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CAPÍTULO III A INSTITUIÇÃO POLICIAL E SEUS PROBLEMAS

3.6 Inamovibilidade e independência funcional

O legislador constitucional protegeu os membros do órgão acusador (Ministério Público) e do órgão julgador (Judiciário) com as garantias e prerrogativas da inamovibilidade, irredutibilidade de vencimentos e independência funcional.

A independência funcional e inamovibilidade do juiz e do promotor são garantidas pela Constituição Federal, sendo, em última análise, uma garantia da sociedade ao pleno exercício de suas competências constitucionais que não podem ficar a mercê da conjuntura, humores e contingências políticas. Infelizmente a mesma compreensão do legislador não se estendeu aos membros dos órgãos da polícia investigativa. No Brasil temos os investigadores criminais dos órgãos policiais vinculados a governantes e desprotegidos pela inamovibilidade e pela independência funcional.

Como exercer seu múnus público sem interferências indevidas de toda sorte se não têm as mesmas garantias constitucionais da inamovibilidade e da independência funcional de juízes e promotores?

Esta compreensão do legislador constitucional advém do antigo conceito de órgão policial que deve servir ao governante como um aparelho do grupo que detém o poder político. Historicamente, assistimos o uso político do aparelho policial, sendo, ainda hoje, tal prática amplamente utilizada no Brasil ou para impedir investigações contra “amigos” do

poder ou para direcionar as ações policiais para os “inimigos” do poder. Estes exemplos na história do país são fartos e ainda hoje verificados.

É mais que necessário para persecução penal, para o combate a corrupção e aos crimes de colarinho branco que os membros dos órgãos de polícia investigativa tenham as prerrogativas funcionais da inamovibilidade e da independência funcional.

A discussão em torno das grandes operações policiais capitaneadas pela Polícia Federal que investiga detentores do poder (Ministros de Estado, Governadores, Deputados Federais, Estaduais e Vereadores, grandes empresários, agentes públicos diversos de alto escalão, etc) só está sendo possível em razão da plena autonomia, independência funcional e investimentos em material humano e técnico garantidos pelo Governo do Presidente Lula. Como desenvolveu suas atividades o Ministro de Estado da Justiça Tomas Bastos e, hoje, Tarso Genro se abstendo de influenciar nas apurações criminais desenvolvidas. Todavia, esta situação é contingencial e nada indica que poderá perdurar noutra administração ou mesmo nesta – haja vista não haver a positivação jurídica desta independência.

O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Cezar Britto, que realiza constante ataque as ações policiais desencadeadas pela Polícia Federal em razão das buscas e apreensões executadas em escritórios advocatícios, das interceptações telefônicas que investigam a atuação de ricos advogados em crimes e de inúmeras prisões de advogados envolvidos em todo tipo de crime, comentou sobre a busca e apreensão realizada na casa do irmão do Presidente da República e da independência funcional da PF no caso: "A

comunicação em si não é irregular. É perfeitamente justificável, compreensível que o ministro informe o que está acontecendo na sua pasta". Ele elogiou o fato de a PF investigar o irmão do Presidente, sem que se tenham notícias de interferências políticas. "Isso é

importante para a democracia. A diligência foi concretizada."

A independência funcional é uma bandeira histórica, dentre outras tão fundamentais quanto, como as do movimento sindical dos policiais federais. Em junho de 2007 a Federação Nacional dos Policiais Federais – FENAPEF realizou seu XII Congresso Nacional, em cidade de Fortaleza-CE, onde aprovou a Carta de Fortaleza99 (trechos):

Considerando a afirmação do Excelentíssimo Senhor ministro de Estado da Justiça, Tarso Genro, na palestra inaugural do XII CONAPEF, de que “a Polícia Federal deixou de ser uma polícia de governo para se tornar uma polícia de Estado” e a "progressão na carreira policial federal significa valorizar a experiência e a capacidade dos policiais”,

Reconhecendo a autonomia de trabalho concedida à Instituição pelo atual Governo, uma das bandeiras historicamente defendidas pela FENAPEF,

99 Anexo a integra da Carta de Fortaleza.

Resolvem firmar esta Carta de Fortaleza, que subsidiará as ações e estratégias da FENAPEF, a partir das seguintes deliberações tomadas pelos congressistas: ...

