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A metamorfose e o surgimento do novo: a concepção de adolescência na teoria

No documento sebastiaogomesdealmeidajunior (páginas 81-84)

2.5 Aproximações, ambiguidades e afastamentos conceituais sobre juventude e

2.5.1 A metamorfose e o surgimento do novo: a concepção de adolescência na teoria

No Tomo IV de suas Obras Escogidas, Vigotski (2006) aborda a adolescência para tratar do desenvolvimento e as crises que se relacionam à maturação biológica e à constituição psíquica, desde o nascimento, passando pelas etapas posteriores de vida. Na sua teoria, em que problematiza a psicologia subjetivista e o tratamento meramente biológico das aquisições do ser, o autor contrapõe pré-concepções de seu tempo sobre as idades e dá ênfase às questões que se aprofundam ao tratar das complexas e dinâmicas relações que se dão nas crises e nas mudanças, tanto nas crianças pequenas, quanto nos indivíduos na puberdade. São formulações que procuram dar conta da relação entre novas formações que se dão nas mudanças psíquicas no desenvolvimento, ou seja, na relação ser e meio social e cultural, indo além da compreensão dos estágios de amadurecimento físico e sexual e das explicações psicologizantes e subjetivas do desenvolvimento.

Vigotski (2006) trata do desenvolvimento dos interesses na idade de transição. No estudo do autor, evidencia-se na abordagem do problema da periodização das idades e das crises que se relacionam à maturação biológica e à constituição psíquica, um posicionamento crítico em relação às correntes teóricas de seu tempo que versavam sobre o desenvolvimento. Tendo em conta diversos estudos publicados no final dos anos 20 na União Soviética, voltados para os problemas dos adolescentes e da sociedade, Vigotski (2006) introduz sua abordagem sobre o tema questionando as investigações que conceituavam as etapas de transição por métodos psicológicos formais. Buscando compreender a complexidade do processo de desenvolvimento, sua crítica era voltada para os estudos que se pautavam em traços qualitativos ou quantitativos generalizados de condutas e habilidades para explicar a

idade de transição, sem ter em conta as modificações e os impulsos motrizes e as novas formações reais das passagens de uma etapa à outra.

Las funciones psicológicas del ser humano, em cada etapa de su desarollo, no son anárquicas ni automáticas ni causales sino que están regidas, dentro de um cierto sistema, por determinadas aspiraciones, atracciones (vlechenie)44 e interesses sedimentados em la personalidad (VIGOTSKI, p. 3, 2006)45

Nas suas considerações teóricas sobre o desenvolvimento, o autor problematiza tanto a psicologia subjetivista, que concebe os interesses da idade de transição como fenômeno puramente intelectual ou emocional, quanto os representantes da psicologia objetiva, com explicações de base biológica e mecanicista sobre as mudanças e os comportamentos. Suas formulações sobre esse debate procuram dar conta da relação entre novas aspirações e interesses envolvendo a personalidade. Convergindo suas reflexões para a importância do surgimento das novas formações no desenvolvimento, Vigotski (2006) propõe refletir sobre investigações da teoria estruturalista dos interesses para tratar o problema. Apesar de considerar as relações entre interesses e hábitos no cômputo do desenvolvimento global da personalidade, no qual reúne o biológico, social e o meio circundante nesse processo, essa concepção, de acordo com o autor, não leva em conta o desenvolvimento histórico das novas formações na compreensão dos interesses humanos.

Em seus postulados, tendo em conta a dimensão da ontogênese, o autor fala da grande importância, na idade de transição, quanto à teoria dos interesses46 no desenvolvimento do adolescente. No tocante a essa idade de transição, Vigotski (2006) salienta a intensa maturação biológica e cultural que ocorre. No entanto, na sua concepção, a chave para entender as mudanças é não considerar isoladamente o conteúdo do pensamento humano, nem somente os mecanismos superiores de conduta, mas também as forças motrizes do comportamento, a orientação humana nessa ação, que experimentam um complexo desenvolvimento sociocultural.Os interesses é que diferenciam o humano das outras espécies, pois, para o autor, na sua forma superior, o interesse é algo consciente e livre, como aspiração

44 Vlechenie: atracción, aspiración, impulso (Nota do autor)

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As funções psicológicas do ser humano, em cada etapa do seu desenvolvimento, não são nem anárquicas, nem automáticas, nem causais. Mas elas estão governadas, dentro de um certo sistema, por determinadas aspirações e interesses sedimentados na personalidade (tradução livre).

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Vigotski cita a tese estruturalista de Lewin em que sua teoria dos interesses considera crescimento, crise e maturação como fundamentais no desenvolvimento.

que toma forma por si própria nesse processo, contrariando assim o impulso instintivo, que nada mais é do que pura atração.

Para ilustrar esse processo de desenvolvimento na idade de transição em que relaciona interesses internos e influxos incitadores externos e as profundas mudanças, que envolvem a maturação e a reestruturação, Vigotski (2006) traz o exemplo da metamorfose da lagarta em crisálida, que posteriormente se transforma em uma borboleta. É nesse renascimento no processo de desenvolvimento e de transformação qualitativa que ocorre a aparição de novas formações, na qual o próprio processo revela essa estrutura. Processo esse de redução e de extinção de velhas formas, mas também de nascimento, de formação e de maturação.

Em seu estudo das idades de transição, Vigotski (2006) situa o debate de concepções da literatura científica de seu tempo. Em seus apontamentos teóricos, o autor refletia tanto sobre aquelas correntes que compreendiam o desenvolvimento como uma crise de uma evolução dramática nesse processo, assim como as que o concebiam uma única fórmula acabada, de etapas uniformes, fincadas nas mudanças orgânicas e na maturação sexual, para explicar as necessidades e os impulsos dos adolescentes. Nesse debate sobre o desenvolvimento psicológico, segundo Vigotski (2006), deve-se ressaltar o papel atuante de toda dinâmica que reúne os pontos de vista, diametralmente opostos.

Para Vigotski (2006), a adolescência é um processo complexo que envolve tanto a maturação sexual, quanto o amadurecimento das relações sociais no desenvolvimento. Essa afirmação se fundamenta em pesquisas empíricas importantes analisadas pelo autor, com adolescentes da sociedade soviética de seu tempo47.

A medida que aparecen las nuevas atracciones, que constituyen la base biológica para la reestructuración de todo el sistema de intereses, los intereses se reestructuran y se forman desde arriba, a partir de la personalidad en su proceso de maduración y de la concepción del mundo del adolescente (VIGOTSKI, 2006, p. 35)48

Desse levantamento, vale ressaltar o quanto a teoria histórico-cultural e o pensamento de Vigotski contribuem para a compreensão da complexidade do humano. A adolescência não pode ser concebida como uma transformação biológica programada e que os aspectos

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Para fundamentar suas observações, Vigotski se baseia em pesquisas qualitativas de Zagorovski em ambientes escolares sobre a chamada “fase do negativismo na adolescência”.

48 À medida que aparecem as novas atrações, que constituem a base biológica para a reestruturação de todo o sistema de interesses, os interesses são reestruturados e formados a partir de cima, a partir da personalidade em seu processo de maturação e de concepção de mundo do adolescente (tradução livre).

psicológicos não estão apartados do meio social e cultural, ocorrendo internamente. Assim, as mudanças que constituem o adolescente, em seu desenvolvimento individual, envolvem processos complexos de maturação e de reestruturação, na formação da personalidade.

2.6 Do que falam as recentes pesquisas sobre juventude, cibercultura e tecnologias

No documento sebastiaogomesdealmeidajunior (páginas 81-84)

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