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O percurso investigativo e o traçado dos objetivos da pesquisa com adolescentes

No documento sebastiaogomesdealmeidajunior (páginas 33-39)

A retomada dos estudos acadêmicos da pós-graduação na Linha de Pesquisa em Linguagem e Formação de Professores, cursando as disciplinas, dialogando com outros pós- graduandos e professores, além da participação em seminários e congressos, ampliou meus horizontes de pesquisa, culminando na reformulação do meu projeto original. A revisão bibliográfica no meu processo de estudo nessa fase de ingresso, nos primeiros períodos do curso, foi fundamental na aproximação com a investigação de outros pesquisadores sobre

jovens e as tecnologias13 no contexto do ambiente comunicacional emergente. Dessa forma, fundamentado em formulações teóricas de autores de cibercultura e na teoria histórico- cultural14, passei à revisão das questões de pesquisa do meu projeto inicial. Nesse percurso, os estudos de orientação, o meu ingresso e participação no Grupo de Pesquisa Aprendizagem em Rede (GRUPAR), coordenado pela Profª Drª Adriana Rocha Bruno, e o estágio docência15 foram fundamentais nesse meu processo de reformulação das questões investigativas. Reformulação esta que foi fomentada pelas reflexões e discussões ocorridas, sendo constantemente desafiado a problematizar a temática das tecnologias na contemporaneidade e, sobretudo, suas implicações no campo da educação.

http://www.ufjf.br/grupar/2015/03/31/inicial/

Um dos pontos relevantes da revisão do meu projeto de pesquisa foi repensar a visão antagônica que confrontava cibercultura e escola destacada no projeto de tese. Esse descompasso entre as práticas dos adolescentes na cibercultura e a escola foi um dos pontos centrais trazidos no projeto aprovado no processo seletivo para o curso do doutorado em educação do PPGE-UFJF16.

13 A revisão de literatura da pesquisa, que envolve trabalhos acadêmicos sobre jovens, tecnologias digitais e cibercultura, compõem o capítulo 4 deste trabalho, sendo que alguns autores, com abordagens significativas em sua aproximação com o presente estudo, já vêm dialogando com minhas reflexões em outros capítulos do texto. 14 Além de disciplinas cursadas em Tópicos Especiais em Linguagem, Conhecimento e Formação de Professores com o pesquisador Prof. Dr. Jader Janer Moreira Lopes, voltados para o aporte teórico da teoria histórico- cultural, participei do III Veresk, que trouxe discussões contemporâneas do cenário internacional sobre a produção de Lev Semionovitch Vigotski.

15 Integrando a equipe de professores pesquisadores, atuei na disciplina Educação Online com turmas da graduação do curso de Pedagogia dos turnos diurno e noturno. Das atividades desenvolvidas, destaco a oficina “Caminhada Fotográfica” e a elaboração dos “Percursos Narrativos Ilustrados”, ambas relacionadas à produção de imagens em diálogo com as tecnologias digitais e a hipermídia.

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Projeto aprovado no processo seletivo do doutorado do PPGE-UFJF intitulado “Cibercultura Invade o Território da Escola: jovens em formação e o ambiente comunicacional contemporâneo” que trazia como uma das questões de estudo a tensão entre o ambiente escolar e as práticas dos estudantes na cibercultura.

De acordo com o que foi apresentado na introdução deste texto, o confronto entre cibercultura e escola foi revelado na interpretação das falas dos adolescentes da minha pesquisa do mestrado, em que se evidenciou o desencontro de grande parte de suas experiências com o ambiente sociotécnico emergente e as práticas escolares. A pergunta de pesquisa inicialmente formulada estava voltada para esse impasse, correndo o risco de se distanciar de outras questões relevantes de estudo. Ainda que eu propusesse me aproximar dos adolescentes em uma perspectiva dialógica, ao confrontar de antemão no meu recorte de pesquisa a escola e a cibercultura, eu me voltava para uma compreensão já muito difundida dessa incongruência nos meios educativos. Muito já tem se discutido da dificuldade das instituições escolares e dos educadores em estabelecerem um diálogo mais aberto com as práticas próprias das culturas juvenis. Concluí que, se iniciasse por esse viés dissonante, poderia correr o risco de meu estudo se voltar apenas para uma crítica à escola e às práticas docentes, me distanciando de outros aspectos mais significativos e reveladores que poderiam surgir em uma aproximação com os estudantes.

A partir daí, busquei aprofundar-me em reflexões sobre o que é mais primordial na pesquisa naquilo que motivava a minha caminhada enquanto educador e pesquisador, que seriam as práticas dos adolescentes envolvendo a cultura digital emergente e essa apropriação dos instrumentos e signos culturais. Assim, procurei desprender-me da evidente constatação desse impasse entre cibercultura e escola da atualidade e passei a me dedicar a um movimento de pesquisa voltado para a compreensão das novas gerações em seu processo de desenvolvimento, mediado pelas tecnologias digitais na contemporaneidade. Para tanto, caberia estruturar o aporte teórico-metodológico para ir ao encontro do meu objeto de estudo. Desse modo, na minha atual pesquisa, me propus prosseguir em um caminho que eu já traçara no estudo anterior, buscando um mergulho ainda mais profundo na dimensão dos sujeitos na perspectiva da alteridade. Como pesquisador que se propõe a conhecer pela escuta na aproximação das práticas culturais das novas gerações, meu aprofundamento teórico- metodológico deveria ir ao encontro dos sujeitos, cujo desafio é menos “dizer sobre”, assumindo um papel não de mero porta-voz de um conhecimento descritivo sobre adolescentes, mas sim de criar situações metodológicas para um “pesquisar com”, de maneira que os próprios pesquisados tenham papel mais ativo e que mostrem como pensam, sentem e constroem suas relações na mediação tecnológica emergente. O propósito desta intenção, um tanto desafiadora, seria de desencadear, nos limites e possibilidades da pesquisa, um ecoar de vozes, muitas vezes silenciadas nos espaços educacionais, já que muitos desses ambientes ainda alimentam práticas limitadas a despeito das possibilidades de acesso às tecnologias, sua

dimensão cultural e suas potencialidades no desenvolvimento de crianças e jovens. Para tanto, o meu intuito foi o de me aproximar dos adolescentes de estabelecimentos de ensino no sentido de conhecer de forma mais aprofundada sua apropriação e atuação com as ferramentas digitais, nas potencialidades que surgem nas suas atuações nesse contexto social do presente em um processo dialógico, propondo atitudes responsivas dos sujeitos.

Nessa perspectiva, ao me propor trazer as falas vivas dos sujeitos para a pesquisa, me sustento nas palavras de Bakhtin (1997, p. 290) sobre o enunciado nessa compreensão envolvendo os interlocutores, que “é sempre acompanhada de uma atitude responsiva ativa (conquanto o grau dessa atividade seja muito variável); toda compreensão é prenhe de resposta e, de uma forma ou de outra, forçosamente a produz: o ouvinte torna-se o locutor”.

Com meu estudo, vislumbro trazer para o debate questões e opiniões formuladas pelos próprios estudantes que emergem dessa mediação tecnológica e que, em sua perspectiva, enquanto sujeitos, possam contribuir para aprofundarmos conhecimentos no campo de pesquisa com jovens e sua inserção no mundo, envolvendo sua produção de sentido e suas ações, mediadas pelas tecnologias.

