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Quanto à decisão de recebimento do inquérito policial

CAPÍTULO I PESQUISA ESTATÍSTICA A PERSECUÇÃO PENAL

1.5 Quanto à decisão de recebimento do inquérito policial

Foram considerados somente os inquéritos policiais instaurados por portaria e com status de relatados.

INQUÉRITOS INSTAURADOS POR PORTARIA DURANTE O ANO DE 1999 E RELATADOS DECISÃO RECEBIMENTO DO IPL

(IPL’s RELATADOS) QTDE RELATADOS (235% IPL’s 18) PORTARIA (243TOTAL IPL’s 19)

SUSPENSÃO CONDICIONAL PROCESSO/TRANSAÇÃO PENAL 15 6,38% 6,18% (55 de 877) DECLINADA COMPETÊNCIA 21 8,94% 8,64% (76 de 877) RECEBIMENTO DENUNCIA 52 22,13% 21,40% (189 de 877) ARQUIVAMENTO/REJEIÇÃO DA DENUNCIA 147 62,55% 60,50% (531 de 877) Total 235 100,00% 97% (851 de 87720)

INQUÉRITOS INSTAURADOS POR PORTARIA DURANTE O ANO DE 2003 E RELATADOS DECISÃO RECEBIMENTO

IPL

(IPL’s RELATADOS) QTDE

% IPL’s RELATADOS

(18921) PORTARIA (259TOTAL IPL’s 22)

SEM DECISÃO / SEM

DENUNCIA 7 3,70% 2,70% (24 de 904) DECLINADA COMPETÊNCIA 15 7,94% 5,79% (52 de 904) SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO/TRANSAÇÃO PENAL 17 8,99% 6,57% (60 de 904) RECEBIMENTO DENUNCIA 42 22,22% 16,23% (147 de 904) ARQUIVAMENTO/REJEIÇÃO DA DENUNCIA 108 57,14% 41,71% (377 de 904) Total 189 100% 73% (660 de 90423)

18 Total de inquéritos por portaria e relatados da amostra. 19 Total de inquéritos por portaria da amostra.

20 Total de inquéritos por portaria do ano 1999.

21 Total de inquéritos por portaria e relatados da amostra. 22 Total de inquéritos por portaria da amostra.

Aqui temos uma diferença no total de inquéritos instaurados por portaria e já relatados – 235 inquéritos por portaria relatado no ano de 1999 e 189 inquéritos por portaria relatados no ano de 2003 – em função de ainda termos 27% dos inquéritos instaurados em 2003 tramitando na esfera policial em comparação com 3% dos instaurados no ano de 1999.

Outra diferença pertinente é que nos dados apresentados no ano de 2003 temos 3,70% dos inquéritos instaurados por portaria e já relatados tramitando no Ministério Público ou na Justiça Federal para decisão de recebimento ou não do inquérito (casos de decisão pelo arquivamento, devolução do inquérito com cota ministerial para a polícia, de oferecimento da denúncia com decisão de recebimento ou arquivamento, de oferecimento da suspensão condicional do processo ou transação penal etc.).

A análise mais importante e impactante refere-se à quantidade de inquéritos por portaria relatados que são diretamente arquivados: 62,55% dos inquéritos por portaria instaurados no ano de 1999 e relatados foram arquivados; 57,14% dos inquéritos por portaria instaurados no ano de 2003 e relatados foram arquivados.

As razões jurídicas que fundamentam a grande maioria das decisões de arquivamento são:

1. Incapacidade de apurar a materialidade delitiva;

2. Impossibilidade de identificação da autoria do crime, e;

3. Extinção da punibilidade pela prescrição – artigo 107, inciso IV, CPB24.

Todas relacionadas à condução da investigação criminal. É um dado relevante que mede a ineficiência da apuração na fase pré-processual onde do total de crimes noticiados e apurados tivemos 62,55% (no ano de 1999) e 57,14% (no ano de 2003) dos inquéritos arquivados. O que pode justificar tal situação? Como isso passa despercebido pelos gestores dos órgãos de polícia judiciária?

