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CAPÍTULO I PESQUISA ESTATÍSTICA A PERSECUÇÃO PENAL

1.6 Quanto à sentença judicial

Por fim temos a conclusão da persecução criminal com a decisão da justiça penal de primeira instância. Nesta última fase deságuam todos os fatores positivos e negativos ocorridos ao longo de toda persecução. Se a Polícia Investiga, o Ministério Público e o Juízo penal, cada um nas suas atribuições e competências legais, trabalharam de forma diligente o resultado é o esclarecimento da verdade real, a punição de acordo com as responsabilidades apuradas e do expresso em nosso ordenamento jurídico. A eficiência da persecução e a eficácia da sentença com a aplicação do jus puniendi correspondente.

INQUÉRITOS INSTAURADOS POR PORTARIA NO ANO DE 1999, COM DENÚNCIAS RECEBIDAS E DE ACORDO COM AS SENTENÇAS JUDICIAIS.

SENTENÇA JUDICIAL QTDE %

% IPL’s RELATADOS

(235)26 PORTARIA (243)TOTAL IPL’s 27

CONDENAÇÃO PENA PRIVATIVA LIBERDADE 5 9,62% 2,13% 2,06% (18 de 877) CONDENAÇÃO PENA RESTRITIVA DE DIREITOS 12 23,08% 5,11% 4,94% (44 de 877) SEM SENTENÇA 12 23,08% 5,11% 4,94% (44 de 877) ABSOLVIÇÃO\EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE 23 44,23% 9,79% 9,47% (83 de 877) Total 52 100,00% 22,13% 21,40% (189 28 de 87729)

26 Em relação ao nº de inquéritos por portaria e relatados da amostra de 1999. 27 Em relação ao nº de inquéritos por portaria da amostra de 1999.

28 Nº proporcional de inquéritos policiais por portaria e relatados em relação ao total de inquéritos instaurados no ano de 1999.

INQUÉRITOS INSTAURADOS POR PORTARIA NO ANO DE 2003, COM DENÚNCIAS RECEBIDAS E DE ACORDO COM AS SENTENÇAS JUDICIAIS.

SENTENÇA JUDICIAL (DECISÃO) QTDE % % IPL’s RELATADOS (189)30 % IPL’s PORTARIA (259)31 CONDENAÇÃO PENA PRIVATIVA LIBERDADE 1 2,38% 0,52% 0,39% (4 de 904) ABSOLVIÇÃO 3 7,14% 1,58% 1,16% (10 de 904) CONDENAÇÃO PENA RESTRITIVA DE DIREITOS 10 23,81% 5,29% 3,86% (35 de 904) SEM SENTENÇA 28 66,67% 14,81% 10,81% (98 de 904) Total 42 100% 22% 16,22% (147 32 de 90433)

Aqui percebemos mais claramente a origem da preocupação dos Magistrados na pesquisa de opinião realizada em novembro de 2006 durante o XIX Congresso Brasileiro de Magistrados já citada no intróito34. A pesquisa divulgada pela Associação dos Magistrados Brasileiros – AMB apontou as prováveis causas da impunidade no Brasil como a demora no encerramento do processo (83,9%), a deficiência do inquérito policial (74,1%) e as dificuldades de utilização de meios de prova (63,8 %), diretamente relacionadas à deficiente instrução do inquérito policial.

Quando observamos as estatísticas verificamos que, mesmo após percentuais altíssimos de inquéritos por portaria arquivados, encontramos 44,23% (representando 9,47% do total de inquéritos por portaria instaurados) de sentenças absolutórias no ano de 1999 e 7,14% (representando 1,16% do total de inquéritos por portaria instaurados) de sentenças absolutórias no ano de 2003. A diferença entre os percentuais de absolvição justifica-se em função de 66,67% dos inquéritos instaurados por portaria no ano de 2003, já relatados e que viraram ação penal com o recebimento da denúncia, ainda não foram sentenciados em 1º grau de jurisdição.

30 Em relação ao nº de inquéritos por portaria e relatados da amostra de 2003. 31 Em relação ao nº de inquéritos por portaria da amostra de 2003.

32 Nº proporcional de inquéritos policiais por portaria e relatados em relação ao total de inquéritos instaurados no ano de 2003.

33 Total de inquéritos instaurados por portaria no ano de 2003. 34 Na página nº 11.

Comprovamos o que antes deduzíamos por raciocínio lógico: a lentidão em apurar a infração delitiva e identificar sua autoria implica diretamente na morosidade da ação penal e no resultado final do provimento jurisdicional.

O desiderato final da persecução penal não é atingido na grande maioria das apurações criminais como demonstram os resultados de condenações à pena privativa de liberdade ou privativa de direitos. Somente 2,06% dos inquéritos policiais instaurados por portaria no ano de 1999 resultaram em condenação a pena privativa de liberdade – usando a proporcionalidade encontramos 18 inquéritos por portaria de um total de 877 inquéritos instaurados por portaria durante o ano de 1999. No ano de 2003 observamos o percentual de 0,39% dos inquéritos por portaria concluíram em sentenças penais condenatórias a pena privativa de liberdade – pela proporcionalidade encontramos 4 inquéritos de um total de 904 inquéritos instaurados por portaria. Resultados assustadores para uma instrução pré- processual e processual tão cara aos cofres da Nação.

Em resumo, a persecução penal dos inquéritos instaurados por portaria durante o ano de 1999, depois de 8 anos de instrução pré-processual:

03,29% dos inquéritos instaurados por portaria ainda encontram-se na

Polícia Federal (SR/DPF/CE) sem o relatório final – representando proporcionalmente 26 inquéritos por portaria de um total de 877 inquéritos por portaria;

69,97% dos inquéritos instaurados por portaria foram arquivados ou os

réus absolvidos – 60,50% dos inquéritos por portaria arquivados e 9,47% dos inquéritos por portaria que viraram ação penal os réus foram absolvidos. Representando proporcionalmente 614 inquéritos por portaria (531 arquivados + 83 com absolvição) de um total de 877 inquéritos por portaria;

04,94% dos inquéritos por portaria resultaram em sentença condenatória

a pena restritiva de direitos – representando proporcionalmente 44 inquéritos por portaria de um total de 877 inquéritos por portaria;

02,06% dos inquéritos por portaria resultaram em sentença condenatória

a pena privativa de liberdade – representando proporcionalmente 18 inquéritos por portaria de um total de 877 inquéritos por portaria;

08,64% dos inquéritos por portaria a Justiça Federal no Ceará declinou

da competência para julgar – representando 76 inquéritos por portaria de um total de 877 inquéritos por portaria;

06,18% dos inquéritos por portaria foram aplicadas a suspensão

condicional do processo ou a transação penal – representando 55 inquéritos por portaria de um total de 877 inquéritos por portaria, e;

04,94% dos inquéritos por portaria ainda tramitam na Justiça Federal

sem sentença de 1º grau – representando 44 inquéritos por portaria de um total de 877 inquéritos por portaria.

Em relação à persecução penal dos inquéritos instaurados por portaria durante o ano de 2003 – quadro depois de 4 anos de instrução pré-processual:

27,03% dos inquéritos instaurados por portaria ainda encontram-se na

Polícia Federal (SR/DPF/CE) sem o relatório final – representando proporcionalmente 244 inquéritos por portaria de um total de 904 inquéritos por portaria;

42,87% dos inquéritos instaurados por portaria foram arquivados ou os

réus absolvidos – 41,71% dos inquéritos por portaria arquivados e 1,16% dos inquéritos por portaria que viraram ação penal os réus foram absolvidos. Representando proporcionalmente 387 inquéritos por portaria (377 arquivados + 10 com absolvição) de um total de 904 inquéritos por portaria;

03,86% dos inquéritos por portaria resultaram em sentença condenatória

a pena restritiva de direitos – representando proporcionalmente 35

inquéritos por portaria de um total de 904 inquéritos por portaria;

00,39% dos inquéritos por portaria resultaram em sentença condenatória

a pena privativa de liberdade – representando proporcionalmente 4 inquéritos por portaria de um total de 904 inquéritos por portaria;

05,79% dos inquéritos por portaria a Justiça Federal no Ceará declinou

da competência para julgar – representando 52 inquéritos por portaria de um total de 904 inquéritos por portaria;

06,57% dos inquéritos por portaria foram aplicadas a suspensão

condicional do processo ou a transação penal – representando 60 inquéritos por portaria de um total de 904 inquéritos por portaria;

10,81% dos inquéritos por portaria ainda tramitam na Justiça Federal

sem sentença de 1º grau – representando 98 inquéritos por portaria de um total de 904 inquéritos por portaria, e;

02,70% dos inquéritos por portaria ainda tramitam no Ministério Público

ou na Justiça Federal sem decisão de recebimento da denúncia (o inquérito já foi relatado) – representando 24 inquéritos por portaria de um total de 904 inquéritos por portaria.

