquéritos policiais.

Os mesmos que defendem a exclusividade da investigação pela polícia não adotam medidas para que a investigação criminal técnica-científica se desenvolva e defendem os inquéritos policiais instruídos de forma estanque, fragmentada e burocrática, totalmente apartado da vida cotidiana dos envolvidos nos crimes (vítimas, testemunhas e criminosos) e da realidade existencial do crime. Instrumentaliza-se o inquérito por portaria como se fosse possível apurar a infração penal e identificar seus autores de dentro de um gabinete, elaborando despachos estanques e limitados, enviando ofícios e memorandos e oitivando testemunhas de forma esparsa no tempo. A realidade demonstrada pela pesquisa científica denota o fracasso de tal instrumentalização do inquérito policial instaurado por portaria.

84§ 1º A polícia federal, instituída por lei como órgão permanente, organizado e mantido pela União e estruturado em carreira, destina-se a:

I - apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento de bens, serviços e interesses da União ou de suas entidades autárquicas e empresas públicas, assim como outras infrações cuja prática tenha repercussão interestadual ou internacional e exija repressão uniforme, segundo se dispuser em lei;

85 IV - exercer, com exclusividade, as funções de polícia judiciária da União. 86 A exclusividade da investigação criminal é debatida em tópico próprio.

Os delegados de polícia federal perseguem insistentemente uma prova testemunhal ou uma confissão que dê a solução para “seu” inquérito policial (e não para o crime apurado). Todos sabem que a prova testemunhal é extremamente frágil quando produzida na fase pré-processual sem o contraditório e a ampla defesa, se configurando, assim, numa mera prova indiciária que não vincula o juiz na ação penal. Pior ainda, aqueles que buscam por uma confissão do preso ou do indiciado, onde tal procedimento nos remete a idade média quando os acusados eram obrigados a confissão através de castigos físicos. A confissão é um meio medieval de prova. Todas as provas testemunhais colhidas com alguma pertinência para o processo penal – são formalmente ouvidas muitas pessoas nos inquéritos por portaria, sem limite e com critérios discricionários do presidente - são repetidas na fase judicial, acarretando atrasos incomensuráveis, dificultando ou impedindo a ação da Justiça.

Querem os delegados de polícia federal fazer com a investigação criminal em relação aos outros órgãos o que fazem internamente com o trabalho e condução cognitiva do caso policial apurado num inquérito de policia. Ou seja, querem a exclusividade da investigação criminal, principalmente em relação ao Ministério Público. Assim, os órgãos diretivos normatizaram, através de normas infralegais (instruções normativas e portarias) os atos próprios do inquérito como privativos e indelegáveis. Só eles – delegados de polícia federal – são capazes de conduzir uma investigação criminal.

Portanto, a discussão sobre a exclusividade da investigação não é entre a Polícia Federal e o Ministério Público e sim entre as pessoas do Delegado de Polícia Federal e o Procurador da República, no âmbito da União. De nada adiantará trocar um pelo outro se não modificar toda a instrumentalidade do procedimento pré-processual.

Se querem tanto a exclusividade da apuração penal pré-processual porque não avaliam tecnicamente o que fazem hoje nos inquéritos? A situação constatada é que o “calcanhar de Aquiles” da exclusiva condução da investigação criminal pelos delegados de polícia federal é demonstrado pelos resultados dos próprios inquéritos instruídos atualmente.

Um dos pontos relevantes para o fracasso da instrução da investigação criminal conduzida no inquérito por portaria é sua instrumentalização centralizada por um único responsável, burocratizada em regras e detalhes cartorários, onde a cognição policial acontece exclusivamente dentro de um gabinete. Neste ambiente isolado o presidente do procedimento é auxiliado pelo “seu” escrivão de polícia que solicita diligências através de despachos estanques e fragmentados para que, também “seus”, agentes de polícia executem. O inquérito por portaria é baseado na oitiva de pessoas que se dirigem até a sede policial para “esclarecer”

todo o fato delituoso (caso não apareça tal testemunha o procedimento policial é geralmente fadado ao escaninho dos arquivados).

Quando pertinente, o Inquérito apresenta o apurado sobre o fato criminoso com a identificação de sua autoria ao órgão acusador para que sirva de base para a peça denunciatória e à provável ação penal. Caso contrário, servirá para a exclusão da materialidade ou da autoria, pois sua finalidade é a busca da verdade. O inquérito policial não tem um fim em si mesmo como praticam os adeptos da burocracia e do bacharelismo exacerbado.