Ainda nos estudos do mestrado, o contato com a teoria histórico-cultural17 trouxe a perspectiva de compreender o desenvolvimento humano um processo de apropriação social dos instrumentos da cultura. Nesse sentido, ao estudar os adolescentes a partir do referencial do pensamento de Vigotski18, concebo que as novas gerações se constituem como sujeitos pertencentes a uma sociedade e uma cultura, que nasceram e se desenvolvem em um tempo histórico e que transitam em espaços nos quais se fazem presentes redes sociotécnicas da atualidade. Propondo-me ir mais além dessa perspectiva que já subsidiava minhas formulações na dissertação de mestrado, busquei o aprofundamento teórico para maior compreensão das concepções desse autor e seu método em psicologia. Assim, além de estudar o papel do instrumento psicológico no desenvolvimento das funções psíquicas superiores e a

17 Essa concepção apresenta diversas nomenclaturas – “sócio-interacionista”, “sócio-histórica”, entre outras. Como pesquisador, assumi o termo histórico-cultural por concordar com Prestes (2012) de que esta é a melhor tradução constituída por Lev Semionovitch Vigotski e seus colaboradores.

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Lev Semionovitch Vigotski (1896-1934) é o fundador da psicologia histórico-cultural. Sua teoria compreende que o desenvolvimento humano ocorre no encontro com os signos e os instrumentos da cultura estabelecendo que é na linguagem e na vivência social que se dão as aquisições da criança e não como processos internos de maturação biológica. No decorrer do texto, dependendo da tradução, o nome do autor é grafado de forma diferenciada, de acordo com referência bibliográfica, sendo que, excetuando as citações, adota-se a indicação de Prestes (2012) para se referir ao autor.

mediação semiótica na ontogênese humana, o conceito de vivência19 passou a ocupar um espaço importante nas minhas formulações teórico-metodológicas para fundamentar meus estudos. Para tanto, procurei me aproximar desse debate teórico, buscando referencial de autores que discutem o pensamento do autor na atualidade.

http://juventude-conectada.blogspot.com.br/2017/03/veresk-o-legado-de-vigotski-e.html

Além disso, tendo em conta que a adolescência20 é uma fase importante do desenvolvimento humano que também consiste em uma faixa etária em idade escolar, muitas inquietações que surgiram na etapa de elaboração da pesquisa se aprofundaram no decorrer dos estudos do doutorado, com o intuito de buscar uma aproximação entre o campo de pesquisa em educação e as contribuições de teóricos na área da comunicação.

Também nesse percurso de reformulação do meu projeto de tese inicial, refletindo sobre essas questões na aproximação com meu tema de pesquisa, passei a rever algumas proposições, definindo como premissa desenvolver um trabalho teórico tendo em conta a perspectiva dos sujeitos para pensar a formulação dos objetivos do processo investigativo.

Até então, minha pesquisa apontou que, para aqueles adolescentes situados em contextos escolares, suas referências de mundo se expandem, assim como suas relações interpessoais se tornam mais complexas, mediados pelas tecnologias. Além disso, a minha pesquisa também concluiu que redes sociotécnicas, para os adolescentes investigados, vêm se constituindo como um ambiente potencial de aprendizagem.

19 De acordo com Prestes (2012), o termo “vivência” é a melhor tradução para perejivanie. Na teoria de Vigotski, o conceito compreende o desenvolvimento da personalidade relacionada à tomada de consciência interna sobre o que é vivido. O aprofundamento teórico sobre o conceito de vivência será aprofundado no capítulo 3 da tese. 20 Numa perspectiva histórico-cultural, a “adolescência/juventude pode ser vista como resultado de uma construção social, ou seja, a constituição do ser adolescente/jovem depende das relações sociais estabelecidas durante o processo de socialização, incluídos aqui fatores econômicos, sociais, educacionais, políticos, culturais, etc. Mais do que uma etapa, é um processo longitudinal e histórico que é parte do desenvolvimento, constituindo-se como transição da infância para a vida adulta” (Diretrizes Educacionais para a Rede Municipal de Ensino de Juiz de Fora. Ano III, nº 3. Out/2008, p. 19).

