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Relação entre Classificação do Crime x Decisão – Sentença

CAPÍTULO I PESQUISA ESTATÍSTICA A PERSECUÇÃO PENAL

1.8 Relação entre Classificação do Crime x Decisão – Sentença

CLASSIFICAÇÃO DO CRIME X DECISÃO – SENTENÇA JUDICIAL

INQUÉRITOS POR PORTARIA DA AMOSTRA DO ANO 1999, RELATADOS E COM SENTENÇA JUDICIAL

CLASSIFICAÇÃO CRIME41 X SENTENÇA JUDICIAL42

CONDENAÇÃO PENA PRIVATIVA LIBERDADE43 CONDENAÇÃO PENA RESTRITIVA DE DIREITOS44 SEM SENTENÇA45 ABSOLVIÇÃO/EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE46 TOTAL47 PREVIDENCIÁRIO 2 4 9 15

FALSIFICAÇÃO/USO DOC FALSO/ESTELIONATO 2 1 5 3 11

SISTEMA TELECOMUNICAÇÕES - LEI 9472/97 6 5 11

ROUBO/LATROCINIO/HOMICIDIO 4 4

MOEDA FALSA 2 1 3

CONCUSSÃO/PECULATO/CORRUPÇÃO/PREVARICAÇÃO 1 1 2

FURTO 1 1 2

ORDEM TRIB./LAV.DIN./EV.DIVISA - LEI 7492/86 2 2

CONTRABANDO/DESCAMINHO 1 1

OUTROS CRIMES 1 1

Total 5 12 12 23 52

41 Classificação do crime atribuída pelo presidente do inquérito policial. 42 Sentença penal de 1ª grau de jurisdição.

43 Sentença condenatória a pena privativa de liberdade, sem levar em consideração o regime inicial de cumprimento da reprimenda. 44 Sentença condenatória a pena restritiva de direito ou condenação a privativa de liberdade convertida em restritiva de direito. 45 Ação penal tramitando, ainda sem sentença de 1º grau.

46 Sentença de absolvição ou extinção da punibilidade.

Na tabela relacional CLASSIFICAÇÃO DO CRIME X DECISÃO – SENTENÇA JUDICIAL verificamos claramente a tendência da persecução penal para a impunidade.

Nas apurações relacionadas a crimes contra o sistema previdenciário (linha PREVIDENCIÁRIO) encontramos 15 registros de inquéritos por portaria que tiveram denuncia recebida, ou seja, a instrução pré-processual serviu de base para a acusação e para informar a ação penal sobre o delito noticiado.

Na tabela relacional anterior CLASSIFICAÇÃO DO CRIME X DECISÃO DE RECEBIMENTO DO INQUÉRITO já havíamos comentado que somente 15 inquéritos por portaria com objeto de apuração crime previdenciário haviam sido relatados e as denúncias recebidas. Do total de 48 registros na amostra do ano de 1999 encontramos: 1 inquérito por portaria ainda tramita em sede policial, 2 inquéritos na coluna DECLINADA COMPETÊNCIA, 15 inquéritos na coluna RECEBIMENTO DENUNCIA, 30 inquéritos na coluna ARQUIVAMENTO/REJEIÇÃO DA DENÚNCIA.

Verificamos na tabela relacional CLASSIFICAÇÃO DO CRIME X DECISÃO – SENTENÇA JUDICIAL que dos 15 inquéritos que serviram para embasar a acusação ministerial:

 2 inquéritos por portaria prosperaram para ação penal com sentença condenatória a pena privativa de liberdade (na coluna CONDENAÇÃO PENA PRIVATIVA LIBERDADE);

 4 inquéritos por portaria prosperaram para ação penal com sentença condenatória a pena privativa de liberdade (na coluna CONDENAÇÃO PENA RESTRITIVA DE DIREITOS), e;

 9 inquéritos por portaria que prosperam para ação penal resultaram em sentença absolutória ou a extinção da punibilidade (na coluna ABSOLVIÇÃO/EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE).