A investigação criminal sempre envolve um caráter multidisciplinar na apuração técnica-científica dos fatos envolvidos. Para execução das tarefas necessárias a perseguir a verdade dos fatos de um delito penal é necessário um trabalho interdisciplinar desenvolvido por uma equipe composta de membros com habilidades e especialidades nas diferentes áreas da criminologia e criminalística. Membros com condições de usar suas habilidades e conhecimentos especializados na cognição do caso concreto, influenciando, desta forma, o todo desenvolvido na investigação criminal, atribuindo-se a cada membro responsabilidades pela condução de aspectos da persecução.

A investigação deve iniciar de forma imediata ao cometimento do crime com o local do crime sendo preservado, periciado e investigado pelos peritos e investigadores, com o interrogatório em loco (sendo possível gravar tais interrogatórios em meio magnético para posterior transcrição) das testemunhas diretas e indiretas e com outras diligências no ambiente do crime ou das testemunhas e dos suspeitos já identificados. A verdade real dos fatos acontecidos que integraram toda atividade criminosa deve ser perseguida imediatamente. Ao contrário do que vemos na norma infralegal, onde todos esperam por uma única pessoa que determina ordens, que instaura o procedimento administrativo do inquérito policial através da portaria específica, que expede memorando para a perícia técnica para que a mesma aja no local do crime etc. Tudo centralizado e burocratizado. Os delegados de polícia quase nunca vão ao local do crime (situação concreta que de logo expõe o grau de envolvimento do delegado de polícia no caso) e preferem ficar despachando ordens à distância do local, do

modus operandi e vivendi do crime e criminoso. Na prática, parecem Juízes em seus gabinetes quando tocam os inquéritos policiais e apuram os crimes sem ver os raios solares ou a escuridão da noite – isto quando a modernidade reclama mesmo dos Juízes a maior proximidade da realidade social.

O inquérito policial precisa de instrumentos de controle internos, mas não da forma extremamente burocrática existente na atual estrutura que acaba por não servir à

investigação criminal. Essa estrutura burocrática e inadequada do inquérito policial, que não serve a instrução da investigação criminal como demonstrou a pesquisa estatística, é que possibilita a manutenção da estrutura de poder no Departamento de Polícia Federal onde somente os Delegados de Polícia Federal dirigem os órgãos policiais. E, ao mesmo tempo, é essa estrutura de poder que alimenta a estrutura burocrática e inadequada dos inquéritos policiais, determinando, assim, a forma de condução dos inquéritos policiais instaurados por portaria.

E é em função da estrutura existente onde a responsabilidade pela presidência e condução (privativa e indelegável) das investigações nos inquéritos de polícia instaurados por portaria é exclusiva dos delegados de polícia federal, enquanto os outros policiais cumprem as ordens constantes nos despachos elaborados pelo delegado sem nenhuma possibilidade de trabalho cognitivo policial. É assim que agem os escrivães quando manuseiam o inquérito policial e é assim que agem os agentes de polícia quando cumprem os despachados da lavra da autoridade policial. Não é necessário trabalho cognitivo policial em relação ao todo investigado (o mesmo aplica-se ao papiloscopista policial e ao perito criminal). No máximo o agente, escrivão, papiloscopista ou perito criminal fazem cognição policial de aspectos fragmentários da investigação criminal - nunca do todo já que é uma atribuição privativa e indelegável do delegado de polícia federal.

Como um ciclo, esse centralismo do trabalho de cognição policial pelo delegado acaba por derivar, em parte, a morosidade excessiva do inquérito policial.

É evidente que a falha de um dos órgãos que atuam na persecução penal acaba por comprometer o andamento e a conclusão final de todo trabalho persecutório. E, infelizmente, aduzimos através da compreensão sensível da realidade da condução dos inquéritos policiais instaurados por portaria pela Polícia Federal e dos dados apresentados pela pesquisa estatística que a persecução pré-processual, aquela responsável, quase sempre, pelo início da atividade persecutória é extremamente ineficaz e da forma como hoje é conduzida favorece a impunidade dos criminosos e o aumento da violência.

Portanto, tem-se que quebrar os paradigmas históricos de responsabilidade única do presidente do inquérito, do centralismo, burocratismo e bacharelismo nas polícias investigativas, adotando novos conceitos de formação teórico-técnica-científica, trabalho investigativo coordenado em equipe privilegiando as especialidades técnicas dos peritos criminais nos laudos objetivos e dos agentes de polícia nos laudos subjetivos das investigações criminais.

Qualquer investigação criminal pouco complexa tem um caráter multidisciplinar na apuração da realidade dos fatos envolvidos. Para execução das tarefas necessárias a perseguir a verdade dos fatos acontecidos durante um delito penal é necessário um trabalho interdisciplinar desenvolvido por uma equipe composta de membros com habilidades e especialidades nas diversas áreas da investigação criminal. Que tenham condição de usar suas habilidades e conhecimentos especializados na cognição policial no caso concreto, influenciando, desta forma, o todo desenvolvido na investigação criminal, atribuindo-se a cada membro responsabilidades pela condução de aspectos da persecução.