Partindo do meu referido estudo, que trata das novas gerações mediadas pelos instrumentos e signos com os quais interagem em suas práticas na cibercultura, busco ir em um movimento além, para saber mais do que dizem sobre suas iniciativas pessoais.

Para esses jovens inseridos nesse contexto, suas interações nos meios digitais, ao potencializarem novas aquisições, impulsionam atitudes e ações transformadoras no seu cotidiano? Como isso ocorre em suas vivências nos seus tempos-espaços mediados pelas tecnologias?

Como as questões de pesquisa traçadas envolvem o conceito de vivência (perejivanie) de Vigotski, busco referências em abordagens do desenvolvimento humano da teoria histórico-cultural. Segundo Jerebtsov (2014), o conceito de vivência é de grande importância na teoria de Vigotski e está relacionado à ontogênese da personalidade. As vivências seriam os indicadores relacionados às etapas da tomada de consciência do mundo interno do indivíduo relacionado às situações vividas. Na articulação com o atual estudo, esse conceito é aprofundado no terceiro capítulo do presente texto.

Ao levar em conta o papel das vivências no desenvolvimento humano e a mediação dos instrumentos da cultura e da linguagem nesse contexto, pode-se considerar que o referencial teórico histórico-cultural se articula com o presente tema de estudo sobre as novas gerações que se apropriam dos dispositivos técnicos da cibercultura na sua comunicação. A partir dessa série de questões envolvendo as novas gerações inseridas num espaço e tempo, mediados pelos instrumentos e signos do ambiente comunicacional contemporâneo, que aproximam as reflexões teóricas sobre as novas tecnologias de informação e da comunicação em interface com a educação, é que formulo o recorte inicial de minha pesquisa: Como adolescentes, em meio às tecnologias digitais, constituem suas vivências? A partir das questões levantadas serão estruturados os objetivos da pesquisa, mantendo o foco nestes jovens e nas ferramentas para comunicação proporcionada pelo desenvolvimento tecnológico no âmbito da cibercultura. Compreendendo os jovens como sujeitos em suas especificidades, inseridos no contexto escolar, deve-se buscar uma aproximação de pesquisa mais minuciosa. Entretanto, ainda que o processo investigativo vislumbre um aprofundamento teórico- metodológico para construção de uma abordagem investigativa, ao pensar a possibilidade de me aproximar com os potenciais sujeitos para o estudo, antes de definir um lócus, passei a refletir sobre a utilização de um instrumento para conhecer, de modo mais amplo, o perfil de adolescentes inseridos no contexto das tecnologias digitais. A partir daí, considerando que se

trata de uma geração que convive em espaços escolares, definiu-se a proposta de um survey21 com perspectiva de conhecer o campo empírico a ser traçado, acessando estudantes de diferentes regiões do município de Juiz de Fora. Além do conhecimento do perfil de adolescentes desse contexto, eu poderia acessar possíveis sujeitos para o futuro desdobramento da pesquisa. Na reestruturação do projeto original, a possibilidade de aproximação com adolescentes sem uma pré-determinação de lócus a ser definido já não se restringiria a uma escolha imediata e situada em um ambiente familiar, a mim pesquisador, como ocorrera no meu estudo de mestrado. Dessa forma, a partir de uma abordagem ampla por meio de um questionário, buscando conhecer os adolescentes de locais diferenciados de diversos estabelecimentos escolares do município, envolvendo seus interesses, seus hábitos e suas opiniões relacionados às tecnologias digitais, eu poderia trazer outros indicadores significativos para pensar o meu objeto de estudo. Nesse levantamento, as respostas curtas e objetivas poderiam suscitar posicionamentos significativos dos jovens os quais se pretendia conhecer. Foi-se desenhando, assim, um questionário online a ser aplicado com estudantes dentro da faixa etária específica relacionada aos objetivos da pesquisa, fundamental na fase de reelaboração da proposta de estudo inicialmente traçada.

No documento sebastiaogomesdealmeidajunior (páginas 33-39)

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