Vejamos a significância dos números encontrados através da pesquisa estatística executada. Dos 877 inquéritos instaurados por portaria durante o ano de 1999, instruídos e presididos por Delegado de Polícia Federal no atual modelo centralizado e burocrático, cumpriram o desiderato final de toda persecução penal, utilizando a proporcionalidade dos dados amostrais em relação ao universo, apenas 18 inquéritos por portaria que condenaram os investigados a penas privativas de liberdade e 44 inquéritos por portaria que condenaram os investigados a penas restritivas de direito. Qualquer estudioso do tema segurança pública percebe de pronto que aqui encontramos uma das fontes da impunidade, do aumento da violência e do crime no Brasil. A instrução pré-processual conduzida pelo inquérito instaurado por portaria precisa de urgentes e necessárias modificações.

É muito alto o percentual de trabalho investigativo inutilizado pela atual modelo de instrução pré-processual. Se fizermos um paralelo como sendo o órgão policial uma empresa privada, com tal grau de ineficiência nos resultados e elevados custos operacionais (de toda a persecução), estaria falida.

De que adiantam tantos despachos e oitivas de testemunhas realizadas nos gabinetes se em mais de 2/3 dos crimes apurados não se chega a conclusão alguma? De que adiantam as atribuições privativas e indelegáveis dos Delegados de Polícia Federal nos atos administrativos investigatórios se as apurações não são instruídas como deveriam? É isto que claramente expressa o resultado da pesquisa.

Um argumento bastante utilizado pelos presidentes de inquéritos policiais para justificar a deficiência na instrução nos inquéritos é o acúmulo de serviço e o alto número de inquéritos que têm para despachar. Ora, se o número de delegados é insuficiente para instruir os inquéritos existentes porque um Agente de Polícia Federal, bacharel em direito, ocupante da classe especial (última classe da “carreira” de agente – dentro da incabível estrutura de várias carreiras num órgão policial) e capacitado para investigação criminal não pode instruir um inquérito policial?

Alguns estudiosos do tema consideram que a estrutura existente de várias carreiras estanques e divididas (delegado, agente, perito etc.) no Departamento de Polícia Federal é inconstitucional ante o preceito estabelecido na Constituição Federal, no artigo 144,

§ 1º “A polícia federal, instituída por lei como órgão permanente, organizado e mantido pela

União e estruturado em carreira, destina-se a”. A estrutura deveria ser de carreira como expressa a Constituição Federal e não carreiras.

É preferível a impunidade do arquivamento por falta de identificação da autoria do delito ou a absolvição por falta de prova do que possibilitar que a investigação criminal seja instruída por equipes de Agentes de Polícia Federal?

Os dados resultantes da pesquisa estatística possibilitam inúmeros tipos de análises. Poderíamos estudar a instrução pré-processual pela ótica da relação temporal entre a duração da instrução do inquérito em relação ao processo penal e o tipo de sentença final.

Outra possibilidade interessante para estudo seria verificar a situação sócio- econômica dos réus condenados a partir dos inquéritos instaurados por portaria. Como sabido, parte dos doutrinadores que se debruçam a estudar a persecução penal se posicionam no sentido que a maioria absoluta dos condenados em processos penais no Brasil (a partir de inquéritos instaurados por portaria) são pobres, não têm, portanto, condição financeira de contratar bons advogados para suas defesas. Isso em função de que a apuração do delito acaba sendo manipulada de acordo com outros interesses e dos inúmeros recursos judiciais e manobras jurídicas utilizadas pelos grandes escritórios de advocacia.

Deixamos as possibilidades de estudo e interpretação derivadas de outras análises dos dados estatísticos apresentados para novos trabalhos acadêmicos.

1.7 Relação entre Classificação do Crime x Decisão de Recebimento do Inquérito (dados do ano de 1999)