O delegado de polícia federal deveria ser um coordenador de equipe, deveria participar efetivamente do trabalho de campo, delegar atribuições de acordo com as habilitações nas várias áreas de investigação criminal, participar com os agentes as melhores linhas de atuação, somando, assim, os esforços de forma cooperada, maximizando a eficiência.

É preciso urgentemente instituir na investigação criminal conduzida pelo inquérito por portaria o trabalho em equipe onde exista a interatividade, a interdisciplinaridade, trabalho cooperativo e participativo.

Exemplos de inquéritos que tramitam na esfera policial:

IPL nº 411-2003 – Processo nº 2003.81.00.027384-0. Objeto apuração: constatação de irregularidades em transferência eletrônica de valores na CEF de uma conta de Pessoa Jurídica. Data da instauração: 12/08/2003. Tipificação penal: estelionato (art. 171, § 3) - Crimes contra o Patrimônio.

Em 23/02/2007 o juiz competente decide sobre um pedido do presidente do inquérito da seguinte forma:

Trata-se de Inquérito Policial instaurado para apurar a responsabilidade criminal decorrente da prática de crime de estelionato, capitulado no art. 171, § 3º, do CPB, iniciado a partir de notícia crime apresentada pela CAIXA ECONÔMICA FEDERAL, em razão de recursos da conta corrente da empresa XXX terem sido subtraídos indevidamente. No bojo do procedimento, o Delegado de Polícia Federal responsável pela condução do procedimento representou pela quebra de sigilo bancário da titular da conta corrente (fl. 178). Instado a se manifestar, MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL opinou favoravelmente ao pleito (v. fls. 180/183).

DECIDO.

O sigilo de dados constitui direito individual nos termos do art. 5º, XII da Carta Política, eis que complementa o direito à intimidade e à vida privada gizado no inciso X do mesmo dispositivo constitucional. No entanto, tal direito não assume feição absoluta, podendo ser mitigado quando em conflito com o interesse público. Isso porque quando a Constituição Federal garante a inviolabilidade do sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, excepcionou o sigilo dos dados diante de ordem judicial, segundo o entendimento do Supremo Tribunal Federal1.

...

A Polícia Federal está investigando a ocorrência de possíveis crimes contra os interesses de empresa pública federal, in casu, a CAIXA ECONÔMICA FEDERAL, apuração essa que, segundo a autoridade policial representante, atualmente não pode

ser aprofundada em face do sigilo dos dados bancários da titular da conta corrente prejudicada.

Apesar da gravidade dos fatos noticiados, segundo se verifica dos presentes, nenhuma diligência foi adotada pelo presidente do IPL desde a sua instauração em 12 de agosto de 2003, senão a determinação de pesquisa em cartório acerca da existência de documentos inerentes ao próprio e a expedição de ofícios ainda não respondidos. Não desconheço a realidade por que passa a Superintendência da Polícia Federal no Ceará, e bem sei do seu esforço para a conclusão dos inúmeros procedimentos a seu cargo. Malgrado seja, tenho que não se demonstra razoável partir-se de logo para a adoção de medida tão extrema, quando se sabe que nenhuma pessoa ainda foi ouvida ou mesmo qualquer suposto autor do delito foi intimado para esclarecer a acusação apresentada pelo Setor Jurídico da empresa pública e que deflagrou a sua instauração. É que uma vez sendo confessado pelos possíveis indiciados a prática dos crimes aos mesmos imputados, ou fornecidos outros elementos indiciários, a exemplo da remessa do procedimento administrativo instaurado na agência, desnecessária se revela a quebra do sigilo, pois que medida excepcional a qual somente ser deferida como última ratio para a formação da convicção acusatória.

Ademais, há funda controvérsia sobre o mecanismo utilizado para a consecução do suposto crime, na medida em que o IPL e documentos que o acompanham ora se referem a um saque fraudulento, ora a uma transferência indevida. Nestes termos, a se confirmar que o numerário foi subtraído mediante saque, inútil será a quebra do sigilo bancário, eis que a mesma, só por si, inviabilizará a descoberta do autor do delito.

À luz do exposto e de tudo o mais que dos autos consta, INDEFIRO O PEDIDO DE QUEBRA DO SIGILO BANCÁRIO DE TRANA TRANSPORTES LTDA. por entender que, ao menos por ora, ausentes estão os pressupostos à sua concessão. Intime-se o MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL desta decisão, devolvendo-se os