P ROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

5.2.1 CONTEXTO: A IMERSÃO NO ENSINO MÉDIO

Este estudo se insere no contexto do Ensino Médio, nível escolhido para a investigação dos objetivos propostos. A escolha em realizar a pesquisa junto a professores, pais e alunos do Ensino Médio se deu em função do fato de que, tradicionalmente, as pesquisas com foco em questões escolares focalizam as séries iniciais. Em relação à temática da relação família-escola reconhece-se também esta ênfase, conforme se observa nos trabalhos de Bhering (2003), Bhering e Siraj-Blatchford (1999), Maimoni e Bortone (2001) e Tancredi e Reali (2001), por exemplo.

Além do foco investigativo sobre as séries iniciais, pesquisas recentes têm ampliado a investigação incluindo as séries finais do Ensino Fundamental (5ª à 8ª série). Segundo relatos de pais e alunos, os pais das séries iniciais estão mais presentes nas atividades programadas pela escola, havendo uma diminuição da sua participação quando o aluno avança na série, de modo que na 8ª série a participação dos pais é bastante limitada (MEC & INEP, 2005; Polonia, 2005). Corroborando estes dados, os resultados de uma pesquisa nacional (MEC & INEP, 2005) também fazem essa constatação apontando que a presença dos pais na escola “parece declinar à medida que o aluno vai vencendo as séries iniciais do ensino fundamental e alcançando a pré-adolescência. Na adolescência, os contatos tendem a se restringir a eventualidades” (p. 21), algumas vezes indesejáveis, na opinião dos pais.

Em complementação a este dado, Polonia (2005) diz que à medida que avançam nas séries, o grau de satisfação dos alunos com a vivência escolar diminui, o que para o alunos está relacionado à qualidade do ensino e às relações pouco humanizadas no contexto

escolar. Vê-se por essa pesquisa que, paralelamente ao avanço nas séries, diminui a participação dos pais e a satisfação dos próprios alunos com a vivência escolar, representando, portanto, questões que podem ser melhor aprofundadas com o objetivo de favorecer o efetivo aprendizado e desenvolvimento dos alunos.

Acrescenta-se, ainda, o fato de que na realidade brasileira o Ensino Médio tem reduzido a sua proposta educacional a um único objetivo: o de tornar o aluno apto a ser aprovado em um vestibular que lhe permite o ingresso à universidade, isto é, esta etapa da escolarização está constituída como uma etapa para a universidade. Há muito tempo, o Ensino Médio vem se desenvolvendo apenas com a preocupação de preparar o aluno para a etapa seguinte, o ensino superior, despreocupando-se em desenvolver nos jovens uma educação integral e ampla.

E em função desta concepção de educação no Ensino Médio as famílias, muitas vezes, reduzem sua participação na escola por acreditarem que ao colocar o filho na escola, e exigir dele freqüência, notas e escolhas acertadas para o futuro, estariam garantindo sua participação para com o bom desenvolvimento de seu filho (Cardoso, 2003).

Todavia, as reformulações educacionais atuais buscam garantir que “o Ensino Médio perde seu caráter de intermediação entre educação fundamental (geral) e superior (profissional), para constituir-se na última etapa da educação básica, embora essa nova realidade esteja longe da dura realidade dos países periféricos” (Kuenzer, 2000, p. 18). Espera-se que no Ensino Médio o aluno consiga desenvolver simultaneamente habilidades de capacitação técnico-científica e de formação humana, contribuindo para o desenvolvimento de um adulto que baseia suas relações em respeito mútuo, amor e compreensão pelo outro, além de ser capaz de exercer uma atividade profissional.

Posto desta forma, cinco considerações sintetizam e justificam a delimitação do público alvo desta pesquisa: a) as séries iniciais têm sido privilegiadas nas investigações e

pouco se conhece a respeito da realidade do Ensino Médio; b) a atuação da Psicologia Escolar se localiza, preferencialmente, no Ensino Fundamental, bem como as pesquisas desenvolvidas nesta área; c) quanto à temática da relação família-escola, identifica-se o distanciamento dos pais, à medida que os filhos avançam nas séries; d) a satisfação dos alunos com a vivência escolar diminui com a progressão nas séries; e e) a acentuada ênfase na preparação para o vestibular e para o mercado de trabalho em detrimento das relações interpessoais e da formação humana.

5.2.2 PARTICIPANTES

Participaram deste estudo psicólogos escolares, professores, pais e alunos do Ensino Médio de escolas públicas e particulares do Distrito Federal. Inicialmente planejou-se realizar a pesquisa em uma escola pública e em uma escola particular do Distrito Federal, ambas de Ensino Médio. Procedeu-se ao contato com as psicólogas de algumas escolas que atendiam a estes critérios e, mediante a concordância de duas delas, iniciou-se o processo de construção de dados. No decorrer do processo deparou-se com a dificuldade de entrevistar todos os segmentos de participantes (pais, alunos e professores) na mesma escola em que atuavam as psicólogas escolares.

Considerando-se, portanto, a dificuldade de conciliar a disponibilidade integral de uma escola, ou seja, o interesse e a disponibilidade da psicóloga escolar, professores, pais e alunos pertencentes a uma mesma escola, diversificou-se a seleção dos participantes no que diz respeito às escolas a que têm vínculo. Ao identificar participantes que atendessem aos critérios estabelecidos (aluno ou aluna de Ensino Médio; pai ou mãe de aluno de Ensino Médio; e professor ou professora de Ensino Médio, tanto de escola pública quanto

particular) apresentava-se a proposta de pesquisa ao possível participante e, mediante sua concordância, procedia-se às entrevistas. A participação de todos foi de caráter voluntário.

A caracterização dos participantes foi feita imediatamente antes do início da entrevista, ocasião em que se perguntou aos mesmos alguns dados como tipo de escola a que estão vinculados, tempo de atuação em docência ou em psicologia escolar, disciplinas que os professores lecionam, idade e série em que os alunos estudam.

Os participantes deste estudo foram organizados em cinco grupos: