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INTERSECÇÕES ENTRE A ESCOLA E A FAMÍLIA

3.4 P OSSÍVEIS CAMINHOS PARA O ESTUDO DA RELAÇÃO F AMÍLIA E SCOLA

3.4.3 A V ISÃO DOS A LUNOS SOBRE A R ELAÇÃO F AMÍLIA E SCOLA

Conhece-se poucas pesquisas que contemplem a visão dos alunos acerca da relação entre família e escola. Comumente, as pesquisas realizadas sobre esta temática privilegiam, conforme apresentado anteriormente, as opiniões dos professores e dos pais. Todavia, duas pesqusias recentes, realizadas em Curitiba e em Brasília, focalizam a opinião dos alunos sobre a temática da relação família-escola.

Um estudo realizado por Cardoso (2003), junto a estudantes do Ensino Médio de uma escola particular em Curitiba/Paraná, investigou como os alunos das três séries do Ensino Médio (1°, 2° e 3° anos) vêem a relação da escola com a família. A investigação foi feita por meio de entrevistas em grupo e de dramatizações (momento proposto pelo diretor/coordenador do grupo de psicodrama como forma de oportunizar outra via de expressão para além da verbalização). De acordo com os resultados obtidos nas entrevistas, identificou-se que os alunos das três séries percebem a relação família-escola de uma maneira muito negativa. Para os alunos, a cobrança quanto ao rendimento escolar é uma questão bastante presente, a relação familiar baseada no diálogo mostra-se comprometida devido à falta de tempo dos pais, em função de suas atividades profissionais e à não liberdade que os alunos têm em tratar de suas intimidades com os pais (Cardoso, 2003).

Outro aspecto identificado na pesquisa é em relação à convocação dos pais ao colégio, em situações que se referem apenas às notas ou ao comportamento, convocações estas que deixam os alunos ‘revoltados’ por não terem sido consultados e por não haver a mesma ação quando se trata de elogios.

A partir das dramatizações realizadas, Cardoso (2003) identificou que, a depender da série, os alunos apresentam visões diferentes. Os da primeira série, em sua maioria, vêem a relação família-escola diferente da que gostariam de ter, pois ela é representada por

pressão, falta de compreensão, distanciamento e sentimento de inferioridade por parte do aluno. Ao representarem a imagem desejada, reconhece-se um desejo de maior aproximação entre as partes, compreensão com o tempo das tarefas, entre outros. Os alunos da segunda série demonstram ter mais dificuldades na relação família-escola, uma vez que todos construíram imagens diferentes das que gostariam de ter. Um dos principais fatores que surgiram refere-se ao fato de o colégio só chamar os pais quando os alunos estão com problemas de nota e/ou de comportamento. Na visão da maioria destes alunos não existe relação entre a escola em que estudam e sua família. Por fim, os alunos de terceira série mostram ser a ponte que liga a escola à família e consideram que a família é a base para a realização de outras atividades com sucesso.

Recentemente, pesquisa realizada por Polonia (2005) no Distrito Federal sobre as relações família-escola, também incluiu a opinião dos alunos entre os procedimentos de investigação, tendo dela participado alunos de 1ª, 5ª e 8ª séries do Ensino Fundamental de escolas públicas do DF. Os resultados obtidos na pesquisa, de acordo com a visão dos alunos, apontam que, paulatinamente, há um decréscimo da participação dos pais nas atividades programadas pela escola, à medida que o aluno avança na série. Na visão dos alunos “os pais das séries iniciais estão mais presentes nas atividades programadas pela escola, havendo uma diminuição da sua participação quando o aluno avança na série, de modo que, na 8ª série, a sua participação é bastante limitada” (Polonia, 2005, p. 155).

A esse mesmo respeito, Oliveira (2002) menciona que outro elemento que compõe o panorama das relações entre família e escola aponta para “uma relação que se (des)institucionaliza a partir da 3ª série, ou seja, não há mais nenhuma demanda da escola sobre a participação da família” (p. 107). A partir da opinião dos professores sobre a escola e os pais, a autora faz referência à compreensão destes de que há um afastamento natural dos pais devido à independência ou crescimento dos filhos, os quais começam a responder

pelo seu próprio processo de aprendizagem. Dessa forma, passa-se a estabelecer uma relação mais direta com o próprio aluno, o que não acontecia nas séries anteriores. A opinião dos pais também reitera a compreensão dos professores de que, a partir da 5ª série, é dada autorização ao aluno para que responda por si só quanto à relação com a escola, liberando os pais desta função (Oliveira, 2002). Vê-se, assim, que tais informações corroboram a visão que os próprios alunos têm da participação dos pais em sua vida escolar.

Quanto aos sentimentos dos alunos em relação à escola, Polonia (2005) destaca, ainda, a importância de estar atento ao fato de que os alunos da 8ª série se mostram insatisfeitos com a escola em função da qualidade de ensino e das relações pouco humanizadas, o que retrata, na visão da autora, “não apenas aspectos do processo de ensino e aprendizagem, mas também das relações interpessoais mantidas na escola” (Polonia, 2005, p. 156).

De acordo com os alunos, a presença nas reuniões e conselhos de classe é a atividade mais freqüente com o envolvimento dos pais, superando a participação nos eventos sócio-culturais, em que se nota um decréscimo na participação, especialmente para os alunos de 5ª e 8ª séries (Polonia, 2005).

Por fim, a autora apresenta as ações descritas pelos próprios alunos que poderiam ser desencadeadas por eles, pelos pais e pela escola, para melhorar as condições da escola, sejam nos aspectos físicos, materiais, pedagógicos ou da interação família-escola. Entre as ações apontadas pelos alunos, destacam-se aquelas em que eles se posicionam como possíveis mediadores da relação família-escola, ou seja, aquelas ações que podem ser realizadas pelos próprios alunos, como estimular a participação dos pais e intermediar a comunicação entre a escola e os pais. Polonia (2005) constata, ainda, que os alunos da 8ª série se sentem mais responsáveis pela intermediação (entregar bilhetes, avisos e informes)

enquanto os alunos da 1ª série se sentem mais responsáveis pelo estímulo à participação (contar mais sobre as atividades desenvolvidas na escola, solicitar a participação dos pais, e etc.).

Este último dado sinaliza para o importante papel que os próprios alunos podem assumir diante das relações entre suas famílias e a escola. Geralmente, ao investigar os processos de comunicação entre a família e a escola, suas influências, interseções e interações, as pesquisas focalizam especialmente o papel dos adultos nesta inter-relação. Conforme apontaram os dados de Polonia (2005), o aluno pode se configuar como um dos principais mediadores e facilitadores da relação família-escola.