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para psicólogos escolares – Dificuldades dos psicólogos escolares na atuação com as famílias

TEMAS VERBALIZAÇÕES

PE1 • Dificuldade quanto às

necessidades dos filhos com necessidades especiais.

• Dificuldade com os

professores em mudarem sua postura com os alunos que têm dificuldade de aprendizagem.

• Sugere-se a formação

continuada e a formulação de um plano orientador que estabeleça a função da família em todas as etapas da escolarização para melhorar a relação família- escola.

• Sugere-se que a escola seja um espaço de convivência, para além de um espaço para estudar, com a participação dos pais.

• “Com os pais a gente tem muita dificuldade

quando é aluno com distúrbio de manter apoio externo né, às vezes é apoio de terapia, de medicação . . . a falta de manutenção do apoio é complicado, aí sim eu chamaria de uma dificuldade enorme. . . . ou eles marcam as deficiências do filho então aumenta sabe, marca, acentua a dificuldade dele e perpetua aquele fracasso em casa”.

• “Ah, alteração de comportamento, de dinâmicas do professor né. Ele ter uma outra forma de olhar, de olhar pra esses alunos”.

• “Então que houvesse um plano onde a família

tornasse sujeito, tomasse já pra si já lá na ponta da educação a mesma responsabilidade que você vê na alfabetização que o pai torce e elogia e é importante”. • “o espaço da escola era um lugar pra ficar . . . não era só lugar de estudar, era um lugar de estar, de conviver, então . . . os pais participavam efetivamente em tudo na escola, até financeiramente mas também no projeto e havia um retorno, havia uma mobilização dos pais pra sanar as dificuldades dessa comunidade escolar”.

PE2 • Dificuldade com os pais que

atribuem toda a responsabilidade à escola e não compreendem a importância de sua participação.

• Dificuldade com a falta de

tempo dos pais para participarem.

• Dificuldade em saber como

fazer para que os pais participem.

• Sugere-se compreender o

papel de cada um nesta relação para melhorar a relação família- escola.

• Sugere-se refletir sobre a

relação família-escola mesmo que não tenha sido objeto de estudo na formação inicial.

• “a grande dificuldade é fazer com que alguns pais compreendam essa necessidade que a escola tem. Como eu falei inicialmente, às vezes o pai joga muito pra escola” e “como da importância deles assim, deles estarem acompanhando o filho, não deixar essa responsabilidade só para a escola”.

• “e às vezes há uma dificuldade, porque tem muitos pais ocupados hoje”.

• “há outra dificuldade, que aí é da escola como um todo é fazer com que os pais participem... pra que eles possam acompanhar esse processo”.

• “Eu acho que compreender... o... o que é o papel da escola, o que é o papel da família, o que é o papel dos professores, enfim. Eu acho que essa compreensão falta um pouquinho”.

• “Mas mesmo assim é preciso ter uma reflexão

sobre essa questão, mesmo que não tenha tido isso na formação o profissional precisa parar pra pensar sobre essa relação, como ela é, o que é função de cada um”.

A Categoria 6 – Dificuldades do psicólogo escolar na atuação com as famílias, trouxe componentes relacionados aos fatores que dificultam o trabalho com as famílias. As dificuldades vivenciadas por PE1 estão relacionadas, principalmente, com as necessidades especiais dos alunos: em relação aos professores, por terem dificuldade em mudar sua postura para atender às diferentes necessidades desses alunos, e em relação aos pais, por não manterem o suporte necessário para os filhos (medicação e terapia, por exemplo) ou por acentuarem e enfatizarem as dificuldades dos filhos. As dificuldades de PE2 são especialmente com os pais: por atribuírem aos filhos toda a responsabilidade por seu processo de formação sem compreender a importância da sua participação e por não terem tempo de participar e de ir à escola.

Sobre os fatores que podem ajudar a melhorar a relação entre família e escola, as psicólogas escolares fazem algumas indicações. Em relação à formação profissional do psicólogo, apontam que é preciso oportunizar uma reflexão sobre essa temática, tanto na formação inicial em Psicologia quanto na formação continuada. E, para elas, mesmo que essa reflexão não aconteça nestes contextos formativos, “o profissional precisar parar para pensar essa relação” (PE2), já que este é um tema presente em sua atuação profissional. Conforme apresentado no capítulo dedicado aos pressupostos conceituais (Capítulo I), esse processo reflexivo, ou a capacidade de agir reflexivamente, é uma característica fundamental no desenvolvimento de competências, pois as competências vão além de uma capacidade específica para desempenhar determinada função ou desenvolver determinado trabalho (Araújo, 2003; Plantamura, 2002). As competências referem-se, necessariamente, aos questionamentos e reflexões acerca da prática profissional, assim como PE2 indicou acertadamente em seu relato.

Acredita-se, ainda, que além de ser parte integrante do processo de desenvolvimento de competências do psicólogo escolar no que diz respeito à sua atuação

com as famílias e a escola, este processo reflexivo também é favorável à definição das funções e papéis dos diferentes atores envolvidos nas relações família-escola. Ao refletir sobre esta temática, sobre as responsabilidades de cada sistema e sobre as dificuldades e facilidades na intermediação das relações entre as famílias e a escola, por exemplo, o psicólogo escolar está transitando sobre as especificidades e complementaridades de cada um dos sistemas. Este trânsito entre o que é específico de cada um e os entrelaçamentos entre eles é fundamental para a definição das funções e responsabilidade de cada sistema diante da formação e do desenvolvimento dos filhos-alunos. Escola e família têm objetivos distintos, mas que se interpenetram em diversos momentos uma vez que têm em comum a tarefa de preparar as crianças e jovens para a vida em sociedade (Reali & Tancredi, 2005).

Entende-se que o âmbito de atuação de cada um dos sistemas já está definido. À família cabe a tarefa de socializar as crianças, responsabilizando-se pela internalização de normas, regras e conceitos necessárias à vida em sociedade; e à escola cabe a tarefa de socializar o saber sistematizado, responsabilizando-se pelo processo formal de educação intelectual (Bock, Furtado & Teixeira, 1999; Reali & Tancredi, 2005; Saviani, 2005). Todavia, apesar de estar definido o objeto que sustenta cada uma das instituições, ainda faz-se necessário estabelecer seus limites e fronteiras, tarefa que poderá ser alcançada mediante a conscientização dos sujeitos e dos sistemas sobre suas próprias possibilidades e potencialidades. A ação reflexiva, desencadeadora da conscientização dos sujeitos, é que levará à compreensão dos papéis e funções de cada sistema e de cada ator diante da relação família-escola e, como conseqüência, poderá levar a execução de ações efetivas em prol do sucesso dessa relação.

A esse respeito, PE2 esclarece que é preciso “compreender . . . o que é papel da escola, o que é papel da família, o que é papel dos professores”, pois “falta um pouquinho

é essa linha de... de compreensão mesmo, o que é que o psicólogo vai estar fazendo para proporcionar de fato essa parceria, uma parceria real, não de cobrança” (PE2).

A definição destes papéis seria um ponto importante na concretização da sugestão de PE1, a qual destaca que outro fator necessário para melhorar a relação família-escola é o estabelecimento de um plano orientador que atribui à família um papel ativo em todo o processo de formação escolar dos filhos. Assim, sugere que “houvesse um plano onde a família tornasse sujeito, tomasse já pra si, já lá na ponta da educação, a mesma responsabilidade que você vê na alfabetização, que o pai torce e elogia” (PE1). Nesta sugestão está embutida a participação de todo o sistema educacional, em seu aspecto macro, uma vez que o estabelecimento deste plano orientador não ficaria a cargo de cada escola e da sua relação específica com os pais. Entende-se que o sistema educacional, em sua amplitude, é composto pelas instituições que estabelecem os parâmetros da educação brasileira e exercem as funções de regulação, orientação e controle desses parâmetros. Dessa forma, o estabelecimento desse plano orientador, enquanto instrumento norteador da participação dos pais, seria uma proposta mais ampla e sistêmica que envolveria a participação de todas estas instâncias, e não apenas da escola.

Seria necessário a proposição de discussões em todos os níveis, desde as instituições governamentais (Ministério da Educação), que podem estabelecer parâmetros mais geriais em relação ao papel da família no processo de formação dos filhos, passando pelas instâncias intermediárias (Secretarias), que ajudariam na viabilização desses parâmetros, até chegar na instituição fim (Escola), onde estes parâmetros se concretizariam.

Tabela 14