2. Assegurar canais de interlocução junto ao Poder Executivo visando a urgente elaboração de um projeto democrático e participativo de Lei Orgânica da Polícia Federal, estruturada em dois princípios basilares:

2.1. Carreira única, de nível superior, embasada no conceito da experiência e do conhecimento das atividades investigativas, cuja estrutura possibilite aos policiais o desenvolvimento e o crescimento profissional, desde a base até os cargos de comando da instituição;

2.2. Consolidação da Polícia Federal como órgão de Estado, a serviço da Sociedade, desvinculada das posições ideológico-partidárias dos governos, garantindo-lhe a autonomia necessária ao bom desempenho de suas atribuições constitucionais, de modo a exercê-las com independência e tratamento isonômico aos cidadãos, sem qualquer distinção de raça, credo religioso, classe econômica ou posição política, observados seus direitos e garantias individuais.

3. Respaldar o aprofundamento das ações do DPF seja isoladamente ou por meio de operações conjuntas com outros órgãos públicos, na repressão aos crimes, notadamente aqueles relacionados a atos de corrupção.

...

O Departamento de Polícia Federal deveria ter independência funcional em relação ao Poder Executivo. O dirigente do órgão deveria ter um mandato fixo e eleito diretamente pela própria corporação dentre seus membros da carreira policial aptos, com critérios que combinem topo da carreira, mérito, capacidade técnica (cursos de gestão pública administrativa e financeira) e antiguidade.

No atual modelo é sempre provável a manipulação política da polícia. Os órgãos policiais estão mais independentes (principalmente a PF) devido à extrema violência e grau de organização da criminalidade. Admite-se, então, maior anglo de ação das polícias que acabam investigando também crimes de colarinho branco. Percebemos isso nos ataques e ações do PCC e CV100 e nas investigações da Operação Navalha e Hurricane.

No Brasil nunca se permitiu que a investigação criminal fosse direcionada para dentro dos Poderes Executivo, Judiciário e Legislativo. A atividade criminosa desenvolvida dentro dos Poderes da República sempre teve a cobertura da mão política infiltrada nos próprios aparelhos de Estado. Esta realidade historicamente é que explica a resistência de não tornar independente funcionalmente os órgãos responsáveis (de forma não exclusiva) pela investigação criminal.

Realizando a analise de dentro para fora da Polícia Federal verifico que todas (absolutamente todas) as técnicas e os métodos táticos de investigação criminal utilizados nas Operações nacionais do tipo da Navalha foram desenvolvidos nos setores de vanguarda da investigação criminal como repressão a drogas (DRE) e repressão aos crimes contra o patrimônio (DELEPAT). A PF vem empregando as mesmas técnicas e métodos

desenvolvidos durante anos no combate ao tráfico de drogas e aos assaltos a bancos nas ações policiais contra os crimes de colarinho branco e corrupção governamental. O que explica o grande número de operações policiais contra a corrupção e o crime de colarinho branco é o redirecionamento de seu foco empregando os mesmos policiais experimentados, técnicas e métodos. Se a PF consegue reprimir quadrilhas de traficantes e assaltantes bem organizadas e com longa atuação no mundo do crime é mais fácil reprimir o crime do colarinho branco e da corrupção governamental que quase nunca foi investigado na história do Brasil. Quase todos os criminosos estão sendo surpreendidos quanto aos objetivos das operações que incluem apurar crimes de juízes, deputados, governadores, ministros, grandes empresários, todos influentes no meio social-político. Repito que estas ações só são possíveis devido a não interferência do Presidente da República e de seus Ministros da pasta da Justiça que têm garantido a independência funcional da PF.

Não somos favoráveis a subordinação da Polícia Federal ao Ministério Público ou ao Judiciário por que defendemos que cabe a polícia executar a eficiente investigação criminal (de forma não exclusiva) sem subordinação ao órgão acusador ou ao órgão julgador, um responsável pelo controle externo e o outro pelo controle jurisdicional das ações policiais na investigação criminal executada pelo órgão investigador.

3.7 Falta de investimentos e de soluções baseadas na gestão pública moderna; corrupção