Tudo gerando extrema impunidade. Cada inquérito policial por portaria arquivado significa, na grande maioria dos casos, que um crime ficou impune e que, muito provavelmente, o criminoso impune irá repetir o mesmo tipo penal (é reconhecida na criminologia a teoria da tendência de repetição de um crime consumado que não foi devidamente reprimido e ficou impune).

Não estamos afirmando, frise-se, que qualquer inquérito deverá necessariamente resultar em uma condenação. A grave constatação é que sequer é possível chegar a uma decisão de mérito – isto, sim, previsto pelo ordenamento jurídico e almejado pela sociedade.

Somente os dados apresentados até agora já credenciam a conclusão que a incapacidade da polícia investigativa no Brasil alimenta a onda crescente de violência e criminalidade que vivencia nossa sociedade. O que infelizmente podemos continuar verificando em seguida.

Concluímos nos tópicos próprios que a burocratização do procedimento administrativo do inquérito policial, a fragmentação da investigação criminal através de despachos estanques, a centralização da cognição policial no presidente do inquérito (que possui atribuições privativas e indelegáveis25) e a ausência de uma verdadeira carreira policial conduz o inquérito policial para o silêncio das estantes dos arquivados.

De forma exemplificativa mostramos uma típica decisão judicial que arquivou um inquérito policial.

IPL nº 574/1999. Processo nº 99.0018326-6. Instaurado em 13/8/1999. Tipo penal: art. 171 do CPB – adulteração de Certidão Negativa de Débito Eventos na Justiça Federal. Despacho do Juiz em 17/05/2005:

1. O Código de Processo Penal, em seu art. 10, § 3º., proclama in verbis:

"Quando o fato for de difícil elucidação e o indiciado estiver solto, a autoridade poderá requerer ao juiz a devolução dos autos, para ulteriores diligências, que serão realizadas no prazo marcado pelo juiz."

2. Assim, tendo em vista a Instrução Normativa nº. 03, de 15.06.2004 do Exmo. Sr. Des. Federal da 5ª. Região, concedo o prazo de 120 (cento e vinte) dias para a autoridade policial concluir o presente IPL.

3. Findo tal prazo, caso haja necessidade de nova prorrogação, deverá a autoridade solicitá-la diretamente a este juízo.

Despacho do Juiz em 28/09/2005:

Tendo em vista haver o presente inquérito policial se iniciado em 13/08/1999, manifeste-se o órgão do MPF sobre a possibilidade de apresentação de denúncia ou requerimento de arquivamento ou de solicitação de diligências complementares. Concluso ao Juiz em 10/01/2006 para Sentença:

III. DISPOSITIVO

Do exposto, DECLARO extinta a punibilidade em relação aos autores dos ilícitos em tela, quanto aos fatos apurados neste inquérito policial - IPL n.º 574/99 -, fatos estes previstos no art. 301, § 1º, do Código Penal, reconhecendo o aperfeiçoamento da prescrição da pretensão punitiva, considerado o lapso temporal entre a data dos fatos tidos como delituosos e a presente data (art. 107, IV, e art. 109, V, ambos do Código Penal).

Certificado o trânsito em julgado, determino a remessa dos presentes autos ao Setor de Distribuição desta Seção Judiciária, para baixa e posterior arquivamento.

25 Instrução Normativa nº 11/2001: 30. As atribuições da autoridade policial são indelegáveis e Orientação Normativa nº 6/2006: II – Os atos próprios de autoridade policial no exercício das funções de polícia judiciária, tais como: inquirição (termo de depoimento, termo de declaração, termo de acareação, auto de qualificação e interrogatório, e auto de prisão em flagrante delito); requisição de exames periciais; determinação de intimação; formalização de apreensão de coisas (por meio de auto de apreensão); representação para a prisão preventiva, entre outros previstos em leis, são indelegáveis; VI – Em decorrência do acima exposto, os demais servidores policiais federais, quando designados para auxiliarem na verificação de procedência de informação de infração penal, não poderão praticar atos privativos de autoridade policial federal.

Verificamos que o tempo de tramitação do inquérito na Polícia Federal foi de 6 anos e 10 meses e que a decisão do juiz em 10/01/2006 foi pelo arquivamento da peça administrativa em virtude da extinção da punibilidade pela prescrição do crime, não chegando o juiz a verificar o mérito da ação penal.