Ou seja, de um total de 48 inquéritos na amostra somente 6 resultaram em sentenças condenatórias depois de 8 anos de instauração da peça investigativa.

Em relação aos inquéritos que apuram crimes de moeda falsa já comentamos da desproporcionalidade entre os registros de ARQUIVAMENTO/REJEIÇÃO DA DENÚNCIA e RECEBIMENTO DENÚNCIA, respectivamente, 28 registros e 3 registros. Agora, verificamos que dos 3 inquéritos que prosperaram para ação penal encontramos 2 ainda em

fase processual (na coluna SEM SENTENÇA) e 1 com sentença de absolvição (na coluna ABSOLVIÇÃO/EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE).

Outro aspecto relevante para avaliar a instrução da investigação criminal conduzida no inquérito por portaria é verificar como estão os inquéritos que apuraram crimes de roubo, homicídio ou latrocínio (na linha ROUBO/LATROCÍNIO/HOMICÍDIO). São crimes teoricamente mais complexos quanto à apuração. Na amostra colhida do ano de 1999 encontramos 15 ocorrências classificadas como ROUBO/LATROCÍNIO/HOMICÍDIO. Suas persecuções concluíram em:

 2 inquéritos ainda se encontram na esfera policial, onde a instrução pré- processual completa 8 anos;

 9 inquéritos por portaria já foram arquivados (na coluna ARQUIVAMENTO/REJEIÇÃO DA DENÚNCIA), e;

 4 inquéritos por portaria serviram para embasar a acusação ministerial e prosperaram para ação penal (na coluna RECEBIMENTO DENÚNCIA). Destes 4 inquéritos que prosperaram para ação penal verificamos que todos foram sentenciados com absolvição (na coluna ABSOLVIÇÃO/EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE). Ou seja, nenhuma das ocorrências da amostra coletada no ano de 1999 com objeto a apuração de crimes classificados como ROUBO/LATROCÍNIO/HOMICÍDIO concluiu pela responsabilidade penal dos autores dos crimes. Nestes casos, quase de forma absoluta, a materialidade dos crimes é verdadeira e os relatos são incontroversos cabendo a polícia investigativa desvendar a autoria e as circunstâncias do crime. Nestes crimes é imprescindível para a apuração, dentre outras técnicas, estabelecer contato com o mundo do crime, possuir relacionamentos e conhecimentos no seio do modus vivendi dos criminosos que agem nesta modalidade delitiva, realizar uma investigação minuciosa do local do crime, utilizar as formas ostensiva e velada de entrevista para identificar testemunhas e suspeitos.

Os dados encontrados somente refletem o que a sensibilidade dos investigadores criminais que militam na esfera da Polícia Federal já denotava. Não é possível outra conclusão se vemos os inquéritos por portaria serem instruídos somente com memorandos, ofícios, despachos e oitivas generalizadas. Somente papel sem valor probatório. Além disso, encontramos provas cujo valor foi corroído pelo tempo, como o caso de um chamamento de uma testemunha para fazer reconhecimento pessoal depois de 4 anos.

No universo estudado o inquérito só é instaurado depois que a Polícia Federal é oficiada por escrito, seguindo-se os despachos dos dirigentes mandando e distribuindo a

notícia oficial para seu processamento. Perde-se então o princípio da oportunidade de encontrar vestígios, indícios e provas. Sabe-se que o capital humano do Departamento de Polícia Federal – que de acordo com a moderna doutrina gerencial é o maior bem de qualquer instituição – é extremante capacitado, heterogêneo (com nível superior em cursos de engenharia, informática, psicologia, pedagogia, matemática, direito, odontologia etc.). Tal material humano é totalmente subutilizado. Subutilizado na medida em que as investigações criminais conduzidas nos inquéritos instaurados por portaria não são executadas por trabalho em equipe, cooperado e coordenado. Ao invés, este inquérito é conduzido de forma centralizada e burocrática por seu presidente.